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Geri e Freki

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O Deus Odin em seu trono, acompanhado pelos lobos Geri e Freki e os corvos Hugin e Munin, em escultura (1825-1827) de H. E. Freund.

Geri e Freki (do nórdico antigo, onde ambos os nomes significam "o guloso" ou "o voraz"), na mitologia nórdica, são dois lobos que acompanham o Deus Odin. Eles são atestados nas obras Edda poética, compilação do século XIII de fontes mais antigas, Edda em prosa, escrita no século XIII por Snorri Sturluson, e na poesia dos escaldos. O par tem sido comparado a figuras semelhantes encontradas nas mitologias grega, na romana e védica, e também tem sido associado a crenças em torno do mito de Berserker.

Etimologia

O significado dos nomes Geri e Freki tem sido interpretado como "o guloso" ou "o voraz".[1] O nome Geri pode ser originado do adjetivo protogermânico *geraz, atestado no burgúndio girs, no nórdico antigo gerr e no alto alemão antigo ger ou giri, onde todos significam "guloso".[2] O nome Freki pode ser traçado no adjetivo do protogermânico *frekaz, atestado no gótico faihu-friks "ambicioso, avarento", no nórdico antigo frekr "guloso", no inglês antigo frec "desejoso, ganancioso, guloso, audacioso" e no alto alemão antigo freh "ganancioso".[3] John Lindow interpreta os dois nomes como adjetivos do nórdico antigo nominalizados. [4] Bruce Lincoln traça Geri voltando para a haste da Língua protoindo-europeia *gher-, que é a mesma que a encontrada em Garm, um nome referindo-se ao cão que guarda o reino de Hela e intimamente associado com os eventos de Ragnarök.[5]

Atestações

No poema Grímnismál da Edda Poética, o Deus Odin (disfarçado de Grímnir) fornece ao jovem Agnarr Geirröðsson informações sobre os companheiros de Odin. Agnarr diz que Odin alimenta Geri e Freki enquanto o próprio deus consome apenas vinho:

Tradução de Benjamin Thorpe:
Geri and Freki the war-wont sates,
the triumphant sire of hosts;
but on wine only the famed in arms,
Odin, ever lives.[6]
Tradução de Henry Adams Bellows:
Freki and Geri does Heerfather feed,
The far-famed fighter of old:
But on wine alone does the weapon-decked god,
Othin, forever live.[7]
Tradução em português
O acostumado às batalhas, o triunfante
senhor de exércitos, sacia Geri e Freki,
Mas ele, o famoso nas armas, Odin,
Vive apenas de vinho.
Original:
Gera ok Freka seðr gunntamiðr
hróðigr Herjaföður;
en við vín eitt vápngöfugr
Óðinn æ lifir.[8]

Os dois também são citados através do kenning "cães de Viðrir (Odin)" no Helgakviða Hundingsbana I, verso 13, onde é relatado que eles andam no campo "ávidos de pelos corpos daqueles que tombaram no campo de batalha".[9]

Tradução de Benjamin Thorpe:
The warriors went to the trysting place of swords,
which they had appointed at Logafiöll.
Broken was Frodi's peace between the foes:
Vidrir’s hounds went about the isle slaughter-greedy.[10]
Tradução de Henry Adams Bellows:
The warriors forth to the battle went,
The field they chose at Logafjoll;
Frothi's peace midst foes they broke,
Through the isle went hungrily Vithrir's hounds.[11]
Tradução em português
Os guerreiros rumaram ao combinado local das espadas,
Que haviam escolhido em Logafiöll.
A paz de Frodi entre os rivais foi quebrada:
Os cães de Vidri chegaram à ilha ávidos de sangue.
Original:
Fara hildingar
hiorstefno til
þeirrar er la/gdo
at Logafiollom;
sleit Froþa friþ
fianda a milli,
fara Viþriss grey
valgiorn vm ey.[12]

No livro Gylfaginning (capítulo 38) da Edda em prosa, a figura do entronada de Hár explica que Odin dá toda a comida da mesa para seus lobos Geri e Freki e explica que Odin não precisa de comida, pois para ele o vinho é tanto carne (comida) quanto bebida. Hár em seguida, cita o verso acima mencionado do poema Grímnismál em apoio.[13] No capítulo 75 do livro Skáldskaparmál da Edda em prosa há uma lista de nomes de wargs e lobos que inclui Geri e Freki. [14]

Na poesia dos escaldos Geri e Freki são usados como nomes comuns para "lobo" no capítulo 58 do Skáldskaparmál (citado em obras dos escaldos Thjodolf de Hvinir e Egill Skallagrímsson) e Geri é usado novamente como sinônimo para "lobo" no capítulo 64 do Háttatal, livro da Edda em prosa.[15] Geri é usado como kenning para a palavra "sangue" no capítulo 58 do Skáldskaparmál ("as cervejas de Geri" em um trabalho do escaldo Þórðr Sjáreksson) e para "carniça" no capítulo 60 ("pedaço de Geri" em um trabalho do escaldo Einarr Skúlason).[16] Freki também é usado como kenning para "carniça" ("refeição de Freki") em trabalho de Þórðr Sjáreksson no capítulo 58 do Skáldskaparmál.[17]

Registro arqueológico

Se a imagem da Böksta Runestone foi corretamente interpretada, ela representa Odin como um cavaleiro montado, e Geri e Freki participando da caça de um alce.[18]

Teorias

Placa de bronze da era de Vendel em Öland, Suécia representando um guerreiro com pele de lobo com uma espada ao lado de uma figura dançante.

Freki é também um nome aplicado ao monstruoso lobo Fenris no poema Völuspá do Edda poética.

O historiador Michael Spiedel liga Geri e Freki com achados arqueológicos representando figuras vestindo peles de lobo e freqüentemente encontrados nomes relacionados com lobo entre os povos germânicos, incluindo Wulfhroc ("Túnica-de-Lobo"), Wolfhetan ("Lobo-Escondido"), Isangrim ("Máscara-Cinza"), Scrutolf ("Roupa-de-Lobo") , Wolfgang ("Passo-de-Lobo"), Wolfdregil ("Lobo-Corredor") e Vulfolaic ("Lobo-Dançarino") e mitos sobre guerreiros-lobos da mitologia nórdica (como os Berserker). Spiedel acredita que isso aponta para o culto pan-germânico de guerreiros-lobos centrado em torno de Odin, que diminuiu depois de Cristianização.[19]

Estudiosos também notaram que os lobos seriam divindades protoindo-europeias. O mitólogo Jacob Grimm observou conexão entre Odin e o deus grego Apolo, uma vez que para os dois corvos e lobos eram sagrados.[20] O filólogo Maurice Bloomfield ainda ligou Geri e Freki a dois cães de Yama da mitologia védica, e os viu como uma adaptação germânica de Cérbero.[21] Elaborando conexões entre lobos e figuras de grande poder Michael Speidel disse: "É por isso que Geri e Freki, os lobos ao lado de Odin, também ficavam ao lado dos tronos dos reis Anglo-saxões. Lobos-guerreiros, como Geri e Freki, não são apenas meros animais mas seres míticos; como seguidores de Odin, eles são parte de seu poder, e os fez lobos-guerreiros."[19]

Galeria

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Referências

  1. Simek 2007, p. 90; 106
    Lindow 2001, p. 120; 139
  2. Orel 2003, p. 132
  3. Orel 2003, p. 113
  4. Lindow 2001, p. 120; 139
  5. Lincoln 1991, p. 99
  6. Thorpe 1907, p. 21
  7. Bellows 1923, p. 92
  8. «Grímnismál 16-20 - Stanzas 16-20 with notes» (em inglês). Consultado em 12 de janeiro de 2012 
  9. Lincoln vê essa atividade como a razão por traz dos apelidos "vorazes" ou "gulosos". Veja Lincoln 1991, p. 99.
  10. Thorpe 1907, p. 138
  11. Bellows 1936, p. 295-296
  12. «Helgakviða Hundingsbana» (em nórdico antigo). Consultado em 12 de janeiro de 2012 
  13. Faulkes 1995, p. 33
  14. Faulkes 1995, p. 64
  15. Faulkes 1995, p. 135 e 204
  16. Faulkes 1995, p. 136 e 138)
  17. Faulkes 1995, p. 136
  18. Silén 1983, p. 88—91
  19. a b Spiedel 2004, p. 24—28
  20. Grimm 1882, p. 147
  21. Bloomfield também menciona outro par nórdico nessa conexão: Geri "Guloso" e Gifr "Violento" são dois cães que protegem Menglöð no Fjölsvinnsmál. Veja Bloomfeld (1908:316-318).

Bibliografia


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