Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva
A Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva (PNASA) foi instituída no Brasil pela Portaria MS nº 2.073, de 2004[1] visando a promoção de ações de saúde auditiva no Sistema Único de Saúde. A PNASA dispõe sobre a organização hierárquica e regionalizada de uma rede de atenção integral (diagnóstico, reabilitação, promoção e proteção) em saúde auditiva e, também, sobre a oferta de terapia fonoaudiológica.[2][1][3][4]
Precedentes[editar | editar código-fonte]
A formulação da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva (PNASA) tem como precedentes a elevada prevalência de perda auditiva na população.[5][1][3] No mundo, estima-se que cerca de 278 milhões de indivíduos apresentem perda auditiva de grau moderado ou profundo,[6] enquanto no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2013, 1,1% da população apresentava grau significativo de perda auditiva (deficiência auditiva).[5]
A criação da PNASA também decorre do quadro de transição demográfica e epidemiológica vistos no Brasil e no mundo, com destaque para o acelerado envelhecimento populacional, o aumento da expectativa de vida e o aumento da incidência de doenças crônicas e neurodegenerativas, que podem atuar como fatores de risco para a perda auditiva, como no caso da presbiacusia.[7][8][9]
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que até 2050 mais de 900 milhões de pessoas, cerca de 1 em cada 10, apresentará perda auditiva incapacitante, podendo gerar um impacto de 750 bilhões de dólares por ano.[10] Assim, a formulação de uma política pública com o objetivo de garantir o acesso à saúde auditiva foi considerada relevante ao permitir a triagem, tratamento e reabilitação precoce em saúde auditiva, dado que metade de todos os casos de perda auditiva pode ser evitado por medidas de saúde pública.[4][11][10][12][13]
Implementação[editar | editar código-fonte]
Anteriormente à PNASA, foi estabelecida, em 2000, a primeira Portaria (SAS/MS nº 432, publicada em 14 de novembro de 2000) referente à assistência em saúde auditiva, em específico sobre adaptação de aparelhos de amplificação sonora individual e do acompanhamento de indivíduos deficientes auditivos.
De acordo com levantamento realizado por meio do SIA/SUS (DATASUS) em 2004 apenas 16% dos serviços credenciados seguiam os procedimentos exigidos pela Portaria relativos à saúde auditiva, tendo como base a tabela SIA/SUS.[14] Sendo que desse total de serviços, apenas 25% apresentavam registro de ao menos um tipo de procedimento (diagnóstico, terapia ou concessão de AASI), mas sem proporcionar atendimento integral e centrado no paciente.[15]
Assim, a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva (PNASA) foi implementada tendo como foco a promoção integral da atenção à saúde auditiva no âmbito do SUS e em concordância com relatórios estáticos da OMS e com a evidência do crescente aumento do risco de exposição à perda auditiva.[16][17][18][19]
Resultados[editar | editar código-fonte]
Com a implementação da PNASA, ações específicas foram definidas e coordenadas no âmbito das Secretarias Estaduais de Saúde (Portaria SAS/MS nº 587, de 2004),[20] além também do estabelecimento de critérios para o funcionamento e realização de procedimentos em saúde auditiva no SUS (Portaria SAS/MS nº 589, de 2004).[21] Entre as propostas desenvolvidas a partir da PNASA destaca-se a organização de uma linha de cuidados, visando ações de promoção, prevenção, tratamento e reabilitação no contexto da atenção básica e especializada.[2] A política também preconizou a importância da determinação e condicionamento das etiologias relacionadas as perdas auditivas e de situações que potencializem a deficiência auditiva.[1]
De acordo com um estudo avaliativo da cobertura de serviços especializados em saúde auditiva, entre os anos de 2004 e 2011, com dados levantados por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).[22] Como resultado o estudo evidenciou um aumento de 113% na cobertura dos serviços e 61% na quantidade de procedimentos diagnósticos realizados em todo o Brasil.[22] O estudo destacou também um aumento superior na região Norte, de 78%, no número de procedimentos, maior que outras regiões e proporcionalmente menor que à região Sudeste.[22]
No caso específico dos indivíduos acometidos por deficiência auditiva, a PNASA em conjunto com a Política Nacional da Saúde da Pessoa com Deficiência e as diretrizes do SUS, que garantem a equidade de acesso, integralidade e universalidade nas ações da saúde auditiva,[2] no ano de 2010 foi publicado um levantamento que buscou mensurar o conhecimento da população sobre as políticas públicas voltadas para saúde auditiva.
Os participantes apresentaram prevalência de 4,9% e 3,1% de deficiência auditiva em 2003 e 2008, respectivamente, antes e após a implementação da política.[23] Segundo a pesquisa, realizada no Município de São Paulo, cerca de 38,4% dos entrevistados referiram ter conhecimento ou serem atendidos pela política em função de quadros de perda auditiva em 2003, frente a 22,3% no ano de 2010.[23]
Dessa maneira, a pesquisa evidenciou que uma parcela reduzida da população tem conhecimento ou é assistida pela PNASA, logo a conclusão do estudo foi que existe a necessidade de melhoras na avaliação e efetividade das políticas voltadas para a saúde auditiva, de forma a garantir maior equidade e universalidade de acesso aos serviços de saúde especializados.[22][23]
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ a b c d Brasil, Ministério da Saúde (2004). «Portaria GM/MS nº 2.073, de 28 de setembro de 2004. Institui a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva (PNASA).». Diário Oficial da União. Consultado em 25 de janeiro de 2021
- ↑ a b c Conselho Federal de Fonoaudiologia, Associação Brasileira de Audiologia (2013). «Guia de Orientação para Implantação e Desenvolvimento da Saúde Auditiva na Atenção Primária» (PDF). CFFa; ABA. Consultado em 26 de janeiro de 2021
- ↑ a b Silva, Luciana Santos Gerosino da; Gonçalves, Cláudia Giglio de Oliveira; Soares, Vânia Muniz Néquer (junho de 2014). «National Policy on Health Care Hearing: an evaluative study from covering services and diagnostic procedures». CoDAS (3): 241–247. ISSN 2317-1782. doi:10.1590/2317-1782/201420140440. Consultado em 25 de janeiro de 2021
- ↑ a b Helenice Yemi Nakamura, Rogers Danilo Katsuki Bonaldo. «Saúde Auditiva em uma Unidade de Saúde da Família». CEPRE-FCM/IEL- UNICAMP. SBFa Anais 2009: http://www.sbfa.org.br/portal/anais2009/resumos/R1500-1.pdf
- ↑ a b Brasil, IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2014). «Pesquisa nacional de saúde 2013. Percepção do estado de saúde, estilos de vida e doenças crônicas» (PDF). IBGE. Consultado em 25 de janeiro de 2021
- ↑ Letícia de Sousa Lobo Silva, Maria Fernanda Capoani Garcia Mondelli. «Profile of the Patients Serviced in a High Complexity System». Arq. Int. Otorrinolaringol. / Intl. Arch. Otorhinolaryngol., São Paulo - Brasil, v.15, n.1, p. 29-34, Jan/Fev/Março - 2011. Arq. Int. Otorrinolaringol: https://www.scielo.br/pdf/aio/v15n1/04.pdf
- ↑ Isabel Varela-Nieto; Teresa Riveira (2011). «Presbycusis, or age-related hearing loss, has a significant impact on suffers' quality of life. Its diagnosis and treatment is a significant public health issue.». www.fgcsic.es. Lychnos. Consultado em 25 de janeiro de 2021
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- ↑ a b OPAS/OMS, Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde (12 de fevereiro de 2019). «OMS e União Internacional de Telecomunicações recomendam novo padrão global para prevenir perda auditiva entre 1,1 bilhão de pessoas». OPAS/OMS. Consultado em 26 de janeiro de 2021
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- ↑ PUC/SP, Gislene Inoue Vieira, Beatriz De Castro Andrade Mendes, Marina Morettin Zupelari, Isabel Maria Teixeira Bicudo Pereira. «Saúde Auditiva no Brasil: análise quantitativa do período de vigência da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva». PUC/SP. Revista Distúrbios da Comunicação: https://revistas.pucsp.br/index.php/dic/article/view/23915
- ↑ Peixoto, Marcus Valerius da Silva; Chaves, Sônia Cristina Lima; Peixoto, Marcus Valerius da Silva; Chaves, Sônia Cristina Lima (2019). «Analysis of the national hearing health care policy implementation in a Brazilian State». CoDAS (3). ISSN 2317-1782. doi:10.1590/2317-1782/20182018092. Consultado em 26 de janeiro de 2021
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- ↑ Bevilacqua, Maria Cecília; Morettin, Marina; Melo, Tatiana Mendes de; Amantini, Regina Célia Bortoleto; Martinez, Maria Angelina Nardi de Souza (setembro de 2011). «Contribuições para análise da política de saúde auditiva no Brasil». Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (3): 252–259. ISSN 1516-8034. doi:10.1590/S1516-80342011000300004. Consultado em 11 de fevereiro de 2021
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- ↑ Gondim, Lys Maria Allenstein; Balen, Sheila Andreoli; Zimmermann, Karla Jean; Pagnossin, Débora Frizzo; Fialho, Indiara de Mesquita; Roggia, Simone Mariotto (abril de 2012). «Estudo da prevalência e fatores determinantes da deficiência auditiva no município de Itajaí, SC». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology (2): 27–34. ISSN 1808-8694. doi:10.1590/S1808-86942012000200006. Consultado em 11 de fevereiro de 2021
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- ↑ Brasil, Ministério da Saúde (7 de outubro de 2004). «Regulamentação a atenção à saúde auditiva». MS (Ministério da Saúde). Consultado em 25 de janeiro de 2021
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- ↑ a b c d Silva, Luciana Santos Gerosino da; Gonçalves, Cláudia Giglio de Oliveira; Soares, Vânia Muniz Néquer; Silva, Luciana Santos Gerosino da; Gonçalves, Cláudia Giglio de Oliveira; Soares, Vânia Muniz Néquer (junho de 2014). «National Policy on Health Care Hearing: an evaluative study from covering services and diagnostic procedures». CoDAS (em inglês) (3): 241–247. ISSN 2317-1782. doi:10.1590/2317-1782/201420140440. Consultado em 19 de fevereiro de 2021
- ↑ a b c Karina Mary de PaivaI, Maria Cecília Goi Porto Alves, Chester Luiz Galvão Cesar, Marilisa Berti de Azevedo Barros, Luana Carandina , Moises Goldbaum. «Hearing impairment and health services: a population-based study». SUS: Mosaicos e Inclusões. SUS: Mosaico de Inclusões: http://periodicos.ses.sp.bvs.br/pdf/bis/v13n2/v13n2a04.pdf
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- «HRAC/FOB-USP». Saúde Auditiva
- «NHS/UK». Hearing Loss
- «Ministério da Saúde» (PDF). Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência
- «Ministério da Saúde». DATASUS
- «Ministério da Saúde». Tabela SIA/SUS (DATASUS)