Zuleika Alambert

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Zuleika Alambert
Deputada Estadual
Período de 1947 até 1951 (uma legislatura)
Dados pessoais
Nome completo Zuleika Alambert
Nascimento 23 de dezembro de 1922
Santos, São Paulo, Brasil
Morte 27 de dezembro de 2012 (90 anos)
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Nacionalidade brasileiro
Partido Partido Comunista Brasileiro
Ocupação Escritora

Zuleika Alambert (Santos, 23 de dezembro de 1922 - Rio de Janeiro, 27 de dezembro de 2012) foi uma escritora, jornalista, deputada e militante marxista brasileira. Tendo iniciado sua militância política nos anos 40, foi eleita aos 23 anos como deputada estadual na cidade de Santos pelo PCB, tornando-se uma das primeiras mulheres a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo.[1]
Autora dos livros "Uma jovem brasileira na URSS", "Estudantes fazem história", "Feminismo: O Ponto de Vista Marxista" entre outros, Zuleika se consagrou como uma líder feminista que lutou pelos direitos sociais no Brasil, tendo projetos como um abono de Natal que seria o precursor do 13º salário e outro que instituía a remuneração sem distinção de gênero.[2] Por seu destaque na luta pelo protagonismo feminino na sociedade brasileira, foi homenageada em 2004 com o Prêmio Bertha Lutz.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Vida Pessoal[editar | editar código-fonte]

Primogênita do oficial de justiça Juvenal Alambert e da dona de casa Josepha Prado Alambert, Zuleika nasceu no dia 23 de dezembro de 1922 na cidade de Santos. Começou seus estudos no Liceu Feminino Santista e posteriormente ingressou no Colégio Tarquínio Silva, onde cursou Administração e Finanças e tornou-se contadora. Além disso, também foi aluna de balé da professora Alzira Yaconis Becker, mãe de Cacilda Becker, e chegou a se apresentar no Teatro Municipal de Santos.[3][4] Formada em ciências contábeis, iniciou sua militância política aos 20 anos durante a Segunda Guerra.[5]

Ativismo durante a Segunda Guerra[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Brasil na Segunda Guerra Mundial

Em fevereiro de 1942, submarinos alemães e italianos afundaram embarcações brasileiras no oceano Atlântico, vitimando centenas de brasileiros. Zuleika então participou das manifestações populares nas ruas e praças que pressionavam o governo Vargas para declarar guerra às potências do Eixo, além de atuar na Liga de Defesa Nacional que combatia o Estado Novo.[2][3] Para impedir a entrada de produtos da Espanha franquista no porto de Santos, ajudou a organizar a primeira greve portuária com os estivadores e doqueiros da região.[6] No ano seguinte trabalhou para que o país mandasse tropas a Europa, objetivo que se concretizou com a formação da Força Expedicionária Brasileira.

Atuação política no PCB[editar | editar código-fonte]

Em abril de 1945, Getúlio Vargas concedeu anistia a todos os presos políticos, entre eles o dirigente do PCB Luís Carlos Prestes que estava encarcerado desde 1936. Com a libertação de Prestes e a legalização do partido, Zuleika passou a fazer parte das fileiras comunistas e iniciou suas tarefas em comícios nas praças públicas e em portas das firmas santistas e de São Vicente.[7] Nas eleições gerais no Brasil em 1947, elegeu-se com o apoio dos trabalhadores do porto como primeira suplente a deputada estadual pelo Partido Comunista Brasileiro. Tomou posse em 26 de setembro, em substituição ao deputado Clóvis de Oliveira Neto. No entanto, o PCB foi novamente colocado na ilegalidade em 1948 devido ao contexto da Guerra Fria, e Zuleika, assim como outros militantes do partido, teve seu mandato cassado pelo Supremo Tribunal Eleitoral. Foi então obrigada a entrar na clandestinidade, considerando a forte repressão e a ordem de prisão expedida aos deputados comunistas.
No curto período em que esteve na Assembleia, Zuleika atuou em defesa dos interesses dos trabalhadores propondo, em destaque, a concessão de um abono de Natal para os servidores do Estado que antecedeu o décimo terceiro salário.[8] Em seu primeiro pronunciamento na ALESP, discursou sobre o papel da mulher na vida política e social e levantou, ao lado do deputado líder da bancada comunista Caio Prado Júnior, discussões em torno da defesa da cidadania e da liberdade civil.[9] Também atuou pela criação da Fundação Paulista de Pesquisas Científicas (atual FAPESP) através do projeto de Lei nº 248, que visava uma fundação de amparo à ciência e tecnologia com orçamento vinculado à receita estadual e de gestão política independente.[10]

Clandestinidade[editar | editar código-fonte]

Na década de 1950 passou a atuar em campanhas pela soberania nacional e pelo Estado de Direito, além de cumprir suas primeiras tarefas na União Soviética como Secretária-geral da União da Juventude Comunista onde João Saldanha era presidente.[4][7] Atuou informalmente junto à diretoria da União Nacional dos Estudantes pela formação do Centro Popular de Cultura, nas campanhas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e na defesa do Monopólio estatal do petróleo no Brasil.

Exílio após o golpe de 1964[editar | editar código-fonte]

Com a instauração da ditadura militar no Brasil, Zuleika foi perseguida por causa de sua atuação na UNE e teve os direitos políticos suspensos por 10 anos. Foi obrigada a sair do país em 1969 após a decretação do AI-5, passando pelo Uruguai, Paraguai e Argentina até finalmente migrar para Budapeste, na Hungria. Lá passou a militar pela Federação Mundial da Juventude Democrática ajudando a organizar a campanha pelo término da Guerra do Vietnã.[7]
Em 1971 mudou-se para Santiago no Chile, inicialmente para participar do Encontro da Juventude Mundial contra a Guerra no Vietnã. Ao se estabilizar na cidade, participou da criação do Comitê de Mulheres Brasileiras no Exílio e dos movimentos chilenos em defesa do governo de Salvador Allende. Além disso, trabalhou em uma fábrica de autopeças, na agricultura e deu curso sobre a experiência do golpe militar no Brasil. Antevendo o golpe de Estado no Chile em 1973, Zuleika fugiu para um sítio nos arredores de Santiago e posteriormente se refugiou na embaixada da Venezuela. Após quatro meses em Caracas, buscou exílio novamente na União Soviética onde tratou da saúde abalada por subnutrição e problemas renais. No ano de 1974, com proteção da ONU, se hospedou na casa de Oscar Niemeyer em Paris. Na França, fundou o Comitê de Mulheres Brasileiras no Exterior, que congregava as exiladas na Europa.[7]

Retorno ao Brasil[editar | editar código-fonte]

Aprovada a Lei da Anistia em 1979, Zuleika retorna ao Brasil recepcionada por várias entidades de mulheres brasileiras. Afastou-se do PCB em 1983 para se dedicar exclusivamente ao feminismo, tendo participado da criação do Conselho Estadual da Condição Feminina do Estado de São Paulo no qual foi conselheira e presidenta entre 1985 e 1986. Recebeu, além do título de cidadã paulistana, a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão do Povo de São Paulo, por serviços prestados à cidade.[7]

Falecimento[editar | editar código-fonte]

Em 2012 a ativista foi vítima de uma falência múltipla dos órgãos e faleceu em sua casa no Leme (zona sul do Rio de Janeiro).[11]

Referências

  1. Resumos biográficos dos agraciados com o Prêmio Cidadania Mundial 1997 Arquivado em 15 de novembro de 2010, no Wayback Machine.
  2. a b «Líder feminista de 88 anos é homenageada no Rio - Geral». Estadão. Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  3. a b «Deputado Estadual». www.al.sp.gov.br. Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  4. a b «Zuleika :: Instituto Zuleika Alambert». instituto-zuleika-alambert.webnode.com. Consultado em 29 de dezembro de 2019 
  5. «Zuleika Alambert (1922 - 2012) - A 1ª deputada estadual de Santos - 01/01/2013 - Cotidiano». Folha de S.Paulo. Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  6. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. «28/12 - Obituário de Zuleika Alambert (1922-2012)». Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  7. a b c d e «Deputada Zuleika Alambert». www.al.sp.gov.br. Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  8. Soihet, Rachel. «Do Comunismo ao Feminismo: a trajetória de Zuleika Alambert». Cadernos Pagu. pp. 169–195. doi:10.1590/S0104-83332013000100005. Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  9. Silva, Renata Bastos da (19 de junho de 2012). «Vozes femininas no legislativo: com a palavra a deputada Zuleika Alambert». Revista Gênero (em inglês). doi:10.22409/rg.v11i1.64. Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  10. «Discurso de Caio Prado Júnior». bv.fapesp.br. Consultado em 23 de janeiro de 2020 
  11. Geral, Arquivo (27 de dezembro de 2012). «Líder feminista Zuleika Alambert morre aos 90 anos». JBr. Consultado em 23 de janeiro de 2020