O Auto da Compadecida (filme)
O Auto da Compadecida | |||||
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Cartaz de lançamento original do filme. | |||||
Brasil 2000 • cor • 104 min | |||||
Gênero | |||||
Direção | Guel Arraes | ||||
Produção | Guel Arraes | ||||
Produção executiva | Eduardo Figueira Daniel Filho | ||||
Roteiro | Guel Arraes Adriana Falcão João Falcão | ||||
Baseado em | Auto da Compadecida O Santo e a Porca e Torturas de um Coração, de Ariano Suassuna | ||||
Elenco | |||||
Música | Sá Grama | ||||
Diretor de fotografia | Félix Monti | ||||
Direção de arte | Lia Renha | ||||
Figurino | Cao Albuquerque | ||||
Edição | Ubiraci de Motta Paulo Henrique Farias | ||||
Companhia(s) produtora(s) | Lereby Produções Globo Filmes | ||||
Distribuição | Columbia Tristar | ||||
Lançamento |
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Idioma | português | ||||
Receita | R$ 11,4 milhões | ||||
Cronologia | |||||
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O Auto da Compadecida é um filme brasileiro de comédia dramática, lançado em 2000, dirigido por Guel Arraes, com roteiro de Adriana Falcão, João Falcão e do próprio Arraes, e baseado na peça teatral Auto da Compadecida de 1955 de Ariano Suassuna, com elementos de O Santo e a Porca, Torturas de um Coração e A pena e a Lei, ambas do mesmo autor, além de influências de Decamerão, clássico de Giovanni Boccaccio.[2] Trata-se de uma adaptação de formato da minissérie homônima, lançada em 1999 pela TV Globo.
Durante o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, evento criado pelo Ministério da Cultura, o filme recebeu as premiações de melhor diretor, melhor roteiro, melhor lançamento e melhor ator.[3] Foi visto por mais de dois milhões de espectadores, sendo o filme brasileiro de maior bilheteria de 2000.[4]
As filmagens da obra foram feitas em 1999, na cidade de Cabaceiras, interior do estado da Paraíba, palco de vários outros filmes brasileiros,[5] com parceria de produção entre a Globo Filmes e a Lereby Produções. Estreou em 15 de setembro de 2000, no Brasil, e foi exibido em outros países em eventos de cinema e em mídia para distribuição. Nos Estados Unidos, o filme foi renomeado como A Dog's Will ("Testamento de um cachorro"). Foi recebido com críticas positivas na maioria dos países da América do Sul.
Enredo
[editar | editar código-fonte]A sinopse deste artigo pode ser extensa demais ou muito detalhada.Dezembro de 2020) ( |
No início dos anos 30,[6] Chicó e João Grilo, dois pobres homens que vivem próximos da cidade de Taperoá na Paraíba, conseguem um emprego na padaria da cidade, onde moram o padeiro Eurico e sua esposa Dora, que vive sempre o traindo. Os patrões cuidam melhor de sua cachorra de estimação do que dos seus empregados, oferecendo comida estragada para Chicó e João Grilo e bife passado na manteiga para sua cachorra, causando constantes reclamações por parte de João.
Quando a cadela morre, Dora exige que João Grilo e Chicó peçam ao padre da cidade que benza sua cachorra antes do enterro. O padre não concorda e João Grilo, esperto e embromador, alega que a cachorra é do temido Major Antônio Morais e, então, o padre aceita; para conseguir que o padre realizasse o enterro em latim, João Grilo também diz que a cachorrinha era uma cristã devota e que deixara em testamento de dez contos de réis para a igreja. O padre enfim realiza o enterro para cachorra e quando todos voltam à igreja encontram o bispo contrariado que logo se arrefece ao saber que a cachorrinha deixara sete contos de réis para a paróquia, ou seja, sob sua responsabilidade e três contos de réis para a igreja.
Chicó apaixona-se pela filha de Major Antônio Morais, Rosinha, e junto com João Grilo engendram um plano para conseguir a autorização do major para a mão de sua filha a Chicó. Em uma de suas armações, onde Chicó deveria parecer valente diante de todos, eles se encontram com o cangaceiro Severino que faz com que seu subordinado, o "Cabra", mate o padre, o bispo, Eurico e Dora. Na vez de João Grilo e Chicó, João Grilo engana Severino com uma suposta gaita mágica que ressuscita mortos e Severino, crente que visitaria Padre Cícero, ao qual é devoto, e depois voltaria, pede ao seu guarda que o mate. Cabra, vendo que seu chefe não voltava mesmo após tocar a gaita, mata João Grilo e foge.
João Grilo, Eurico, Dora, Severino, o padre e o bispo se encontram no céu para o julgamento final e, após uma discussão acirrada com o diabo, João Grilo realiza uma súplica e consegue a presença de Nossa Senhora, que sugere ao seu filho, Jesus Cristo, que envie Severino diretamente para o Céu, pois ele não era responsável pelos seus atos; que envie Eurico, Dora, o padre e o bispo para o Purgatório, pois na hora da morte todos eles se redimiram de seus pecados (Dora havia pedido perdão a Eurico pelas suas traições e ele a perdoou enquanto o padre e o bispo perdoaram seu assassino); e que João Grilo volte para a Terra.
Quando João Grilo volta à vida, encontra Chicó enterrando seu corpo em um local do árido sertão. Eles prosseguem com o plano de fazer Chicó se casar com Rosinha, mas falham quando o pai da moça descobre que Chicó não era rico de verdade como ele havia dito antes e se prepara para "arrancar seu couro"; Rosinha e João Grilo, porém, salvam Chicó dizendo que o contrato firmado anteriormente por Antônio Morais e Chicó não diz que uma gota de sangue deve ser derramada do couro de Chicó; Chicó e Rosinha fogem junto com João Grilo, deixando Morais enfurecido.
Na estrada depois da fuga, Chicó, João Grilo e Rosinha encontram um pobre andarilho negro perambulando pelo sertão que lhes pede comida; Rosinha separa um pedaço do bolo que levara consigo e dá para o homem, que agradece e vai embora. Rosinha conclui que Jesus "pode se disfarçar de mendigo para testar a bondade dos homens" e Chicó afirma que conheceu um homem que tinha visto um Jesus moreno parecido com o andarilho. Eles então vão embora pela estrada enquanto João Grilo toca sua gaita alegremente pelo caminho.
Elenco
[editar | editar código-fonte]- Matheus Nachtergaele como João Grilo
- Selton Mello como Chicó
- Marco Nanini como Capitão Severino de Aracaju
- Denise Fraga como Dora
- Diogo Vilela como Eurico
- Rogério Cardoso como Padre João
- Lima Duarte como o Bispo
- Fernanda Montenegro como Nossa Senhora ("Compadecida")
- Maurício Gonçalves como Jesus Cristo / Emanuel
- Luís Melo como o Diabo
- Virginia Cavendish como Maria Rosa Noronha de Brito Morais (Rosinha)
- Paulo Goulart como Major Antônio Noronha de Brito Morais (Major Antônio Morais)
- Enrique Diaz como Cangaceiro ("Cabra")
- Bruno Garcia como Vicentão
- Aramis Trindade como o Cabo Setenta
Produção
[editar | editar código-fonte]O Auto da Compadecida nasceu originalmente como uma peça teatral escrita por Ariano Suassuna em 1955 e encenada pela primeira vez em 1956. Em 1999, foi adaptada como uma minissérie exibida pela TV Globo que continha mais tramas paralelas que acabaram por ser removidas do filme.[7] Nessa época, o diretor Guel Arraes procurou Suassuna para que ele fizesse uma adaptação cinematográfica da peça, acrescentando cenas de outras de suas peças, O Santo e a Porca e Torturas de um Coração. O escritor disse: "Como são obras no mesmo estilo de O Auto, ou seja, com histórias populares, eu aceitei". O diretor foi mais além e incluiu influências de Decamerão, de Boccaccio, no filme.[2]
Entre as passagens omitidas no filme estão o gato que "discome", na qual João Grilo e Chicó tentam enganar Dora apresentando-lhe um gato que evacuava moedas de prata; e a primeira invasão dos cangaceiros à cidade de Taperoá.
Recepção
[editar | editar código-fonte]Resposta de Suassuna
[editar | editar código-fonte]Os atores escolhidos pelo diretor agradaram Suassuna, que disse que Matheus Nachtergaele foi o melhor intérprete para João Grilo. Ele afirmou: "Sua atuação é impecável, pois consegue passar toda a esperteza do personagem, que luta contra o patriarcado rural, a burguesia urbana, a polícia, o cangaceiro, e até contra o diabo".[2] Elogiando as demais atuações, Suassuna disse que a melhor atriz do filme foi Fernanda Montenegro, no papel de Nossa Senhora. "O rosto de Fernanda agora vai se juntar, na minha memória, ao de Socorro Raposo, a primeira atriz a interpretar o papel, no Recife, e que ainda hoje continua encenando, já somando oito anos ininterruptos", disse na época.[2]
Desempenho crítico e comercial
[editar | editar código-fonte]O filme tornou-se um grande sucesso comercial no Brasil, atraindo 2.157.166 pessoas nos cinemas (tornando-se o filme brasileiro mais visto no país do ano 2000) e arrecadando mais de onze milhões de reais nas bilheterias nacionais;[8] o filme também obteve notável sucesso em alguns países da América do Sul como Argentina, Chile e Venezuela.[carece de fontes]
No Rotten Tomatoes, o filme possui uma taxa de aprovação de 93%.[9] Em 2015, o filme foi eleito pela ABRACCINE como um dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos, ocupando a posição #63 de sua lista.[10]
Relançamentos
[editar | editar código-fonte]Remasterização e reexibição nos cinemas
[editar | editar código-fonte]No ano de 2019, em comemoração aos 20 anos de produção, o filme e os capítulos da minissérie foram remasterizados a partir das películas originais e ganharam cenas extras, além de ângulos de câmera diferenciados. Porém, a alteração mais significativa e que gerou insatisfação em grande parte dos fãs foi a mudança dos planos de fundo em Chroma Key na cena do julgamento. O inferno, ao invés de mostrar pessoas sofrendo em meio ao fogo, agora mostrava uma animação onde se destacavam caveiras dançando num loop considerado muito artificial, enquanto o Céu apresentava desenhos de anjos voando aleatoriamente.[11] Apesar disso, essa foi a versão disponibilizada nos streamings vinculados à Globo, uma vez que o diretor Guel Arraes considerava os efeitos especiais da época "muito caídos".[12]
Após ser feita uma parceria entre a Globo Filmes e a Cinemark, o filme foi reexibido nos cinemas do Brasil em junho de 2021, em homenagem ao cinema brasileiro.[13]
Blu-ray
[editar | editar código-fonte]Em 2023 foi lançada no Brasil a edição limitada do filme junto com a minissérie em blu-ray após uma parceria feita entre a Globo Filmes, TV Globo e a Versátil Home Vídeo. A edição foi lançada exclusivamente na loja virtual Versátil HV.[14]
Prêmios e indicações
[editar | editar código-fonte]O filme foi indicado para cinco categorias do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, vencendo o troféu de melhor roteiro, melhor diretor (Guel Arraes), melhor ator (Nachtergaele), melhor lançamento; O Auto da Compadecida foi indicado também na categoria de "melhor filme", mas perdeu o prêmio para Eu, Tu, Eles.
Prêmio | Venceu/Indicado |
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Melhor diretor (Guel Arraes) | Venceu |
Melhor ator (Matheus Nachtergaele) | Venceu |
Melhor roteiro | Venceu |
Melhor lançamento | Venceu |
Melhor filme | Indicado |
- Cartagena Film Festival
Prêmio | Venceu/Indicado |
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Melhor filme | Indicado |
Prêmio | Venceu/Indicado |
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Prêmio da audiência (Guel Arraes) | Venceu |
Melhor edição (Paulo Henrique Farias) | Indicado |
Prêmio | Venceu/Indicado |
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Melhor ator (Matheus Nachtergaele) | Venceu |
Ver também
[editar | editar código-fonte]- O Auto da Compadecida (minissérie que deu origem ao filme)
- O Auto da Compadecida 2 (filme de 2024)
- Os Trapalhões no Auto da Compadecida, versão da mesma história com Os Trapalhões
- A Compadecida, filme com Regina Duarte e Armando Bógus
- Lista de filmes brasileiros com mais de um milhão de espectadores
- Lista dos 100 melhores filmes brasileiros segundo a Abraccine
Referências
- ↑ «'O Auto da Compadecida'estréia nos cinemas». Uol. 15 de setembro de 2000. Consultado em 28 de maio de 2015. Arquivado do original em 3 de março de 2016
- ↑ a b c d Agência Estado (15 de setembro de 2000). «Suassuna aprova "O Auto" de Guel Arraes». Portal Terra Cinema. Consultado em 25 de janeiro de 2010
- ↑ «Destaques do Grande Prêmio Brasil». UOL. 21 de fevereiro de 2001. Consultado em 3 de abril de 2009. Arquivado do original em 20 de novembro de 2014
- ↑ Redação (20 de dezembro de 2000). «O Auto da Compadecida é o filme nacional de maior bilheteria no anoFilme de Guel Arraes já foi visto por mais de 2.082 milhões de pessoas». www.epipoca.com.br. Consultado em 22 de outubro de 2016
- ↑ Eduardo Vessoni (15 de março de 2011). «Cabaceiras, no interior da Paraíba, é a 'roliúde' brasileira e terra de outros cenários cinematográficos». UOL. Consultado em 17 de março de 2011
- ↑ «O AUTO DA COMPADECIDA - TRAMA PRINCIPAL». memoriaglobo.globo.com. Consultado em 9 de janeiro de 2019
- ↑ «Guel Arraes transforma série de TV em um bom longa». Veja. 13 de setembro de 2000. Consultado em 2 de dezembro de 2011. Arquivado do original em 4 de julho de 2012
- ↑ «Filmes Brasileiros Lançados - 1995 a 2012» (PDF). Ancine. p. 30. Consultado em 28 de fevereiro de 2014. Arquivado do original (PDF) em 1 de março de 2014
- ↑ «O Auto da Compadecida (A Dog's Will)» (em inglês). Rotten Tomatoes. p. 30. Consultado em 7 de maio de 2019 [ligação inativa]
- ↑ André Dib (27 de novembro de 2015). «Abraccine organiza ranking dos 100 melhores filmes brasileiros». Abraccine. abraccine.org. Consultado em 26 de outubro de 2016
- ↑ «Globo reforma e reprisa 'O Auto da Compadecida' nos 20 anos da série - 21/12/2019 - Ilustrada - Folha». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 13 de março de 2022
- ↑ LOPES, FERNANDA (7 de janeiro de 2020). «O Auto da Compadecida volta à Globo modernizada e com cenas inéditas». Notícias da TV. Consultado em 13 de março de 2022
- ↑ «"O AUTO DA COMPADECIDA" VOLTARÁ ÀS TELONAS EM HOMENAGEM AO CINEMA NACIONAL». Portal Exibidor. Consultado em 14 de junho de 2021
- ↑ «Blu-ray: O Auto da Compadecida - Edição Definitiva Limitada Com 4 cards e 1 livreto». Versátil HV. Consultado em 26 de outubro de 2023. Cópia arquivada em 26 de outubro de 2022
- Representações culturais de Maria (mãe de Jesus)
- Filmes dirigidos por Guel Arraes
- Filmes de comédia do Brasil
- Filmes baseados em obras de autores do Brasil
- Filmes baseados em peças de teatro
- Representações de Jesus no cinema
- Filmes sobre cangaço ou cangaceiros
- Filmes ambientados na década de 1930
- Filmes sobre religiosidade popular
- Adaptações de obras de Ariano Suassuna
- Filmes do Brasil de 1999
- Filmes em língua portuguesa
- Filmes sobre o Diabo
- Adultério em filmes
- Filmes gravados na Paraíba
- Filmes da Globo Filmes
- Filmes premiados com o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro