VLT de Campinas: diferenças entre revisões
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Com o final da gestão de Bittar, o novo prefeito de Campinas, [[José Roberto Magalhães Teixeira]], se recusou a cumprir o acordo de transferência do VLT por não concordar com a implantação do sistema , cercada de suspeitas de corrupção, e que necessitava um grande aporte de subsídios. Assim, a FEPASA acabou repassando a gestão do sistema VLT para a construtora Mendes Junior, mediante pagamento de R$ 700 mil mensais por parte da estatal.<ref name="VLT Campinas - Gorni" /> Até aquele momento, o VLT de Campinas operava com duas composições e intervalo de 15 minutos. Com 7,9 quilômetros de extensão, 8 estações e |
Com o final da gestão de Bittar, o novo prefeito de Campinas, [[José Roberto Magalhães Teixeira]], se recusou a cumprir o acordo de transferência do VLT por não concordar com a implantação do sistema , cercada de suspeitas de corrupção, e que necessitava um grande aporte de subsídios. Assim, a FEPASA acabou repassando a gestão do sistema VLT para a construtora Mendes Junior, mediante pagamento de R$ 700 mil mensais por parte da estatal.<ref name="VLT Campinas - Gorni" /> Até aquele momento, o VLT de Campinas operava com duas composições e intervalo de 15 minutos. Com 7,9 quilômetros de extensão, 8 estações e uma frota de 3 trens, transportava cerca de 4 mil passageiros por dia. |
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[[Imagem:VLT campinas.PNG|thumb|center|500px|Mapa do VLT de Campinas. Das 11 estações previstas no projeto, 3 delas jamais saíram do papel (marcadas com asterisco).]] |
[[Imagem:VLT campinas.PNG|thumb|center|500px|Mapa do VLT de Campinas. Das 11 estações previstas no projeto, 3 delas jamais saíram do papel (marcadas com asterisco).]] |
Revisão das 02h02min de 16 de março de 2016
O VLT de Campinas, popularmente conhecido por Pré-Metrô, foi um veículo de transporte de média capacidade sobre trilhos, que operou na cidade entre 1990 e 1995.
História
Antecedentes
Campinas iniciaria a implantação de um sistema de bondes por volta de 1878, com a fundação da Companhia Campineira Carris de Ferro. Após ser inaugurado no dia 25 de setembro de 1879[1] , o sistema de bondes de Campinas seria expandido ao longo do século XX e chegaria ao seu auge em 1954, quando possuía 58 km de extensão. O sistema de bondes de Campinas seria desativado ao longo da década de 1960, tendo o último veículo circulado em 24 de maio de 1968.[2]
Nos anos 1970, seriam iniciadas pela FEPASA as obras do Corredor de exportação Santos-Uberaba, que atravessariam a região de Campinas.[3] Com a retificação da ferrovia, cerca de 42 km de linhas utilizadas anteriormente pelas ferrovias Sorocabana e Mogiana seriam desativadas em 1977.[4]
Projeto
1970
A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (EMDEC), criada em 1972, estudou a utilização de antigos ramais das ferrovias Sorocabana,Mogiana, Ramal Férreo Campineiro e Companhia Carril Agrícola Funilense para a implantação de sistema de VLT. O alto custo de implantação do sistema, a dificuldade de negociação da posse das áreas com o governo do estado, entre outros problemas, impediriam o projeto de ser implantado.[5]
1980
Em 1981, a prefeitura de Campinas estudou o reaproveitamento de parte desses 42 km de linhas abandonadas na cidade, tendo sugerido a implantação de Veículos Leves sobre trilhos (VLT). O projeto não foi adiante por conta do seu alto custo e Campinas optou pela elaboração do Plano de Rede Básica de Trólebus. No entanto, apenas o Corredor Amoreiras foi construído, assim como alguns terminais, porém a prefeitura abandonaria o projeto de eletrificação, inaugurando o sistema com veículos diesel em 1986.[6]
1990
Após problemas no sistema de transporte coletivo existente[6], o prefeito de Campinas Jacó Bittar procuraria o governo do estado, sendo retomado o projeto de um VLT. O governador Orestes Quércia colocaria o projeto sob responsabilidade da FEPASA. Bittar encomendaria os estudos preliminares ao secretário de obras e vice-prefeito Antônio da Costa Santos (Toninho do PT). O projeto do VLT seria iniciado em tempo recorde, antes mesmo da conclusão dos estudos preliminares[7]. Entre a licitação e a inauguração do primeiro trecho, se passaram apenas quatro meses.[4] A licitação para a realização de obras foi vencida pela construtora Mendes Junior.[8]
As obras do VLT foram iniciadas em julho de 1990, antes mesmo de receberem verbas oficiais do governo do estado. Em agosto, o governo do estado realizaria cerimônia oficial de inauguração das obras. Pouco tempo depois, o governo paulista firmaria convênio com o Metrô do Rio de Janeiro para o empréstimo de 6 VLT's Articulado 68, utilizados no pré-metrô do Rio, e que naquele momento estavam parados por falta de peças nas oficinas da empresa carioca.[9]
O primeiro trecho do VLT foi inaugurado pelo governador Quércia em 23 de novembro de 1990, (cerca de dois dias antes do primeiro turno das eleições estaduais de 1990) o que gerou acusações de uso eleitoral da obra, que estava coberta de propagandas de Luiz Antônio Fleury Filho, candidato de Quércia ao estado.[8] A intenção era de que esse primeiro trecho fosse o embrião de uma rede de VLT's que cruzariam a cidade de Campinas utilizando-se de vias férreas desativadas pela FEPASA há mais de 20 anos.[5]
“ | ...Há pelo menos cinco anos venho defendendo a implantação do trem metropolitano no trecho Vinhedo-Valinhos-Campinas-Sumaré...Estudos indicam um potencial de 150 mil passageiros/dia. Falta apenas vontade política ao governo estadual para sua implantação. Recursos, e Campinas é testemunha, não faltam: por US$ 50 milhões está sendo construído o VLT por absoluta imposição do governo estadual. Nenhhuma entidade de Campinas, nem mesmo a prefeitura através de seus técnicos, discutiu ou analisou esta obra. É muito desperdício... | ” |
Operação
FEPASA (1990-1993)
Após a primeira inauguração (das três ocorridas em menos de quatro meses[11]), os passageiros puderam utilizar o primeiro trecho de forma gratuita, embora em horário reduzido. Em 14 de março de 1991, o segundo trecho da obra, com 2,2 km de extensão foi inaugurado oficialmente pelo governador do estado Quércia e pelo prefeito de Campinas Bittar. A inauguração acabou sendo prejudicada por um problema elétrico na rede aérea do sistema.[12] Mesmo após a inauguração de 4 estações e 4,3 km , o VLT transportaria menos de 2 ,5 mil passageiros, muito abaixo das estimativas oficiais.[11] Por conta do atraso das obras do terceiro trecho, o VLT funcionou de forma gratuita até abril de 1993.
O terceiro trecho foi inaugurado em 22 de abril de 1993, com a abertura de estações e cerca de 4 km de linha, e marcaria o fim do período de testes do VLT. Até aquele momento, cerca de 7 mil passageiros se utilizavam gratuitamente do sistema. Com a cobrança de passagens, a demanda cairia para cerca de 4 mil passageiros por dia, muito abaixo dos 20 mil passageiros diários estimados pela FEPASA, levando Toninho do PT a afirmar que o início de cobrança de passagens no VLT, aliado a falta de integração do mesmo com os ônibus municipais (impossível de ser realizada por conta da localização ruim do VLT, em áreas pouco adensadas),levaria o sistema ao colapso.[13] Posteriormente, a FEPASA assinaria acordo onde operaria o VLT por 2 anos e depois transferiria a operação e manutenção do sistema para a prefeitura de Campinas.[5]
“ | ...Quinze meses depois de lançado, o VLT é ainda mais conhecido pela denúncia de irregularidades na contratação da obra que pelos benefícios que traz à população. Nascido da tentativa do ex-governador Orestes Quércia de cooptar o prefeito Jacó Bittar, então recém-saído do PT, o projeto esbarrou em "dificuldades técnicas" que as seguidas liberações de recursos não conseguiram contornar. Mesmo assim, o sistema contratado pelo governo do Estado - por meio da Ferrovia Paulista S/A - já foi inaugurado três vezes. Em duas oportunidades com Quércia - a segunda às vésperas das eleições para governador, no ano passado - e outra com Fleury.... | ” |
Mendes Junior (1993-1995)
Com o final da gestão de Bittar, o novo prefeito de Campinas, José Roberto Magalhães Teixeira, se recusou a cumprir o acordo de transferência do VLT por não concordar com a implantação do sistema , cercada de suspeitas de corrupção, e que necessitava um grande aporte de subsídios. Assim, a FEPASA acabou repassando a gestão do sistema VLT para a construtora Mendes Junior, mediante pagamento de R$ 700 mil mensais por parte da estatal.[4] Até aquele momento, o VLT de Campinas operava com duas composições e intervalo de 15 minutos. Com 7,9 quilômetros de extensão, 8 estações e uma frota de 3 trens, transportava cerca de 4 mil passageiros por dia.
Desativação e abandono
“ | Essas linhas foram criadas originalmente para escoar a produção de café das fazendas até as estações e entrecortam a cidade. | ” |
Com o prejuízo mensal de R$ 510 mil gerado à Mendes Junior por conta da operação deficitária, a FEPASA anunciaria que o sistema VLT seria desativado em 17 de fevereiro de 1995. A desativação causou a demissão de 150 funcionários, que estavam com salários atrasados após a falta de repasses da FEPASA à Mendes Junior ter deixado uma dívida de US$ 7 milhões. Após a desativação, a FEPASA tentou vender o sistema, mas jamais conseguiu compradores para o mesmo. Com o fim da estatal paulista em 1998, o VLT passou ao abandono, tendo suas estações e trens depreadados e vandalizadas por moradores de rua e usuários de drogas.[15]
Em maio de 1997, os trens articulados seriam transferidos para o pátio de Jundiaí, onde permaneceram até meados de 2001 quando foram transferidos para o pátio de Rio Claro.
Após o encerramento, as linhas foram abandonadas, e recebeu diversas invasões de famílias de sem-teto, o que fez a prefeitura da cidade entrar com uma ação pedindo a reintegração de posse.[16][17]
Reativação
Desde sua desativação, algumas tentativas de reativação ou aproveitamento do leito do VLT foram feitas, porém nenhuma logrou êxito. Em março de 1995, o presidente da Fepasa Renato Pavan anunciou que a ampliação da rede do VLT seria retomada em novembro daquele ano.[18] A péssima situação econômica da Fepasa impediria a retomada das obras. Três anos depois, a Fepasa seria incorporada a RFFSA, que passaria a ser responsável pela gestão da linha, estações e trens do VLT.
No final de 2002, Izalene Tiene (prefeita de Campinas) tentou reativar o sistema VLT, mas esbarrou na falta de verbas.[19] Alguns anos depois, o prefeito Hélio de Oliveira Santos estudou transformar trechos do VLT em corredores de ônibus.[20]
Denuncias de Corrupção
“ | Crime maior do que qualquer um que possa ter sido cometido na execução do VLT é a desativação do sistema | ” |
Desde o início do projeto em 1990, denúncias de corrupção nortearam a implantação do VLT. Em julho de 1990, o vice-prefeito de Campinas revelou o resultado da licitação das obras do VLT dois dias antes do anuncio oficial através de um anuncio cifrado na seção de classificados do jornal o Estado de S. Paulo.[7] Esse anúncio gerou acusações de fraude por parte do vice-prefeito que também denunciou a inviabilidade do projeto do VLT por conta das linhas abandonadas utilizadas no mesmo passarem por regiões com baixa densidade populacional.[14]
As denúncias do vice-prefeito levaram a Câmara municipal de Campinas a realizar uma Comissão Especial de Inquérito (CEI)em 1990, cujos resultados seriam perdidos após o desaparecimento do relatório final da mesma sete anos depois.[21] Posteriormente, Jacó Bittar, deixaria o Partido dos Trabalhadores e se filiaria ao Partido Socialista Brasileiro, apesar de Quércia tentar levá-lo para o PMDB.
A FEPASA anunciaria que a construção de 13 km de linhas do VLT custaria US$ 90 milhões. Após a inauguração do último trecho do VLT em abril de 1993, seria descoberto que a construção de apenas 8,5 km do VLT custou cerca de US$ 125 milhões. Toninho do PT denunciou ao ministério público estadual as supostas irregularidades. Após a abertura de inquérito, uma das provas do inquérito (o relatório final da CEI do VLT promovida pela câmara de Campinas) desapareceria em 1997, levando o MPE a arquivar as denúncias.[21]
Características do Sistema
O sistema foi implantado em uma antiga via da FEPASA, com a construção das estações e a troca dos trilhos, de bitola métrica para larga (1600mm). O sistema operou com 4 carros construídos pelo consórcio Cobrasma/BN, uma empresa belga, alimentados por cabos suspensos (catenária).
Tabela do Sistema
Linha | Terminais | Inauguração | Comprimento (km) | Estações | Duração das viagens (min) | Funcionamento |
---|---|---|---|---|---|---|
Sul | Campos Elíseos ↔ Central | 15 de Março de 1991 | 7,9 | 8*(11) | 12 | Desativada. |
Norte | Central ↔ Taquaral | --- | 7,5 | 8 | --- | Desativada. |
(*) Estações que Chegaram a Funcionar
Linhas do Sistema
Frota
Ver também
Referências
- ↑ «Campinas». Correio Paulistano, Ano XXVI, número 6852, página 2- republicado pela Biblioteca nacional - Hemeroteca digital brasileira. 26 de setembro de 1879. Consultado em 23 de abril de 2013
- ↑ Allen Morrison (2005). «The Tramways of Campinas». Electric Transport in Latin America. Consultado em 22 de abril de 2013
- ↑ Antonio Augusto Gorni (2002). «O Corredor de Exportação Santos-Uberaba». A Eletrificação nas Ferrovias Brasileiras. Consultado em 22 de abril de 2013
- ↑ a b c d Antonio Augusto Gorni (2002). «O Pré-Metrô de Campinas». A Eletrificação nas Ferrovias Brasileiras. Consultado em 22 de abril de 2013
- ↑ a b c Pablo Diego e Souza dos Reis Costa (2010). «Os espaços ferroviários de Campinas:(re)leituras contemporâneas». Biblioteca Digital PUC-Campinas. Consultado em 22 de abril de 2013
- ↑ a b «Anos 80». Portal Interbuss. Consultado em 22 de abril de 2013
- ↑ a b Janio de Freitas (2 de agosto de 1990). «Metrô fora da linha». Folha de S.Paulo. Consultado em 23 de abril de 2013
- ↑ a b Walter Ocampo (24 de novembro de 1990). «Inauguração de VLT em Campinas vira festa de campanha de Fleury». Folha de S.Paulo, Ano, edição, Seção Folha Sudeste, páginas 1 e. Consultado em 22 de abril de 2013
- ↑ «Rio ajuda metrô de Campinas». Jornal do Brasil, Ano C, número 122, seção Cidade - página 3. 8 de agosto de 1990
- ↑ José Roberto Magalhães Teixeira (24 de novembro de 1990). «A região de Campinas: os desafios do momento». Folha de S.Paulo. Consultado em 22 de abril de 2013
- ↑ a b «VLT faz um ano sem atingir fase comercial». Folha de S.Paulo. 23 de novembro de 1991. Consultado em 23 de abril de 2013
- ↑ «Quércia inaugura o VLT com problema técnico». Folha de S. Paulo. 15 de março de 1991. Consultado em 23 de abril de 2013
- ↑ «Sistema entra em colapso». Folha de S.Paulo. 22 de abril de 1993. Consultado em 23 de abril de 2013
- ↑ a b c «Fepasa pode vender o VLT de Campinas». Folha de S.Paulo. 17 de agosto de 1997. Consultado em 22 de abril de 2013
- ↑ Fábio Gallacci (29 de abril de 2012). «VLT: Uma revolução engolida pelo mato». Portal RAC. Consultado em 23 de abril de 2013
- ↑ Áreas do antigo VLT em Campinas geram críticas de moradores
- ↑ Prefeitura estenderá Tolerância Zero às estações do antigo VLT
- ↑ «Capinas retoma projeto do VLT este ano». Folha de S. Paulo. Consultado em 23 de abril de 2013
- ↑ Claudio Liza Junior (18 de novembro de 2002). «Após 7 anos, Izalene quer reativar VLT». Folha de S. Paulo. Consultado em 23 de abril de 2013
- ↑ Correio Popular (1 de março de 2005). «Estudo planeja usar VLT como corredor de ônibus». Estradas. Consultado em 23 de abril de 2013
- ↑ a b João Maurício Rosa (2 de abril de 2001). «Relatório da CEI do VLT some da Câmara». Folha de S. Paulo. Consultado em 23 de abril de 2013