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Encéfalo: diferenças entre revisões

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O '''Encéfalo''' é o centro do [[sistema nervoso]] em todos os animais [[vertebrados]], e em muitos [[invertebrados]]. Alguns animais primitivos como os [[Cnidários|celenterados]] e [[equinoderme]]s como a [[estrela-do-mar]] possuem um sistemas nervoso descentralizado sem encéfalo, enquanto as [[Porifera|esponjas]] não possuem sistema nervoso. Nos vertebrados o encéfalo localiza-se na cabeça protegido pelo [[crânio]], próximo aos aparatos sensoriais primários: [[Percepção visual|visão]], [[audição]], [[Equilíbrio postural|equilíbrio]], [[paladar]], e [[olfato]].
O '''Encéfalo''' é o centro do [[sistema nervoso]] em todos os animais [[vertebrados]], e em muitos [[invertebrados]]. Alguns animais primitivos como os [[Cnidários|celenterados]] e [[equinoderme]]s como a [[estrela-do-mar]] possuem um sistemas nervoso descentralizado sem encéfalo, enquanto as [[Porifera|esponjas]] não possuem sistema nervoso. Nos vertebrados o encéfalo localiza-se na cabeça protegido pelo [[crânio]], próximo aos aparatos sensoriais primários: [[Percepção visual|visão]], [[audição]], [[Equilíbrio postural|equilíbrio]], [[paladar]], e [[olfacto]].


Os encéfalos podem ser extremamente complexos. O [[encéfalo humano]] contém cerca de 86 bilhões de [[Neurónio|neurônios]], ligados por mais de 10.000 conexões [[Sinapse (neurónio)|sinápticas]] cada. Esses neurônios comunicam-se por meio de fibras protoplasmáticas chamadas [[Axónio|axônio]], que conduzem pulsos em sinais chamados [[potencial de ação]] para partes distantes do encéfalo e do corpo e as encaminham para serem recebidas por [[células]] específicas.
Os encéfalos podem ser extremamente complexos. O [[encéfalo humano]] contém cerca de 86 bilhões de [[Neurónio|neurónios]], ligados por mais de 10.000 conexões [[Sinapse (neurónio)|sinápticas]] cada. Esses neurónios comunicam-se por meio de fibras protoplasmáticas chamadas [[Axónio|axónio]], que conduzem pulsos em sinais chamados [[potencial de acção]] para partes distantes do encéfalo e do corpo e as encaminham para serem recebidas por [[células]] específicas.


De um ponto de vista filosófico, pode-se dizer que a função mais importante do encéfalo é servir como estrutura física subjacente à mente. Do o ponto de vista biológico, entretanto, a função mais importante do encéfalo é gerar comportamentos que promovam o bem-estar de um animal. O encéfalo controla o comportamento seja ativando músculos, seja causando a secreção de substâncias químicas, como os hormônios.
De um ponto de vista filosófico, pode-se dizer que a função mais importante do encéfalo é servir como estrutura física subjacente à mente. Do o ponto de vista biológico, entretanto, a função mais importante do encéfalo é gerar comportamentos que promovam o bem-estar de um animal. O encéfalo controla o comportamento seja activando músculos, seja causando a secreção de substâncias químicas, como os hormónios.


Nem todos os comportamentos precisam de um encéfalo. Mesmo organismos unicelulares são capazes de extrair informação do amibiente e responderem de acordo.<ref>Gehring, Wj (2005) [http://jhered.oxfordjournals.org/cgi/content/full/96/3/171 New Perspectives on Eye Development and the Evolution of Eyes and Photoreceptors: The Evolution of Eyes and Brain, J Heredity] (acessado em 26-04-2008)</ref> As esponjas, às quais falta um sistema nervoso central, são capazes de coordenar suas contrações corporais, e até mesmo de se locomoverem.<ref>{{cite journal
Nem todos os comportamentos precisam de um encéfalo. Mesmo organismos unicelulares são capazes de extrair informação do amibiente e responderem de acordo.<ref>Gehring, Wj (2005) [http://jhered.oxfordjournals.org/cgi/content/full/96/3/171 New Perspectives on Eye Development and the Evolution of Eyes and Photoreceptors: The Evolution of Eyes and Brain, J Heredity] (acessado em 26-04-2008)</ref> As esponjas, às quais falta um sistema nervoso central, são capazes de coordenar suas contracções corporais, e até mesmo de se locomoverem.<ref>{{cite journal
|last=Nickel,M
|last=Nickel,M
|coauthors=Vitello, M; Brümmer, F
|coauthors=Vitello, M; Brümmer, F
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|doi = 10.1016/j.tins.2005.05.004}}</ref> Entretanto, o controle sofisticado do comportamento, baseado em um sistema sensorial complexo requer a capacidade de integração de informações de um encéfalo centralizado.
|doi = 10.1016/j.tins.2005.05.004}}</ref> Entretanto, o controle sofisticado do comportamento, baseado em um sistema sensorial complexo requer a capacidade de integração de informações de um encéfalo centralizado.


Apesar do rápido avanço científico, muito do funcionamento do encéfalo continua um mistério. As operações individuais de neurônios e sinapses hoje são compreendidas com detalhamento considerável, mas o modo como eles cooperam em grupos de milhares ou milhões tem sido difícil de decifrar. Métodos de observação como registros de [[eletroencefalograma|EEG]] e [[neuroimagem|imageamento funcional cerebral]] mostram que as operações cerebrais são altamente organizadas, mas estes métodos não têm resolução suficiente para revelar a atividade de neurônios individualmente. Assim, mesmo os princípios mais fundamentais das redes de computação neural podem ficar, em grande medida, a serem descobertos por futuros pesquisadores.<ref>{{Referência a livro
Apesar do rápido avanço científico, muito do funcionamento do encéfalo continua um mistério. As operações individuais de neurónios e sinapses hoje são compreendidas com detalhamento considerável, mas o modo como eles cooperam em grupos de milhares ou milhões tem sido difícil de decifrar. Métodos de observação como registros de [[electroencefalograma|EEG]] e [[neuroimagem|imageamento funcional cerebral]] mostram que as operações cerebrais são altamente organizadas, mas estes métodos não têm resolução suficiente para revelar a actividade de neurónios individualmente. Assim, mesmo os princípios mais fundamentais das redes de computação neural podem ficar, em grande medida, a serem descobertos por futuros pesquisadores.<ref>{{Referência a livro
|autor = van Hemmen, JL; Sejnowski TJ
|autor = van Hemmen, JL; Sejnowski TJ
|ano = 2005
|ano = 2005
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|ano = 1994
|ano = 1994
|id =ISBN 978-0-19-508843-4
|id =ISBN 978-0-19-508843-4
|url = http://books.google.com/books?id=zr4WRMw0xRQC Neurobiology}}</ref> e compará-lo entre diferentes espécies mesmo nos aspectos básicos não é uma tarefa fácil. Porém, existem princípios comuns na arquitetura cerebral que se aplicam a uma vasta gama de espécies, que são revelados principalmente por três abordagens:
|url = http://books.google.com/books?id=zr4WRMw0xRQC Neurobiology}}</ref> e compará-lo entre diferentes espécies mesmo nos aspectos básicos não é uma tarefa fácil. Porém, existem princípios comuns na arquitectura cerebral que se aplicam a uma vasta gama de espécies, que são revelados principalmente por três abordagens:
* A [[Evolução|evolutiva]] que compara estruturas cerebrais de diferentes espécies e utiliza o princípio de que recursos encontrados em um determinado ramo também estavam presentes em seus ancestrais.
* A [[Evolução|evolutiva]] que compara estruturas cerebrais de diferentes espécies e utiliza o princípio de que recursos encontrados em um determinado ramo também estavam presentes em seus ancestrais.
* A abordagem desenvolvimentista analisa como a forma do encéfalo se desenvolve desde a fase [[embrião|embrionária]] até a fase adulta.
* A abordagem desenvolvimentista analisa como a forma do encéfalo se desenvolve desde a fase [[embrião|embrionária]] até a fase adulta.
* A abordagem [[genética]] analisa expressão gênica em diversas partes do encéfalo em toda uma gama de espécies. Cada abordagem complementa e informa os outros dois.
* A abordagem [[genética]] analisa expressão génica em diversas partes do encéfalo em toda uma gama de espécies. Cada abordagem complementa e informa os outros dois.


O [[córtex cerebral]] é a parte do encéfalo que melhor distingue os mamíferos dos outros vertebrados, primatas de outros mamíferos e humanos de outros primatas. Em vertebrados não mamíferos, a superfície do [[telencéfalo]] é forrada por uma estrutura em camadas relativamente simples chamada [[pallium (neuroanatomia)|pallium]].<ref name=Aboitiz>
O [[córtex cerebral]] é a parte do encéfalo que melhor distingue os mamíferos dos outros vertebrados, primatas de outros mamíferos e humanos de outros primatas. Em vertebrados não mamíferos, a superfície do [[telencéfalo]] é forrada por uma estrutura em camadas relativamente simples chamada [[pallium (neuroanatomia)|pallium]].<ref name=Aboitiz>
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|doi = 10.1126/science.6407108
|doi = 10.1126/science.6407108
|pmid = 6407108
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}}</ref> Esta fórmula se aplica ao encéfalo de um mamífero médio, mas cada família desvia do padrão, refletindo o nível de sofisticação em seu comportamento<ref>{{Referência a livro
}}</ref> Esta fórmula se aplica ao encéfalo de um mamífero médio, mas cada família desvia do padrão, reflectindo o nível de sofisticação em seu comportamento<ref>{{Referência a livro
|autor = Jerison, HJ
|autor = Jerison, HJ
|título = Evolution of the Brain and Intelligence
|título = Evolution of the Brain and Intelligence
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[[Ficheiro:Bilaterian-plan.svg|thumb|right|Estrutura corporal genérica de um animal bilatério. O sistema nervoso é formado por um cordão neural com alargamentos segmentais, e um "encéfalo" na extremidade anterior.]]
[[Ficheiro:Bilaterian-plan.svg|thumb|right|Estrutura corporal genérica de um animal bilatério. O sistema nervoso é formado por um cordão neural com alargamentos segmentais, e um "encéfalo" na extremidade anterior.]]


Com exceção de umas poucas formas primitivas como as [[Porifera|esponjas]] e [[água-viva|águas-vivas]], todos os animais existentes são [[Bilateria|bilaterais]], ou seja, animais cujo corpo
Com excepção de umas poucas formas primitivas como as [[Porifera|esponjas]] e [[água-viva|águas-vivas]], todos os animais existentes são [[Bilateria|bilaterais]], ou seja, animais cujo corpo
apresenta simetria bilateral (isto é, o lado direito e o esquerdo são imagens espelhadas um do outro).
apresenta simetria bilateral (isto é, o lado direito e o esquerdo são imagens espelhadas um do outro).


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|url = http://icb.oxfordjournals.org/cgi/content/full/43/1/137
|url = http://icb.oxfordjournals.org/cgi/content/full/43/1/137
|doi = 10.1093/icb/43.1.137
|doi = 10.1093/icb/43.1.137
}}</ref>. Este ancestral tinha a forma de um simples [[verme]] tubular de corpo segmentado, e num nível abstrato, este formato de verme continua presente no esquema dos corpos e sistemas nervosos de todos os bilatérios modernos, inclusive o ser humano.<ref>{{cite book
}}</ref>. Este ancestral tinha a forma de um simples [[verme]] tubular de corpo segmentado, e num nível abstracto, este formato de verme continua presente no esquema dos corpos e sistemas nervosos de todos os bilatérios modernos, inclusive o ser humano.<ref>{{cite book
|title = The Evolution of Organ Systems
|title = The Evolution of Organ Systems
|last=Schmidt-Rhaesa
|last=Schmidt-Rhaesa
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=== Invertebrados ===
=== Invertebrados ===
Em muitos invertebrados - insetos, moluscos, vermes de vários tipos, etc. - os componentes do encéfalo e sua organização difere tanto do padrão dos vertebrados que fica difícil fazer comparações com algum significado, exceto com base na genética. Dois grupos de invertebrados possuem encéfalos notavelmente complexos: [[artrópode]]s ([[inseto]]s, [[crustáceo]]s, [[aracnídeo]]s, e outros) e [[cefalópode]]s ([[polvo]]s, [[lula]]s e [[molusco]]s semelhantes)<ref name=Butler>
Em muitos invertebrados - insectos, moluscos, vermes de vários tipos, etc. - os componentes do encéfalo e sua organização difere tanto do padrão dos vertebrados que fica difícil fazer comparações com algum significado, excepto com base na genética. Dois grupos de invertebrados possuem encéfalos notavelmente complexos: [[artrópode]]s ([[insecto]]s, [[crustáceo]]s, [[aracnídeo]]s, e outros) e [[cefalópode]]s ([[polvo]]s, [[lula]]s e [[molusco]]s semelhantes)<ref name=Butler>
{{cite journal
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|last = Butler
|last = Butler
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|doi = 10.1002/1097-0185(20000615)261:3<111::AID-AR6>3.0.CO;2-F}}</ref>. Os encéfalos dos artrópodes e cefalópodes chegam de dois cordões neurais paralelos que se estendem pelo corpo do animal. Artrópodes possuem um encéfalo central com três divisões e grandes ''lobos ópticos'' atrás de cada [[olho]], para processamento visual<ref name=Butler/>. Cefalópodes têm os maiores encéfalos entre os invertebrados. O encéfalo do polvo, em particular, é altamente desenvolvido, comparável em complexidade com os encéfalos de alguns vertebrados.
|doi = 10.1002/1097-0185(20000615)261:3<111::AID-AR6>3.0.CO;2-F}}</ref>. Os encéfalos dos artrópodes e cefalópodes chegam de dois cordões neurais paralelos que se estendem pelo corpo do animal. Artrópodes possuem um encéfalo central com três divisões e grandes ''lobos ópticos'' atrás de cada [[olho]], para processamento visual<ref name=Butler/>. Cefalópodes têm os maiores encéfalos entre os invertebrados. O encéfalo do polvo, em particular, é altamente desenvolvido, comparável em complexidade com os encéfalos de alguns vertebrados.


Somente uns poucos invertebrados tiveram seus encéfalos estudados intensivamente. A grande lesma-do-mar ''[[Aplysia]]'' foi escolhida pelo prêmio Nobel de neurofisiologia [[Eric Kandel]], pela simplicidade e acessibilidade de seu sistema nervoso, como modelo para o estudo das bases celulares do aprendizado e memória, e submetida a centenas de experimentos.<ref name=Kandel>
Somente uns poucos invertebrados tiveram seus encéfalos estudados intensivamente. A grande lesma-do-mar ''[[Aplysia]]'' foi escolhida pelo prémio Nobel de neurofisiologia [[Eric Kandel]], pela simplicidade e acessibilidade de seu sistema nervoso, como modelo para o estudo das bases celulares do aprendizado e memória, e submetida a centenas de experimentos.<ref name=Kandel>
{{Referência a livro
{{Referência a livro
|autor = Kandel, ER
|autor = Kandel, ER
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[[Ficheiro:Drosophila melanogaster - side (aka).jpg|thumb|left|120px|''Drosophila''.]]
[[Ficheiro:Drosophila melanogaster - side (aka).jpg|thumb|left|120px|''Drosophila''.]]
Pela abundância de técnicas disponíveis para estudar sua genética, a mosca-da-fruta tornou-se o objeto natural no estudo do papel dos genes no desenvolvimento do encéfalo.<ref>{{cite web
Pela abundância de técnicas disponíveis para estudar sua genética, a mosca-da-fruta tornou-se o objecto natural no estudo do papel dos genes no desenvolvimento do encéfalo.<ref>{{cite web
|title=Flybrain: An online atlas and database of the ''drosophila'' nervous system
|title=Flybrain: An online atlas and database of the ''drosophila'' nervous system
|url = http://flybrain.neurobio.arizona.edu/}}</ref> Notavelmente, muitos aspectos neurogenéticos da ''Drosophila'' mostraram-se relevantes para os humanos. Os primeiros genes do [[relógio biológico]], por exemplo, foram identificados ao se examinar ''Drosophilae'' mutantes que apresentavam ciclos irregulares na atividade diária.<ref>{{cite journal
|url = http://flybrain.neurobio.arizona.edu/}}</ref> Notavelmente, muitos aspectos neurogenéticos da ''Drosophila'' mostraram-se relevantes para os humanos. Os primeiros genes do [[relógio biológico]], por exemplo, foram identificados ao se examinar ''Drosophilae'' mutantes que apresentavam ciclos irregulares na actividade diária.<ref>{{cite journal
|last = Konopka
|last = Konopka
|first = RJ
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|title=WormBook: The online review of ''c. elegans'' biology
|title=WormBook: The online review of ''c. elegans'' biology
|url = http://www.wormbook.org/
|url = http://www.wormbook.org/
}}</ref> No início dos anos 1970, [[Sydney Brenner]] a escolheu como [[organismos modelo]] para estudar o modo como os genes controlam o desenvolvimento. Uma das vantagens de trabalhar com este verme é que a estrutura corporal é bastante sumária: o sistema nervoso da forma [[hermafrodita]] possui exatamente 302 neurônios, sempre nos mesmos lugares, formando conexões sinápticas idênticas em cada verme<ref><!--Não entendi essa predefinição-->
}}</ref> No início dos anos 1970, [[Sydney Brenner]] a escolheu como [[organismos modelo]] para estudar o modo como os genes controlam o desenvolvimento. Uma das vantagens de trabalhar com este verme é que a estrutura corporal é bastante sumária: o sistema nervoso da forma [[hermafrodita]] possui exactamente 302 neurónios, sempre nos mesmos lugares, formando conexões sinápticas idênticas em cada verme<ref><!--Não entendi essa predefinição-->
{{Citation
{{Citation
|contribution = Specification of the nervous system
|contribution = Specification of the nervous system
Linha 191: Linha 191:
|doi = 10.1895/wormbook.1.12.1
|doi = 10.1895/wormbook.1.12.1
|contribution-url = http://www.wormbook.org/chapters/www_specnervsys/specnervsys.html
|contribution-url = http://www.wormbook.org/chapters/www_specnervsys/specnervsys.html
}}</ref>. Num projeto heróico, a equipe de Brenner fatiou vermes em milhares de seções ultra-finas e fotografou cada seção num microscópio eletrônico, então encaixou visualmente as fibras de seção para seção, a fim de mapear cada neurônio e cada sinapse de todo o corpo.<ref>{{cite journal
}}</ref>. Num projecto heróico, a equipe de Brenner fatiou vermes em milhares de seções ultra-finas e fotografou cada seção num microscópio electrónico, então encaixou visualmente as fibras de seção para seção, a fim de mapear cada neurónio e cada sinapse de todo o corpo.<ref>{{cite journal
|last = White
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|first = JG
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|volume=421
|volume=421
|pages=526–529}}</ref> Os tubarões apareceram por volta de 450&nbsp;Ma, anfíbios 400&nbsp;Ma, réptes por volta de 350&nbsp;Ma e mamíferos uns 200&nbsp;Ma.
|pages=526–529}}</ref> Os tubarões apareceram por volta de 450&nbsp;Ma, anfíbios 400&nbsp;Ma, réptes por volta de 350&nbsp;Ma e mamíferos uns 200&nbsp;Ma.
Não seria correto dizer que qualquer espécie atual é mais ''primitiva'' do que outra, já que todas têm sua história evolutiva igualmente longas, mas os encéfalos dos modernos peixe-bruxa, lampreias, tubarões, anfíbios, répteis e mamíferos apresentam uma gradação de tamanho e complexidade que, grosso modo, segue a sequência evolutiva<ref>{{Referência a livro
Não seria correcto dizer que qualquer espécie actual é mais ''primitiva'' do que outra, já que todas têm sua história evolutiva igualmente longas, mas os encéfalos dos modernos peixe-bruxa, lampreias, tubarões, anfíbios, répteis e mamíferos apresentam uma gradação de tamanho e complexidade que, grosso modo, segue a sequência evolutiva<ref>{{Referência a livro
|autor = Striedter, GF
|autor = Striedter, GF
|ano = 2005
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|id = ISBN 978-0-87893-820-9
|id = ISBN 978-0-87893-820-9
|páginas = http://books.google.com/books?id=EPrJHQAACAAJ
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}}</ref>. Todos estes encéfalos contêm basicamente o mesmo conjunto de elementos anatômicos, mas muitos destes são rudimentares no peixe-bruxa, enquanto nos mamíferos as partes frontais são altamente elaboradas e expandidas.
}}</ref>. Todos estes encéfalos contêm basicamente o mesmo conjunto de elementos anatómicos, mas muitos destes são rudimentares no peixe-bruxa, enquanto nos mamíferos as partes frontais são altamente elaboradas e expandidas.


Todos os encéfalos vertebrados partilham de uma mesma forma fundamental, que pode apreciada mais facilmente ao se examinar como eles se desenvolvem.<ref name=Principles/> O sistema nervoso aparece na forma de uma fina tira de tecido que corre pelo dorso do embrião. Esta tira engrossa e então se dobra para formar um tubo oco. A extremidade frontal do tubo se desenvolve e forma o encéfalo. Em sua forma mais recente, o encéfalo aparece como três protuberâncias, que finalmente formarão o prosencéfalo, o mesencéfalo e o rombencéfalo.
Todos os encéfalos vertebrados partilham de uma mesma forma fundamental, que pode apreciada mais facilmente ao se examinar como eles se desenvolvem.<ref name=Principles/> O sistema nervoso aparece na forma de uma fina tira de tecido que corre pelo dorso do embrião. Esta tira engrossa e então se dobra para formar um tubo oco. A extremidade frontal do tubo se desenvolve e forma o encéfalo. Em sua forma mais recente, o encéfalo aparece como três protuberâncias, que finalmente formarão o prosencéfalo, o mesencéfalo e o rombencéfalo.
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|pmid = 16206213
|pmid = 16206213
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[[Ficheiro:Vertebrate-brain-regions.png|thumb|left|Principais regiões anatômicas do encéfalo dos vertebrados.]]
[[Ficheiro:Vertebrate-brain-regions.png|thumb|left|Principais regiões anatómicas do encéfalo dos vertebrados.]]


Diversas áreas cerebrais mantêm a mesma identidade entre todos os vertebrados, do peixes-bruxa ao ser humano. Segue uma lista de algumas das áreas mais importantes, com breve descrição de suas funções como são entendidas atualmente (mas note-se que ainda existe algum grau de discordância a respeito das funções da maioria das áreas):
Diversas áreas cerebrais mantêm a mesma identidade entre todos os vertebrados, do peixes-bruxa ao ser humano. Segue uma lista de algumas das áreas mais importantes, com breve descrição de suas funções como são entendidas actualmente (mas note-se que ainda existe algum grau de discordância a respeito das funções da maioria das áreas):


* A [[medula]], ao longo do cordão espinhal, contém vários pequenos núcleos envolvidos em ampla variedade de funções sensórias e motoras.
* A [[medula]], ao longo do cordão espinhal, contém vários pequenos núcleos envolvidos em ampla variedade de funções sensórias e motoras.
* O [[hipotálamo]] é uma pequena região na base do prosencéfalo, cuja complexidade não corresponde ao tamanho. É composto de numerosos pequenos núcleos, cada um com conexões distintas e neuroquímica idem. O hipotálamo é a estação central de controle dos ciclos de sono/alerta, controle de fome e sede, controle da liberação de hormônios e muitas outras funções biológicas críticas.<ref>{{Referência a livro
* O [[hipotálamo]] é uma pequena região na base do prosencéfalo, cuja complexidade não corresponde ao tamanho. É composto de numerosos pequenos núcleos, cada um com conexões distintas e neuroquímica idem. O hipotálamo é a estação central de controle dos ciclos de sono/alerta, controle de fome e sede, controle da liberação de hormónios e muitas outras funções biológicas críticas.<ref>{{Referência a livro
|autor = Swaab, DF; Aminoff MJ, Boller F
|autor = Swaab, DF; Aminoff MJ, Boller F
|ano = 2003
|ano = 2003
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|páginas = http://books.google.com/books?id=Js81Pr1PmaAC
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}}</ref>
* Como o hipotálamo, o [[tálamo]] é um conjunto de núcleos com funções diversas. Alguns estão envolvidos em retransmitir informações dos e para os hemisférios cerebrais. Outros estão envolvidos na motivação. A região subtalâmica (zona incerta) parece conter sistemas geradores de ação para diversos tipos de comportamentos "consumatórios", incluindo comer, beber, defecação e cópula.<ref>{{Referência a livro
* Como o hipotálamo, o [[tálamo]] é um conjunto de núcleos com funções diversas. Alguns estão envolvidos em retransmitir informações dos e para os hemisférios cerebrais. Outros estão envolvidos na motivação. A região subtalâmica (zona incerta) parece conter sistemas geradores de acção para diversos tipos de comportamentos "consumatórios", incluindo comer, beber, defecação e cópula.<ref>{{Referência a livro
|título = The Thalamus
|título = The Thalamus
|autor = Jones, EG
|autor = Jones, EG
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|páginas = http://books.google.com/books?id=WMxqAAAAMAAJ
|páginas = http://books.google.com/books?id=WMxqAAAAMAAJ
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* O [[cerebelo]] modula as informações de outros sistemas cerebrais para fazê-las mais precisas. A remoção do cerebelo não impede um animal de fazer nada em particular, mas deixa suas ações hesitantes e desajeitadas. Tal precisão não é inata, mas aprendida por tentativa e erro. Aprender a andar de bicicleta é exemplo de um tipo de plasticidade neural que acontece majoritariamente dentro do cerebelo.<ref name=Principles/>
* O [[cerebelo]] modula as informações de outros sistemas cerebrais para fazê-las mais precisas. A remoção do cerebelo não impede um animal de fazer nada em particular, mas deixa suas acções hesitantes e desajeitadas. Tal precisão não é inata, mas aprendida por tentativa e erro. Aprender a andar de bicicleta é exemplo de um tipo de plasticidade neural que acontece majoritariamente dentro do cerebelo.<ref name=Principles/>
* O [[teto mesencefálico|teto]], também chamado de "teto óptico" permite direcionar ações a determinado ponto no espaço. Nos mamíferos, é chamado de [[colículo superior]], e sua função mais bem estudada é a de direcionar os movimentos oculares. Mas também dirige o movimento de alcançar. O teto recebe fortes estímulos visuais, mas também estímulos de outros sentidos que são úteis ao direcionamento de ações, como estímulos auditivos em corujas, estímulos das [[fosseta loreal|fossetas loreais]] de serpentes, etc. Em alguns quais peixes, o teto é a maior porção do encéfalo.<ref>{{cite journal
* O [[tecto mesencefálico|tecto]], também chamado de "tecto óptico" permite direccionar acções a determinado ponto no espaço. Nos mamíferos, é chamado de [[colículo superior]], e sua função mais bem estudada é a de direccionar os movimentos oculares. Mas também dirige o movimento de alcançar. O tecto recebe fortes estímulos visuais, mas também estímulos de outros sentidos que são úteis ao direccionamento de acções, como estímulos auditivos em corujas, estímulos das [[fosseta loreal|fossetas loreais]] de serpentes, etc. Em alguns quais peixes, o tecto é a maior porção do encéfalo.<ref>{{cite journal
|last = Saitoh
|last = Saitoh
|first = K
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Linha 305: Linha 305:
|doi = 10.1152/jn.00639.2006
|doi = 10.1152/jn.00639.2006
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}}</ref>
* O [[pálio (neuroanatomia)|pálio]] é uma camada de matéria cinzenta que fica na superfície do prosencéfalo. Nos répteis e mamíferos, ela é chamada de [[córtex]]. O pálio está relacionado a múltiplas funções, incluindo o [[olfato]] e a [[memória espacial]]. Nos mamíferos, em que o córtex domina o encéfalo, ele assume funções de várias regiões subcorticais.<ref>{{cite journal
* O [[pálio (neuroanatomia)|pálio]] é uma camada de matéria cinzenta que fica na superfície do prosencéfalo. Nos répteis e mamíferos, ela é chamada de [[córtex]]. O pálio está relacionado a múltiplas funções, incluindo o [[olfacto]] e a [[memória espacial]]. Nos mamíferos, em que o córtex domina o encéfalo, ele assume funções de várias regiões subcorticais.<ref>{{cite journal
|last = Puelles
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|doi = 10.1159/000072438
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}}</ref>
* Os [[gânglio basal|gânglios basais]] são um grupo de estruturas interconectadas do prosencéfalo, das quais nosso entendimento aumentou consideravelmente nos últimos anos. A função primária dos gânglios basais parece ser a de [[seleção de ação]]. Eles mandam sinais inibitórios para todas as partes do encéfalo que possam gerar ações, e nas circunstâncias certas pode liberar a inibição, de modo que os sistemas de geração de ação executem suas ações. Recompensas e punições têm seus efeitos neurais mais importantes sobre os gânglios basais.<ref>{{cite journal
* Os [[gânglio basal|gânglios basais]] são um grupo de estruturas interconectadas do prosencéfalo, das quais nosso entendimento aumentou consideravelmente nos últimos anos. A função primária dos gânglios basais parece ser a de [[selecção de acção]]. Eles mandam sinais inibitórios para todas as partes do encéfalo que possam gerar acções, e nas circunstâncias certas pode liberar a inibição, de modo que os sistemas de geração de acção executem suas acções. Recompensas e punições têm seus efeitos neurais mais importantes sobre os gânglios basais.<ref>{{cite journal
|last = Grillner
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|first = S
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|doi = 10.1016/S0165-0173(02)00193-5
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* O [[bulbo olfativo]] é uma estrutura especial que processa os sinais sensórios olfativos e envia seus resultados para a parte olfativa do pálio. É um elemento significativo do encéfalo de muitos vertebrados, mas é muito reduzido nos primatas.<ref>{{cite journal
* O [[bulbo olfactivo]] é uma estrutura especial que processa os sinais sensórios olfactivos e envia seus resultados para a parte olfactiva do pálio. É um elemento significativo do encéfalo de muitos vertebrados, mas é muito reduzido nos primatas.<ref>{{cite journal
|last = Northcutt
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|first = RG
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}}</ref> Nos mamíferos, a maior parte da superfície dos hemisférios cerebrais é coberta por um ''isocórtex'' de seis camadas, mais complexo que o [[pallium]] de três camadas visto na maioria dos vertebrados. O [[hipocampo]] dos mamíferos também possui estrutura diferente.
}}</ref> Nos mamíferos, a maior parte da superfície dos hemisférios cerebrais é coberta por um ''isocórtex'' de seis camadas, mais complexo que o [[pallium]] de três camadas visto na maioria dos vertebrados. O [[hipocampo]] dos mamíferos também possui estrutura diferente.


Infelizmente, a história evolucionária destas características mamíferas, especialmente o córtex de seis camadas, é difícil de reconstituir<ref name=Aboitiz/>. Isto principalmente pela falta de um [[elo perdido]]. Os ancestrais dos mamíferos, chamados [[sinápsida]]s, separam-se dos ancestrais dos répteis modernos e aves por volta de 350 milhões de anos atrás. Entretanto, a ramificação mais recente que vingou entre os mamíferos foi a separação entre [[monotremado]]s ([[ornitorrinco]] e [[équidna]]), [[marsupiais]] ([[gambá]], [[canguru]]) e [[placentário]]s (maioria dos mamíferos atuais), que aconteceu em torno de 120 milhões de anos atrás. Os encéfalos dos monotremados e dos marsupiais são diferentes dos encéfalos placentários em alguns aspectos, mas possuem as estruturas corticais e do hipocampo inteiramente mamíferas. Assim, estas estruturas devem ter evoluído entre 350 e 120 milhões de anos atrás, período que não deixou evidências senão fósseis, que não conservam tecidos moles como o encéfalo.
Infelizmente, a história evolucionária destas características mamíferas, especialmente o córtex de seis camadas, é difícil de reconstituir<ref name=Aboitiz/>. Isto principalmente pela falta de um [[elo perdido]]. Os ancestrais dos mamíferos, chamados [[sinápsida]]s, separam-se dos ancestrais dos répteis modernos e aves por volta de 350 milhões de anos atrás. Entretanto, a ramificação mais recente que vingou entre os mamíferos foi a separação entre [[monotremado]]s ([[ornitorrinco]] e [[équidna]]), [[marsupiais]] ([[gambá]], [[canguru]]) e [[placentário]]s (maioria dos mamíferos actuais), que aconteceu em torno de 120 milhões de anos atrás. Os encéfalos dos monotremados e dos marsupiais são diferentes dos encéfalos placentários em alguns aspectos, mas possuem as estruturas corticais e do hipocampo inteiramente mamíferas. Assim, estas estruturas devem ter evoluído entre 350 e 120 milhões de anos atrás, período que não deixou evidências senão fósseis, que não conservam tecidos moles como o encéfalo.


=== Primatas (incluindo humanos) ===
=== Primatas (incluindo humanos) ===
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== Estrutura Microscópica ==
== Estrutura Microscópica ==
[[Ficheiro:Complete neuron cell diagram pt.svg|thumb|right|300px|Esquema de um neurônio.]]
[[Ficheiro:Complete neuron cell diagram pt.svg|thumb|right|300px|Esquema de um neurónio.]]
O encéfalo é composto de duas grandes classes de células, [[neurônio]]s e [[neuróglia|células das glia]].<ref name=Principles/> Neurônios recebem mais atenção, mas, na verdade, as células gliais são mais frequentes, formando uma proporção de pelo menos 10 para 1. Existem diversos tipos de células gliais, que realizam um grande número de funções importantes como: suporte estrutural, suporte metabólico, isolamento, e guia para o desenvolvimento.
O encéfalo é composto de duas grandes classes de células, [[neurónio]]s e [[neuróglia|células das glia]].<ref name=Principles/> Neurónios recebem mais atenção, mas, na verdade, as células gliais são mais frequentes, formando uma proporção de pelo menos 10 para 1. Existem diversos tipos de células gliais, que realizam um grande número de funções importantes como: suporte estrutural, suporte metabólico, isolamento, e guia para o desenvolvimento.


A característica que torna os neurônios tão importantes é a capacidade de enviar sinais uns para os outros através de longas distâncias, algo que não ocorre nas células gliais.<ref name=Principles/> Eles enviam esses sinais através de um [[axônio]], uma fina fibra protoplasmática que parte do corpo celular e projeta-se, normalmente com inúmeras ramificações, para outras áreas, às vezes perto, às vezes em partes distantes do encéfalo ou do corpo. A extensão de um axônio pode ser extraordinária: por exemplo, se uma célula piramidal do neocórtex fosse aumentada até que o tamanho de seu corpo fica-se do tamanho de um corpo humano, seu axônio, igualmente aumentado, seria um cabo com algumas polegadas de diâmetro, estendendo-se por mais de um quilômetro. Esses axônios transmitem sinais na forma de pulsos eletroquímicos chamados [[potencial de ação|potenciais de ação]], que duram menos que um milésimo de segundo e viajam através do axônio numa velocidade de 1 a 100 metros por segundo. Alguns neurônios emitem potenciais de ação constantemente, 10 a 100 vezes por segundo, normalmente em padrões temporais irregulares; outros neurônios ficam em repouso a maior parte do tempo, mas ocasionalmente emitem uma rajada de potenciais de ação.
A característica que torna os neurónios tão importantes é a capacidade de enviar sinais uns para os outros através de longas distâncias, algo que não ocorre nas células gliais.<ref name=Principles/> Eles enviam esses sinais através de um [[axónio]], uma fina fibra protoplasmática que parte do corpo celular e projecta-se, normalmente com inúmeras ramificações, para outras áreas, às vezes perto, às vezes em partes distantes do encéfalo ou do corpo. A extensão de um axónio pode ser extraordinária: por exemplo, se uma célula piramidal do neocórtex fosse aumentada até que o tamanho de seu corpo fica-se do tamanho de um corpo humano, seu axónio, igualmente aumentado, seria um cabo com algumas polegadas de diâmetro, estendendo-se por mais de um quilómetro. Esses axónios transmitem sinais na forma de pulsos electroquímicos chamados [[potencial de acção|potenciais de acção]], que duram menos que um milésimo de segundo e viajam através do axónio numa velocidade de 1 a 100 metros por segundo. Alguns neurónios emitem potenciais de acção constantemente, 10 a 100 vezes por segundo, normalmente em padrões temporais irregulares; outros neurónios ficam em repouso a maior parte do tempo, mas ocasionalmente emitem uma rajada de potenciais de acção.


Axônios transmitem sinais para outros neurônios, ou para células não-neuronais, através de uma junção especializada chamada [[sinapse]].<ref name=Principles/> Um único axônio pode fazer diversas conexões sinápticas. Quando um potencial de ação, viajando através do axônio, chega à sinapse, ele faz com que um composto químico chamado de [[neurotransmissor]] seja liberado. O neurotransmissor liga-se a [[Receptor (bioquímica)|moléculas receptoras]] na membrana da célula alvo. Alguns tipos de receptores neuronais são ''excitatórios'', ou seja, eles aumentam a frequência dos potenciais de ação na célula alvo; outros receptores são ''inibitórios'', ou seja, eles diminuem a frequência dos potenciais de ação; outros tem efeitos efeitos modulatórios complexos na célula alvo.
Axónios transmitem sinais para outros neurónios, ou para células não-neuronais, através de uma junção especializada chamada [[sinapse]].<ref name=Principles/> Um único axónio pode fazer diversas conexões sinápticas. Quando um potencial de acção, viajando através do axónio, chega à sinapse, ele faz com que um composto químico chamado de [[neurotransmissor]] seja liberado. O neurotransmissor liga-se a [[Receptor (bioquímica)|moléculas receptoras]] na membrana da célula alvo. Alguns tipos de receptores neuronais são ''excitatórios'', ou seja, eles aumentam a frequência dos potenciais de acção na célula alvo; outros receptores são ''inibitórios'', ou seja, eles diminuem a frequência dos potenciais de acção; outros tem efeitos efeitos modulatórios complexos na célula alvo.


Na verdade, são os axônios que preenchem a maior parte do espaço do encéfalo.<ref name=Principles/> Normalmente, grandes grupos deles viajam juntos em aglomerados chamados ''tratos de fibras nervosas''. Em muitos casos, cada axônio é envolto por uma grossa bainha de uma substância lipídica chamada [[Mielina]], cuja função é aumentar muito a velocidade de propagação do potencial de ação. A mielina tem coloração branca, por isso as partes do encéfalo preenchidas exclusivamente por fibras nervosas aparecem como ''substância branca'', em oposição à ''substância cinzenta'' que marca as áreas com altas densidades de corpos celulares neuronais.
Na verdade, são os axónios que preenchem a maior parte do espaço do encéfalo.<ref name=Principles/> Normalmente, grandes grupos deles viajam juntos em aglomerados chamados ''tractos de fibras nervosas''. Em muitos casos, cada axónio é envolto por uma grossa bainha de uma substância lipídica chamada [[Mielina]], cuja função é aumentar muito a velocidade de propagação do potencial de acção. A mielina tem coloração branca, por isso as partes do encéfalo preenchidas exclusivamente por fibras nervosas aparecem como ''substância branca'', em oposição à ''substância cinzenta'' que marca as áreas com altas densidades de corpos celulares neuronais.


== Desenvolvimento ==
== Desenvolvimento ==
[[Ficheiro:EmbryonicBrain.svg|thumb|right|Diagrama representando as principais subdivisões do cérebro [[embriogênese|embrionário]] dos vertebrados. Estas regiões posteriormente se diferenciam em prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo.]]
[[Ficheiro:EmbryonicBrain.svg|thumb|right|Diagrama representando as principais subdivisões do cérebro [[embriogénese|embrionário]] dos vertebrados. Estas regiões posteriormente se diferenciam em prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo.]]
O encéfalo não apenas cresce, ele se desenvolve em uma sequência muito bem orquestrada.<ref>[[#refPurvesLichtman|''Principles of Neural Development'']], Ch. 1</ref> muitos neurônios são criados em zonas especiais que contêm [[células-tronco]], e então migram pelo tecido para chegarem a sua localização final.<ref>[[#refPurvesLichtman|''Principles of Neural Development'']], Ch. 4</ref> No córtex, por exemplo, o primeiro estágio de desenvolvimento é a formação de uma "plataforma" por um grupo especial de células gliais, chamadas [[glia radial|glia radiais]] , que projetam fibras verticalmente através do córtex. Os neurônios corticais novos são criados na base do córtex, então "escalam" estas fibras radiais até chegarem às camadas que estão destinados a ocupar enquanto adultos.
O encéfalo não apenas cresce, ele se desenvolve em uma sequência muito bem orquestrada.<ref>[[#refPurvesLichtman|''Principles of Neural Development'']], Ch. 1</ref> muitos neurónios são criados em zonas especiais que contêm [[células-tronco]], e então migram pelo tecido para chegarem a sua localização final.<ref>[[#refPurvesLichtman|''Principles of Neural Development'']], Ch. 4</ref> No córtex, por exemplo, o primeiro estágio de desenvolvimento é a formação de uma "plataforma" por um grupo especial de células gliais, chamadas [[glia radial|glia radiais]] , que projectam fibras verticalmente através do córtex. Os neurónios corticais novos são criados na base do córtex, então "escalam" estas fibras radiais até chegarem às camadas que estão destinados a ocupar enquanto adultos.
Uma vez em seu lugar, o neurônio começa a estender dendritos e um axônio a seu redor<ref>[[#refPurvesLichtman|''Principles of Neural Development'']], Chs. 5, 7</ref> Os axônios, por geralmente se estenderem a grande distância do corpo celular e terem de fazer contato com alvos específicos, crescem de modo particularmente complexo. A ponta de um axônio em crescimento consiste de uma bolha de protoplasma chamada "cone de crescimento", repleta de receptores químicos. Estes receptores sentem o ambiente local, fazendo o cone de crescimento ser atraído ou repelido por vários elementos celulares, sendo atraído a uma direção em particular em cada ponto de seu trajeto. O resultado deste processo de direcionamento é que o cone de crescimento navega através do cérebro até atingir sua área de destino, onde outros indicadores químicos o fazem iniciar a formação de sinapses. Levando em conta todo o encéfalo, muitos milhares de genes dão origem a proteínas que influenciam o direcionamento do axônio.
Uma vez em seu lugar, o neurónio começa a estender dendritos e um axónio a seu redor<ref>[[#refPurvesLichtman|''Principles of Neural Development'']], Chs. 5, 7</ref> Os axónios, por geralmente se estenderem a grande distância do corpo celular e terem de fazer contacto com alvos específicos, crescem de modo particularmente complexo. A ponta de um axónio em crescimento consiste de uma bolha de protoplasma chamada "cone de crescimento", repleta de receptores químicos. Estes receptores sentem o ambiente local, fazendo o cone de crescimento ser atraído ou repelido por vários elementos celulares, sendo atraído a uma direcção em particular em cada ponto de seu trajecto. O resultado deste processo de direccionamento é que o cone de crescimento navega através do cérebro até atingir sua área de destino, onde outros indicadores químicos o fazem iniciar a formação de sinapses. Levando em conta todo o encéfalo, muitos milhares de genes dão origem a proteínas que influenciam o direccionamento do axónio.


Entretanto, a rede sináptica que se forma é apenas parcialmente determinada pelos genes. Em muitas partes do encéfalo, há inicialmente um "supercrescimento" de axônios, que então são "ceifados" por mecanismos que dependem da atividade neural.<ref>[[#refPurvesLichtman|''Principles of Neural Development'']], Ch. 12</ref> Na projeção do olho para o mesencéfalo, por exemplo, a estrutura adulta apresenta uma organização muito precisa, conectando cada ponto da superfície da [[retina]] a um ponto correspondente numa camada mesencefálica. Nos primeiros estágios de desenvolvimento, cada axônio da retina é guiado para a região correta do mesencéfalo por indicadores químicos, mas então se ramifica profusamente e faz contato inicial com um amplo feixe de neurônios do mesencéfalo. A retina, antes do nascimento, possui mecanismos especiais que a fazem gerar ondas de atividade que se originam em algum ponto e se propagam lentamente pela superfície retinal.<ref>[[#refWong|Wong, 1999]]</ref> Estas ondas são úteis por ativarem ao mesmo tempo os neurônios vizinhos: quer dizer, elas produzem um padrão de atividade neural que contém informação sobre o arranjo espacial dos neurônios. Esta informação é utilizada no mesencéfalo por um mecanismo que faz as sinapses enfraquecerem, e finalmente desaparecerem, se a atividade em um axônio não for seguida pela ativação da célula-alvo. O resultado deste processo sofisticado é a gradual afinação e consolidação do sistema, até adquirir a forma final adulta.
Entretanto, a rede sináptica que se forma é apenas parcialmente determinada pelos genes. Em muitas partes do encéfalo, há inicialmente um "supercrescimento" de axónios, que então são "ceifados" por mecanismos que dependem da actividade neural.<ref>[[#refPurvesLichtman|''Principles of Neural Development'']], Ch. 12</ref> Na projecção do olho para o mesencéfalo, por exemplo, a estrutura adulta apresenta uma organização muito precisa, conectando cada ponto da superfície da [[retina]] a um ponto correspondente numa camada mesencefálica. Nos primeiros estágios de desenvolvimento, cada axónio da retina é guiado para a região correcta do mesencéfalo por indicadores químicos, mas então se ramifica profusamente e faz contacto inicial com um amplo feixe de neurónios do mesencéfalo. A retina, antes do nascimento, possui mecanismos especiais que a fazem gerar ondas de actividade que se originam em algum ponto e se propagam lentamente pela superfície retinal.<ref>[[#refWong|Wong, 1999]]</ref> Estas ondas são úteis por activarem ao mesmo tempo os neurónios vizinhos: quer dizer, elas produzem um padrão de actividade neural que contém informação sobre o arranjo espacial dos neurónios. Esta informação é utilizada no mesencéfalo por um mecanismo que faz as sinapses enfraquecerem, e finalmente desaparecerem, se a actividade em um axónio não for seguida pela activação da célula-alvo. O resultado deste processo sofisticado é a gradual afinação e consolidação do sistema, até adquirir a forma final adulta.


Processos semelhantes têm lugar em outras áreas do cérebro: uma matriz sináptica inicial é gerada, resultado do direcionamento químico geneticamente determinado, mas então é gradualmente refinada por mecanismos dependentes da atividade, parte controlados pela dinâmica interna, e parte por estímulos sensórios externos. Em alguns casos, assim como no sistema retina-mesencéfalo, os padrões de atividade dependem de mecanismos que operam apenas no cérebro em desenvolvimento, e aparentemente existem somente com o fim de guiar o desenvolvimento.
Processos semelhantes têm lugar em outras áreas do cérebro: uma matriz sináptica inicial é gerada, resultado do direccionamento químico geneticamente determinado, mas então é gradualmente refinada por mecanismos dependentes da actividade, parte controlados pela dinâmica interna, e parte por estímulos sensórios externos. Em alguns casos, assim como no sistema retina-mesencéfalo, os padrões de actividade dependem de mecanismos que operam apenas no cérebro em desenvolvimento, e aparentemente existem somente com o fim de guiar o desenvolvimento.


No ser humano e em muitos outros mamíferos, novos neurônios são criados principalmente antes do nascimento, e o cérebro infantil contém número significativamente maior do que o adulto.<ref>[[#refPurvesLichtman|''Principles of Neural Development'']], Ch. 6</ref> Há entretanto umas poucas áreas onde novos neurônios continuam a ser criados durante a vida. As duas áreas para as quais o fato é pacífico são o bulbo olfatório e o giro dentado do [[hipocampo]], onde há evidências de que novos neurônios estão envolvidos no armazenamento de memórias recentes. Com estas exceções, entretanto, o conjunto dos neurônios que estão presentes na primeira infância é o mesmo para o resto da vida. (Células gliais são diferentes: assim como a maioria dos tipos de células do corpo, estas se reproduzem ao longo da vida.)
No ser humano e em muitos outros mamíferos, novos neurónios são criados principalmente antes do nascimento, e o cérebro infantil contém número significativamente maior do que o adulto.<ref>[[#refPurvesLichtman|''Principles of Neural Development'']], Ch. 6</ref> Há entretanto umas poucas áreas onde novos neurónios continuam a ser criados durante a vida. As duas áreas para as quais o fato é pacífico são o bulbo olfactório e o giro dentado do [[hipocampo]], onde há evidências de que novos neurónios estão envolvidos no armazenamento de memórias recentes. Com estas excepções, entretanto, o conjunto dos neurónios que estão presentes na primeira infância é o mesmo para o resto da vida. (Células gliais são diferentes: assim como a maioria dos tipos de células do corpo, estas se reproduzem ao longo da vida.)


Apesar de o conjunto de neurônios já estar praticamente todo no lugar quando do nascimento, suas conexões axonais continuam a se desenvolver ainda por longo tempo. No ser humano, a mielinação não está completada até a adolescência.<ref>[[#refPaus|Paus et al, 2001]]</ref>
Apesar de o conjunto de neurónios já estar praticamente todo no lugar quando do nascimento, suas conexões axonais continuam a se desenvolver ainda por longo tempo. No ser humano, a mielinação não está completada até a adolescência.<ref>[[#refPaus|Paus et al, 2001]]</ref>


Houve longo debate sobre se as características da mente, personalidade e inteligência podem ser atribuídas à hereditariedade ou à criação; o debate "[[inato ou adquirido]]".<ref>[[#refRidley|Ridley, ''Nature vs Nurture'']]</ref> Não é uma questão apenas filosófica: ela assume grande relevância prática para pais e educadores. Apesar de muitos detalhes ainda precisarem ser esclarecidos, a neurociência mostra claramente que ambos fatores são essenciais. Os genes determinam a forma geral do encéfalo, e determinam como o encéfalo reage à experiência. A experiência, entretanto, é necessária para refinar a matriz de conexões sinápticas. Em alguns aspectos, esta (a matriz) é em grande parte uma questão de presença ou ausência de experiência durante períodos críticos de desenvolvimento.<ref>[[#refWiesel|Wiesel, 1982]]</ref> Em outros aspectos, a quantidade e a qualidade da experiência pode ser mais relevante: por exemplo, há evidências substanciais de que animais criados em ''ambientes ricos'' (riqueza de estímulos) têm córtex mais espesso do que animais cujos níveis de estimulação são restritos.<ref>[[#refvanPraag|van Praag et al, 2000]]</ref>
Houve longo debate sobre se as características da mente, personalidade e inteligência podem ser atribuídas à hereditariedade ou à criação; o debate "[[inato ou adquirido]]".<ref>[[#refRidley|Ridley, ''Nature vs Nurture'']]</ref> Não é uma questão apenas filosófica: ela assume grande relevância prática para pais e educadores. Apesar de muitos detalhes ainda precisarem ser esclarecidos, a neurociência mostra claramente que ambos factores são essenciais. Os genes determinam a forma geral do encéfalo, e determinam como o encéfalo reage à experiência. A experiência, entretanto, é necessária para refinar a matriz de conexões sinápticas. Em alguns aspectos, esta (a matriz) é em grande parte uma questão de presença ou ausência de experiência durante períodos críticos de desenvolvimento.<ref>[[#refWiesel|Wiesel, 1982]]</ref> Em outros aspectos, a quantidade e a qualidade da experiência pode ser mais relevante: por exemplo, há evidências substanciais de que animais criados em ''ambientes ricos'' (riqueza de estímulos) têm córtex mais espesso do que animais cujos níveis de estimulação são restritos.<ref>[[#refvanPraag|van Praag et al, 2000]]</ref>


== Funcionamento ==
== Funcionamento ==
De uma perspectiva biológica, a função do encéfalo é gerar comportamentos que promovam a [[aptidão|aptidão genética]] de um animal.<ref>[[#refCarew|Carew, ''Behavioral Neurobiology'']], Ch. 1</ref> Para fazê-lo, ele extrai informações relevantes dos órgãos sensíveis para refinar as ações do animal. Sinais sensórios podem estimular respostas imediatas, como quando o sistema olfatório de um veado detecta o odor de um lobo; podem modular o padrão de atividade em andamento, como os efeitos dos ciclos de claridade-escuridão sobre o estado de sono-vigilia de um organismo; ou suas informações podem ser armazenadas, para o caso de relevância futura. O cérebro gerencia sua complexa tarefa orquestrando subsistemas funcionais, que podem ser categorizados de várias formas: anatomicamente, quimicamente e funcionalmente.
De uma perspectiva biológica, a função do encéfalo é gerar comportamentos que promovam a [[aptidão|aptidão genética]] de um animal.<ref>[[#refCarew|Carew, ''Behavioral Neurobiology'']], Ch. 1</ref> Para fazê-lo, ele extrai informações relevantes dos órgãos sensíveis para refinar as acções do animal. Sinais sensórios podem estimular respostas imediatas, como quando o sistema olfactório de um veado detecta o odor de um lobo; podem modular o padrão de actividade em andamento, como os efeitos dos ciclos de claridade-escuridão sobre o estado de sono-vigilia de um organismo; ou suas informações podem ser armazenadas, para o caso de relevância futura. O cérebro gerencia sua complexa tarefa orquestrando subsistemas funcionais, que podem ser categorizados de várias formas: anatomicamente, quimicamente e funcionalmente.


=== Sistemas de neurotransmissores ===
=== Sistemas de neurotransmissores ===
{{Artigo principal|Sistemas de neurotransmissores}}
{{Artigo principal|Sistemas de neurotransmissores}}


Com poucas exceções, cada neurônio do encéfalo libera o mesmo [[neurotransmissor]] químico, ou conjunto de neurotransmissores, em todas as conexões sinápticas que faz com outros neurônio.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 15</ref> Ainda assim, a grande maioria das drogas psicoativas produz efeitos ao alterar sistemas neurotransmissores que não envolvem diretamente a transmissão glutamatérgica ou a GABAérgica.<ref>[[#refCooper|Cooper et al, ''Biochemical Basis of Neuropharmacology'']]</ref> Drogas como cafeína, nicotina, heroina, cocaína, Prozac, Thorazine, ''etc.'', atuam sobre outros neurotransimssores. Muitos destes outros transmissores vêm de neurônios localizados em partes específicas do encéfalo. A [[serotonina]], por exemplo - o alvo primário de drogas antidepressivas e muitos suplementos dietéticos - origina-se em uma pequena área do tronco encefálico chamada [[núcleo da rafe]]. A [[norepinefrina]], relacionada ao estado de alerta, origina-se em uma pequena área próxima, chamada de [[cerúleo]]. A [[histamina]], enquanto neurotransmissor, vem de uma pequena parte do hipotálamo chamada [[núcleo tuberomamilar]] (a histamina também possui funções fora do sistema nervoso central, mas a função neurotransmissora é que faz os anti-histamínicos terem efeito sedativo). Outros neurotransmissores como a acetilcolina e a dopamina têm múltiplas fontes no encéfalo, mas que não estão tão ubiquamente distribuídas quanto as de glutamato e GABA.
Com poucas excepções, cada neurónio do encéfalo libera o mesmo [[neurotransmissor]] químico, ou conjunto de neurotransmissores, em todas as conexões sinápticas que faz com outros neurónio.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 15</ref> Ainda assim, a grande maioria das drogas psicoactivas produz efeitos ao alterar sistemas neurotransmissores que não envolvem directamente a transmissão glutamatérgica ou a GABAérgica.<ref>[[#refCooper|Cooper et al, ''Biochemical Basis of Neuropharmacology'']]</ref> Drogas como cafeína, nicotina, heroina, cocaína, Prozac, Thorazine, ''etc.'', actuam sobre outros neurotransimssores. Muitos destes outros transmissores vêm de neurónios localizados em partes específicas do encéfalo. A [[serotonina]], por exemplo - o alvo primário de drogas antidepressivas e muitos suplementos dietéticos - origina-se em uma pequena área do tronco encefálico chamada [[núcleo da rafe]]. A [[norepinefrina]], relacionada ao estado de alerta, origina-se em uma pequena área próxima, chamada de [[cerúleo]]. A [[histamina]], enquanto neurotransmissor, vem de uma pequena parte do hipotálamo chamada [[núcleo tuberomamilar]] (a histamina também possui funções fora do sistema nervoso central, mas a função neurotransmissora é que faz os anti-histamínicos terem efeito sedativo). Outros neurotransmissores como a acetilcolina e a dopamina têm múltiplas fontes no encéfalo, mas que não estão tão ubiquamente distribuídas quanto as de glutamato e GABA.


=== Sistemas sensórios ===
=== Sistemas sensórios ===
{{Artigo principal|Sistema sensorial}}
{{Artigo principal|Sistema sensorial}}


Uma das funções primárias do encéfalo é extrair informação biologicamente relevante de receptores sensoriais.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 21</ref> Mesmo no encéfalo humano, os processos sensórios vão bem além dos clássicos cinco sentidos da visão, audição, paladar, tato e olfato: nossos cérebros recebem informações sobre temperatura, equilíbrio, posição dos membros e da composição química da corrente sanguínea, entre outras coisas. Todas estas informações são detectadas por sensores especializados que enviam sinais para o cérebro. Entre não-humanos, podem estar presentes sentidos adicionais, como os sensores de calor presentes nas [[fosseta loreal|fossetas loreais]] das serpentes; ou os sentidos "convencionais" podem ser usados de modos não-convencionais, como no "sonar" auditivo dos morcegos.
Uma das funções primárias do encéfalo é extrair informação biologicamente relevante de receptores sensoriais.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 21</ref> Mesmo no encéfalo humano, os processos sensórios vão bem além dos clássicos cinco sentidos da visão, audição, paladar, tacto e olfacto: nossos cérebros recebem informações sobre temperatura, equilíbrio, posição dos membros e da composição química da corrente sanguínea, entre outras coisas. Todas estas informações são detectadas por sensores especializados que enviam sinais para o cérebro. Entre não-humanos, podem estar presentes sentidos adicionais, como os sensores de calor presentes nas [[fosseta loreal|fossetas loreais]] das serpentes; ou os sentidos "convencionais" podem ser usados de modos não-convencionais, como no "sonar" auditivo dos morcegos.


Cada sistema sensório possui suas idiossincrasias, mas aqui estão alguns princípios que se aplicam à maioria deles, usando o sentido da audição para exemplos específicos<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Chs. 21, 30</ref>
Cada sistema sensório possui suas idiossincrasias, mas aqui estão alguns princípios que se aplicam à maioria deles, usando o sentido da audição para exemplos específicos<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Chs. 21, 30</ref>


# Cada sistema começa com células especializadas de "recepção sensorial". Estas são neurônios, mas diferente da maioria deles, elas não são controladas por estímulos sinápticos de outros neurônios; em vez disso, elas são ativadas por receptores ligados à membrana que são sensíveis a alguma modalidade física, como luz, temperatura, ou estiramento físico. Os axônios dos receptores sensórios adentram a medula espinhal ou o encéfalo. No sentido da audição, os receptores localizam-se no ouvido interno, na [[cóclea]], e são ativados por vibração.
# Cada sistema começa com células especializadas de "recepção sensorial". Estas são neurónios, mas diferente da maioria deles, elas não são controladas por estímulos sinápticos de outros neurónios; em vez disso, elas são activadas por receptores ligados à membrana que são sensíveis a alguma modalidade física, como luz, temperatura, ou estiramento físico. Os axónios dos receptores sensórios adentram a medula espinhal ou o encéfalo. No sentido da audição, os receptores localizam-se no ouvido interno, na [[cóclea]], e são activados por vibração.
# Para a maioria dos sentidos, há um "núcleo primário", ou um conjunto de núcleos, localizado no tronco cerebral, que coleta sinais das células-receptoras. Para o sentido da audição, há o [[núcleo coclear]].
# Para a maioria dos sentidos, há um "núcleo primário", ou um conjunto de núcleos, localizado no tronco cerebral, que colecta sinais das células-receptoras. Para o sentido da audição, há o [[núcleo coclear]].
# Em muitos casos, há áreas subcorticais secundárias que extraem algum tipo de informação especial. No sentido da audição, o complexo olivar superior e o colículo inferior estão envolvidos na comparação dos sinais dos dois ouvidos para extrair informação sobre a direção da fonte sonora, entre outras funções.
# Em muitos casos, há áreas subcorticais secundárias que extraem algum tipo de informação especial. No sentido da audição, o complexo olivar superior e o colículo inferior estão envolvidos na comparação dos sinais dos dois ouvidos para extrair informação sobre a direcção da fonte sonora, entre outras funções.
# Cada sistema sensório também tem uma parte especial do [[tálamo]] dedicada a si, que serve como um retransmissor para o cérebro. Para o sistema auditivo, este é o [[núcleo geniculado medial]].
# Cada sistema sensório também tem uma parte especial do [[tálamo]] dedicada a si, que serve como um retransmissor para o cérebro. Para o sistema auditivo, este é o [[núcleo geniculado medial]].
# Para cada sistema sensório, há uma área cortical "primária" que recebe estímulos diretos da área de retransmissão talâmica. Para o sistema auditivo esta esta é o [[córtex auditivo primário]], localizado na parte superior do lobo temporal.
# Para cada sistema sensório, há uma área cortical "primária" que recebe estímulos directos da área de retransmissão talâmica. Para o sistema auditivo esta esta é o [[córtex auditivo primário]], localizado na parte superior do lobo temporal.
# Também há geralmente um conjunto de áreas sensórias corticais "de alto nível", que analisam o estímulo sensório de modo específico. Para o sistema auditivo, há áreas que analisam a qualidade do som, ritmo, e padrões de mudança temporal, entre outros aspectos.
# Também há geralmente um conjunto de áreas sensórias corticais "de alto nível", que analisam o estímulo sensório de modo específico. Para o sistema auditivo, há áreas que analisam a qualidade do som, ritmo, e padrões de mudança temporal, entre outros aspectos.
# Finalmente, há áreas ''multimodais'' que combinam estímulos de diferentes modalidades sensoriais, por exemplo auditivas e visuais. Neste ponto, os sinais atingiram partes do encéfalo que são mais bem-descritas como ''integradoras'' do que como ''sensórias''.
# Finalmente, há áreas ''multimodais'' que combinam estímulos de diferentes modalidades sensoriais, por exemplo auditivas e visuais. Neste ponto, os sinais atingiram partes do encéfalo que são mais bem-descritas como ''integradoras'' do que como ''sensórias''.


Todas estas regras têm exceções, por exemplo: (1) No sentido do tato (que na verdade é um conjunto de pelo menos meia dúzia de sentidos mecânicos), os estímulos sensórios se encerram principalmente no cordão espinhal, em neurônios que se projetam para o tronco cerebral.ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 23</ref> (2) Para o sentido do olfato, não há qualquer retransmissor no tálamo; em vez disso, os sinais seguem diretamente da região encefálica primária - o bulbo olfatório - para o córtex.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 32</ref>
Todas estas regras têm excepções, por exemplo: (1) No sentido do tacto (que na verdade é um conjunto de pelo menos meia dúzia de sentidos mecânicos), os estímulos sensórios se encerram principalmente no cordão espinhal, em neurónios que se projectam para o tronco cerebral.ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 23</ref> (2) Para o sentido do olfacto, não há qualquer retransmissor no tálamo; em vez disso, os sinais seguem directamente da região encefálica primária - o bulbo olfactório - para o córtex.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 32</ref>


=== Sistema motor ===
=== Sistema motor ===
{{Artigo principal|Sistema motor}}
{{Artigo principal|Sistema motor}}


Sistemas motores são áreas do encéfalo que estão mais ou menos envolvidas na produção de movimentos corporais, isto é, na ativação de músculos. Com a exceção dos músculos que controlam os olhos, todos os músculos voluntários<ref>See [[músculo]]</ref> do corpo são diretamente inervados por [[neurônio motor|neurônios motores]] no cordão espinhal, que por sua vez são o último caminho comum do sistema gerador de movimento.ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 34</ref> Neurônios motores espinhais são controlados tanto por circuitos neurais intrínsecos ao cordão espinhal quanto por estímulos originados no encéfalo. Os circuitos espinhais intrínsecos executam várias respostas [[reflexo|reflexas]], e também contêm [[gerador central de padrões|geradores de padrões]] para movimentos ritmados, como andar ou nadar<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Chs. 36, 37</ref> As conexões descendentes do encéfalo permitem controle mais sofisticado.
Sistemas motores são áreas do encéfalo que estão mais ou menos envolvidas na produção de movimentos corporais, isto é, na activação de músculos. Com a excepção dos músculos que controlam os olhos, todos os músculos voluntários<ref>See [[músculo]]</ref> do corpo são directamente inervados por [[neurónio motor|neurónios motores]] no cordão espinhal, que por sua vez são o último caminho comum do sistema gerador de movimento.ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 34</ref> Neurónios motores espinhais são controlados tanto por circuitos neurais intrínsecos ao cordão espinhal quanto por estímulos originados no encéfalo. Os circuitos espinhais intrínsecos executam várias respostas [[reflexo|reflexas]], e também contêm [[gerador central de padrões|geradores de padrões]] para movimentos ritmados, como andar ou nadar<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Chs. 36, 37</ref> As conexões descendentes do encéfalo permitem controle mais sofisticado.


O encéfalo contém algumas áreas que se projetam diretamente para o cordão espinhal.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 33</ref> No nível mais baixo estão a as áreas motoras na medula e na ponte. Num nível mais alto se encontram áreas no mesencéfalo, como o [[núcleo rubro]], que é responsável pela coordenação dos movimentos de braços e pernas. Num nível ainda mais alto, está o [[córtex motor primário]], uma tira de tecido localizada no limite posterior do lobo frontal. O córtex motor primário propaga-se para as regiões motoras subcorticais, mas também envia uma projeção maciça diretamente para o cordão espinhal, através do assim chamado [[trato piramidal]]. Esta projeção córtico-espinhal direta é responsável pelo controle voluntário dos detalhes finos dos movimentos.
O encéfalo contém algumas áreas que se projectam directamente para o cordão espinhal.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 33</ref> No nível mais baixo estão a as áreas motoras na medula e na ponte. Num nível mais alto se encontram áreas no mesencéfalo, como o [[núcleo rubro]], que é responsável pela coordenação dos movimentos de braços e pernas. Num nível ainda mais alto, está o [[córtex motor primário]], uma tira de tecido localizada no limite posterior do lobo frontal. O córtex motor primário propaga-se para as regiões motoras subcorticais, mas também envia uma projecção maciça directamente para o cordão espinhal, através do assim chamado [[tracto piramidal]]. Esta projecção córtico-espinhal directa é responsável pelo controle voluntário dos detalhes finos dos movimentos.


Outras áreas "secundárias" do encéfalo relacionadas ao movimento não se projetam diretamente ao cordão espinhal, mas em vez disso agem sobre as áreas motoras primárias corticais ou subcorticais. Dentre as áreas secundárias mais importante se encontram o córtex premotor, os gânglios basais e o cerebelo:
Outras áreas "secundárias" do encéfalo relacionadas ao movimento não se projectam directamente ao cordão espinhal, mas em vez disso agem sobre as áreas motoras primárias corticais ou subcorticais. Dentre as áreas secundárias mais importante se encontram o córtex premotor, os gânglios basais e o cerebelo:


* O [[córtex premotor]](que na verdade é um grande complexo de áreas) une-se ao córtex motor primário e projeta-se nele. Enquanto os elementos do córtex motor primário mapeiam áreas específicas do corpo, os elementos do córtex premotor estão mais envolvidos nos movimentos coordenados de diversas partes do corpo.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 38</ref>
* O [[córtex premotor]](que na verdade é um grande complexo de áreas) une-se ao córtex motor primário e projecta-se nele. Enquanto os elementos do córtex motor primário mapeiam áreas específicas do corpo, os elementos do córtex premotor estão mais envolvidos nos movimentos coordenados de diversas partes do corpo.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 38</ref>
* Os [[gânglios basais]] são um conjunto de estruturas na base do prosencéfalo que projetam-se para várias outras áreas relacionadas ao movimento.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 43</ref> Sua função tem sido difícil de compreender, mas uma das teorias mais aceitas atualmente é de que eles tenham parte crucial na [[seleção de ação]].<ref>[[#refGurney|Gurney et al, 2004]]</ref> Na maior parte do tempo, eles refreiam ações, enviando sinais inibitórios constantes para os sistemas geradores de ação, mas nas circunstâncias corretas, eles cessam esta inibição e assim permitem a seus alvos tomarem o controle do comportamento.
* Os [[gânglios basais]] são um conjunto de estruturas na base do prosencéfalo que projectam-se para várias outras áreas relacionadas ao movimento.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 43</ref> Sua função tem sido difícil de compreender, mas uma das teorias mais aceitas actualmente é de que eles tenham parte crucial na [[selecção de acção]].<ref>[[#refGurney|Gurney et al, 2004]]</ref> Na maior parte do tempo, eles refreiam acções, enviando sinais inibitórios constantes para os sistemas geradores de acção, mas nas circunstâncias correctas, eles cessam esta inibição e assim permitem a seus alvos tomarem o controle do comportamento.
* O [[cerebelo]] é uma estrutura bastante distinta presa ao fundo do encéfalo.<ref name="refprinciples"/> Ele não controla ou origina comportamentos, mas gera sinais corretivos para tornar os movimentos mais precisos. Pessoas com danos cerebelares não ficam paralisadas em nenhum aspecto, mas seus movimentos corporais tornam-se erráticos e descoordenados.
* O [[cerebelo]] é uma estrutura bastante distinta presa ao fundo do encéfalo.<ref name="refprinciples"/> Ele não controla ou origina comportamentos, mas gera sinais correctivos para tornar os movimentos mais precisos. Pessoas com danos cerebelares não ficam paralisadas em nenhum aspecto, mas seus movimentos corporais tornam-se erráticos e descoordenados.


Além de tudo acima, o encéfalo e o cordão espinhal contêm extensos circuitos para o controle do [[sistema nervoso autônomo]], que funciona pela secreção de hormônios e pela modulação dos músculos lisos do intestino.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 49</ref> O sistema nervoso autônomo afeta o [[ritmo cardíaco]], a [[digestão]], o [[ritmo respiratório]], a [[salivação]], a [[perspiração]], a [[urinação]] e a [[excitação sexual]] - mas muitas de suas funções não estão sob controle voluntário.
Além de tudo acima, o encéfalo e o cordão espinhal contêm extensos circuitos para o controle do [[sistema nervoso autónomo]], que funciona pela secreção de hormónios e pela modulação dos músculos lisos do intestino.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 49</ref> O sistema nervoso autónomo afecta o [[ritmo cardíaco]], a [[digestão]], o [[ritmo respiratório]], a [[salivação]], a [[perspiração]], a [[urinação]] e a [[excitação sexual]] - mas muitas de suas funções não estão sob controle voluntário.


=== Sistema de alerta ===
=== Sistema de alerta ===
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Talvez o aspecto mais óbvio do comportamento de qualquer animal é o ciclo diário que compreende dormir e acordar. O estado de alerta e atenção também é modulado em uma escala de tempo delicada por uma rede extensa de áreas cerebrais.<ref name="Principles45">[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 45</ref>
Talvez o aspecto mais óbvio do comportamento de qualquer animal é o ciclo diário que compreende dormir e acordar. O estado de alerta e atenção também é modulado em uma escala de tempo delicada por uma rede extensa de áreas cerebrais.<ref name="Principles45">[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 45</ref>


Um componente chave do sistema da alerta é o núcleo supraquiasmático, uma pequena porção do hipotálamo localizada diretamente acima do ponto em que os nervos ópticos dos dois olhos cruzam.<ref>[[#refAntle|Antle & Silver, 2005]]</ref> O núcleo supraquiasmático contém o relógio biológico central do corpo. Os neurônios de lá mostram níveis de atividade que sobem e declinam em um período de 24 horas, os [[ritmo circadiano|ritmos circadianos]]: essas flutuações de atividade são direcionadas por mudanças rítmicas na expressão de um determinado grupo de "genes relógio". O núcleo supraquiasmático continua a altera-se de acordo com tempo mesmo se for retirado do encéfalo e colocado numa bandeja com uma solução nutritiva morna, entretanto ele apenas recebe a informação dos nervos ópticos, através do trato retino hipotalâmico, que permite que o ciclo claro-escuro calibre o relógio.
Um componente chave do sistema da alerta é o núcleo supraquiasmático, uma pequena porção do hipotálamo localizada directamente acima do ponto em que os nervos ópticos dos dois olhos cruzam.<ref>[[#refAntle|Antle & Silver, 2005]]</ref> O núcleo supraquiasmático contém o relógio biológico central do corpo. Os neurónios de lá mostram níveis de actividade que sobem e declinam em um período de 24 horas, os [[ritmo circadiano|ritmos circadianos]]: essas flutuações de actividade são direccionadas por mudanças rítmicas na expressão de um determinado grupo de "genes relógio". O núcleo supraquiasmático continua a altera-se de acordo com tempo mesmo se for retirado do encéfalo e colocado numa bandeja com uma solução nutritiva morna, entretanto ele apenas recebe a informação dos nervos ópticos, através do tracto retino hipotalâmico, que permite que o ciclo claro-escuro calibre o relógio.
O núcleo supraquiasmático projeta-se a um grupo de áreas no hipotálamo, tronco encefálico e cérebro médio que estão relacionadas com a implementação dos ciclos sono-vigília. Um componente importante do sistema é a chamada formação reticular, um grupo de "amontoados" neuronais espalhados difusamente através do núcleo do tronco encefálico.<ref name="Principles45" /> Neurônios reticulares enviam sinais para o tálamo, que, por sua vez, envia sinais de controle do nível de atividade para todo o córtex. Danos a formação reticular pode provocar um estado permanente de coma.
O núcleo supraquiasmático projecta-se a um grupo de áreas no hipotálamo, tronco encefálico e cérebro médio que estão relacionadas com a implementação dos ciclos sono-vigília. Um componente importante do sistema é a chamada formação reticular, um grupo de "amontoados" neuronais espalhados difusamente através do núcleo do tronco encefálico.<ref name="Principles45" /> Neurónios reticulares enviam sinais para o tálamo, que, por sua vez, envia sinais de controle do nível de actividade para todo o córtex. Danos a formação reticular pode provocar um estado permanente de coma.


[[Dormir|Sono]] envolve grandes mudanças na atividade cerebral.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 47</ref>
[[Dormir|Sono]] envolve grandes mudanças na actividade cerebral.<ref>[[#refPrinciples|''Principles of Neural Science'']], Ch. 47</ref>


=== Consumo de energia pelo encéfalo ===
=== Consumo de energia pelo encéfalo ===
[[Ficheiro:PET-image.jpg|thumb|right|[[Tomografia por emissão de positrões|PET]] Imagem do encéfalo humano mostrando o consumo de energia.]]
[[Ficheiro:PET-image.jpg|thumb|right|[[Tomografia por emissão de positrões|PET]] Imagem do encéfalo humano mostrando o consumo de energia.]]
Apesar do encéfalo representar apenas 2% do peso corporal, ele recebe 15% do débito cardíaco, 20% de consumo total de oxigênioo do corpo, e 25% da utilização total de glicose do corpo.<ref>[[#refClark|Clark & Sokoloff, 1999]]</ref> As demandas do encéfalo limitam o seu tamanho em algumas espécies, como nos morcegos.<ref>[[#refSafi|Safi et al, 2005]]</ref> O encéfalo utiliza principalmente glicose como fonte de energia, e a privação da glicose, como pode acontecer na hipoglicemia, pode resultar na perda da consciência. O consumo de energia do cérebro não varia muito com o tempo, entretanto as regiões ativas do córtex consumem mais energia que as regiões inativas: esse fato é a base para os métodos de imagem funcionais do encéfalo como o [[Tomografia por emissão de positrões|PET]] e a[[Ressonância magnética|RM]].<ref>[[#refRaichle|Raichle & Gusnard, 2002]]</ref>
Apesar do encéfalo representar apenas 2% do peso corporal, ele recebe 15% do débito cardíaco, 20% de consumo total de oxigénioo do corpo, e 25% da utilização total de glicose do corpo.<ref>[[#refClark|Clark & Sokoloff, 1999]]</ref> As demandas do encéfalo limitam o seu tamanho em algumas espécies, como nos morcegos.<ref>[[#refSafi|Safi et al, 2005]]</ref> O encéfalo utiliza principalmente glicose como fonte de energia, e a privação da glicose, como pode acontecer na hipoglicemia, pode resultar na perda da consciência. O consumo de energia do cérebro não varia muito com o tempo, entretanto as regiões activas do córtex consumem mais energia que as regiões inactivas: esse fato é a base para os métodos de imagem funcionais do encéfalo como o [[Tomografia por emissão de positrões|PET]] e a[[Ressonância magnética|RM]].<ref>[[#refRaichle|Raichle & Gusnard, 2002]]</ref>


== Efeitos de doenças e lesões ==
== Efeitos de doenças e lesões ==
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A [[dicotomia encéfalo-mente]] é um dos problemas centrais na história da [[filosofia]],
A [[dicotomia encéfalo-mente]] é um dos problemas centrais na história da [[filosofia]],
<ref>[[#refChurchland|''Neurophilosophy'']], Ch. 7</ref>que nos leva a considerar se, nesta correlação, o encéfalo físico e a mente são idênticos, parcialmente distintos, ou relacionados de algum modo desconhecido. Há três grandes escolas de pensamento para a resposta: o dualismo, o materialismo e o idealismo. O [[dualismo]] sustenta que a mente existe independentemente do encéfalo;<ref>[[#refHart|Hart, 1996]]</ref> o [[materialismo]] afirma que os fenômenos mentais são idênticos aos fenômenos neuronais;<ref name="DicPhil">[[#refLacey|Lacey, 1996]]</ref> e o [[idealismo]] diz que somente existem substâncias e fenômenos mentais.<ref name="DicPhil"/>Ao lado das questões filosóficas, a relação entre encéfalo e mente envolve diversos questionamentos científicos, incluindo o entendimento da relação entre pensamento e atividade cerebral, os mecanismos pelos quais as drogas afetam o pensamento, e os [[correlatos neurais da consciência]].
<ref>[[#refChurchland|''Neurophilosophy'']], Ch. 7</ref>que nos leva a considerar se, nesta correlação, o encéfalo físico e a mente são idênticos, parcialmente distintos, ou relacionados de algum modo desconhecido. Há três grandes escolas de pensamento para a resposta: o dualismo, o materialismo e o idealismo. O [[dualismo]] sustenta que a mente existe independentemente do encéfalo;<ref>[[#refHart|Hart, 1996]]</ref> o [[materialismo]] afirma que os fenómenos mentais são idênticos aos fenómenos neuronais;<ref name="DicPhil">[[#refLacey|Lacey, 1996]]</ref> e o [[idealismo]] diz que somente existem substâncias e fenómenos mentais.<ref name="DicPhil"/>Ao lado das questões filosóficas, a relação entre encéfalo e mente envolve diversos questionamentos científicos, incluindo o entendimento da relação entre pensamento e actividade cerebral, os mecanismos pelos quais as drogas afectam o pensamento, e os [[correlatos neurais da consciência]].


Durante a maior parte da história, muitos filósofos achavam inconcebível que a [[cognição]] pudesse ser implementada por uma substância físcia, como o tecido encefálico.<ref name="DicPhil"/>Filósofos como [[Patricia Churchland]] afirmam que a interação droga-mente é indicativa de uma íntima conexão entre o encéfalo e a mente, não que os dois sejam a mesma entidade.<ref>[[#refChurchland|''Neurophilosophy'']], Ch. 8</ref>
Durante a maior parte da história, muitos filósofos achavam inconcebível que a [[cognição]] pudesse ser implementada por uma substância físcia, como o tecido encefálico.<ref name="DicPhil"/>Filósofos como [[Patricia Churchland]] afirmam que a interacção droga-mente é indicativa de uma íntima conexão entre o encéfalo e a mente, não que os dois sejam a mesma entidade.<ref>[[#refChurchland|''Neurophilosophy'']], Ch. 8</ref>


== Como é estudado ==
== Como é estudado ==
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A [[neurociência]] busca compreender o sistema nervoso, inclusive o encéfalo, de uma perspectiva biológica e [[neurociência computacional|computacional]].<ref>[[#refPrinciples|''Princples of Neural Science'']], Ch. 1</ref> A [[psicologia]] procura entender o comportamento e o encéfalo. A [[neurologia]] refere-se às aplicações [[medicina|médicas]] da neurociência. O encéfalo também é o órgão mais importante estudado na [[psiquiatria]], ramo da medicina que se dedica a estudar, prevenir e tratar [[distúrbio mental|distúrbios mentais]].<ref>[[#refStorrow|Storrow, ''Outline of Clinical Psychiatry'']]</ref> A [[ciência cognitiva]] procura unificar neurociência e psicologia a outros campos que se relacionam com o encéfalo, tais como [[ciência da computação]] ([[inteligência artificial]] e campos similares) e [[filosofia]].
A [[neurociência]] busca compreender o sistema nervoso, inclusive o encéfalo, de uma perspectiva biológica e [[neurociência computacional|computacional]].<ref>[[#refPrinciples|''Princples of Neural Science'']], Ch. 1</ref> A [[psicologia]] procura entender o comportamento e o encéfalo. A [[neurologia]] refere-se às aplicações [[medicina|médicas]] da neurociência. O encéfalo também é o órgão mais importante estudado na [[psiquiatria]], ramo da medicina que se dedica a estudar, prevenir e tratar [[distúrbio mental|distúrbios mentais]].<ref>[[#refStorrow|Storrow, ''Outline of Clinical Psychiatry'']]</ref> A [[ciência cognitiva]] procura unificar neurociência e psicologia a outros campos que se relacionam com o encéfalo, tais como [[ciência da computação]] ([[inteligência artificial]] e campos similares) e [[filosofia]].


Alguns métodos de exame do encéfalo são úteis principalmente em humanos, e são descritos no artigo sobre o [[encéfalo humano]]. Esta seção se atém a métodos utilizáveis em um largo espectro de espécies animais. (Apesar de a grande maioria dos experimentos de neurociência são feitos utilizando-se ratos ou cobaias como objeto.)
Alguns métodos de exame do encéfalo são úteis principalmente em humanos, e são descritos no artigo sobre o [[encéfalo humano]]. Esta seção se atém a métodos utilizáveis em um largo espectro de espécies animais. (Apesar de a grande maioria dos experimentos de neurociência são feitos utilizando-se ratos ou cobaias como objecto.)


=== Neuroanatomia ===
=== Neuroanatomia ===
{{Artigo principal|Neuroanatomia}}
{{Artigo principal|Neuroanatomia}}
O método mais antigo usado para o estudo do cérebro é o anatômico, até o meio do século XX, a maioria dos progressos na neurociência vinha do desenvolvimento de melhores colorações e microscópios. Muitas informações importantes sobre o funcionamento das sinapses vem de estudos de imagens de sinapses através do microscópio eletrônico. Numa maior escala, os neuroanatomistas inventaram inúmeras tinturas que revelam a estrutura, a química e a conectividade neural. Nos últimos anos, o desenvolvimento de técnicas de imunocoloração têm permitido a coloração de neurônios que expressam um grupo de genes específico.
O método mais antigo usado para o estudo do cérebro é o anatómico, até o meio do século XX, a maioria dos progressos na neurociência vinha do desenvolvimento de melhores colorações e microscópios. Muitas informações importantes sobre o funcionamento das sinapses vem de estudos de imagens de sinapses através do microscópio electrónico. Numa maior escala, os neuroanatomistas inventaram inúmeras tinturas que revelam a estrutura, a química e a conectividade neural. Nos últimos anos, o desenvolvimento de técnicas de imunocoloração têm permitido a coloração de neurónios que expressam um grupo de genes específico.


=== Electrophysiology ===
=== Electrophysiology ===
A eletrofisiologia permite aos cientistas registrar a atividade elétrica de [[neurônio]]s específicos ou de grupos de neurônios<ref>[[#refDowling|Dowling, ''Neurons and Networks'']], pages 15–24</ref>. Há duas abordagens registrais: a intracelular e a extracelular.
A electrofisiologia permite aos cientistas registrar a actividade eléctrica de [[neurónio]]s específicos ou de grupos de neurónios<ref>[[#refDowling|Dowling, ''Neurons and Networks'']], pages 15–24</ref>. Há duas abordagens registrais: a intracelular e a extracelular.


O registro intracelular usa eletrodos de vidro muito finos para conseguir sinais do interior do neurônio. Esse método é muito sensível, mas também muito delicado, sendo normalmente realizado ''[[in vitro]]'' — i.e., em meio a uma solução nutriente, com tecido retirado do cérebro de um animal.
O registro intracelular usa electrodos de vidro muito finos para conseguir sinais do interior do neurónio. Esse método é muito sensível, mas também muito delicado, sendo normalmente realizado ''[[in vitro]]'' — i.e., em meio a uma solução nutriente, com tecido retirado do cérebro de um animal.


O registro extracelular usa grandes eletrodos que podem ser usado nos cérebros de animas vivos. Este método geralmente não pode detectar os débeis sinais elétricos gerados pelas conexões sinápticas individuais, mas pode medir a diferença de potencial gerada pelos neurônios individuais, assim como os campos potenciais gerados pela atividade sináptica sincrônica em grandes grupos de neurônios. Em função de o cérebro não conter receptores de dor, é possível usar essas técnicas para registrar a atividade neural de animas que estão em vigília e agindo, sem intranquilizá-los. As mesmas técnicas foram ocasionalmente usadas para estudar a atividade cerebral em pacientes humanos que estejam sofrendo com uma intratável [[epilepsia]], em casos nos quais haja uma necessidade médica para implantar eletrodos, de modo a localizar a área cerebral responsável pelas [[seizure]]s.<ref>[[#refWyllie|Wyllie et al, ''Treatment of Epilepsy'']], Ch. 77</ref>
O registro extracelular usa grandes electrodos que podem ser usado nos cérebros de animas vivos. Este método geralmente não pode detectar os débeis sinais eléctricos gerados pelas conexões sinápticas individuais, mas pode medir a diferença de potencial gerada pelos neurónios individuais, assim como os campos potenciais gerados pela actividade sináptica sincrónica em grandes grupos de neurónios. Em função de o cérebro não conter receptores de dor, é possível usar essas técnicas para registrar a actividade neural de animas que estão em vigília e agindo, sem intranquilizá-los. As mesmas técnicas foram ocasionalmente usadas para estudar a actividade cerebral em pacientes humanos que estejam sofrendo com uma intratável [[epilepsia]], em casos nos quais haja uma necessidade médica para implantar electrodos, de modo a localizar a área cerebral responsável pelas [[seizure]]s.<ref>[[#refWyllie|Wyllie et al, ''Treatment of Epilepsy'']], Ch. 77</ref>


=== Estudo de lesões ===
=== Estudo de lesões ===
Em humanos, os efeitos de derrames e outros tipos de lesões cerebrais têm sido uma importante fonte de informações sobre as funções cerebrais. Como não existe uma maneira de controlar experimentalmente a natureza da lesão, muitas vezes, essa informação é difícil de interpretar. Em estudos com animais, normalmente envolvendo ratos, é possível usar eletrodos ou injetar localmente químicos para produzir padrões precisos de lesões e então examinar as suas consequências no comportamento.
Em humanos, os efeitos de derrames e outros tipos de lesões cerebrais têm sido uma importante fonte de informações sobre as funções cerebrais. Como não existe uma maneira de controlar experimentalmente a natureza da lesão, muitas vezes, essa informação é difícil de interpretar. Em estudos com animais, normalmente envolvendo ratos, é possível usar electrodos ou injectar localmente químicos para produzir padrões precisos de lesões e então examinar as suas consequências no comportamento.


=== Computação ===
=== Computação ===
{{Artigo principal|Neurociência computacional}}
{{Artigo principal|Neurociência computacional}}


Um [[computador]], no sentido mais amplo, é um dispositivo que armazena e processa [[informação]]. Em um computador digital comum, a informação é representada por circuitos eletrônicos que possuem dois estados estáveis, geralmente denotados por 0 e 1. Em um encéfalo, a informação é representada tanto dinamicamente, por sucessões de potenciais de ação nos neurônios, quanto estaticamente, pelas forças das conexões sinápticas entre os neurônios.<ref name="Abbott" />Em um computador digital, a informação é processada por um pequeno arranjo de [[registradores de deslocamento|registradores]], que operam a velocidades de bilhões de ciclos por segundo. Em um encéfalo, a informação é processada por bilhões de neurônios, todos trabalhando simultaneamente, mas apenas a velocidades de cerca de 100 ciclos por segundo. Então, cérebros e computadores digitais são semelhantes pelo fato de ambos serem dispositivos que processam informação, mas o modo como o fazem é bastante diferente. A neurociência computacional envolve duas abordagens: primeiro, o uso de computadores para estudar o encéfalo; segundo, o estudo de como os encéfalos efetuam a computação.<ref name="Abbott">[[#refAbbott|Abbott & Dayan, ''Theoretical Neuroscience'']]</ref> Por um lado, é possível escrever um programa de computador para estimular o funcionamento de um grupo de neurônios utilizando sistemas de equações que descrevam sua atividade eletroquímica; tais estímulos são conhecidos como ''redes neurais biologicamente realistas''. Por outro lado, é possível estudar algoritmos de computação neural estimulando, ou fazendo uma análise matemática, das operações de "unidades" simplificadas que têm algumas das propriedades dos neurônios, mas que abstraem muito de sua complexidade biológica.
Um [[computador]], no sentido mais amplo, é um dispositivo que armazena e processa [[informação]]. Em um computador digital comum, a informação é representada por circuitos electrónicos que possuem dois estados estáveis, geralmente denotados por 0 e 1. Em um encéfalo, a informação é representada tanto dinamicamente, por sucessões de potenciais de acção nos neurónios, quanto estacticamente, pelas forças das conexões sinápticas entre os neurónios.<ref name="Abbott" />Em um computador digital, a informação é processada por um pequeno arranjo de [[registradores de deslocamento|registradores]], que operam a velocidades de bilhões de ciclos por segundo. Em um encéfalo, a informação é processada por bilhões de neurónios, todos trabalhando simultaneamente, mas apenas a velocidades de cerca de 100 ciclos por segundo. Então, cérebros e computadores digitais são semelhantes pelo fato de ambos serem dispositivos que processam informação, mas o modo como o fazem é bastante diferente. A neurociência computacional envolve duas abordagens: primeiro, o uso de computadores para estudar o encéfalo; segundo, o estudo de como os encéfalos efectuam a computação.<ref name="Abbott">[[#refAbbott|Abbott & Dayan, ''Theoretical Neuroscience'']]</ref> Por um lado, é possível escrever um programa de computador para estimular o funcionamento de um grupo de neurónios utilizando sistemas de equações que descrevam sua actividade electroquímica; tais estímulos são conhecidos como ''redes neurais biologicamente realistas''. Por outro lado, é possível estudar algoritmos de computação neural estimulando, ou fazendo uma análise matemática, das operações de "unidades" simplificadas que têm algumas das propriedades dos neurónios, mas que abstraem muito de sua complexidade biológica.


Most programs for digital computers rely on long sequences of operations executed in a specific order, and therefore could not be "ported" into a brain without becoming extremely slow. Computer scientists, however, have found that some types of problems lend themselves naturally to algorithms that can efficiently be executed by brainlike networks of processing elements. One important problem that falls into this group is [[object recognition]]: on a digital computer, the seemingly simple task of recognizing a face in a photo turns out to be tremendously difficult, and even the best current programs don't do it well; the human brain, however, reliably solves this problem in a fraction of a second. The process feels almost effortless, but this is only because our brains are heavily optimized for it. Other tasks that are computationally a great deal simpler, such as adding pairs of hundred-digit numbers, ''feel'' more difficult because the human brain is not adapted to execute them efficiently.
Most programs for digital computers rely on long sequences of operations executed in a specific order, and therefore could not be "ported" into a brain without becoming extremely slow. Computer scientists, however, have found that some types of problems lend themselves naturally to algorithms that can efficiently be executed by brainlike networks of processing elements. One important problem that falls into this group is [[object recognition]]: on a digital computer, the seemingly simple task of recognizing a face in a photo turns out to be tremendously difficult, and even the best current programs don't do it well; the human brain, however, reliably solves this problem in a fraction of a second. The process feels almost effortless, but this is only because our brains are heavily optimized for it. Other tasks that are computationally a great deal simpler, such as adding pairs of hundred-digit numbers, ''feel'' more difficult because the human brain is not adapted to execute them efficiently.
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The famous Roman physician [[Galen]] also advocated the importance of the brain, and theorized in some depth about how it might work. Even after physicians and philosophers had accepted the primacy of the brain, though, the idea of the heart as seat of intelligence continued to survive in popular idioms, such as "learning something by heart".<ref>[[#refHendrickson|''Encyclopedia of Word and Phrase Origins'']]</ref>
The famous Roman physician [[Galen]] also advocated the importance of the brain, and theorized in some depth about how it might work. Even after physicians and philosophers had accepted the primacy of the brain, though, the idea of the heart as seat of intelligence continued to survive in popular idioms, such as "learning something by heart".<ref>[[#refHendrickson|''Encyclopedia of Word and Phrase Origins'']]</ref>
Galen did a masterful job of tracing out the anatomical relationships between brain, nerves, and muscles, demonstrating that all muscles in the body are connected to the brain via a branching network of nerves. He postulated that nerves activate muscles mechanically, by carrying a mysterious substance he called ''pneumata psychikon'', usually translated as "animal spirits". His ideas were widely known during the Middle Ages, but not much further progress came until the Renaissance, when detailed anatomical study resumed, combined with the theoretical speculations of Descartes and his followers. Descartes, like Galen, thought of the nervous system in hydraulic terms. He believed that the highest cognitive functions—language in particular—are carried out by a non-physical ''res cogitans'', but that the majority of behaviors of humans and animals could be explained mechanically. The first real progress toward a modern understanding of nervous function, though, came from the investigations of [[Luigi Galvani]], who discovered that a shock of static electricity applied to an exposed nerve of a dead frog could cause its leg to contract.
Galen did a masterful job of tracing out the anatomical relationships between brain, nerves, and muscles, demonstrating that all muscles in the body are connected to the brain via a branching network of nerves. He postulated that nerves activate muscles mechanically, by carrying a mysterious substance he called ''pneumata psychikon'', usually translated as "animal spirits". His ideas were widely known during the Middle Ages, but not much further progress came until the Renaissance, when detailed anatomical study resumed, combined with the theoretical speculations of Descartes and his followers. Descartes, like Galen, thought of the nervous system in hydraulic terms. He believed that the highest cognitive functions—language in particular—are carried out by a non-physical ''res cogitans'', but that the majority of behaviors of humans and animals could be explained mechanically. The first real progress toward a modern understanding of nervous function, though, came from the investigations of [[Luigi Galvani]], who discovered that a shock of stactic electricity applied to an exposed nerve of a dead frog could cause its leg to contract.


[[Ficheiro:PurkinjeCell.jpg|thumb|right|200px|Drawing by Santiago Ramon y Cajal of two types of Golgi-stained neurons from the cerebellum of a pigeon.]]
[[Ficheiro:PurkinjeCell.jpg|thumb|right|200px|Drawing by Santiago Ramon y Cajal of two types of Golgi-stained neurons from the cerebellum of a pigeon.]]
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Quanto ao nível evolutivo, podemos distinguir as seguintes unidades cerebrais:
Quanto ao nível evolutivo, podemos distinguir as seguintes unidades cerebrais:
* O [[cérebro primitivo]] ou [[arquencéfalo]], unidade cerebral responsável pela auto-preservação e agressão, é formado pelas estruturas do [[tronco encefálico]] e [[cerebelo]], pelo mais antigo núcleo da base, o [[globo pálido]] e pelos [[bulbo olfatório|bulbos olfatórios]]. Corresponde ao cérebro dos [[répteis]], também chamado [[complexo-R]], pelo neurocientista [[Paul MacLean]].
* O [[cérebro primitivo]] ou [[arquencéfalo]], unidade cerebral responsável pela auto-preservação e agressão, é formado pelas estruturas do [[tronco encefálico]] e [[cerebelo]], pelo mais antigo núcleo da base, o [[globo pálido]] e pelos [[bulbo olfactório|bulbos olfactórios]]. Corresponde ao cérebro dos [[répteis]], também chamado [[complexo-R]], pelo neurocientista [[Paul MacLean]].
* O [[cérebro intermediário]], unidade cerebral responsável pelas emoções dos [[velhos mamíferos]], é formado pelas estruturas do [[sistema límbico]] e corresponde ao cérebro dos [[mamíferos inferiores]].
* O [[cérebro intermediário]], unidade cerebral responsável pelas emoções dos [[velhos mamíferos]], é formado pelas estruturas do [[sistema límbico]] e corresponde ao cérebro dos [[mamíferos inferiores]].
* O [[cérebro superior]] ou [[cérebro racional]], unidade cerebral responsável pelas tarefas intelectuais dos [[novos mamíferos]], compreende a maior parte dos hemisférios cerebrais (formado por um tipo de [[córtex]] mais recente, denominado [[Neocórtex]]) e alguns grupos neuronais sub-corticais). É o cérebro dos mamíferos superiores, aí incluindo os primatas e consequentemente, o homem moderno ''[[Homo sapiens]]''.
* O [[cérebro superior]] ou [[cérebro racional]], unidade cerebral responsável pelas tarefas intelectuais dos [[novos mamíferos]], compreende a maior parte dos hemisférios cerebrais (formado por um tipo de [[córtex]] mais recente, denominado [[Neocórtex]]) e alguns grupos neuronais sub-corticais). É o cérebro dos mamíferos superiores, aí incluindo os primatas e consequentemente, o homem moderno ''[[Homo sapiens]]''.


Essas 3 estruturas foram aparecendo, uma após a outra, durante o desenvolvimento do embrião e do feto ([[ontogenia]]), recapitulando, cronologicamente, a evolução ([[filogenia]]) das espécies, do réptil e até do ''[[Homo sapiens]]''. No dizer de [[Paul MacLean|MacLean]], elas são 3 computadores biológicos que embora interconectados, conservam cada um nas palavras do cientista, "suas próprias formas peculiares de inteligência, subjetividade, sentido de tempo e espaço, memória, motricidade e outras funções menos específicas."
Essas 3 estruturas foram aparecendo, uma após a outra, durante o desenvolvimento do embrião e do feto ([[ontogenia]]), recapitulando, cronologicamente, a evolução ([[filogenia]]) das espécies, do réptil e até do ''[[Homo sapiens]]''. No dizer de [[Paul MacLean|MacLean]], elas são 3 computadores biológicos que embora interconectados, conservam cada um nas palavras do cientista, "suas próprias formas peculiares de inteligência, subjectividade, sentido de tempo e espaço, memória, motricidade e outras funções menos específicas."


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Revisão das 11h46min de 12 de março de 2013

 Nota: Se procura pela parte superior do encéfalo, veja Cérebro.

O Encéfalo é o centro do sistema nervoso em todos os animais vertebrados, e em muitos invertebrados. Alguns animais primitivos como os celenterados e equinodermes como a estrela-do-mar possuem um sistemas nervoso descentralizado sem encéfalo, enquanto as esponjas não possuem sistema nervoso. Nos vertebrados o encéfalo localiza-se na cabeça protegido pelo crânio, próximo aos aparatos sensoriais primários: visão, audição, equilíbrio, paladar, e olfacto.

Os encéfalos podem ser extremamente complexos. O encéfalo humano contém cerca de 86 bilhões de neurónios, ligados por mais de 10.000 conexões sinápticas cada. Esses neurónios comunicam-se por meio de fibras protoplasmáticas chamadas axónio, que conduzem pulsos em sinais chamados potencial de acção para partes distantes do encéfalo e do corpo e as encaminham para serem recebidas por células específicas.

De um ponto de vista filosófico, pode-se dizer que a função mais importante do encéfalo é servir como estrutura física subjacente à mente. Do o ponto de vista biológico, entretanto, a função mais importante do encéfalo é gerar comportamentos que promovam o bem-estar de um animal. O encéfalo controla o comportamento seja activando músculos, seja causando a secreção de substâncias químicas, como os hormónios.

Nem todos os comportamentos precisam de um encéfalo. Mesmo organismos unicelulares são capazes de extrair informação do amibiente e responderem de acordo.[1] As esponjas, às quais falta um sistema nervoso central, são capazes de coordenar suas contracções corporais, e até mesmo de se locomoverem.[2] Nos vertebrados, a própria coluna vertebral contém circuitos neurais capazes de gerar respostas reflexas, assim como padrões motores simples, como nadar ou andar.[3] Entretanto, o controle sofisticado do comportamento, baseado em um sistema sensorial complexo requer a capacidade de integração de informações de um encéfalo centralizado.

Apesar do rápido avanço científico, muito do funcionamento do encéfalo continua um mistério. As operações individuais de neurónios e sinapses hoje são compreendidas com detalhamento considerável, mas o modo como eles cooperam em grupos de milhares ou milhões tem sido difícil de decifrar. Métodos de observação como registros de EEG e imageamento funcional cerebral mostram que as operações cerebrais são altamente organizadas, mas estes métodos não têm resolução suficiente para revelar a actividade de neurónios individualmente. Assim, mesmo os princípios mais fundamentais das redes de computação neural podem ficar, em grande medida, a serem descobertos por futuros pesquisadores.[4]

O encéfalo encontra-se localizado no interior do crânio, protegido por um conjunto de três membranas, que são as meninges. É constituído por um conjunto de estruturas especializadas que funcionam de forma integrada para assegurar unidade ao comportamento humano.

É importante fazer uma diferenciação do encéfalo e do cérebro: o encéfalo é um conjunto de estruturas que estão anatomicamente e fisiologicamente ligadas, sendo elas:

Estrutura macroscópica

O encéfalo é a mais complexa estrutura biológica conhecida,[5] e compará-lo entre diferentes espécies mesmo nos aspectos básicos não é uma tarefa fácil. Porém, existem princípios comuns na arquitectura cerebral que se aplicam a uma vasta gama de espécies, que são revelados principalmente por três abordagens:

  • A evolutiva que compara estruturas cerebrais de diferentes espécies e utiliza o princípio de que recursos encontrados em um determinado ramo também estavam presentes em seus ancestrais.
  • A abordagem desenvolvimentista analisa como a forma do encéfalo se desenvolve desde a fase embrionária até a fase adulta.
  • A abordagem genética analisa expressão génica em diversas partes do encéfalo em toda uma gama de espécies. Cada abordagem complementa e informa os outros dois.

O córtex cerebral é a parte do encéfalo que melhor distingue os mamíferos dos outros vertebrados, primatas de outros mamíferos e humanos de outros primatas. Em vertebrados não mamíferos, a superfície do telencéfalo é forrada por uma estrutura em camadas relativamente simples chamada pallium.[6] Nos mamíferos o pallium é envolvido em uma estrutura de 6 camadas chamada neocórtex. Em primatas o neocórtex é mais avantajado em comparação aos não-primatas, especialmente a parte chamada lobo frontal. Nos seres humanos, este alargamento dos lobos frontais é levado de uma extremidade à outra, e outras partes do córtex também se tornam bastante grandes e complexas.

As relações entre tamanho cerebral, tamanho corporal e outras variáveis são estudadas em uma extensa gama de espécies. O tamanho do encéfalo aumenta com o tamanho do corpo mas não proporcionalmente. A média em todas as ordens de mamíferos segue a Lei de potência, com o exponente cerca de 0.75[7] Esta fórmula se aplica ao encéfalo de um mamífero médio, mas cada família desvia do padrão, reflectindo o nível de sofisticação em seu comportamento[8]. Por exemplo, os primatas têm encéfalo de 5 a 10 vezes maior que o indicado pela fórmula. Predadores tendem a ter encéfalos maiores. Quando aumenta o tamanho do encéfalo de um mamífero, nem todas as partes aumentam na mesma proporção. Quanto maior o encéfalo de uma espécie, maior a porção representada pelo córtex.[9]

Bilatérios

Estrutura corporal genérica de um animal bilatério. O sistema nervoso é formado por um cordão neural com alargamentos segmentais, e um "encéfalo" na extremidade anterior.

Com excepção de umas poucas formas primitivas como as esponjas e águas-vivas, todos os animais existentes são bilaterais, ou seja, animais cujo corpo apresenta simetria bilateral (isto é, o lado direito e o esquerdo são imagens espelhadas um do outro).

Imagina-se que todos os bilatérios descendam de um ancestral comum, surgido no início do período Cambriano, entre 550 e 600 milhões de anos atrás[10]. Este ancestral tinha a forma de um simples verme tubular de corpo segmentado, e num nível abstracto, este formato de verme continua presente no esquema dos corpos e sistemas nervosos de todos os bilatérios modernos, inclusive o ser humano.[11]. A forma geral de corpo bilatério é a de um tubo com uma cavidade digestiva oca indo da boca ao ânus, e um cordão neural com um alargamento (um gânglio) para cada segmento corporal, com um gânglio excepcionalmente grande na frente, chamado de "encéfalo".

Invertebrados

Em muitos invertebrados - insectos, moluscos, vermes de vários tipos, etc. - os componentes do encéfalo e sua organização difere tanto do padrão dos vertebrados que fica difícil fazer comparações com algum significado, excepto com base na genética. Dois grupos de invertebrados possuem encéfalos notavelmente complexos: artrópodes (insectos, crustáceos, aracnídeos, e outros) e cefalópodes (polvos, lulas e moluscos semelhantes)[12]. Os encéfalos dos artrópodes e cefalópodes chegam de dois cordões neurais paralelos que se estendem pelo corpo do animal. Artrópodes possuem um encéfalo central com três divisões e grandes lobos ópticos atrás de cada olho, para processamento visual[12]. Cefalópodes têm os maiores encéfalos entre os invertebrados. O encéfalo do polvo, em particular, é altamente desenvolvido, comparável em complexidade com os encéfalos de alguns vertebrados.

Somente uns poucos invertebrados tiveram seus encéfalos estudados intensivamente. A grande lesma-do-mar Aplysia foi escolhida pelo prémio Nobel de neurofisiologia Eric Kandel, pela simplicidade e acessibilidade de seu sistema nervoso, como modelo para o estudo das bases celulares do aprendizado e memória, e submetida a centenas de experimentos.[13] Os encéfalos invertebrados mais amplamente estudados, entretanto, pertencem à mosca-da-fruta Drosophila e à pequena nematoda Caenorhabditis elegans.

Drosophila.

Pela abundância de técnicas disponíveis para estudar sua genética, a mosca-da-fruta tornou-se o objecto natural no estudo do papel dos genes no desenvolvimento do encéfalo.[14] Notavelmente, muitos aspectos neurogenéticos da Drosophila mostraram-se relevantes para os humanos. Os primeiros genes do relógio biológico, por exemplo, foram identificados ao se examinar Drosophilae mutantes que apresentavam ciclos irregulares na actividade diária.[15] Uma pesquisa nos genomas dos vertebrados descobriu um conjunto de genes análogos que desempenham papel similar no relógio biológico de camundongos - e portanto, quase que certamente no relógio biológico humano.[16]

Como a Drosophila, a C. elegans foi amplamente estudada por sua importância para a genética.[17] No início dos anos 1970, Sydney Brenner a escolheu como organismos modelo para estudar o modo como os genes controlam o desenvolvimento. Uma das vantagens de trabalhar com este verme é que a estrutura corporal é bastante sumária: o sistema nervoso da forma hermafrodita possui exactamente 302 neurónios, sempre nos mesmos lugares, formando conexões sinápticas idênticas em cada verme[18]. Num projecto heróico, a equipe de Brenner fatiou vermes em milhares de seções ultra-finas e fotografou cada seção num microscópio electrónico, então encaixou visualmente as fibras de seção para seção, a fim de mapear cada neurónio e cada sinapse de todo o corpo.[19] Nada que se aproxime deste nível de detalhe está disponível para nenhum outro organismo, e a informação obtida permitiu uma multitude de estudos que não teria sido possível de outro modo.

Vertebrados

Encéfalo de um tubarão.

Os encéfalos dos vertebrados são feitos de um tecido muito mole, de textura comparável à da geléia.[20] Quando vivo, o tecido cerebral é rosado por fora e branco por dentro, com pequenas variações de cor. Nos vertebrados, o encéfalo é circundado por um sistema de membranas de tecido conjuntivo chamadas meninges, que o separam do crânio.[21] Esta cobertura em três camadas é composta (de fora para dentro) pela dura-máter (mãe dura), aracnoide-máter (mãe-aranha), e pia-máter (mãe macia). A aracnoide e a pia são fisicamente conectadas, e frequentemente consideradas uma única camada, a pia-aracnoide. Sob a aracnoide fica o espaço sub-aracnoide, que contém líquido cefalorraquidiano (FCE), que circula pelos pequenos espaços inter-celulares e por cavidades chamadas ventrículos, e serve para nutrir, sustentar e proteger o tecido cerebral. Vasos sanguíneos entram no sistema nervoso central pelo espaço perivascular acima da pia-máter. As células das paredes destes vasos são firmemente unidas, formando a barreira hematoencefálica, que protege o encéfalo de toxinas que possam entrar pelo sangue.

Encéfalo de um camundongo.

Os primeiros vertebrados apareceram há mais de 500 milhões de anos (Ma), durante o período Cambriano, e talvez lembrassem uma enguia.[22] Os tubarões apareceram por volta de 450 Ma, anfíbios 400 Ma, réptes por volta de 350 Ma e mamíferos uns 200 Ma. Não seria correcto dizer que qualquer espécie actual é mais primitiva do que outra, já que todas têm sua história evolutiva igualmente longas, mas os encéfalos dos modernos peixe-bruxa, lampreias, tubarões, anfíbios, répteis e mamíferos apresentam uma gradação de tamanho e complexidade que, grosso modo, segue a sequência evolutiva[23]. Todos estes encéfalos contêm basicamente o mesmo conjunto de elementos anatómicos, mas muitos destes são rudimentares no peixe-bruxa, enquanto nos mamíferos as partes frontais são altamente elaboradas e expandidas.

Todos os encéfalos vertebrados partilham de uma mesma forma fundamental, que pode apreciada mais facilmente ao se examinar como eles se desenvolvem.[20] O sistema nervoso aparece na forma de uma fina tira de tecido que corre pelo dorso do embrião. Esta tira engrossa e então se dobra para formar um tubo oco. A extremidade frontal do tubo se desenvolve e forma o encéfalo. Em sua forma mais recente, o encéfalo aparece como três protuberâncias, que finalmente formarão o prosencéfalo, o mesencéfalo e o rombencéfalo.

Em muitas classes de vertebrados, o tamanho destas três partes permanece similar no adulto, mas nos mamíferos o prosencéfalo fica muito maior que as outras partes, e o mesencéfalo bem pequeno.

Geralmente, os neuroanatomistas dividem o encéfalo em seis regiões principais: o telencéfalo (hemisférios cerebrais), o diencéfalo (tálamo e hipotálamo), mesencéfalo, cerebelo, ponte e medula[20]. Cada área destas, por sua vez, possui uma estrutura interna complexa. Algumas áreas, como o córtex e o cerebelo, constituem-se de camadas, dobradas ou enroladas para caberem no espaço disponível. Outras áreas são constituídas de aglomerados de numerosos pequenos núcleos. Se forem feitas distinções estritas baseadas na estrutura neural, química e conectividade, milhares de áreas diferentes podem ser identificadas no encéfalo dos vertebrados.

Alguns ramos de evolução dos vertebrados levaram a mudanças substanciais no formato cerebral, especialmente no prosencéfalo. O encéfalo do tubarão apresenta os elementos básicos numa disposição simples, mas nos peixes teleósteos (grande maioria das espécies modernas), o prosencéfalo tornou-se revirado, como uma meia virada do avesso. Nas aves, também, há grandes mudanças no formato.[24] Por muito tempo se pensou que uma das principais estruturas do prosencéfalo das aves, o espinha dorsal ventricular, correspondesse ao gânglio basal dos mamíferos, mas hoje acredita-se estar mais relacionado ao neocórtex.[25]

Principais regiões anatómicas do encéfalo dos vertebrados.

Diversas áreas cerebrais mantêm a mesma identidade entre todos os vertebrados, do peixes-bruxa ao ser humano. Segue uma lista de algumas das áreas mais importantes, com breve descrição de suas funções como são entendidas actualmente (mas note-se que ainda existe algum grau de discordância a respeito das funções da maioria das áreas):

  • A medula, ao longo do cordão espinhal, contém vários pequenos núcleos envolvidos em ampla variedade de funções sensórias e motoras.
  • O hipotálamo é uma pequena região na base do prosencéfalo, cuja complexidade não corresponde ao tamanho. É composto de numerosos pequenos núcleos, cada um com conexões distintas e neuroquímica idem. O hipotálamo é a estação central de controle dos ciclos de sono/alerta, controle de fome e sede, controle da liberação de hormónios e muitas outras funções biológicas críticas.[26]
  • Como o hipotálamo, o tálamo é um conjunto de núcleos com funções diversas. Alguns estão envolvidos em retransmitir informações dos e para os hemisférios cerebrais. Outros estão envolvidos na motivação. A região subtalâmica (zona incerta) parece conter sistemas geradores de acção para diversos tipos de comportamentos "consumatórios", incluindo comer, beber, defecação e cópula.[27]
  • O cerebelo modula as informações de outros sistemas cerebrais para fazê-las mais precisas. A remoção do cerebelo não impede um animal de fazer nada em particular, mas deixa suas acções hesitantes e desajeitadas. Tal precisão não é inata, mas aprendida por tentativa e erro. Aprender a andar de bicicleta é exemplo de um tipo de plasticidade neural que acontece majoritariamente dentro do cerebelo.[20]
  • O tecto, também chamado de "tecto óptico" permite direccionar acções a determinado ponto no espaço. Nos mamíferos, é chamado de colículo superior, e sua função mais bem estudada é a de direccionar os movimentos oculares. Mas também dirige o movimento de alcançar. O tecto recebe fortes estímulos visuais, mas também estímulos de outros sentidos que são úteis ao direccionamento de acções, como estímulos auditivos em corujas, estímulos das fossetas loreais de serpentes, etc. Em alguns quais peixes, o tecto é a maior porção do encéfalo.[28]
  • O pálio é uma camada de matéria cinzenta que fica na superfície do prosencéfalo. Nos répteis e mamíferos, ela é chamada de córtex. O pálio está relacionado a múltiplas funções, incluindo o olfacto e a memória espacial. Nos mamíferos, em que o córtex domina o encéfalo, ele assume funções de várias regiões subcorticais.[29]
  • O hipocampo, estritamente falando, é encontrado apenas em mamíferos. No entanto, a região da qual ele deriva, o pallium medial, tem correspondentes em todos os vertebrados. Há evidências de que esta parte do encéfalo está envolvida na memória espacial e navegação de aves, peixes, répteis e mamíferos.[30]
  • Os gânglios basais são um grupo de estruturas interconectadas do prosencéfalo, das quais nosso entendimento aumentou consideravelmente nos últimos anos. A função primária dos gânglios basais parece ser a de selecção de acção. Eles mandam sinais inibitórios para todas as partes do encéfalo que possam gerar acções, e nas circunstâncias certas pode liberar a inibição, de modo que os sistemas de geração de acção executem suas acções. Recompensas e punições têm seus efeitos neurais mais importantes sobre os gânglios basais.[31]
  • O bulbo olfactivo é uma estrutura especial que processa os sinais sensórios olfactivos e envia seus resultados para a parte olfactiva do pálio. É um elemento significativo do encéfalo de muitos vertebrados, mas é muito reduzido nos primatas.[32]

Mamíferos

O rombencéfalo e o mesencéfalo dos mamíferos são em geral similares aos de outros vertebrados, mas diferenças gritantes aparecem no prosencéfalo, que é não só muito aumentado, mas diferenciado em sua estrutura.[33] Nos mamíferos, a maior parte da superfície dos hemisférios cerebrais é coberta por um isocórtex de seis camadas, mais complexo que o pallium de três camadas visto na maioria dos vertebrados. O hipocampo dos mamíferos também possui estrutura diferente.

Infelizmente, a história evolucionária destas características mamíferas, especialmente o córtex de seis camadas, é difícil de reconstituir[6]. Isto principalmente pela falta de um elo perdido. Os ancestrais dos mamíferos, chamados sinápsidas, separam-se dos ancestrais dos répteis modernos e aves por volta de 350 milhões de anos atrás. Entretanto, a ramificação mais recente que vingou entre os mamíferos foi a separação entre monotremados (ornitorrinco e équidna), marsupiais (gambá, canguru) e placentários (maioria dos mamíferos actuais), que aconteceu em torno de 120 milhões de anos atrás. Os encéfalos dos monotremados e dos marsupiais são diferentes dos encéfalos placentários em alguns aspectos, mas possuem as estruturas corticais e do hipocampo inteiramente mamíferas. Assim, estas estruturas devem ter evoluído entre 350 e 120 milhões de anos atrás, período que não deixou evidências senão fósseis, que não conservam tecidos moles como o encéfalo.

Primatas (incluindo humanos)

Ver artigo principal: Cérebro humano
Encéfalo Humano.

O encéfalo primata contém a mesma estrutura que o encéfalo de outros mamíferos, mas é consideravelmente maior em relação ao tamanho do corpo.[9] Esse aumento de tamanho relaciona-se principalmente com uma grande expansão do córtex cerebral, com destaque para as áreas relativas a visão e antecipação.[34] A rede de processamento visual dos primatas é muito complexa, incluindo pelo menos 30 áreas diferenciáveis, com uma desconcertante rede de interconexões. Esses fatos contribuem para que o processamento visual utilize quase metade do encéfalo. A outra parte do encéfalo que tem grande aumento é o córtex pré-frontal, cujas funções são difíceis de sumarizar sucintamente, mas relacionam-se com planejamento, memória de trabalho, motivação, atenção, e controle de funções.

Estrutura Microscópica

Esquema de um neurónio.

O encéfalo é composto de duas grandes classes de células, neurónios e células das glia.[20] Neurónios recebem mais atenção, mas, na verdade, as células gliais são mais frequentes, formando uma proporção de pelo menos 10 para 1. Existem diversos tipos de células gliais, que realizam um grande número de funções importantes como: suporte estrutural, suporte metabólico, isolamento, e guia para o desenvolvimento.

A característica que torna os neurónios tão importantes é a capacidade de enviar sinais uns para os outros através de longas distâncias, algo que não ocorre nas células gliais.[20] Eles enviam esses sinais através de um axónio, uma fina fibra protoplasmática que parte do corpo celular e projecta-se, normalmente com inúmeras ramificações, para outras áreas, às vezes perto, às vezes em partes distantes do encéfalo ou do corpo. A extensão de um axónio pode ser extraordinária: por exemplo, se uma célula piramidal do neocórtex fosse aumentada até que o tamanho de seu corpo fica-se do tamanho de um corpo humano, seu axónio, igualmente aumentado, seria um cabo com algumas polegadas de diâmetro, estendendo-se por mais de um quilómetro. Esses axónios transmitem sinais na forma de pulsos electroquímicos chamados potenciais de acção, que duram menos que um milésimo de segundo e viajam através do axónio numa velocidade de 1 a 100 metros por segundo. Alguns neurónios emitem potenciais de acção constantemente, 10 a 100 vezes por segundo, normalmente em padrões temporais irregulares; outros neurónios ficam em repouso a maior parte do tempo, mas ocasionalmente emitem uma rajada de potenciais de acção.

Axónios transmitem sinais para outros neurónios, ou para células não-neuronais, através de uma junção especializada chamada sinapse.[20] Um único axónio pode fazer diversas conexões sinápticas. Quando um potencial de acção, viajando através do axónio, chega à sinapse, ele faz com que um composto químico chamado de neurotransmissor seja liberado. O neurotransmissor liga-se a moléculas receptoras na membrana da célula alvo. Alguns tipos de receptores neuronais são excitatórios, ou seja, eles aumentam a frequência dos potenciais de acção na célula alvo; outros receptores são inibitórios, ou seja, eles diminuem a frequência dos potenciais de acção; outros tem efeitos efeitos modulatórios complexos na célula alvo.

Na verdade, são os axónios que preenchem a maior parte do espaço do encéfalo.[20] Normalmente, grandes grupos deles viajam juntos em aglomerados chamados tractos de fibras nervosas. Em muitos casos, cada axónio é envolto por uma grossa bainha de uma substância lipídica chamada Mielina, cuja função é aumentar muito a velocidade de propagação do potencial de acção. A mielina tem coloração branca, por isso as partes do encéfalo preenchidas exclusivamente por fibras nervosas aparecem como substância branca, em oposição à substância cinzenta que marca as áreas com altas densidades de corpos celulares neuronais.

Desenvolvimento

Diagrama representando as principais subdivisões do cérebro embrionário dos vertebrados. Estas regiões posteriormente se diferenciam em prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo.

O encéfalo não apenas cresce, ele se desenvolve em uma sequência muito bem orquestrada.[35] muitos neurónios são criados em zonas especiais que contêm células-tronco, e então migram pelo tecido para chegarem a sua localização final.[36] No córtex, por exemplo, o primeiro estágio de desenvolvimento é a formação de uma "plataforma" por um grupo especial de células gliais, chamadas glia radiais , que projectam fibras verticalmente através do córtex. Os neurónios corticais novos são criados na base do córtex, então "escalam" estas fibras radiais até chegarem às camadas que estão destinados a ocupar enquanto adultos. Uma vez em seu lugar, o neurónio começa a estender dendritos e um axónio a seu redor[37] Os axónios, por geralmente se estenderem a grande distância do corpo celular e terem de fazer contacto com alvos específicos, crescem de modo particularmente complexo. A ponta de um axónio em crescimento consiste de uma bolha de protoplasma chamada "cone de crescimento", repleta de receptores químicos. Estes receptores sentem o ambiente local, fazendo o cone de crescimento ser atraído ou repelido por vários elementos celulares, sendo atraído a uma direcção em particular em cada ponto de seu trajecto. O resultado deste processo de direccionamento é que o cone de crescimento navega através do cérebro até atingir sua área de destino, onde outros indicadores químicos o fazem iniciar a formação de sinapses. Levando em conta todo o encéfalo, muitos milhares de genes dão origem a proteínas que influenciam o direccionamento do axónio.

Entretanto, a rede sináptica que se forma é apenas parcialmente determinada pelos genes. Em muitas partes do encéfalo, há inicialmente um "supercrescimento" de axónios, que então são "ceifados" por mecanismos que dependem da actividade neural.[38] Na projecção do olho para o mesencéfalo, por exemplo, a estrutura adulta apresenta uma organização muito precisa, conectando cada ponto da superfície da retina a um ponto correspondente numa camada mesencefálica. Nos primeiros estágios de desenvolvimento, cada axónio da retina é guiado para a região correcta do mesencéfalo por indicadores químicos, mas então se ramifica profusamente e faz contacto inicial com um amplo feixe de neurónios do mesencéfalo. A retina, antes do nascimento, possui mecanismos especiais que a fazem gerar ondas de actividade que se originam em algum ponto e se propagam lentamente pela superfície retinal.[39] Estas ondas são úteis por activarem ao mesmo tempo os neurónios vizinhos: quer dizer, elas produzem um padrão de actividade neural que contém informação sobre o arranjo espacial dos neurónios. Esta informação é utilizada no mesencéfalo por um mecanismo que faz as sinapses enfraquecerem, e finalmente desaparecerem, se a actividade em um axónio não for seguida pela activação da célula-alvo. O resultado deste processo sofisticado é a gradual afinação e consolidação do sistema, até adquirir a forma final adulta.

Processos semelhantes têm lugar em outras áreas do cérebro: uma matriz sináptica inicial é gerada, resultado do direccionamento químico geneticamente determinado, mas então é gradualmente refinada por mecanismos dependentes da actividade, parte controlados pela dinâmica interna, e parte por estímulos sensórios externos. Em alguns casos, assim como no sistema retina-mesencéfalo, os padrões de actividade dependem de mecanismos que operam apenas no cérebro em desenvolvimento, e aparentemente existem somente com o fim de guiar o desenvolvimento.

No ser humano e em muitos outros mamíferos, novos neurónios são criados principalmente antes do nascimento, e o cérebro infantil contém número significativamente maior do que o adulto.[40] Há entretanto umas poucas áreas onde novos neurónios continuam a ser criados durante a vida. As duas áreas para as quais o fato é pacífico são o bulbo olfactório e o giro dentado do hipocampo, onde há evidências de que novos neurónios estão envolvidos no armazenamento de memórias recentes. Com estas excepções, entretanto, o conjunto dos neurónios que estão presentes na primeira infância é o mesmo para o resto da vida. (Células gliais são diferentes: assim como a maioria dos tipos de células do corpo, estas se reproduzem ao longo da vida.)

Apesar de o conjunto de neurónios já estar praticamente todo no lugar quando do nascimento, suas conexões axonais continuam a se desenvolver ainda por longo tempo. No ser humano, a mielinação não está completada até a adolescência.[41]

Houve longo debate sobre se as características da mente, personalidade e inteligência podem ser atribuídas à hereditariedade ou à criação; o debate "inato ou adquirido".[42] Não é uma questão apenas filosófica: ela assume grande relevância prática para pais e educadores. Apesar de muitos detalhes ainda precisarem ser esclarecidos, a neurociência mostra claramente que ambos factores são essenciais. Os genes determinam a forma geral do encéfalo, e determinam como o encéfalo reage à experiência. A experiência, entretanto, é necessária para refinar a matriz de conexões sinápticas. Em alguns aspectos, esta (a matriz) é em grande parte uma questão de presença ou ausência de experiência durante períodos críticos de desenvolvimento.[43] Em outros aspectos, a quantidade e a qualidade da experiência pode ser mais relevante: por exemplo, há evidências substanciais de que animais criados em ambientes ricos (riqueza de estímulos) têm córtex mais espesso do que animais cujos níveis de estimulação são restritos.[44]

Funcionamento

De uma perspectiva biológica, a função do encéfalo é gerar comportamentos que promovam a aptidão genética de um animal.[45] Para fazê-lo, ele extrai informações relevantes dos órgãos sensíveis para refinar as acções do animal. Sinais sensórios podem estimular respostas imediatas, como quando o sistema olfactório de um veado detecta o odor de um lobo; podem modular o padrão de actividade em andamento, como os efeitos dos ciclos de claridade-escuridão sobre o estado de sono-vigilia de um organismo; ou suas informações podem ser armazenadas, para o caso de relevância futura. O cérebro gerencia sua complexa tarefa orquestrando subsistemas funcionais, que podem ser categorizados de várias formas: anatomicamente, quimicamente e funcionalmente.

Sistemas de neurotransmissores

Ver artigo principal: Sistemas de neurotransmissores

Com poucas excepções, cada neurónio do encéfalo libera o mesmo neurotransmissor químico, ou conjunto de neurotransmissores, em todas as conexões sinápticas que faz com outros neurónio.[46] Ainda assim, a grande maioria das drogas psicoactivas produz efeitos ao alterar sistemas neurotransmissores que não envolvem directamente a transmissão glutamatérgica ou a GABAérgica.[47] Drogas como cafeína, nicotina, heroina, cocaína, Prozac, Thorazine, etc., actuam sobre outros neurotransimssores. Muitos destes outros transmissores vêm de neurónios localizados em partes específicas do encéfalo. A serotonina, por exemplo - o alvo primário de drogas antidepressivas e muitos suplementos dietéticos - origina-se em uma pequena área do tronco encefálico chamada núcleo da rafe. A norepinefrina, relacionada ao estado de alerta, origina-se em uma pequena área próxima, chamada de cerúleo. A histamina, enquanto neurotransmissor, vem de uma pequena parte do hipotálamo chamada núcleo tuberomamilar (a histamina também possui funções fora do sistema nervoso central, mas a função neurotransmissora é que faz os anti-histamínicos terem efeito sedativo). Outros neurotransmissores como a acetilcolina e a dopamina têm múltiplas fontes no encéfalo, mas que não estão tão ubiquamente distribuídas quanto as de glutamato e GABA.

Sistemas sensórios

Ver artigo principal: Sistema sensorial

Uma das funções primárias do encéfalo é extrair informação biologicamente relevante de receptores sensoriais.[48] Mesmo no encéfalo humano, os processos sensórios vão bem além dos clássicos cinco sentidos da visão, audição, paladar, tacto e olfacto: nossos cérebros recebem informações sobre temperatura, equilíbrio, posição dos membros e da composição química da corrente sanguínea, entre outras coisas. Todas estas informações são detectadas por sensores especializados que enviam sinais para o cérebro. Entre não-humanos, podem estar presentes sentidos adicionais, como os sensores de calor presentes nas fossetas loreais das serpentes; ou os sentidos "convencionais" podem ser usados de modos não-convencionais, como no "sonar" auditivo dos morcegos.

Cada sistema sensório possui suas idiossincrasias, mas aqui estão alguns princípios que se aplicam à maioria deles, usando o sentido da audição para exemplos específicos[49]

  1. Cada sistema começa com células especializadas de "recepção sensorial". Estas são neurónios, mas diferente da maioria deles, elas não são controladas por estímulos sinápticos de outros neurónios; em vez disso, elas são activadas por receptores ligados à membrana que são sensíveis a alguma modalidade física, como luz, temperatura, ou estiramento físico. Os axónios dos receptores sensórios adentram a medula espinhal ou o encéfalo. No sentido da audição, os receptores localizam-se no ouvido interno, na cóclea, e são activados por vibração.
  2. Para a maioria dos sentidos, há um "núcleo primário", ou um conjunto de núcleos, localizado no tronco cerebral, que colecta sinais das células-receptoras. Para o sentido da audição, há o núcleo coclear.
  3. Em muitos casos, há áreas subcorticais secundárias que extraem algum tipo de informação especial. No sentido da audição, o complexo olivar superior e o colículo inferior estão envolvidos na comparação dos sinais dos dois ouvidos para extrair informação sobre a direcção da fonte sonora, entre outras funções.
  4. Cada sistema sensório também tem uma parte especial do tálamo dedicada a si, que serve como um retransmissor para o cérebro. Para o sistema auditivo, este é o núcleo geniculado medial.
  5. Para cada sistema sensório, há uma área cortical "primária" que recebe estímulos directos da área de retransmissão talâmica. Para o sistema auditivo esta esta é o córtex auditivo primário, localizado na parte superior do lobo temporal.
  6. Também há geralmente um conjunto de áreas sensórias corticais "de alto nível", que analisam o estímulo sensório de modo específico. Para o sistema auditivo, há áreas que analisam a qualidade do som, ritmo, e padrões de mudança temporal, entre outros aspectos.
  7. Finalmente, há áreas multimodais que combinam estímulos de diferentes modalidades sensoriais, por exemplo auditivas e visuais. Neste ponto, os sinais atingiram partes do encéfalo que são mais bem-descritas como integradoras do que como sensórias.

Todas estas regras têm excepções, por exemplo: (1) No sentido do tacto (que na verdade é um conjunto de pelo menos meia dúzia de sentidos mecânicos), os estímulos sensórios se encerram principalmente no cordão espinhal, em neurónios que se projectam para o tronco cerebral.ref>Principles of Neural Science, Ch. 23</ref> (2) Para o sentido do olfacto, não há qualquer retransmissor no tálamo; em vez disso, os sinais seguem directamente da região encefálica primária - o bulbo olfactório - para o córtex.[50]

Sistema motor

Ver artigo principal: Sistema motor

Sistemas motores são áreas do encéfalo que estão mais ou menos envolvidas na produção de movimentos corporais, isto é, na activação de músculos. Com a excepção dos músculos que controlam os olhos, todos os músculos voluntários[51] do corpo são directamente inervados por neurónios motores no cordão espinhal, que por sua vez são o último caminho comum do sistema gerador de movimento.ref>Principles of Neural Science, Ch. 34</ref> Neurónios motores espinhais são controlados tanto por circuitos neurais intrínsecos ao cordão espinhal quanto por estímulos originados no encéfalo. Os circuitos espinhais intrínsecos executam várias respostas reflexas, e também contêm geradores de padrões para movimentos ritmados, como andar ou nadar[52] As conexões descendentes do encéfalo permitem controle mais sofisticado.

O encéfalo contém algumas áreas que se projectam directamente para o cordão espinhal.[53] No nível mais baixo estão a as áreas motoras na medula e na ponte. Num nível mais alto se encontram áreas no mesencéfalo, como o núcleo rubro, que é responsável pela coordenação dos movimentos de braços e pernas. Num nível ainda mais alto, está o córtex motor primário, uma tira de tecido localizada no limite posterior do lobo frontal. O córtex motor primário propaga-se para as regiões motoras subcorticais, mas também envia uma projecção maciça directamente para o cordão espinhal, através do assim chamado tracto piramidal. Esta projecção córtico-espinhal directa é responsável pelo controle voluntário dos detalhes finos dos movimentos.

Outras áreas "secundárias" do encéfalo relacionadas ao movimento não se projectam directamente ao cordão espinhal, mas em vez disso agem sobre as áreas motoras primárias corticais ou subcorticais. Dentre as áreas secundárias mais importante se encontram o córtex premotor, os gânglios basais e o cerebelo:

  • O córtex premotor(que na verdade é um grande complexo de áreas) une-se ao córtex motor primário e projecta-se nele. Enquanto os elementos do córtex motor primário mapeiam áreas específicas do corpo, os elementos do córtex premotor estão mais envolvidos nos movimentos coordenados de diversas partes do corpo.[54]
  • Os gânglios basais são um conjunto de estruturas na base do prosencéfalo que projectam-se para várias outras áreas relacionadas ao movimento.[55] Sua função tem sido difícil de compreender, mas uma das teorias mais aceitas actualmente é de que eles tenham parte crucial na selecção de acção.[56] Na maior parte do tempo, eles refreiam acções, enviando sinais inibitórios constantes para os sistemas geradores de acção, mas nas circunstâncias correctas, eles cessam esta inibição e assim permitem a seus alvos tomarem o controle do comportamento.
  • O cerebelo é uma estrutura bastante distinta presa ao fundo do encéfalo.[57] Ele não controla ou origina comportamentos, mas gera sinais correctivos para tornar os movimentos mais precisos. Pessoas com danos cerebelares não ficam paralisadas em nenhum aspecto, mas seus movimentos corporais tornam-se erráticos e descoordenados.

Além de tudo acima, o encéfalo e o cordão espinhal contêm extensos circuitos para o controle do sistema nervoso autónomo, que funciona pela secreção de hormónios e pela modulação dos músculos lisos do intestino.[58] O sistema nervoso autónomo afecta o ritmo cardíaco, a digestão, o ritmo respiratório, a salivação, a perspiração, a urinação e a excitação sexual - mas muitas de suas funções não estão sob controle voluntário.

Sistema de alerta

Ver artigo principal: Sono

Talvez o aspecto mais óbvio do comportamento de qualquer animal é o ciclo diário que compreende dormir e acordar. O estado de alerta e atenção também é modulado em uma escala de tempo delicada por uma rede extensa de áreas cerebrais.[59]

Um componente chave do sistema da alerta é o núcleo supraquiasmático, uma pequena porção do hipotálamo localizada directamente acima do ponto em que os nervos ópticos dos dois olhos cruzam.[60] O núcleo supraquiasmático contém o relógio biológico central do corpo. Os neurónios de lá mostram níveis de actividade que sobem e declinam em um período de 24 horas, os ritmos circadianos: essas flutuações de actividade são direccionadas por mudanças rítmicas na expressão de um determinado grupo de "genes relógio". O núcleo supraquiasmático continua a altera-se de acordo com tempo mesmo se for retirado do encéfalo e colocado numa bandeja com uma solução nutritiva morna, entretanto ele apenas recebe a informação dos nervos ópticos, através do tracto retino hipotalâmico, que permite que o ciclo claro-escuro calibre o relógio. O núcleo supraquiasmático projecta-se a um grupo de áreas no hipotálamo, tronco encefálico e cérebro médio que estão relacionadas com a implementação dos ciclos sono-vigília. Um componente importante do sistema é a chamada formação reticular, um grupo de "amontoados" neuronais espalhados difusamente através do núcleo do tronco encefálico.[59] Neurónios reticulares enviam sinais para o tálamo, que, por sua vez, envia sinais de controle do nível de actividade para todo o córtex. Danos a formação reticular pode provocar um estado permanente de coma.

Sono envolve grandes mudanças na actividade cerebral.[61]

Consumo de energia pelo encéfalo

PET Imagem do encéfalo humano mostrando o consumo de energia.

Apesar do encéfalo representar apenas 2% do peso corporal, ele recebe 15% do débito cardíaco, 20% de consumo total de oxigénioo do corpo, e 25% da utilização total de glicose do corpo.[62] As demandas do encéfalo limitam o seu tamanho em algumas espécies, como nos morcegos.[63] O encéfalo utiliza principalmente glicose como fonte de energia, e a privação da glicose, como pode acontecer na hipoglicemia, pode resultar na perda da consciência. O consumo de energia do cérebro não varia muito com o tempo, entretanto as regiões activas do córtex consumem mais energia que as regiões inactivas: esse fato é a base para os métodos de imagem funcionais do encéfalo como o PET e aRM.[64]

Efeitos de doenças e lesões

Ver artigo principal: Neurologia

Apesar de ser protegido pelo crânio e pelas meninges, envolvido pelo líquido cefalorraquidiano, e isolado da corrente sanguínea pela barreira hematoencefálica, a natureza sensível do o faz vulnerável a inúmeras doenças e diversos tipos de lesões. Esses problemas manifestam-se de maneira diferenciada em humanos em relação a outras espécies, por isso uma visão geral da patologia cerebral e seu possível tratamento são abordados nos artigos sobre cérebro humano, lesão cerebral, e neurologia.


Evolução do Encéfalo

Divisões do Encéfalo.

(em Revisão)

Quanto ao nível evolutivo, podemos distinguir as seguintes unidades cerebrais:

Essas 3 estruturas foram aparecendo, uma após a outra, durante o desenvolvimento do embrião e do feto (ontogenia), recapitulando, cronologicamente, a evolução (filogenia) das espécies, do réptil e até do Homo sapiens. No dizer de MacLean, elas são 3 computadores biológicos que embora interconectados, conservam cada um nas palavras do cientista, "suas próprias formas peculiares de inteligência, subjectividade, sentido de tempo e espaço, memória, motricidade e outras funções menos específicas."

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  64. Raichle & Gusnard, 2002

Ver também

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Ligações externas

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