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Mário Schenberg

Mário Schenberg
Conhecido(a) por Processo Urca
Nascimento 2 de julho de 1914
Recife, Pernambuco
Morte 10 de novembro de 1990 (76 anos)
São Paulo, São Paulo
Nacionalidade  Brasileiro
Alma mater Universidade de São Paulo
Instituições Universidade de São Paulo
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
Campo(s) Físico e matemático

Mário Schenberg (Recife, 2 de julho de 1914São Paulo, 10 de novembro de 1990)[nota 1] foi um físico, político e crítico de arte brasileiro de origem judaica.

Largamente considerado um dos físicos teóricos mais importantes do Brasil,[2] Schenberg publicou trabalhos nas áreas de termodinâmica, mecânica quântica, mecânica estatística, relatividade geral, astrofísica e matemática. Trabalhou com José Leite Lopes e César Lattes, e foi assistente do físico ucraniano naturalizado italiano Gleb Wataghin. Colaborou com inúmeros físicos de prestígio internacional, como o russo naturalizado americano George Gamow e o astrofísico indiano Subrahmanyan Chandrasekhar. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Física de 1979 a 1981 e professor catedrático da Universidade de São Paulo.[3][4]

Schenberg teve ativa participação política, tendo sido eleito duas vezes deputado estadual por São Paulo. Em função de suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi cassado e preso mais de uma vez pela ditadura militar brasileira.

Mario Schenberg mantinha grande interesse por artes plásticas, tendo convivido com artistas brasileiros como Di Cavalcanti, Lasar Segall, José Pancetti, Mário Gruber e Cândido Portinari, e também estrangeiros, como Bruno Giorgi, Marc Chagall e Pablo Picasso. Atuou também como crítico de arte, escrevendo diversos artigos sobre artistas contemporâneos brasileiros como Alfredo Volpi, Lygia Clark e Hélio Oiticica.

Vida[editar | editar código-fonte]

Mário Schenberg nasceu em Recife, Pernambuco, em 1914. A diversificação de seus interesses data de sua infância e foi influenciada pelas viagens feitas com seus pais à Europa, onde esteve em contato com a arquitetura gótica e começou a se interessar pela história. [5] Desde cedo mostrou também notável capacidade para a matemática, encantando-se com a geometria, que teve forte influência em seus futuros trabalhos. Conta-se ter comprado diversos livros de matemática superior com o dinheiro que ganhou no jogo do bicho.[6] O interesse de Schenberg pela política, e particularmente o marxismo, começou também na sua adolescência. [7]

Mario Schenberg foi casado com Julieta Bárbara Guerrini, ex-mulher do poeta Oswald de Andrade, e com a artista plástica Lourdes Cedran. Teve uma única filha, a geneticista Ana Clara Guerrini Schenberg.

Carreira acadêmica[editar | editar código-fonte]

Schenberg fez os cursos primário e secundário em Recife. Em razão das limitações financeiras de sua família, não pôde estudar na Europa. Ingressou, então, na Faculdade de Engenharia do Recife em 1931, onde esteve em contato com o professor Luiz Freire, notável instigador de talentos, que influenciou outros cientistas pernambucanos, como José Leite Lopes e Leopoldo Nachbin[8]. No terceiro ano, sob a influência de Luiz Freire, transferiu-se para a São Paulo, onde se formou em engenharia elétrica na Escola Politécnica em 1935 e em matemática na recém fundada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em 1936.

Mário Schenberg (Bacharelado em Matemática), 1936.

Durante a graduação, Mario Schenberg esteve em contato com os professores formadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), como Giuseppe Occhialini, Gleb Wataghin e Luigi Fantappiè. Luigi Fantappiè e Giacomo Albanese influenciaram fortemente sua formação matemática. [5]Convidado pelo prof. Gleb Wataghin, em 1936, Schenberg desempenhou a função de preparador de física geral e experimental da FFCL. Deixou esse cargo, em 1937, para se tornar unicamente assistente de física teórica.

Em 1939, partiu para a Europa, tendo trabalhado no Instituto de Física da Universidade de Roma com o físico italiano Enrico Fermi. Com a aproximação da guerra, partiu para Zurique onde trabalhou com Wolfgang Pauli. A seguir, transferiu-se para Paris onde trabalhou com Frédéric Joliot-Curie no Collège de France.

Em 1940, já de volta ao Brasil, obteve uma bolsa da Fundação Guggenheim para passar uma curta temporada nos Estados Unidos. Trabalhou, então, com o físico americano George Gamow na Universidade de Washington, realizando investigações em astrofísica. Depois, foi membro do Instituto de Estudos Avançados de Princeton. Trabalhou ainda no Observatório Yerkes, em 1941, com o futuro prêmio Nobel Subrahmanyan Chandrasekhar em alguns problemas de astrofísica, retornando ao Brasil somente em 1942.

Em 1944, Schenberg tornou-se professor catedrático de Mecânica Racional e Celeste na USP, defendendo em concurso público a tese nomeada “Princípios da Mecânica”. Mario permaneceu na Universidade de São Paulo até 1948, quando partiu para trabalhar no grupo de raios cósmicos da Universidade de Bruxelas, por 5 anos. Neste período trabalhou também com o químico, físico e matemático belga Ilya Prigogine e colaborou com o grupo de Giuseppe Occhialini.

Entre 1953 e 1961, foi diretor do Departamento de Física da USP, onde fundou o Laboratório de Física do Estado Sólido e participou da aquisição do primeiro computador da Universidade de São Paulo, mostrando notável capacidade de predição dos rumos da ciência e tecnologia. Ainda nas décadas de 50 e 60, Schenberg foi membro do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro, onde colaborou com a formação de jovens pesquisadores como Jorge André Swieca.

Em 1969 Schenberg foi aposentado compulsoriamente pelo AI-5 e impedido de frequentar a universidades, abalando de forma remarcável sua pesquisa. Schenberg retornou à Universidade de São Paulo somente em 1979 com a abertura política. Após a reintegração, ministrou alguns cursos de pós-graduação e a disciplina de "Evolução dos Conceitos da Física", cujas transcrições deram origem ao livro "Pensando a Física"[9] .

Carreira política[editar | editar código-fonte]

Em paralelo com sua atuação acadêmica, Schenberg sempre participou ativamente da discussão dos problemas político-econômicos do Brasil. Iniciou em São Paulo a campanha O Petróleo é Nosso, lutou pela defesa dos minérios nucleares do país e esteve envolvido nos debates sobre as centrais nucleares, mostrando-se contra o acordo Brasil-Alemanha de cooperação nuclear.[10]

Foi eleito suplente de deputado estadual para a Assembléia Constituinte do Estado de São Paulo, pelo Partido Comunista do Brasil (PCB) em 1946. Revelou-se, nessa época, um orador respeitável, que chegou diversas vezes a inverter a posição dominante da bancada. Em 1947, sob a liderança do economista e empresário Caio Prado Júnior, a bancada aprovou o Artigo 123 da Constitução do Estado de São Paulo, instituindo os fundos de amparo à pesquisa no estado para impulsionar o seu desenvolvimento científico e tecnológico. Esse projeto levou mais tarde à concepção da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).[11] Em 1948, foi cassado e vítima de perseguições na universidade, como os outros membros da bancada comunista, liderada por Caio Prado Júnior[12].

Em 1962 foi novamente eleito deputado estadual pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), mas teve seu diploma impedido após ser acusado de pertencer ao Partido Comunista.

Em 1964, foi preso pela ditadura militar 7 dias após o golpe militar, permanecendo confinado no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) por dois meses. No ano seguinte, sob acusações de atuação política na universidade foi perseguido e preso. Seu mandato de prisão somente foi revogado devido à pressão da comunidade científica internacional.

Com a declaração do AI-5, em 1969, foi aposentado compulsoriamente e proibido de entrar no campus universitário. Na década de 70 sofreu inúmeras perseguições e ameaças de entidades do governo, que ameaçavam por vezes sua integridade física.[nota 2] Essa situação somente foi revertida com a abertura política, dez anos mais tarde.

Trabalhos Científicos[editar | editar código-fonte]

Processo Urca[editar | editar código-fonte]

Mário Schenberg teve importantes contribuições em astrofísica, particularmente na teoria de processos nucleares na formação de estrelas supernovas. Em 1940, trabalhando com George Gamow, batizou o conhecido processo Urca: o ciclo de reações nucleares no qual o núcleo perde energia por absorver um elétron e re-emitir uma partícula beta e um par neutrino-antineutrino, o que leva à perda de pressão interna e como consequência à ocorrência de um colapso e explosão na forma de uma supernova. A contribuição de Schenberg corresponde à proposição da presença dos recém descobertos neutrinos, que drenam parte considerável da energia da estrela.

Urca é o nome de um cassino no Rio de Janeiro, e fora utilizado para nomear o processo por George Gamow (1904-1968), pois Schenberg uma vez brincou dizendo a ele que "a energia desaparece no núcleo de uma supernova tão rápido quanto o dinheiro no jogo de roletas" durante uma visita ao cassino da Urca.

Limite Schenberg-Chandrasekhar[editar | editar código-fonte]

Junto ao físico indiano Subrahmanyan Chandrasekhar, Schenberg descobriu e publicou em 1942 o limite Schenberg-Chandrasekhar, o qual consiste na massa máxima que o interior de uma estrela pode suportar sobre as camadas de sobreposição contra um colapso gravitacional, uma vez que o centro de hidrogênio é exaurido.

Mecânica Quântica e Geometria Algébrica[editar | editar código-fonte]

Schenberg também é citado em uma série de publicações de 1953/1954 em geometria algébrica ligadas a mecânica quântica e teoria quântica de campos. Ele remarcou que essas álgebras podem ser descritas em termos de álgebras de Grassmann comutativas e não-comutativas, que tem a mesma estrutura de álgebras bosônicas e fermiônicas de operadores de criação e aniquilação. Essas álgebras estão relacionadas à algebras simpléticas e álgebras de Clifford.[13] As idéias de Schenberg foram citadas em conexão com métodos algébricos para descrever espaços de fase relativísticos.[14]

Seu trabalho, junto ao de Marcel Riesz, foi citado em um worshop realizado na França, em 1989, por sua importância em álgebras de Clifford e aplicações em física-matemática.[15]

Obra científica[editar | editar código-fonte]

Seus trabalhos científicos produzidos entre 1936 e 1946 foram reunidos no primeiro volume do livro Obra científica de Mário Schönberg, publicado pela Editora da Universidade de São Paulo, sob a organização de Amélia Hamburger.[16] Esse livro foi agraciado com o Prêmio Jabuti em 2010 na categoria de Ciências Exatas, Tecnologia e Informática.[17]

Publicações[editar | editar código-fonte]

  • M. Schönberg: Quantum kinematics and geometry, Il Nuovo Cimento (1955-1965), vol. 6, Supplement 1, pp. 356-380, 1957, DOI: 10.1007/BF02724793 (preview)
  • M. Schönberg, S. Chandrasekhar: On the Evolution of the Main-Sequence Stars, Astrophysical Journal, vol. 96, no. p.161 ff., 1942, fulltext

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Mário Schenberg costumava assinar seus artigos como Mário Schönberg.[1]
  2. Schenberg comenta esses anos de isolamento em carta a Clarice Lispector: "Desde 1970, minha situação geral se modificou bastante, em conseqüência do isolamento em que passei a viver, como resultado de minha aposentadoria e da impossibilidade de exercer a crítica de arte militante. Foi um desafio tremendo, mas creio que pude reagir de um modo criativo, não só retomando com maior energia as pesquisas anteriores sobre teoria da Gravitação e o problema das relações entre Física e Geometria, como também fazendo estudos filosóficos mais sistemáticos. Publiquei três trabalhos longos de Física, e aprofundei bastante o meu pensamento sobre Arte. Agora estou escrevendo um pequeno ensaio sobre a crise atual das artes plásticas, que talvez seja um ponto de partida para um ensaio mais longo". [5]

Referências

  1. Fleming, Henrique. «O Último Trabalho de Mário Schenberg» (PDF). São Paulo: Sociedade Brasileira de Física. Revista Brasileira de Ensino de Física. 23 (4). ISSN 1806-1117. Consultado em 17 de junho de 2012 
  2. «Mário Schenberg / Físicos do Brasil». Consultado em 19 de fevereiro de 2012 
  3. «Diretorias Anteriores da Sociedade Brasileira de Física». Consultado em 22 de janeiro de 2010 
  4. Amélia Império Hamburger. «Publicação da obra científica de Mário Schenberg». Consultado em 19 de fevereiro de 2012 
  5. a b c Amélia Império Hamburger (3 de Agosto de 2009). «Obras Científicas de Mario Schenberg – pioneiro brasileiro na Física Teórica e Matemática». Consultado em 22 de março de 2012 
  6. «Mário Schenberg». Consultado em 20 de fevereiro de 2012 
  7. FERREIRA, Oliveiros; et al. «Entrevista com Mário Schenberg» (PDF). São Paulo: Sociedade Brasileira de Física. Revista Brasileira de Ensino de Física. 1 (2). 59 páginas. ISSN 1806-1117. Consultado em 4 de dezembro de 2010 
  8. «Mario Schenberg (1914-1990): Física, Política e Arte». Consultado em 20 de fevereiro de 2012 
  9. Mario Schenberg (2001). Pensando a Física. [S.l.]: Landy. ISBN 8587731432 
  10. JANCSON, ISTVAN (organizador) (2009). Rebeldes Brasileiros. 2. [S.l.]: Casa Amarela. ISBN 8586821306 
  11. «O Artigo 123 da Constituição de 1947». Consultado em 2 de abril de 2012 
  12. BARROS, Alberto Luiz da Rocha (1991). «Schenberg: nada que é humano lhe era estranho» (PDF). São Paulo. Estudos avançados. 5 (11). ISSN 0103-4014. Consultado em 12 de julho de 2012 
  13. F. A. M. Frescura, B. J. Hiley: Algebras, quantum theory and pre-space, p. 3–4 (published in Revista Brasileira de Fisica, Volume Especial, Julho 1984, Os 70 anos de Mario Schonberg, pp. 49-86)
  14. M.C.B. Fernandes, J.D.M. Vianna: On the generalized phase space approach to Duffin–Kemmer–Petiau particles, Foundations of Physics, vol. 29, no. 2, pp. 201-219, 1999, DOI 10.1023/A:1018869505031 (abstract), therein p. 201
  15. Artibani Micali, Roger Boudet, Jacques Helmstetter (edds.): Clifford Algebras and their Applications in Mathematical Physics. Workshop Proceedings: 2nd (Fundamental Theories of Physics), Kluwer, 1989, ISBN 0-7923-1623-1, Foreword (in French language)
  16. HAMBURGER, Amélia Império (coord.) (2009). Obra científica de Mário Schönberg. 1. São Paulo: EDUSP. ISBN 978-85-314-1186-1 
  17. «Prêmio Jabuti 2010». Câmara Brasileira do Livro. Consultado em 6 de outubro de 2010 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


Precedido por
José Goldemberg
Presidente da
Sociedade Brasileira de Física

1979 - 1981
Sucedido por
Herch Moysés Nussenzveig


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