Fazenda Jacobina: diferenças entre revisões
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⚫ | A '''Fazenda Jacobina''', antigo '''Engenho da Jacobina''', localiza-se à margem esquerda do [[rio Paraguai]], a uma distância de 25 km da antiga Vila Maria do Paraguai, atual [[Cáceres (Mato Grosso)|Cáceres]], na então Província do [[Mato Grosso]], no [[Brasil]].<ref name="IPAT">{{citar web |URL=http://www.ipatrimonio.org/caceres-fazenda-jacobina/#!/map=38329&loc=-16.241858000000015,-57.55467800000001,17 |título=Cáceres – Fazenda Jacobina |data= |acessodata=15 de maio de 2015 |publicado=iPatrimônio |autor=}}</ref><ref name="JORO">{{citar web |URL=http://www.jornaloeste.com.br/noticias/exibir.asp?id=46281¬icia=fazenda_jacobina_e_opcao_de_lazer_para_hoje_em_caceres |título=Fazenda Jacobina é opção de lazer para hoje em Cáceres |data=15 de novembro de 2018 |acessodata=15/05/2021 |publicado=Jornal Oeste |autor=}}</ref> |
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[[Ficheiro:FazendaJacobina.jpg|thumb|300px|direita|Fazenda Jacobina, Mato Grosso, Brasil. Imagem extraída do livro publicado em 1978 "Vila Maria dos Meus Maiores", de Luis-Philippe Pereira Leite]] |
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⚫ | A '''Fazenda Jacobina''', antigo '''Engenho da Jacobina''', localiza-se à margem esquerda do [[rio Paraguai]], a uma distância de 25 km da antiga Vila Maria do Paraguai, atual [[Cáceres (Mato Grosso)|Cáceres]], na então Província do [[Mato Grosso]], no [[Brasil]].<ref name="IPAT">{{citar web|URL=http://www.ipatrimonio.org/caceres-fazenda-jacobina/#!/map=38329&loc=-16.241858000000015,-57.55467800000001,17|título=Cáceres – Fazenda Jacobina |
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{{Info/Patrimônio histórico|nome=Fazenda Jacobina|imagem=|legenda=|autor=|data da construção=[[1769]]|estilo arquitetônico=|cidade=[[Cáceres (Mato Grosso)|Cáceres]], [[Mato Grosso|MT]]|estado=Tombado|tombamento=[[2010]]|órgão=[[Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]]}} |
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==Denominação== |
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O nome não está vinculado a nenhuma espécie de alusão ao termo [[Jacobinismo]], vinculado ao grupo laicista e de esquerda no processo da [[Revolução Francesa]].<ref>{{citar web |url=http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/JACOBINISMO.pdf |titulo=JACOBINISMO |acessodata=15/05/2021 |publicado=[[Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil]] - [[Fundação Getúlio Vargas]]}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40141989000200003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=A Revolução Francesa e seu eco |data=1989-08 |acessodata=2021-05-15 |jornal=Estudos Avançados |número=6 |ultimo=Vovelle |primeiro=Michel |paginas=25–45 |lingua=pt |doi=10.1590/S0103-40141989000200003 |issn=0103-4014}}</ref> |
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A origem do nome é atribuída, por meio de uma lenda, ao casal de índios Jacob e Bina. Nessa lenda, diz-se que nas terras de Jacobina vivia um casal de índios, de cujos nomes Jacob e Bina. Assim, pela junção dos nomes forma-se a palavra "Jacobina". Essa nomeação está relacionada aos primeiros habitantes da região e, evocados pelo discurso dos portugueses, mantém-se na história de institucionalização dessa fazenda.<ref>{{citar web|URL=https://revista.unemat.br/avepalavra/EDICOES/11/artigos/O%20processo%20de%20nomeacao%20das%20fazendas%20engenhos%20de%20Caceres%20%20MT.pdf|título=O processo de nomeação das fazendas-engenhos de Cáceres - MT|autor=Leila Castro da Silva|data=|publicado=Revista Avepalavra – ed. 11 – 1º semestre 2011|acessodata=31 de julho de 2020}}</ref> |
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A origem do nome é atribuída, por meio de uma lenda, ao casal de índios Jacob e Bina.<ref>{{citar web |ultimo=Silva |primeiro=Edson |url=https://www.revistacontemporaneos.com.br/wp-content/uploads/2017/02/historia_literatura-1.pdf |titulo=História, literatura e cidade: a visão literária de Humberto Soares e Silva sobre a “origem” de Jacobina1 (1969) |data=2017 |acessodata=15/05/2021 |publicado=Contemporâneos}}</ref><ref name=":0">{{citar web |ultimo=Silva |primeiro=Leila |url=https://revista.unemat.br/avepalavra/EDICOES/11/artigos/O%20processo%20de%20nomeacao%20das%20fazendas%20engenhos%20de%20Caceres%20%20MT.pdf |titulo=O processo de nomeação das fazendas-engenhos de Cáceres -MT |acessodata=15/05/2021 |publicado=Ave Palavra ([[Universidade do Estado de Mato Grosso]])}}</ref> Nessa lenda, diz-se que nas terras de Jacobina vivia um casal de índios, de cujos nomes Jacob e Bina. Assim, pela junção dos nomes forma-se a palavra "Jacobina". Essa nomeação está relacionada aos primeiros habitantes da região e, evocados pelo discurso dos portugueses, mantém-se na história de institucionalização dessa fazenda.<ref name=":0" /> |
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== História == |
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===Origem e desenvolvimento=== |
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[[Ficheiro:Langsdorff-expedition-chart.jpg|miniaturadaimagem|300px|Mapa demonstrando o percurso realizado pela Expedição Langsdorff, incluindo sua passagem em Vila Maria, futura cidade de Cáceres]] |
[[Ficheiro:Langsdorff-expedition-chart.jpg|miniaturadaimagem|300px|Mapa demonstrando o percurso realizado pela Expedição Langsdorff, incluindo sua passagem em Vila Maria, futura cidade de Cáceres]] |
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Este [[latifúndio]], estabelecido em [[1769]] pelo [[Portugal|português]] [[Leonardo Soares de Sousa]], logo se tornou um importante estabelecimento produtor de [[charque]] e de [[açúcar]], que abastecia não só os grandes centros brasileiros como [[São Paulo (cidade)|São Paulo]] e [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], mas que também exportava para a [[Europa]].<ref name="RDNE">{{citar web|URL=https://www.rdnews.com.br/rdnews-exclusivo/velho-oeste-pantaneiro/conteudos/104462|título=Jacobina, a fazenda mais rica da província tinha mais de 200 escravos |
Este [[latifúndio]], estabelecido em [[1769]] pelo [[Portugal|português]] [[Leonardo Soares de Sousa]], logo se tornou um importante estabelecimento produtor de [[charque]] e de [[açúcar]], que abastecia não só os grandes centros brasileiros como [[São Paulo (cidade)|São Paulo]] e [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], mas que também exportava para a [[Europa]].<ref name="RDNE">{{citar web |URL=https://www.rdnews.com.br/rdnews-exclusivo/velho-oeste-pantaneiro/conteudos/104462 |título=Jacobina, a fazenda mais rica da província tinha mais de 200 escravos |data=7 de setembro de 2018 |acessodata=15 de maio de 2021 |publicado=RD News |autor=Mirella Duarte}}</ref> Em 1772, a fazenda foi requerida pela [[Coroa Portuguesa]].<ref>{{Citar periódico |url=https://periodicos.iesp.edu.br/index.php/campodosaber/article/view/306 |titulo=A influência do trabalho escravo nos engenhos e nas fazendas de cana de açúcar no estado de Mato Grosso no século (XVIII e XIX) |data=2020-09-28 |acessodata=2021-05-15 |jornal=Revista Campo do Saber |número=2 |ultimo=Almeida |primeiro=Leandro de |ultimo2=Oliveira |primeiro2=Milton César Neres de |lingua=pt |issn=2447-5017}}</ref> A partir desse ato, deu-se origem à ata de fundação de Vila Maria, em 6 de outubro de 1778, povoamento que viria a formar a atual cidade de Cáceres.<ref>{{citar web |url=https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/caceres/historico |titulo=História |acessodata=15 de maio de 2015 |publicado=[[Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]]}}</ref> Foi grande centro agropecuário, sendo considerada, em 1827, como a fazenda mais próspera da Província de Mato Grosso, com 60.000 cabeças de gado.<ref name="IPAT" />[[Ficheiro:FazendaJacobina.jpg|thumb|300px|direita|Fazenda Jacobina, Mato Grosso, Brasil. Imagem extraída do livro publicado em 1978 "Vila Maria dos Meus Maiores", de Luis-Philippe Pereira Leite]]Foram inúmeros os hóspedes da fazenda, entre eles estava o viajante e autor [[França|francês]] francês [[Hercules Florence]], em 1827.<ref name="IPAT" /><ref name="RDNE" /> De acordo com Florence, que integrou a [[expedição Langsdorff]] ao interior do país entre os anos de 1825 e 1829, no livro intitulado ''[[Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas]]'' está registrada a surpresa do autor com a opulência existente na fazenda.<ref name="IPAT" /><ref name=":2">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books/about/Viagem_fluvial_do_Tiet%C3%AA_ao_Amazonas_de.html?id=RBBlAAAAMAAJ|título=Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829|ultimo=Florence|primeiro=Hercules|data=1941|editora=Edições Melhoramentos|lingua=pt-BR}}</ref> O viajante [[França|francês]] [[Hércules Florence]] registrou em seu Diário:<ref name="RDNE" /> |
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Foram inúmeros os hóspedes da fazenda, entre eles estava o viajante e autor [[França|francês]] francês [[Hercules Florence]], em 1827.<ref name="IPAT" /><ref name="RDNE" /> De acordo com Florence, que integrou a [[expedição Langsdorff]] ao interior do país entre os anos de 1825 e 1829, no livro intitulado ''[[Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas]]'' está registrada a surpresa do autor com a opulência existente na fazenda.<ref name="IPAT" /> O viajante [[França|francês]] [[Hércules Florence]] registrou em seu Diário:<ref name="RDNE" /> |
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{{Quote|texto=''Em 1827, a Jacobina era a mais rica fazenda da Província. Tinha 60 mil cabeças de gado, 200 escravos e igual número de alforriados'' <br/> ''As roças abrangiam canaviais, plantações de mandioca, feijão, cereais e café para abastecimento dos núcleos adjacentes. Possuía também engenho movido por força hidráulica.''}} |
{{Quote|texto=''Em 1827, a Jacobina era a mais rica fazenda da Província. Tinha 60 mil cabeças de gado, 200 escravos e igual número de alforriados'' <br/> ''As roças abrangiam canaviais, plantações de mandioca, feijão, cereais e café para abastecimento dos núcleos adjacentes. Possuía também engenho movido por força hidráulica.''}} |
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O fundador não teve descendência masculina, tendo a filha dele, Maria Josefa de Jesus Leite se casado com João Pereira Leite.<ref name="CDMT">{{citar web|URL=http://www.coisasdematogrosso.com.br/noticias/noticia.asp?id=84|título=Fazenda Jacobina em Cáceres é tombada pelo Governo do Estado|autor=|data=19 de junho de 2007|publicado=|acessodata=31 de julho de 2020}}</ref> Ainda segundo as notas do viajante francês, João Pereira Leite orgulhava-se de ter “tantas terras quantas o rei de Portugal”. João e Josefa tiveram dez filhos, sendo sete homens e três mulheres.<ref name="ZKNE" /> Após sua morte, sua esposa juntamente com filhos administrou a fazenda. Seu segundo filho, que recebeu o mesmo nome que o pai, tornou o braço direito da mãe na expansão dos negócios da família.<ref name="RDNE" /> |
O fundador não teve descendência masculina, tendo a filha dele, Maria Josefa de Jesus Leite se casado com João Pereira Leite.<ref name="CDMT">{{citar web|URL=http://www.coisasdematogrosso.com.br/noticias/noticia.asp?id=84|título=Fazenda Jacobina em Cáceres é tombada pelo Governo do Estado|autor=|data=19 de junho de 2007|publicado=|acessodata=31 de julho de 2020}}</ref> Ainda segundo as notas do viajante francês, João Pereira Leite orgulhava-se de ter “tantas terras quantas o rei de Portugal”. João e Josefa tiveram dez filhos, sendo sete homens e três mulheres.<ref name="ZKNE" /> Após sua morte, sua esposa juntamente com filhos administrou a fazenda. Seu segundo filho, que recebeu o mesmo nome que o pai, tornou o braço direito da mãe na expansão dos negócios da família.<ref name="RDNE" /> |
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As instalações da fazenda compreendiam um sobrado com uma grande varanda com parapeito ao longo da fachada da casa, casas cobertas de telhas, uma capela dedicada a Santo Antônio, grandes armazéns, quatro engenhos de açúcar, dois tocados à água e dois por bois, uma olaria, uma máquina de socar milho e ranchos. A propriedade contava também com horta e |
As instalações da fazenda compreendiam um sobrado com uma grande varanda com parapeito ao longo da fachada da casa, casas cobertas de telhas, uma capela dedicada a Santo Antônio, grandes armazéns, quatro engenhos de açúcar, dois tocados à água e dois por bois, uma olaria, uma máquina de socar milho e ranchos. A propriedade contava também com horta e pomar e criação aves domésticas.<ref name="ZKNE">{{citar web|URL=http://zakinews.com.br/noticia.php?codigo=12510|título=Maria Josephfa de Jesus Leite - A Nhanhá da Jacobina|autor=Neuza Zattar|data=13 de dezembro de 2019|publicado=Zaki News|acessodata=31 de julho de 2020}}</ref> Segundo a tradição oral da família Pereira Leite, o sobrado foi construído por trabalhadores portugueses que retornavam das obras da sede administrativa da capitania do Mato Grosso em [[Vila Bela da Santíssima Trindade]].<ref name=":1" /> Segundo o “Diário da Diligência do Reconhecimento do rio Paraguai”, de autoria de [[Ricardo Franco de Almeida Serra]], em 1786 as obras de construção ainda não estavam concluídas.<ref name=":1">{{citar web|URL=https://ojs.franca.unesp.br/index.php/historiaecultura/article/view/737|título=Gestão do Patrimônio Histórico e Cultural no Contexto do “Plano de Ação para as Cidades Históricas”, Cáceres - Mato Grosso|autor=Luciano Pereira da Silva|data=|publicado=História e Cultura|acessodata=31 de julho de 2020}}</ref> |
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===Declínio e atualidade=== |
===Declínio e atualidade=== |
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Como a maioria dos latifúndios brasileiros da época, era utilizada [[mão-de-obra]] [[escravatura|escrava]]; cerca de 200 escravos residiam na fazenda.<ref name="RDNE" /> Seu declínio inicia-se no final do século XIX, após a [[Lei Áurea|abolição da escravatura]]. Além disso, a ascensão dos engenhos de cana-de-açúcar no Nordeste e as leis trabalhistas implementadas no [[Era Vargas|governo Vargas]] na década de 1930 também contribuiriam com esse processo.<ref name="IPAT" /> |
Como a maioria dos latifúndios brasileiros da época, era utilizada [[mão-de-obra]] [[escravatura|escrava]]; cerca de 200 escravos residiam na fazenda.<ref name="RDNE" /> Seu declínio inicia-se no final do século XIX, após a [[Lei Áurea|abolição da escravatura]]. Além disso, a ascensão dos engenhos de cana-de-açúcar no Nordeste e as leis trabalhistas implementadas no [[Era Vargas|governo Vargas]] na década de 1930 também contribuiriam com esse processo.<ref name="IPAT" /> |
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Por sua importância histórica e cultural, o antigo casarão, um sobrado colonial feito com taipa de pilão,<ref name="AMMT">{{citar web|URL=https://www.amm.org.br/Noticias/Alunos-do-nucleo-clarinopolis-fazem-aula-de-campo-na-fazenda-jacobina/|título=Alunos do Núcleo Clarinópolis fazem aula de campo na Fazenda Jacobina|autor=|data=25 de agosto de 2019|publicado=Associação Mato-Grossense dos Municípios|acessodata=31 de julho de 2020}}</ref> encontra-se [[Tombamento|tombado]] pelo [[Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]], enquanto a área da fazenda vem sendo ocupada por tanques de piscicultura.<ref name="IPAT" /> Atualmente, a fazenda pertence à família Lara e é um dos maiores atrativos históricos do município.<ref name="IPAT" /> O casarão foi transformado em empreendimento turístico, com restaurante com comidas típicas, piscinas e passeios,<ref name="JORO" /> além de ser usada como local para realização de atividades educacionais para estudantes da região.<ref name="AMMT" /> |
Por sua importância histórica e cultural, o antigo casarão, um sobrado colonial feito com taipa de pilão,<ref name="AMMT">{{citar web|URL=https://www.amm.org.br/Noticias/Alunos-do-nucleo-clarinopolis-fazem-aula-de-campo-na-fazenda-jacobina/|título=Alunos do Núcleo Clarinópolis fazem aula de campo na Fazenda Jacobina|autor=|data=25 de agosto de 2019|publicado=Associação Mato-Grossense dos Municípios|acessodata=31 de julho de 2020}}</ref> encontra-se [[Tombamento|tombado]] pelo [[Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]] (IPHAN), desde 2010, enquanto a área da fazenda vem sendo ocupada por tanques de piscicultura.<ref name="IPAT" /><ref>{{citar web |url=http://portal.iphan.gov.br/ac/noticias/detalhes/3160/caceres-na-fronteira-do-mato-grosso-com-a-bolivia-e-novo-patrimonio-cultural-brasileiro |titulo=Cáceres, na fronteira do Mato Grosso com a Bolívia, é novo patrimônio cultural brasileiro |data=9 de dezembro de 2010 |acessodata=15/05/2021 |publicado=[[Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]]}}</ref> Atualmente, a fazenda pertence à família Lara e é um dos maiores atrativos históricos do município.<ref name="IPAT" /> O casarão foi transformado em empreendimento turístico, com restaurante com comidas típicas, piscinas e passeios,<ref name="JORO" /> além de ser usada como local para realização de atividades educacionais para estudantes da região.<ref name="AMMT" /> |
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== A Jacobina e a Sabinada == |
== A Jacobina e a Sabinada == |
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{{Ver artigo principal|Sabinada}} |
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O Dr. [[Francisco Sabino|Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira]], principal líder da revolução baiana conhecida com [[Sabinada]], após ser detido ([[1838]]), foi julgado e condenado à prisão, pena comutada por [[degredo]] no [[Forte do Príncipe da Beira]]. Quando a caminho de [[Vila Bela da Santíssima Trindade]], adoeceu na vizinhança da Fazenda Jacobina, onde encontrou abrigo e proteção por parte do major [[João Carlos Pereira Leite (filho)|João Carlos Pereira Leite]], então ''senhor da Jacobina''. Nesta fazenda Sabino permaneceu exercendo a sua profissão de médico, atendendo a enfermos de toda a Província, até à sua morte, no [[Natal]] de [[1846]], nela tendo sido sepultado.<ref name="RDNE" /> |
O Dr. [[Francisco Sabino|Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira]], principal líder da revolução baiana conhecida com [[Sabinada]], após ser detido ([[1838]]), foi julgado e condenado à prisão, pena comutada por [[degredo]] no [[Forte do Príncipe da Beira]].<ref>{{citar web |url=https://history.uol.com.br/hoje-na-historia/tem-inicio-revolta-da-sabinada-na-bahia |titulo=Tem início a revolta da Sabinada, na Bahia |acessodata=15/05/2021 |publicado=[[History]]}}</ref><ref>{{Citar web |ultimo= |url=https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/sabinada |titulo=Sabinada |data=2015-12-22 |acessodata=2021-05-15 |website=Portal São Francisco |lingua=pt-BR}}</ref> Quando a caminho de [[Vila Bela da Santíssima Trindade]], adoeceu na vizinhança da Fazenda Jacobina, onde encontrou abrigo e proteção por parte do major [[João Carlos Pereira Leite (filho)|João Carlos Pereira Leite]], então ''senhor da Jacobina''. Nesta fazenda Sabino permaneceu exercendo a sua profissão de médico, atendendo a enfermos de toda a Província, até à sua morte, no [[Natal]] de [[1846]], nela tendo sido sepultado.<ref name="RDNE" /> |
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== Ver também == |
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* [[Cáceres (Mato Grosso)|Cáceres]] |
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* [[Hercules Florence]] |
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* D'ALLINCOURT, Luiz. ''Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá.'' |
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* [[Leonardo Soares de Sousa]] |
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* [[Escravidão no Brasil]] |
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* MENDONÇA, Estevão. ''Datas Mato-grossenses.'' |
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* [[Ricardo Franco de Almeida Serra]] |
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* MESQUITA, José de. ''Genealogia Mato-grossense.'' |
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* PEREIRA LEITE, Luis-Philippe. ''Vila Maria dos meus Maiores.'' |
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* FONSECA, Dayz Peixoto. ''O Viajante Hércules Florence - águas, guanás e guaranás" |
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{{Esboço-arquitetura}} |
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* D'ALLINCOURT, Luiz. ''Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá.''<ref>{{citar web |url=https://livraria.senado.leg.br/index.php?_route_=livros-digitais-gratuitos/memoria-sobre-a-viagem-do-porto-de-santos-a-cidade-de-cuiaba-vol-69 |titulo=Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá (vol. 69) |acessodata=15/05/2021 |publicado=Livraria do [[Senado Federal do Brasil]]}}</ref> |
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* MENDONÇA, Estevão. ''Datas Mato-grossenses.''<ref>{{citar web |ultimo=Mendoça |primeiro=Estevão |url=https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/2579 |titulo=Datas mato-grossenses |acessodata=15/05/2021 |publicado=[[Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin]]}}</ref> |
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* MESQUITA, José de. ''Genealogia Mato-grossense.''<ref>{{Citar web |url=https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=245976&view=detalhes |titulo=IBGE {{!}} Biblioteca {{!}} Detalhes {{!}} Genealogia dos municípios de Mato Grosso / Pe. José de Moura e Silva. - |acessodata=2021-05-15 |website=Biblioteca do [[Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]]}}</ref> |
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* PEREIRA LEITE, Luis-Philippe. ''Vila Maria dos meus Maiores.''<ref>{{Citar periódico |url=https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/oficinadohistoriador/article/view/22037 |titulo=Histórias e memórias da cidade: lembranças de viveres urbanos, Cáceres/MT (primeira metade do século XX) |data=2017 |acessodata=2021-05-15 |jornal=Oficina do Historiador |número=1 |ultimo=Silva |primeiro=Giuslane Francisca da |paginas=144–162 |lingua=pt |doi=10.15448/2178-3748.2017.1.22037 |issn=2178-3748}}</ref> |
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* FONSECA, Dayz Peixoto. ''O Viajante Hércules Florence - águas, guanás e guaranás.''<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books/about/O_viajante_H%C3%A9rcules_Florence.html?id=ZR4rAQAAMAAJ&source=kp_book_description|título=O viajante Hércules Florence: águas, guanás e guaranás|ultimo=Fonseca|primeiro=Dayz Peixoto|data=2008|editora=Pontes|lingua=pt-BR}}</ref> |
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{{Portal3|Agropecuária|Escravidão|História|Patrimônio Histórico|Mato Grosso|Brasil}}{{Esboço-arquitetura}} |
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{{Tópicos sobre o Império do Brasil}} |
{{Tópicos sobre o Império do Brasil}} |
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{{Portal3|Mato Grosso}} |
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[[Categoria:Fazendas de Mato Grosso|Jacobina]] |
[[Categoria:Fazendas de Mato Grosso|Jacobina]] |
Revisão das 17h55min de 15 de maio de 2021
A Fazenda Jacobina, antigo Engenho da Jacobina, localiza-se à margem esquerda do rio Paraguai, a uma distância de 25 km da antiga Vila Maria do Paraguai, atual Cáceres, na então Província do Mato Grosso, no Brasil.[1][2]
Fazenda Jacobina | |
---|---|
Construção | 1769 |
Estado de conservação | Tombado |
Património nacional | |
Classificação | Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional |
Data | 2010 |
Geografia | |
País | Brasil |
Cidade | Cáceres, MT |
Coordenadas |
Denominação
O nome não está vinculado a nenhuma espécie de alusão ao termo Jacobinismo, vinculado ao grupo laicista e de esquerda no processo da Revolução Francesa.[3][4]
A origem do nome é atribuída, por meio de uma lenda, ao casal de índios Jacob e Bina.[5][6] Nessa lenda, diz-se que nas terras de Jacobina vivia um casal de índios, de cujos nomes Jacob e Bina. Assim, pela junção dos nomes forma-se a palavra "Jacobina". Essa nomeação está relacionada aos primeiros habitantes da região e, evocados pelo discurso dos portugueses, mantém-se na história de institucionalização dessa fazenda.[6]
História
Origem e desenvolvimento
Este latifúndio, estabelecido em 1769 pelo português Leonardo Soares de Sousa, logo se tornou um importante estabelecimento produtor de charque e de açúcar, que abastecia não só os grandes centros brasileiros como São Paulo e Rio de Janeiro, mas que também exportava para a Europa.[7] Em 1772, a fazenda foi requerida pela Coroa Portuguesa.[8] A partir desse ato, deu-se origem à ata de fundação de Vila Maria, em 6 de outubro de 1778, povoamento que viria a formar a atual cidade de Cáceres.[9] Foi grande centro agropecuário, sendo considerada, em 1827, como a fazenda mais próspera da Província de Mato Grosso, com 60.000 cabeças de gado.[1]
Foram inúmeros os hóspedes da fazenda, entre eles estava o viajante e autor francês francês Hercules Florence, em 1827.[1][7] De acordo com Florence, que integrou a expedição Langsdorff ao interior do país entre os anos de 1825 e 1829, no livro intitulado Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas está registrada a surpresa do autor com a opulência existente na fazenda.[1][10] O viajante francês Hércules Florence registrou em seu Diário:[7]
Em 1827, a Jacobina era a mais rica fazenda da Província. Tinha 60 mil cabeças de gado, 200 escravos e igual número de alforriados
As roças abrangiam canaviais, plantações de mandioca, feijão, cereais e café para abastecimento dos núcleos adjacentes. Possuía também engenho movido por força hidráulica.
O fundador não teve descendência masculina, tendo a filha dele, Maria Josefa de Jesus Leite se casado com João Pereira Leite.[11] Ainda segundo as notas do viajante francês, João Pereira Leite orgulhava-se de ter “tantas terras quantas o rei de Portugal”. João e Josefa tiveram dez filhos, sendo sete homens e três mulheres.[12] Após sua morte, sua esposa juntamente com filhos administrou a fazenda. Seu segundo filho, que recebeu o mesmo nome que o pai, tornou o braço direito da mãe na expansão dos negócios da família.[7]
As instalações da fazenda compreendiam um sobrado com uma grande varanda com parapeito ao longo da fachada da casa, casas cobertas de telhas, uma capela dedicada a Santo Antônio, grandes armazéns, quatro engenhos de açúcar, dois tocados à água e dois por bois, uma olaria, uma máquina de socar milho e ranchos. A propriedade contava também com horta e pomar e criação aves domésticas.[12] Segundo a tradição oral da família Pereira Leite, o sobrado foi construído por trabalhadores portugueses que retornavam das obras da sede administrativa da capitania do Mato Grosso em Vila Bela da Santíssima Trindade.[13] Segundo o “Diário da Diligência do Reconhecimento do rio Paraguai”, de autoria de Ricardo Franco de Almeida Serra, em 1786 as obras de construção ainda não estavam concluídas.[13]
Declínio e atualidade
Como a maioria dos latifúndios brasileiros da época, era utilizada mão-de-obra escrava; cerca de 200 escravos residiam na fazenda.[7] Seu declínio inicia-se no final do século XIX, após a abolição da escravatura. Além disso, a ascensão dos engenhos de cana-de-açúcar no Nordeste e as leis trabalhistas implementadas no governo Vargas na década de 1930 também contribuiriam com esse processo.[1]
Por sua importância histórica e cultural, o antigo casarão, um sobrado colonial feito com taipa de pilão,[14] encontra-se tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), desde 2010, enquanto a área da fazenda vem sendo ocupada por tanques de piscicultura.[1][15] Atualmente, a fazenda pertence à família Lara e é um dos maiores atrativos históricos do município.[1] O casarão foi transformado em empreendimento turístico, com restaurante com comidas típicas, piscinas e passeios,[2] além de ser usada como local para realização de atividades educacionais para estudantes da região.[14]
A Jacobina e a Sabinada
O Dr. Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, principal líder da revolução baiana conhecida com Sabinada, após ser detido (1838), foi julgado e condenado à prisão, pena comutada por degredo no Forte do Príncipe da Beira.[16][17] Quando a caminho de Vila Bela da Santíssima Trindade, adoeceu na vizinhança da Fazenda Jacobina, onde encontrou abrigo e proteção por parte do major João Carlos Pereira Leite, então senhor da Jacobina. Nesta fazenda Sabino permaneceu exercendo a sua profissão de médico, atendendo a enfermos de toda a Província, até à sua morte, no Natal de 1846, nela tendo sido sepultado.[7]
Ver também
- Cáceres
- Hercules Florence
- Leonardo Soares de Sousa
- Escravidão no Brasil
- Ricardo Franco de Almeida Serra
Bibliografia
- D'ALLINCOURT, Luiz. Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá.[18]
- FLORENCE, Hercules. Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas.[10]
- MENDONÇA, Estevão. Datas Mato-grossenses.[19]
- MESQUITA, José de. Genealogia Mato-grossense.[20]
- PEREIRA LEITE, Luis-Philippe. Vila Maria dos meus Maiores.[21]
- FONSECA, Dayz Peixoto. O Viajante Hércules Florence - águas, guanás e guaranás.[22]
Referências
- ↑ a b c d e f g «Cáceres – Fazenda Jacobina». iPatrimônio. Consultado em 15 de maio de 2015
- ↑ a b «Fazenda Jacobina é opção de lazer para hoje em Cáceres». Jornal Oeste. 15 de novembro de 2018. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «JACOBINISMO» (PDF). Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil - Fundação Getúlio Vargas. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Vovelle, Michel (agosto de 1989). «A Revolução Francesa e seu eco». Estudos Avançados (6): 25–45. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40141989000200003. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Silva, Edson (2017). «História, literatura e cidade: a visão literária de Humberto Soares e Silva sobre a "origem" de Jacobina1 (1969)» (PDF). Contemporâneos. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ a b Silva, Leila. «O processo de nomeação das fazendas-engenhos de Cáceres -MT» (PDF). Ave Palavra (Universidade do Estado de Mato Grosso). Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ a b c d e f Mirella Duarte (7 de setembro de 2018). «Jacobina, a fazenda mais rica da província tinha mais de 200 escravos». RD News. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Almeida, Leandro de; Oliveira, Milton César Neres de (28 de setembro de 2020). «A influência do trabalho escravo nos engenhos e nas fazendas de cana de açúcar no estado de Mato Grosso no século (XVIII e XIX)». Revista Campo do Saber (2). ISSN 2447-5017. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «História». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 15 de maio de 2015
- ↑ a b Florence, Hercules (1941). Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. [S.l.]: Edições Melhoramentos
- ↑ «Fazenda Jacobina em Cáceres é tombada pelo Governo do Estado». 19 de junho de 2007. Consultado em 31 de julho de 2020
- ↑ a b Neuza Zattar (13 de dezembro de 2019). «Maria Josephfa de Jesus Leite - A Nhanhá da Jacobina». Zaki News. Consultado em 31 de julho de 2020
- ↑ a b Luciano Pereira da Silva. «Gestão do Patrimônio Histórico e Cultural no Contexto do "Plano de Ação para as Cidades Históricas", Cáceres - Mato Grosso». História e Cultura. Consultado em 31 de julho de 2020
- ↑ a b «Alunos do Núcleo Clarinópolis fazem aula de campo na Fazenda Jacobina». Associação Mato-Grossense dos Municípios. 25 de agosto de 2019. Consultado em 31 de julho de 2020
- ↑ «Cáceres, na fronteira do Mato Grosso com a Bolívia, é novo patrimônio cultural brasileiro». Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 9 de dezembro de 2010. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «Tem início a revolta da Sabinada, na Bahia». History. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «Sabinada». Portal São Francisco. 22 de dezembro de 2015. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá (vol. 69)». Livraria do Senado Federal do Brasil. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Mendoça, Estevão. «Datas mato-grossenses». Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «IBGE | Biblioteca | Detalhes | Genealogia dos municípios de Mato Grosso / Pe. José de Moura e Silva. -». Biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Silva, Giuslane Francisca da (2017). «Histórias e memórias da cidade: lembranças de viveres urbanos, Cáceres/MT (primeira metade do século XX)». Oficina do Historiador (1): 144–162. ISSN 2178-3748. doi:10.15448/2178-3748.2017.1.22037. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ Fonseca, Dayz Peixoto (2008). O viajante Hércules Florence: águas, guanás e guaranás. [S.l.]: Pontes