Carlos Chagas: diferenças entre revisões

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Quanto aos prêmios recebidos, em [[1912]] chegou o primeiro, o ''Prêmio Schaudinn'', cedido pelo [[Instituto de Moléstias Tropicais de Hamburgo]], [[Alemanha]]. Em [[1921]] foi nomeado ''Artium Magistrum, Honoris Causa'', da [[Universidade de Harvard]], [[Estados Unidos da América|EUA]]; em [[1923]] ganhou o Prêmio ''Hors-concours'', na Conferência Comemorativa sobre o Centenário de [[Louis Pasteur]], em [[Estrasburgo]], [[França]], e em [[1925]] o ''Prêmio Kummel'', da [[Universidade de Hamburgo]], [[Alemanha]]. Ainda receberia em [[1926]], [[1929]] e [[1934]] outros títulos ''Honoris causa'', vindos das [[universidade]]s [[Universidade de Paris|de Paris]], [[Universidade de Lima|de Lima]] e [[Universidade Livre de Bruxelas|Livre de Bruxelas]], respectivamente.
Quanto aos prêmios recebidos, em [[1912]] chegou o primeiro, o ''Prêmio Schaudinn'', cedido pelo [[Instituto de Moléstias Tropicais de Hamburgo]], [[Alemanha]]. Em [[1921]] foi nomeado ''Artium Magistrum, Honoris Causa'', da [[Universidade de Harvard]], [[Estados Unidos da América|EUA]]; em [[1923]] ganhou o Prêmio ''Hors-concours'', na Conferência Comemorativa sobre o Centenário de [[Louis Pasteur]], em [[Estrasburgo]], [[França]], e em [[1925]] o ''Prêmio Kummel'', da [[Universidade de Hamburgo]], [[Alemanha]]. Ainda receberia em [[1926]], [[1929]] e [[1934]] outros títulos ''Honoris causa'', vindos das [[universidade]]s [[Universidade de Paris|de Paris]], [[Universidade de Lima|de Lima]] e [[Universidade Livre de Bruxelas|Livre de Bruxelas]], respectivamente.


Recebeu diplomas da [[Universidade Nacional de Buenos Aires]], em [[1917]]; da Faculdade de Medicina da [[Universidade de Hamburgo]], em [[1925]]; e da [[Cruz Vermelha|Cruz Vermelha Alemã]], em [[1932]]. Foi nomeado membro da [[Academia Brasileira de Medicina]] em [[1910]], assim que o estudo foi divulgado. como não havia vagas na época, foi decretado que ele seria um membro honorário. Também pertenceu à ''Société de Patologie Exótique'' da [[França]] (em [[1919]]), à ''Physicans Club of [[Chicago]]'' dos [[EUA]] (em [[1921]]), à ''Associação Médica Panamericana'' (em [[1922]]), da ''Sociedade de Artes Médicas das Índias Orientais Neerlandesas'' ([[1924]]), à ''Academia de Medicina de New York'' e à ''Kaiserlich Deutsch Akademie de Naturforscher zur Halle'' ([[1926]]), à ''Real Sociedade de Medicina Tropical e Higiene de Londres'' ([[1928]]) e da ''Sociedade de Biologia de Buenos Aires'' e ''Academia de Medicina de Paris ([[1930]].
[[Imagem:MinasGerais Municip CarlosChagas.svg|thumb|300px|left|<center>'''Município de Carlos Chagas - MG .'''<center>]]Recebeu diplomas da [[Universidade Nacional de Buenos Aires]], em [[1917]]; da Faculdade de Medicina da [[Universidade de Hamburgo]], em [[1925]]; e da [[Cruz Vermelha|Cruz Vermelha Alemã]], em [[1932]]. Foi nomeado membro da [[Academia Brasileira de Medicina]] em [[1910]], assim que o estudo foi divulgado. como não havia vagas na época, foi decretado que ele seria um membro honorário. Também pertenceu à ''Société de Patologie Exótique'' da [[França]] (em [[1919]]), à ''Physicans Club of [[Chicago]]'' dos [[EUA]] (em [[1921]]), à ''Associação Médica Panamericana'' (em [[1922]]), da ''Sociedade de Artes Médicas das Índias Orientais Neerlandesas'' ([[1924]]), à ''Academia de Medicina de New York'' e à ''Kaiserlich Deutsch Akademie de Naturforscher zur Halle'' ([[1926]]), à ''Real Sociedade de Medicina Tropical e Higiene de Londres'' ([[1928]]) e da ''Sociedade de Biologia de Buenos Aires'' e ''Academia de Medicina de Paris ([[1930]].


Recebeu o título, em [[1920]], de ''Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália''; em [[1923]] de ''Comendador da Coroa da Bélgica'' e de ''Cavaleiro da Ordem Nacional'' da [[Legião de Honra da França]]; em [[1924]] o ''Grau de Oficial da Ordem de São Thiago'', de [[Portugal]]; em [[1925]] o de ''Comendador da Ordem de Afonso XII'', [[Espanha]], em [[1926]] ''Comendador da Ordem de Isabel, a Católica'' da [[Espanha]] e em [[1929]] ''Cavaleiro da Ordem da Coroa da Romênia''.
Recebeu o título, em [[1920]], de ''Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália''; em [[1923]] de ''Comendador da Coroa da Bélgica'' e de ''Cavaleiro da Ordem Nacional'' da [[Legião de Honra da França]]; em [[1924]] o ''Grau de Oficial da Ordem de São Thiago'', de [[Portugal]]; em [[1925]] o de ''Comendador da Ordem de Afonso XII'', [[Espanha]], em [[1926]] ''Comendador da Ordem de Isabel, a Católica'' da [[Espanha]] e em [[1929]] ''Cavaleiro da Ordem da Coroa da Romênia''.

Revisão das 00h15min de 23 de dezembro de 2007

 Nota: Se procura por alguma outra definição de Carlos Chagas, veja Carlos Chagas (desambiguação).


Carlos Justiniano Ribeiro Chagas
Carlos Chagas
Carlos Chagas, em seu laboratório no Instituto Oswaldo Cruz
Nascimento 9 de julho de 1879
Oliveira, Minas Gerais, Brasil
Morte 8 de novembro de 1934
Rio de Janeiro, Brasil
Nacionalidade Brasileiro
Ocupação Médico sanitarista, cientista e bacteriologista

Carlos Justiniano Ribeiro Chagas (Oliveira, Minas Gerais, 9 de julho de 1879Rio de Janeiro, 8 de novembro de 1934) foi um médico sanitarista, cientista e bacteriologista brasileiro, que trabalhou como clínico e pesquisador. Atuante na saúde pública do Brasil, iniciou sua carreira no combate à malária, mas destacou-se ao descobrir o protozoário Trypanosoma cruzi (cujo nome foi uma homenagem ao seu amigo Oswaldo Cruz) e por ser o primeiro e o único cientista na história da medicina que descreveu completamente a doença que esse protozoário causa, a tripanossomíase americana, conhecida popularmente com o seu nome, doença de Chagas.

Foi diversas vezes laureado com prêmios de instituições do mundo inteiro, sendo as principais como membro honorário da Academia Brasileira de Medicina e doutor honoris causa da Universidade de Harvard e Universidade de Paris. Também trabalhou no combate à leptospirose e às doenças venéreas, além de ter sido o segundo diretor do Instituto Oswaldo Cruz.

Infância e Juventude

Pais de Carlos Chagas, José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas
Carlos Chagas, aos quatro anos de idade

Carlos Justiniano Ribeiro Chagas nasceu no município de Oliveira, Minas Gerais, em 9 de julho de 1879, filho de José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas. O lugar de seu nascimento foi na Fazenda Bom Retiro, onde seus antepassados, de ascendência portuguesa, se enraizaram.

Seu pai, cafeicultor, morre quando tinha quatro anos de idade, ficando a cargo de sua mãe a administração do cultivo de café e da criação dele e de seus outros quatro irmãos: Maria Rita, José (que morreu com três anos de idade), Marieta e Serafim. Eles vão morar em outra propriedade da família, a Fazenda Boa Vista, próxima a Juiz de Fora, também no estado de Minas Gerais.

Em Oliveira, teve convivência direta com três tios maternos, Cícero, Olegário e Carlos. Os dois primeiros eram advogados formados em São Paulo e incentivaram o sobrinho a se dedicar aos estudos. Porém, o último, era formado em Medicina e organizou uma casa de saúde na cidade. As ações desse tio o influenciaram para seguir a carreira médica.

Aos oito anos de idade e já alfabetizado, foi matriculado no Colégio São Luís, dirigido por jesuítas, em Itu, interior de São Paulo, mas foge do internato em 1888, para ir ao encontro da mãe, em Juiz de Fora, ao saber que os escravos recém-libertados estariam depredando fazendas. A punição para essa fuga foi a expulsão de Chagas do Colégio pelos padres jesuítas.

Então Chagas começou a estudar no Colégio São Francisco, em São João del-Rei, Minas Gerais, fundado pelo padre João Batista do Sacramento. Esse padre influenciou-o para ser médico, com os conhecimentos em história natural, botânica e zoologia. Após encerrar os estudos secundários, Chagas ingressou no curso preparatório para a Escola de Minas de Ouro Preto por vontade de sua mãe, que gostaria de vê-lo formado em Engenharia. Aí, com a companhia de colegas do curso, aderiu a vida boêmia. Adoentado, em 1896, depois de reprovado nos exames, volta para Oliveira.

Estudos

Carlos Chagas e seus filhos, Evandro Chagas e Carlos Chagas Filho

Durante o tempo de recuperação em sua cidade-natal, seu tio Carlos fortaleceu a vontade de Chagas em ser médico e ajudou-o a vencer a barreira de sua mãe, que acabou aceitando a opção de seu filho. Seguiu então para São Paulo, para obter os diplomas básicos exigidos para matrícula no curso médico. Conseguindo tal cetificado, em fevereiro de 1897, segue para o Rio de Janeiro a fim de entrar à Faculdade de Medicina.

Aos 18 anos, passou a cursar a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde este mesmo tio trabalhava, em abril de 1897. Tal faculdade vivia uma "revolução pasteuriana", pois havia adquirido as teses de Louis Pasteur e estava passando por um processo de renovação. Chagas, assim, também leva essas idéias adiante em seu trabalho. Ao longo do curso, dois professores exerceram grande influência em sua carreira: Miguel Couto, que apresentou a Chagas as noções e as práticas da clínica moderna e com quem passaria a ter uma estreita amizade; e Francisco Fajardo, que colocou Chagas no estudo de doenças tropicais, especialmente da malária, e que seria de grande importância para sua futura carreira. Assim, esses dois professores apresentaram os dois caminhos que se abriram para Chagas no decorrer de seu curso médico: a clínica e a pesquisa científica.

Concluído o curso, em 1902, para elaborar sua tese (pré-requisito para o exercício da medicina), dirigiu-se ao Instituto Soroterápico Federal, na fazenda de Manguinhos, levando uma carta de apresentação de seu professor, Miguel Couto, a Oswaldo Cruz, diretor do Instituto, onde teve seu primeiro contato com aquele que veio a trabalhar, ser seu grande mestre e tornar-se amigo.

Aceito e orientado por Oswaldo Cruz, Chagas começou a trabalhar no Instituto Soroterápico Federal (que após 1908 passou-se a chamar Instituto Oswaldo Cruz) e elege como tema de sua tese o ciclo evolutivo da malária na corrente sangüínea. Assim, em março de 1903, estava concluído a sua tese, o "Estudo Hematológico do Impaludismo" e em maio do mesmo ano terminou seus estudos. Oswaldo Cruz, que assumiu simultaneamente a direção de Manguinhos e a Diretoria Geral de Saúde Pública, nomeou Chagas como médico do instituto, cargo que foi recusado por preferir, em 1904 trabalhar como clínico no Hospital de Jurujuba, em Niterói. Nesse ano instalou seu laboratório particular no Rio de Janeiro e casou-se com Íris Lobo, que dessa união nasceriam seus dois filhos, Evandro (em 1905) e Carlos Filho (em 1910); ambos seguiriam a carreira médica do pai.

Carreira

Combate à malária

Carlos Chagas

Devido à tese de doutorado sobre a malária, em 1905 foi recrutado por Cruz para missão de controlar a doença em Itatinga, interior de São Paulo, que atacava a maioria dos trabalhadores da Companhia Docas de Santos, que construía uma represa na região, causando a paralisação das obras. Assim, realizou a primeira ação bem-sucedida contra a malária no Brasil, colocando em prática procedimentos que mais tarde se tornariam corriqueiros nas outras campanhas.

Segundo ele, para se impedir a propagação da doença em regiões em que não havia ações sistemáticas de saneamento, fazia-se necessário concentrar as medidas preventivas nos locais onde viviam os homens e os mosquitos infectados com o parasito da malária. Seguindo tal orientação, em cinco meses Chagas consegue debelar o surto da doença - fato que serviu de base para o efetivo combate à moléstia no mundo inteiro.

De volta ao Rio de Janeiro, Chagas continuou servindo a Diretoria Geral de Saúde Pública e, em 19 de março de 1906, tranferiu-se para o Instituto Oswaldo Cruz. Foi solicitado, no ano seguinte, pela Diretoria Geral, a organizar o saneamento na Baixada Fluminense, onde estava acontecendo obras para a captação e bombeamento de água ao Rio de Janeiro. Junto com Arthur Neiva, seguiu para Xerém, e os resultados positivos que conseguiu nessa obra confirmaram a sua teoria da infecção domiciliar da malária.

Doença de Chagas

Trypanosoma cruzi
Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi

Em junho de 1907 Chagas foi enviado pelo Instituto à cidade de Lassance, Minas Gerais, perto do Rio São Francisco, para combater uma epidemia de malária entre os trabalhadores de uma nova linha de trem da Estrada de Ferro Central do Brasil, instalando-se durante dois anos num vagão de trem, montando um pequeno laboratório e um consultório para atendimento dos doentes.

Neste tempo, capturou, classificou e estudou os hábitos dos anofelinos, mosquitos transmissores da doença, e examinou o sangue de animais em busca de parasitas. Assim, Chagas identificou no sangue de um sagüi uma nova espécie de protozoário, ao qual deu o nome de Trypanosoma minasensis. Um engenheiro da ferrovia alertou-o para a infestação de um inseto hematófago nas residências rurais, da espécie Triatoma infestans, conhecido como barbeiro, assim chamado porque suga o sangue das pessoas durante a noite, atacando o rosto delas. Chagas levou alguns deles ao seu laboratório e percebeu que nos seus intestinos havia outros Trypanosoma minasensis, já numa fase evoluída.

Por Lassance não ter condições de uma pesquisa mais aprofundada, enviou alguns exemplares de barbeiros para Cruz, pedindo que os alimentasse em sagüis. Um mês depois, foi comunicado da presença de tripanossomos no sangue dos animais. Voltou ao Rio de Janeiro para confirmar a pesquisa, e descobriu que não se tratava dos Trpanosoma minasensis, mas de uma nova espécie. Chagas chamou esse novo parasita de Trypanosoma cruzi; mais tarde batizou de Schizotrypanum cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz.

Retornando a Lassance, Chagas suspeitava que o parasita poderia causar algum mal aos outros animais e aos humanos, visto que o barbeiro estava sempre em lugares freqüentados por pessoas e o hábito desse inseto em mordê-las. Recolheu amostras de sangue de um gato infectado em 14 de fevereiro de 1909 e, em 23 de abril do mesmo ano, descobriu o Trypanosoma em uma menina de três anos, chamada Berenice, que apresentava febre e anemia. Tal tripanossoma foi o segundo descoberto a causar uma doença, a tripanossomíase americana, pois até então o único confirmado é o causador da doença do sono, ou tripanossomíase africana, transmitida pela picada da mosca tsé-tsé.

Também observou inclusões parasitas no cérebro e no miocárdio dela, que poderiam explicar algumas manifestações clínicas em pessoas doentes. Para completar seu trabalho sobre a patologia da nova doença, o cientista descreveu 27 casos de formas agudas e realizou mais de cem autópsias de pacientes que tinham a forma crônica da doença. Se concluiu, então, o ciclo da doença, tendo identificado o vetor (barbeiro), o agente causal (Trypanosoma cruzi), o reservatório doméstico (gato), a doença nos humanos (o caso de Berenice) e suas complicações. Ao longo da pesquisa, Chagas propôs algumas complicações da doença que, mais tarde, mostraram-se equivocadas. Exemplo disso foi ao anunciar que o bócio era um sintoma da tripanossomíase americana.

O trabalho que Chagas realizou foi o primeiro e o único na história da medicina, descrevendo completamente a nova doença infecciosa: anatomia patológica, o meio de transmissão (Triatoma infestans), etiologia, suas formas clínicas e sua epidemiologia. Assim Oswaldo Cruz descreveu o feito:

.

Chagas também foi o primeiro a descobrir o gênero Pneumocystis, uma parasitária fúngica, nos pulmões do Trypanosoma. Na época ele não reconhecê-lo como um organismo e, por isso, ele descreveu como gênero Schizotrypanum, para acomodar ambos os ciclos de vida que ele havia ilustrado. Porém, a sua descoberta levou Antonio Carini a aprofundar a investigação e descrever Pneumocystis como um gênero distinto, que agora é reconhecido como fungo. Chagas, seguindo atentamente a pesquisa e rapidamente confirmada a distinção, ele novamente adotou o nome Trypanosoma cruzi que tinha originalmente cunhada. Pneumocystis agora está ligada a uma outra doença, PCP ou pneumocistose , causada por uma espécie (P. jirovecii). Mas o original Pneumocystis, observado por Chagas em espécies de porquinho-da-Índia, ainda não foi nomeado como uma espécie separada.

Repercussão da descoberta

A descoberta da doença foi levada ao conhecimento da comunidade científica através de uma nota prévia escrita por Chagas em 15 de abril de 1909 e publicada na Revista Brasil-Médico em 22 de abril. No mesmo dia, Oswaldo Cruz anunciou formalmente a Academia Nacional de Medicina, que decidiu levar a Lassance uma comissão para verificar o trabalho. Miguel Couto, presidente da comissão, sugeriu que a nova doença se chamasse doença de Chagas, mas o próprio Carlos Chagas preferia chamar a doença como tripanossomíase americana.

Na Europa o trabalho teve repercussão em revistas científicas, em especial na Alemanha e na França, pois esses países tinham interesses em doenças tropicais, visto que a tripanossomíase africana vinha prejudicando o plano imperialista em tal continente.

Em agosto de 1909 Chagas publicou o primeiro volume da revista do Instituto de Manguinhos, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, um estudo completo sobre a doença de Chagas e o ciclo evolutivo do protozoário que causa da doença. Esse trabalho garantiu a ascenção do cientista na instituição, sendo promovido a "chefe de serviço" em março de 1910.

Em 26 de outubro de 1910, a Academia Nacional de Medicina reconheceu formalmente o trabalho realizado pelo cientista e o recebeu como membro honorário, já que tal entidade não dispunha de lugares vagos no momento. Nessa solenidade, Chagas proferiu a primeira conferência sobre a doença. Em 1911 divulgou os resultados à Sociedade de Medicina e Cirurgia de Minas Gerais e, em agosto, uma segunda conferência à Academia Nacional de Medicina. Nesse mesmo ano ocorreu a Exposição Internacional de Higiene e Demografia, em Dresden, Alemanha, onde, no pavilhão brasileiro, foi mostrado a doença, que despertou grande público. Em 1912 foi a vez da classe médica paulista recebê-lo para uma apresentação sobre a doença descoberta em Lassance.

O estudo da moléstia avançou nas décadas de 1940 e 1950 através do Instituto Oswaldo Cruz, no município mineiro de Bambuí.

Expedição à Amazônia

Carlos Chagas (ao centro) na expedição à Amazônia

Na década de 1910, o Instituto Oswaldo Cruz promoveu viagens científicas no interior brasileiro, com o objetivo de investigar os probelmas médicos do país. Em 1912, com a crise do extrativismo da borracha na Amazônia, o governo federal firma parceria com a instituição para verificar as condições de salubridade do vale do Rio Amazonas e elaborar um plano de exploração racional dos recursos naturais.

Assim, em agosto daquele ano, Chagas liderou um grupo que incluía mais dois cientistas e um fotógrafo, onde visitaram a população ribeirinha dos rios Solimões, Negro e Purus e analisaram as condições de moradia, abastecimento de água, esgoto, alimentação e assistência médica. Também realizaram observações clínicas sobre as epidemias que assolavam a região, em especial a malária. Também foram recolhidas amostras de plantas de cunho medicinal, insetos causadores de doenças e peixes foram analisados em busca de novos parasitas.

A expedição encerrou-se em março de 1913, e os resultados encontrados foram expostos por Chagas em outubro daquele ano, na Conferência Nacional da Borracha, organizada pelo Senado Federal no Rio de Janeiro. Com tal conferência e o relatório escrito por Oswaldo Cruz e entregue para o Ministério da Agricultura, foi possível formar um panorama da situação de abandono social que a região vivia, sem assistência do Governo Federal. Também foi possível viabilizar o desenvolvimento econômico da região. Tal expedição foi fundamental para fortalecer o movimento que, ao longo da década de 1910, buscou alertar o governo para a importância do saneamento rural do país e para a necessidade de uma ampla reforma dos serviços de saúde pública brasileiros.

Direção do Instituto Oswaldo Cruz

Três dias após a morte de Oswaldo Cruz, em 14 de fevereiro de 1917, Chagas foi nomeado para a direção do Instituto de Manguinhos através de um decreto presidencial. Ao assumir o cargo, buscou consolidar o modelo estabelecido por Cruz semelhante ao Instituto Pasteur, onde a autonomia administrativa e financeira eram as características principais, além de estreitar a relação entre a pesquisa, o ensino e a fabricação de produtos medicinais e veterinários.

No campo da pesquisa, sua administração ficou marcada pela investigação das principais epidemias que assolavam a zona rural brasileira em sua época, e com o objetivo de controlá-las, inaugurou em 1918 o Hospital Oswaldo Cruz, nas dependências do Instituto, para constituir em um centro de estudos para os pesquisadores do Instituto. Mais tarde, em 1942, o hospital passaria a ser chamado Hospital Evandro Chagas.

Chagas foi responsável pela criação de seções científicas independentes, separando-as por áreas de conhecimento, com o intuito de estabelecer uma divisão de trabalho mais nítida no Instituto. Assim, são instaladas seções de Química Aplicada, Micologia, Bacteriologia, Zoologia, Anatomia, Protozoologia e Fisiologia. Quanto ao ensino, o cientista amplia o programa dos Cursos de Aplicação do Instituto, oferecidos desde 1908 como especialização em Microbiologia.

Na área de produção, Chagas diversificou os medicamentos e produtos fabricados no Instituto, com a estimulação do comércio dos mesmos e a renda gerada por eles tornou-se fundalmental para o funcionamento da instituição. Uma medida para a expansão da área de Produção foi a criação do Serviço de Medicamentos Oficiais, destinado para produzir, entre outros medicamentos, a quinina, usada no combate à malária. Na década de 1920 o Instituto ficou responsável por verificar o controle de qualidade dos produtos utilizados na Medicina brasileira, tanto os fabricados em laboratórios nacionais quanto os importados. Outra iniciativa foi a incorporação do Instituto Vacinogênio Municipal, ficando a cargo do Instituto Oswaldo Cruz a fabricação da vacina antivaríola.

Em 1920, com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública - que Chagas dirigiu até 1926, a autonomia administrativa do Instituto ficou preservada, mesmo que estivesse subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Financeiramente, a autonomia assegurou-se graças ao regulamento criado por Chagas e aprovado em 1919, onde toda a receita gerada por trabalhos realizados em Manguinhos a pedido de particulares seria dividida igualmente entre a instituição e os funcionários que os executassem.

Porém, com o aumento das atividades do Instituto, no decorrer da década de 1920, acarretou num acúmulo de problemas financeiros, além das limitações orçamentárias agravadas pela crise econômica de 1929. Isso prejudicou o aperfeiçoamento tecnológico e a manutenção das instalações físicas da instituição, com uma conseqüente perda da qualidade dos produtos.

Tal quadro se agravou na década de 1930, onde, com a criação do Estado Novo e a ditadura de Getúlio Vargas, aos poucos pôs-se o fim da autonomia administrativa e um aumento da intervenção do Estado. A nova ordem política brasileira trouxe conseqüências diretas a estrutura e o funcionamento de Manguinhos, que, sob a denominação de Departamento de Medicina Experimental, passou à jurisdição do recém-criado Ministério da Educação e Saúde. A partir desse momento até a sua morte, em 1934, Chagas enfrentou os efeitos da perda do modelo institucional criado por Oswaldo Cruz.

Morte

Carlos Chagas faleceu em 8 de Novembro de 1934 aos 55 anos de idade na cidade do Rio de Janeiro. A causa de sua morte foi um infarto .

Prêmios e homenagens

Ficheiro:Brasil 10000 Cruzados resellado a 10 Nuevos Cruzados Carlos Chagas (anverso) 000.jpg
Frente da nota comemorativa de dez mil cruzados em homenagem a Chagas
Ficheiro:Brasil 10000 Cruzados resellado a 10 Nuevos Cruzados Carlos Chagas (reverso) 000.jpg
Verso da nota comemorativa de dez mil cruzados em homenagem a Chagas

Idealizador do Centro Internacional de Leprologia, Carlos Chagas recebeu diversas homenagens: uma herma na Praia de Botafogo foi construída em sua memória, de autoria do escultor Modestino Kanto. Um município do estado de Minas Gerais recebeu seu nome, além de cédulas de Cruzado (depois Cruzado Novo) terem circulado com sua imagem durante a década de 1980.

Quanto aos prêmios recebidos, em 1912 chegou o primeiro, o Prêmio Schaudinn, cedido pelo Instituto de Moléstias Tropicais de Hamburgo, Alemanha. Em 1921 foi nomeado Artium Magistrum, Honoris Causa, da Universidade de Harvard, EUA; em 1923 ganhou o Prêmio Hors-concours, na Conferência Comemorativa sobre o Centenário de Louis Pasteur, em Estrasburgo, França, e em 1925 o Prêmio Kummel, da Universidade de Hamburgo, Alemanha. Ainda receberia em 1926, 1929 e 1934 outros títulos Honoris causa, vindos das universidades de Paris, de Lima e Livre de Bruxelas, respectivamente.

Município de Carlos Chagas - MG .

Recebeu diplomas da Universidade Nacional de Buenos Aires, em 1917; da Faculdade de Medicina da Universidade de Hamburgo, em 1925; e da Cruz Vermelha Alemã, em 1932. Foi nomeado membro da Academia Brasileira de Medicina em 1910, assim que o estudo foi divulgado. como não havia vagas na época, foi decretado que ele seria um membro honorário. Também pertenceu à Société de Patologie Exótique da França (em 1919), à Physicans Club of Chicago dos EUA (em 1921), à Associação Médica Panamericana (em 1922), da Sociedade de Artes Médicas das Índias Orientais Neerlandesas (1924), à Academia de Medicina de New York e à Kaiserlich Deutsch Akademie de Naturforscher zur Halle (1926), à Real Sociedade de Medicina Tropical e Higiene de Londres (1928) e da Sociedade de Biologia de Buenos Aires e Academia de Medicina de Paris (1930.

Recebeu o título, em 1920, de Cavaleiro da Ordem da Coroa da Itália; em 1923 de Comendador da Coroa da Bélgica e de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França; em 1924 o Grau de Oficial da Ordem de São Thiago, de Portugal; em 1925 o de Comendador da Ordem de Afonso XII, Espanha, em 1926 Comendador da Ordem de Isabel, a Católica da Espanha e em 1929 Cavaleiro da Ordem da Coroa da Romênia.

Publicações

  • Chagas, Carlos. 1905: "Prophylaxia do impaludismo". Rio de Janeiro, Typ. Besnard Frères. 48 p. (Trabalho de Instituto de Manguinhos).
  • Chagas, Carlos. 1908: "Beitrag zur Malariaprophylaxis". Zeitschrift für Hygiene und Infektionskrankheiten. 60: 321-334.
  • Chagas, Carlos. 1909a: "Nouvelle espèce de Trypanosomiase humaine". Bulletin de la Société de pathologie exotique. 2: 304-307.
  • Chagas, Carlos. 1909b: "Nova trypanozomiaze humana. Estudos sobre a morfolojia e cíclo evolutivo do Schizotripanum cruzi n. gen. n. sp., ajente etiolòjico de nova entidade morbida do homem". Memòrias di Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1(2):159-218.
  • Chagas, Carlos. 1909c: "Ueber eine neue Trypanosomiasis des Menschen. Zweite vorläufige Mitteilung". Archiv für Schiffs- und Tropenhygiene unter besonderer Berücksichtigung der Pathologie und Therapie. 13(11):351-353.
  • Chagas, Carlos. 1913: "Les formes nerveuses d’une nouvelle Trypanosomiase (Trypanosoma Cruzi inoculé par Triatoma megista) (Maladie de Chagas)". Nouvelle iconographie de la Salpêtrière, clinique des maladies du systeme nerveux. 26:1-9.
  • Chagas, Carlos. 1913: "Revision of the life cycle of Trypanosoma Cruzi". Supplementary note. Manguinhos - Rio de Janeiro. 5 p.
  • Chagas, Carlos. 1916: "Processos patogénicos de tripanosomiase americana".Memòrias di Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. 8(2):5-36.
  • Chagas, Carlos. 1920: "Cardiac form of American Trypanosomiasis". 25p.
  • Chagas, Carlos. 1921: "American Trypanosomiasis. Study of the parasite and of the transmitting insect". Proceedings of the Institute of Medicine of Chicago, 1921, 3: 220-242. The Chicago Medical Recorder, Chicago. 43:609-627.
  • Chagas, Carlos. 1925: "Amerikanische Trypanosomiases (Chagasche Krankheit). Kurse ätiologische und Klinische Betrachtungen". 14 p.
  • Chagas, Carlos. 1925: "Ueber die amerikanische Trypanosomiasis (Chagaskrankheit)". Münchener medizinische Wochenschrift. 72(47):2039-2040.
  • Chagas, Carlos. 1927: "Quelques aspects evolutifs du Trypanosoma cruzi dans l’insecte transmetteur". Comptes rendus de la Société biologique, Paris. 97(25): 824-832.
  • Chagas, Carlos. 1928: "Sur les alterations du coeur dans la trypanosomiase americaine. (Maladie de Chagas)". Archives des maladies du coeur, des vaisseaux et du sang, Paris. 21(10):641-655.
  • Chagas, Carlos. 1929: "Amerikanische Trypanosomenkrankheit, Chagaskrankheit". En: Enrico Villela and H. da Rocha Lima. In Carl Mense: Handbuch der Tropenkrankheiten, 3rd edition, Volume 5, part 1: 673-728.

Bibliografia

  • Scliar, Moacyr. Oswaldo Cruz & Carlos Chagas: o nascimento de ciência no Brasil. São Paulo: Odysseus, 2002. ISBN 8588023245.
  • Coutinho, M., Freire, O. Jr, Dias, J.C. The noble enigma: Chagas' nominations for the Nobel prize. Mem. Inst. Oswaldo Cruz. 94,Supl. 1(1999)123-9.
  • Chagas, Carlos, Filho. Meu pai. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, 1993. ISBN 8585239050.
  • León, Luis A., coord. Carlos Chagas (1879-1934) y la tripanosomiasis americana. Quito: Edit. Casa de la Cultura Ecuatoriana, 1980.
  • Lewinsohn R.: Carlos Chagas (1879-1934): the discovery of Trypanosoma cruzi and of American trypanosomiasis (foot-notes to the history of Chagas's disease).Trans. R. Soc. Trop. Med. Hyg.. 73,5(1979)513-23.
  • Conselho Nacional de Pesquisas, Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação. Doença de Chagas -- bibliografia: complemento a "Doença de Chagas--bibliografia brasileira". Rio de Janeiro: O Instituto, 1959.

Ligações externas