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Australopithecus: diferenças entre revisões

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Há evidências de que os Australopithecus eram presas do [[Dinofelis]], um felino da sub-família extinta [[Machairodontinae]].
Há evidências de que os Australopithecus eram presas do [[Dinofelis]], um felino da sub-família extinta [[Machairodontinae]].


== Ver também ==
== Uso de ferramentas ==
* [[Evolução humana]]* [[Lista de fósseis da evolução humana]]
* Os sítios com [[Fóssil|fósseis]] de [[hominídeo]]s de [[Sterkfontein]],[[Swartkrans]], [[Kromdraai]] e outros próximos, na [[África do Sul]], que foram inscritos pela [[UNESCO]] em [[1999]] na lista das propriedades que são [[Património Mundial]].


=== Ferramentas simples ===
{{Referências}}
Ao pensar em uso de ferramentas por hominínios, é muito comum pensar em pedra lascada, porém existe uma série de outros materiais que podem ser utilizados como ferramentas. Como exemplos atuais, os macacos-prego utilizam pedras não lascadas para quebrar cocos e nozes, e os chimpanzés e orangotangos utilizam gravetos para retirar cupins de dentro do cupinzeiro. No entanto, essas ferramentas dificilmente se preservam no registro fóssil, já que materiais orgânicos se degradam rapidamente e com facilidade, e no caso da pedra, quando ela não é lascada, é difícil ter evidências de que foi utilizada como ferramenta. Sendo assim, não existe evidência de uso de ferramentas que não sejam de pedra lascada pelos Australopithecus, mas por comparação com espécies atuais de primatas, essa possibilidade é perfeitamente plausível.<ref>{{Citar periódico |url=https://royalsocietypublishing.org/doi/abs/10.1098/rstb.2010.0067 |titulo=In search of the last common ancestor: new findings on wild chimpanzees |data=2010-10-27 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences |número=1556 |ultimo=McGrew |primeiro=W. C. |paginas=3267–3276 |doi=10.1098/rstb.2010.0067 |pmc=PMC2981959 |pmid=20855301}}</ref>

=== Primeiras pedras lascadas ===
Algumas espécies de Australopithecus têm sido recentemente creditadas como responsáveis pela confecção de ferramentas líticas, especialmente as mais antigas. O registro mais antigo de uso de ferramentas ocorreu em Dikika, Etiópia, onde foram encontrados ossos de ungulados, datando cerca de 3,4 milhões de anos, que foram considerados evidência para o uso de ferramentas por A. afarensis, a única espécie de hominínio que viveu no local nesse período. Esses ossos possuíam marcas que poderiam ter sido feitas por meio de pedras lascadas, enquanto um indivíduo cortava a carne do animal, porém essa evidência não é muito aceita pela comunidade científica. <ref>{{Citar periódico |url=https://www.nature.com/articles/nature09248 |titulo=Evidence for stone-tool-assisted consumption of animal tissues before 3.39 million years ago at Dikika, Ethiopia |data=2010-08 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Nature |número=7308 |ultimo=McPherron |primeiro=Shannon P. |ultimo2=Alemseged |primeiro2=Zeresenay |paginas=857–860 |lingua=en |doi=10.1038/nature09248 |issn=1476-4687 |ultimo3=Marean |primeiro3=Curtis W. |ultimo4=Wynn |primeiro4=Jonathan G. |ultimo5=Reed |primeiro5=Denné |ultimo6=Geraads |primeiro6=Denis |ultimo7=Bobe |primeiro7=René |ultimo8=Béarat |primeiro8=Hamdallah A.}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=https://www.pnas.org/content/107/49/20929.short |titulo=Configurational approach to identifying the earliest hominin butchers |data=2010-12-07 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Proceedings of the National Academy of Sciences |número=49 |ultimo=Domínguez-Rodrigo |primeiro=Manuel |ultimo2=Pickering |primeiro2=Travis Rayne |paginas=20929–20934 |lingua=en |ultimo3=Bunn |primeiro3=Henry T.}}</ref><ref name=":0">{{Citar periódico |url=https://royalsocietypublishing.org/doi/full/10.1098/rstb.2015.0233 |titulo=An earlier origin for stone tool making: implications for cognitive evolution and the transition to Homo |data=2016-07-05 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences |número=1698 |ultimo=Lewis |primeiro=Jason E. |ultimo2=Harmand |primeiro2=Sonia |paginas= |lingua=en |doi=10.1098/rstb.2015.0233 |pmc=4920290 |pmid=27298464}}</ref>

Já no caso de Lomekwi, no Quênia, foram encontradas pedras propositalmente lascadas, datando de 3,3 milhões de anos. Não se sabe ao certo qual espécie confeccionou essas ferramentas, porém sabe-se que o gênero Homo ainda não existia na época, sendo os australopitecíneos os prováveis responsáveis. O autor da descoberta reconhece a diferença entre essas ferramentas e as da Indústria Olduvaiense, propondo, então, o nome de Indústria Lomekwiense. Apesar de mais aceita que a primeira, essa evidência não é consenso no meio acadêmico, pois apesar de indiscutivelmente se tratarem de ferramentas confeccionadas propositalmente, há quem questione sua datação. Além disso, os registros são poucos, demonstrando que essa produção, se existia, era pequena e pouco frequente.<ref name=":0" /> <ref>{{Citar periódico |url=https://www.nature.com/articles/nature14464 |titulo=3.3-million-year-old stone tools from Lomekwi 3, West Turkana, Kenya |data=2015-05 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Nature |número=7552 |ultimo=Harmand |primeiro=Sonia |ultimo2=Lewis |primeiro2=Jason E. |paginas=310–315 |lingua=en |doi=10.1038/nature14464 |issn=1476-4687 |ultimo3=Feibel |primeiro3=Craig S. |ultimo4=Lepre |primeiro4=Christopher J. |ultimo5=Prat |primeiro5=Sandrine |ultimo6=Lenoble |primeiro6=Arnaud |ultimo7=Boës |primeiro7=Xavier |ultimo8=Quinn |primeiro8=Rhonda L. |ultimo9=Brenet |primeiro9=Michel}}</ref><ref>{{citar periódico |url=https://www.researchgate.net/profile/Luis-Alcala-6/publication/303692567_33-Million-Year-Old_Stone_Tools_and_Butchery_Traces_More_Evidence_Needed/links/574dca4308ae8bc5d15bf60f/33-Million-Year-Old-Stone-Tools-and-Butchery-Traces-More-Evidence-Needed.pdf |titulo=3.3-Million-Year-Old Stone Tools and Butchery Traces? More Evidence Needed |data=2016-05 |acessodata=2021-07-19 |jornal=PaleoAnthropology |ultimo=Domínguez-Rodrigo |primeiro=Manuel |ultimo2=Alcalá |primeiro2=Luis |lingua=en}}</ref><ref name=":1">{{Citar periódico |url=https://www.pnas.org/content/116/24/11712.short |titulo=Earliest known Oldowan artifacts at >2.58 Ma from Ledi-Geraru, Ethiopia, highlight early technological diversity |data=2019-06-11 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Proceedings of the National Academy of Sciences |número=24 |ultimo=Braun |primeiro=David R. |ultimo2=Aldeias |primeiro2=Vera |paginas=11712–11717 |lingua=en |ultimo3=Archer |primeiro3=Will |ultimo4=Arrowsmith |primeiro4=J. Ramon |ultimo5=Baraki |primeiro5=Niguss |ultimo6=Campisano |primeiro6=Christopher J. |ultimo7=Deino |primeiro7=Alan L. |ultimo8=DiMaggio |primeiro8=Erin N. |ultimo9=Dupont-Nivet |primeiro9=Guillaume}}</ref>

=== Indústria Olduvaiense ===
É só a partir de 2,6 milhões de anos atrás, após 700 mil anos de ausência de confecção de ferramentas no registro fóssil, que temos registros de uma produção sistemática e muito frequente de ferramentas de pedra lascada, por toda a extensão da África. Por muito tempo acreditou-se que os primeiros representantes do gênero Homo (H. habilis) haviam sido os responsáveis pela primeira confecção dessas ferramentas, porém evidências recentes têm colocado os Australopithecus como possíveis inventores dessa tecnologia, embora ainda hajam controvérsias.<ref name=":0" /><ref name=":1" /><ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1126/science.1261735 |titulo=Human-like hand use in Australopithecus africanus |data=2015-01-22 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Science |número=6220 |ultimo=Skinner |primeiro=M. M. |ultimo2=Stephens |primeiro2=N. B. |paginas=395–399 |doi=10.1126/science.1261735 |issn=0036-8075 |ultimo3=Tsegai |primeiro3=Z. J. |ultimo4=Foote |primeiro4=A. C. |ultimo5=Nguyen |primeiro5=N. H. |ultimo6=Gross |primeiro6=T. |ultimo7=Pahr |primeiro7=D. H. |ultimo8=Hublin |primeiro8=J.-J. |ultimo9=Kivell |primeiro9=T. L.}}</ref><ref name=":2">{{Citar periódico |url=https://www.journals.uchicago.edu/doi/abs/10.1086/jar.47.2.3630322 |titulo=Who Made the Oldowan Tools? Fossil Evidence for Tool Behavior in Plio-Pleistocene Hominids |data=1991-07-01 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Journal of Anthropological Research |número=2 |ultimo=Susman |primeiro=Randall L. |paginas=129–151 |lingua=en |doi=10.1086/jar.47.2.3630322 |issn=0091-7710}}</ref>

Essa tecnologia ficou conhecida como Indústria Olduvaiense, e é caracterizada principalmente por simples lascas, obtidas a partir do choque entre duas pedras, um percutor e um núcleo. O percutor é a pedra mais dura, que se mantém inteira durante o processo, enquanto o núcleo sofre fraturas, formando lascas que são utilizadas principalmente para cortar carnes e outros alimentos. Essas lascas eram usadas “cruas” ou moldadas em outras ferramentas, de forma que, de acordo com o formato dos núcleos e das lascas processadas, as ferramentas encontradas podem ser classificadas em discóides, poliedros, esferóides, talhadores, furadores, dentre outros, variando em sua raridade. Acredita-se que a maior parte dessa variedade de formatos de núcleos seja apenas subproduto da produção de lascas, embora essas ferramentas de núcleo também tenham algumas utilidades.<ref name=":2" /><ref>{{Citar periódico |url=https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0305440385900561 |titulo=The oldowan reassessed: A close look at early stone artifacts |data=1985-03-01 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Journal of Archaeological Science |número=2 |paginas=101–120 |lingua=en |doi=10.1016/0305-4403(85)90056-1 |issn=0305-4403}}</ref><ref name=":3">{{Citar periódico |url=https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0147352 |titulo=Quantifying Oldowan Stone Tool Production at Olduvai Gorge, Tanzania |data=2016-01-25 |acessodata=2021-07-19 |jornal=PLOS ONE |número=1 |ultimo=Reti |primeiro=Jay S. |paginas=e0147352 |lingua=en |doi=10.1371/journal.pone.0147352 |issn=1932-6203 |pmc=4726611 |pmid=26808429}}</ref>

Existe muita variação no que concerne às ferramentas olduvaienses. Diferentes materiais e/ou formatos podem ser observados conforme analisamos sítios arqueológicos de locais e/ou períodos diferentes. Os materiais mais comumente utilizados para a produção dessas ferramentas eram quartzito e basalto, devido à maior facilidade que se tinha em retirar lascas rígidas e afiadas desses materiais.<ref name=":3" />{{Referências}}


== Ligações externas ==
== Ligações externas ==

Revisão das 13h24min de 19 de julho de 2021

Como ler uma infocaixa de taxonomiaAustralopithecus
Ocorrência: 4–2 Ma
Classificação científica
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Infrafilo: Gnathostomata
Superclasse: Tetrapoda
Classe: Mammalia
Subclasse: Theria
Infraclasse: Placentalia
Superordem: Euarchontoglires
Ordem: Primates
Subordem: Haplorrhini
Infraordem: Simiiformes
Parvordem: Catarrhini
Superfamília: Hominoidea
Família: Hominidae
Subfamília: Homininae
Gênero: Australopithecus
Distribuição geográfica

Espécies
A. afarensis

A. africanus

A. anamensis

A. garhi

A. sediba

Os australopitecos (Australopithecus) (Latim australis "do sul", Grego pithekos "macaco") constituem um género de diversos hominídeos extintos, bastante próximos aos do género Homo e, dentre eles, o A. afarensis e o A. africanus são os mais famosos. O A. africanus, primeiro descrito por Raymond Dart, com base no "crânio Infantil de Taung", datado em 2,5 a 2,9 milhões de anos, foi considerado durante muito então o ancestral direto do género Homo (em especial da espécie Homo erectus).

As descobertas recentes de outros fósseis de hominídeos, mais antigos que o A. africanus e que, contudo, parecem pertencer ao género Homo, colocaram em dúvida aquela teoria: ou o género Homo se separou do Australopithecus anteriormente do que se pensava (o ancestral comum mais antigo que se conhece pode ser o A. afarensis ou outro ainda mais antigo), ou então ambos se desenvolveram independentemente a partir dum outro ancestral comum, ainda desconhecido.

Os australopitecíneos parecem ter aparecido há cerca de 3,9 milhões de anos. Os cérebros da maior parte das espécies de Australopithecus conhecidas eram 35% menores que o do Homo sapiens e os próprios animais tinham pequeno tamanho, geralmente não mais de 1,2 m de altura. Em diversas espécies é considerável o grau de dimorfismo sexual, machos sendo maiores que as fêmeas. Os seres humanos modernos não parecem exibir o mesmo grau de dimorfismo sexual que os Australopithecus tinham. Em populações modernas, os machos são, em média, apenas 15% maiores que as fêmeas, enquanto que nos Australopithecus, os machos poderiam ser até 50% maiores que as fêmeas. Além disso, modelos termorreguladores sugerem que as espécies de Australopithecus eram completamente cobertas de pelo, mais como chimpanzés e bonobos, ao contrário dos humanos moderno. O nome da gênero significa "Macaco Austral".

O registro fóssil parece indicar que o género Australopithecus é o ancestral comum do grupo de hominídeos distintos reconhecidos nos géneros Paranthropus e Homo. Ambos géneros eram formados por seres mais avançados no seu comportamento e hábitos que os Australopithecus, sendo que estes eram praticamente tão inteligentes quanto os chimpanzés. Contudo, apenas os representantes do género Homo viriam a desenvolver a linguagem e a aprender a controlar o fogo.

A reconstrução do comportamento social de espécies fósseis extintas é difícil, mas a estrutura social dos Australopithecus seria provavelmente comparável à dos macacos modernos, dada a diferença média de tamanho corporal entre machos e fêmeas (dimorfismo sexual). Os machos eram substancialmente maiores que as fêmeas. Se as observações sobre a relação entre o dimorfismo sexual e a estrutura do grupo social dos macacos modernos forem aplicadas aos Australopithecus, essas criaturas provavelmente viviam em pequenos grupos familiares contendo um macho dominante e várias fêmeas reprodutoras (poligamia), como ocorre com os gorilas. [1]. No entanto, também foi argumentado que A. afarensis tinha níveis muito mais baixos de dimorfismo e, portanto, tinha uma sociedade baseada em parentesco multi-machos (sistema patrifocal), como os chimpanzés. O baixo dimorfismo também pode ser interpretado como uma sociedade monogâmica com forte competição homem-homem. Ao contrário, os dentes caninos são muito menores em A. afarensis do que em primatas não humanos, o que deve indicar menor agressão porque o tamanho dos caninos é geralmente correlacionado positivamente com a agressão homem-homem.[2][3][4]

Um estudo de 2011 que utilizou razões de isótopos de estrôncio em dentes fossilizados também sugeriu que há cerca de 2 milhões de anos, entre os grupos de Australopithecus e de Paranthropus do sul da África, as fêmeas tendiam a se estabelecer mais longe da sua região de nascimento do que os machos, ou seja a espécie tinha um sistema patrifocal.[5][6] Em um sistema patrifocal, fêmeas que estão no grupo não são aparentadas, ao passo que os machos são, já que eles permanecem no bando em que nasceram, e esta associação entre os machos é bastante influente em seu comportamento. Geralmente, grupos assim são pequenos. Estes novos dados também descartam a plausibilidade de uma sociedade de harém (como a dos gorilas), que teria resultado em uma sociedade matrilocal devido ao aumento da competição homem-homem.[7] Como os Australopithecus viviam num habitat de savana, uma sociedade com vários machos (como a dos chimpanzés) teria sido mais produtiva para defender melhor o bando de predadores no ambiente mais exposto, como hoje ainda o fazem os babuínos da savana.

Outros estudos mostraram que poderia haver uma sobreposição substancial de tamanho entre machos e fêmeas.[8] Isto, juntamente com a redução dos dentes caninos, tem sido argumentado para sugerir que os Australopithecus machos e fêmeas eram monogâmicos (ou pelo menos algumas espécies; cabe frisar que "monogamia" não implica fidelidade sexual).[9] Os machos podem ter se envolvido no comportamento de provisão (que pode ter iniciado com seus antepassados Ardipithecus), e a necessidade de levar comida para as fêmeas pode ter levado à evolução do bipedalismo. O dimorfismo sexual então começou a diminuir. Porém estudos sugerem que o dimorfismo sexual alcançou níveis humanos modernos somente no tempo do Homo erectus há entre 500 000 anos a 2 milhões de anos.[10]

Apesar de haver diferenças de opinião a respeito das espécies aethiopicus, boisei e robustus deverem ser incluídas no género Australopithecus, o consenso actual na comunidade científica é de que eles devem ser colocados no género Paranthropus, que se pensa ter-se desenvolvido a partir do ancestral Australopithecus. Paranthropus, que é mais maciço e robusto e também morfologicamente diferente dos Australopithecus, com a sua fisiologia especializada, deve ter tido um comportamento bastante diferente do seu ancestral.

Locais onde foram descobertos fósseis de Australopithecus

A existência do Australopithecus desmente a teoria de que a inteligência humana se desenvolveu primeiro e o bipedalismo depois, uma vez estas espécies tinham um crânio não significativamente maior que o de um chimpanzé actual e, no entanto, eram definitivamente bípedes, o que sugere que foi o bipedalismo que tornou possível a inteligência humana e não o contrário.

Pensa-se ainda que a maior parte das espécies de Australopithecus não era melhor adaptada ao uso de instrumentos que os actuais símios.

Entretanto, Australopithecus garhi parece ter sido o mais avançado nesta linha, uma vez que os seus fósseis têm sido encontrados juntamente com instrumentos e restos de animais retalhados, o que sugere que esta espécie teria iniciado uma indústria primitiva de fabrico de instrumentos. Isto leva muitos cientistas a supor que A. garhi é o ancestral mais próximo do género Homo.

Há evidências de que os Australopithecus eram presas do Dinofelis, um felino da sub-família extinta Machairodontinae.

Uso de ferramentas

Ferramentas simples

Ao pensar em uso de ferramentas por hominínios, é muito comum pensar em pedra lascada, porém existe uma série de outros materiais que podem ser utilizados como ferramentas. Como exemplos atuais, os macacos-prego utilizam pedras não lascadas para quebrar cocos e nozes, e os chimpanzés e orangotangos utilizam gravetos para retirar cupins de dentro do cupinzeiro. No entanto, essas ferramentas dificilmente se preservam no registro fóssil, já que materiais orgânicos se degradam rapidamente e com facilidade, e no caso da pedra, quando ela não é lascada, é difícil ter evidências de que foi utilizada como ferramenta. Sendo assim, não existe evidência de uso de ferramentas que não sejam de pedra lascada pelos Australopithecus, mas por comparação com espécies atuais de primatas, essa possibilidade é perfeitamente plausível.[11]

Primeiras pedras lascadas

Algumas espécies de Australopithecus têm sido recentemente creditadas como responsáveis pela confecção de ferramentas líticas, especialmente as mais antigas. O registro mais antigo de uso de ferramentas ocorreu em Dikika, Etiópia, onde foram encontrados ossos de ungulados, datando cerca de 3,4 milhões de anos, que foram considerados evidência para o uso de ferramentas por A. afarensis, a única espécie de hominínio que viveu no local nesse período. Esses ossos possuíam marcas que poderiam ter sido feitas por meio de pedras lascadas, enquanto um indivíduo cortava a carne do animal, porém essa evidência não é muito aceita pela comunidade científica. [12][13][14]

Já no caso de Lomekwi, no Quênia, foram encontradas pedras propositalmente lascadas, datando de 3,3 milhões de anos. Não se sabe ao certo qual espécie confeccionou essas ferramentas, porém sabe-se que o gênero Homo ainda não existia na época, sendo os australopitecíneos os prováveis responsáveis. O autor da descoberta reconhece a diferença entre essas ferramentas e as da Indústria Olduvaiense, propondo, então, o nome de Indústria Lomekwiense. Apesar de mais aceita que a primeira, essa evidência não é consenso no meio acadêmico, pois apesar de indiscutivelmente se tratarem de ferramentas confeccionadas propositalmente, há quem questione sua datação. Além disso, os registros são poucos, demonstrando que essa produção, se existia, era pequena e pouco frequente.[14] [15][16][17]

Indústria Olduvaiense

É só a partir de 2,6 milhões de anos atrás, após 700 mil anos de ausência de confecção de ferramentas no registro fóssil, que temos registros de uma produção sistemática e muito frequente de ferramentas de pedra lascada, por toda a extensão da África. Por muito tempo acreditou-se que os primeiros representantes do gênero Homo (H. habilis) haviam sido os responsáveis pela primeira confecção dessas ferramentas, porém evidências recentes têm colocado os Australopithecus como possíveis inventores dessa tecnologia, embora ainda hajam controvérsias.[14][17][18][19]

Essa tecnologia ficou conhecida como Indústria Olduvaiense, e é caracterizada principalmente por simples lascas, obtidas a partir do choque entre duas pedras, um percutor e um núcleo. O percutor é a pedra mais dura, que se mantém inteira durante o processo, enquanto o núcleo sofre fraturas, formando lascas que são utilizadas principalmente para cortar carnes e outros alimentos. Essas lascas eram usadas “cruas” ou moldadas em outras ferramentas, de forma que, de acordo com o formato dos núcleos e das lascas processadas, as ferramentas encontradas podem ser classificadas em discóides, poliedros, esferóides, talhadores, furadores, dentre outros, variando em sua raridade. Acredita-se que a maior parte dessa variedade de formatos de núcleos seja apenas subproduto da produção de lascas, embora essas ferramentas de núcleo também tenham algumas utilidades.[19][20][21]

Existe muita variação no que concerne às ferramentas olduvaienses. Diferentes materiais e/ou formatos podem ser observados conforme analisamos sítios arqueológicos de locais e/ou períodos diferentes. Os materiais mais comumente utilizados para a produção dessas ferramentas eram quartzito e basalto, devido à maior facilidade que se tinha em retirar lascas rígidas e afiadas desses materiais.[21]

Referências

  1. Wood 1994, p. 239.
  2. Larsen, C. S. (2003). «Equality for the sexes in human evolution? Early hominid sexual dimorphism and implications for mating systems and social behavior». Proceedings of the National Academy of Sciences. 100 (16): 9103–9104. Bibcode:2003PNAS..100.9103L. PMC 170877Acessível livremente. PMID 12886010. doi:10.1073/pnas.1633678100 
  3. Reno, P. L.; Lovejoy, C. O. (2015). «From Lucy to Kadanuumuu: balanced analyses of Australopithecus afarensis assemblages confirm only moderate skeletal dimorphism». PeerJ. 3: e925. ISSN 2167-8359. PMC 4419524Acessível livremente. PMID 25945314. doi:10.7717/peerj.925 
  4. Lovejoy, C. O. (2009). «Reexamining human origins in light of Ardipithecus ramidus» (PDF). Science. 326 (5949): 74e1–8. Bibcode:2009Sci...326...74L. ISSN 1095-9203. PMID 19810200. doi:10.1126/science.1175834. 42790876 
  5. Bowdler, Neil (2 de Junho de 2011). «Ancient cave women 'left childhood homes'» 
  6. Copeland SR, et al. (2011). «Strontium isotope evidence for landscape use by early hominins». Nature. 474: 76–78. PMID 21637256. doi:10.1038/nature10149 
  7. Copeland, S. R.; Sponheimmer, M.; de Ruiter, D. J.; Lee-Thorp, J. (2011). «Strontium isotope evidence for landscape use by early hominins». Nature. 474 (7349): 76–78. PMID 21637256. doi:10.1038/nature10149 
  8. Reno, Philip L.; Lovejoy, C. Owen (28 de abril de 2015). «From Lucy to Kadanuumuu: balanced analyses of Australopithecus afarensis assemblages confirm only moderate skeletal dimorphism». PeerJ (em inglês). 3. ISSN 2167-8359. PMC 4419524Acessível livremente. PMID 25945314. doi:10.7717/peerj.925 
  9. Lovejoy, C. Owen (2 de outubro de 2009). «Reexamining human origins in light of Ardipithecus ramidus». Science. 326 (5949): 74e1–8. Bibcode:2009Sci...326...74L. ISSN 1095-9203. PMID 19810200. doi:10.1126/science.1175834 
  10. Arsuaga, J.L.; Carretero, J.M.; Lorenzo, C.; Gracia, A.; Martínez, I.; de Castro, Bermúdez; Carbonell, E. (1997). «Size variation in Middle Pleistocene humans». Science. 277: 1086–1088. doi:10.1126/science.277.5329.1086 
  11. McGrew, W. C. (27 de outubro de 2010). «In search of the last common ancestor: new findings on wild chimpanzees». Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences (1556): 3267–3276. PMC PMC2981959Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 20855301. doi:10.1098/rstb.2010.0067. Consultado em 19 de julho de 2021 
  12. McPherron, Shannon P.; Alemseged, Zeresenay; Marean, Curtis W.; Wynn, Jonathan G.; Reed, Denné; Geraads, Denis; Bobe, René; Béarat, Hamdallah A. (agosto de 2010). «Evidence for stone-tool-assisted consumption of animal tissues before 3.39 million years ago at Dikika, Ethiopia». Nature (em inglês) (7308): 857–860. ISSN 1476-4687. doi:10.1038/nature09248. Consultado em 19 de julho de 2021 
  13. Domínguez-Rodrigo, Manuel; Pickering, Travis Rayne; Bunn, Henry T. (7 de dezembro de 2010). «Configurational approach to identifying the earliest hominin butchers». Proceedings of the National Academy of Sciences (em inglês) (49): 20929–20934. Consultado em 19 de julho de 2021 
  14. a b c Lewis, Jason E.; Harmand, Sonia (5 de julho de 2016). «An earlier origin for stone tool making: implications for cognitive evolution and the transition to Homo». Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences (em inglês) (1698). PMC 4920290Acessível livremente. PMID 27298464. doi:10.1098/rstb.2015.0233. Consultado em 19 de julho de 2021 
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