95 Teses: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Luther 95 Thesen.png|250px|direita|thumb|Impressão das ''95 Teses'' em uma igreja de [[Nuremberg]], atualmente disponível na [[Biblioteca Estadual de Berlim]].]]
{{mais-fontes|data=outubro de 2012}}
As '''''95 Teses''''' ou '''''Disputação do Doutor Martinho Lutero sobre o Poder e Eficácia das Indulgências''''' (em [[latim]]: ''Disputatio pro declaratione virtutis indulgentiarum''{{efn|Este título se encontra na impressão do panfleto da Basileia de 1517. As primeiras cópias das ''Teses'' usam de um ''[[incipit]]'' no lugar de um título que resuma o conteúdo. O cartaz de Nuremberg de 1517 introduz as ''Teses'' com {{lang|la|''Amore et studio elucidande veritatis: hec subscripta disputabuntur Wittenberge. Presidente R.P Martino Lutther ... Quare petit: vt qui non possunt verbis presentes nobiscum disceptare: agant id Uteris absentes.''}} Lutero usualmente as chama de "{{lang|de|''meine Propositiones''}}" (minhas proposições).{{sfn|Cummings|2002|p=32}}}}) são uma lista de proposições para uma [[disputa (escolástica)|disputa]] acadêmica escritas em 1517 por [[Martinho Lutero]], professor de [[teologia moral]] da [[Universidade de Wittenberg]], Alemanha, as quais iniciaram a [[Reforma Protestante]], um [[cisma]] da [[Igreja Católica]] que mudou profundamente a Europa. Tais teses discorrem sobre as posições de Lutero contra o que ele viu como práticas abusivas por pregadores que realizavam a venda de [[indulgência]]s, que tinham por finalidade reduzir a punição temporal de [[pecado]]s cometidos pelos próprios pecadores ou por algum de seus entes queridos no [[purgatório]]. Nas ''Teses'', Lutero afirmou que o [[arrependimento]] requerido por Cristo para que os pecados sejam perdoados envolve o arrependimento espiritual interior e não meramente uma [[confissão (sacramento)|confissão sacramental]] externa. Ele argumentou que as indulgências levam os cristãos a evitar o verdadeiro arrependimento e a tristeza pelo pecado, acreditando que podem renunciá-lo comprando uma indulgência. Elas também, de acordo com Lutero, desencorajam os cristãos de dar aos pobres e realizarem outros atos de misericórdia, acreditando que os certificados de indulgência eram mais valiosos espiritualmente. Apesar de Lutero ter afirmado que suas posições sobre as indulgências estavam de acordo com as do [[Papa Leão X|papa]], as teses desafiaram uma [[bula pontifícia]] do século XIV afirmando que o papa poderia usar o [[tesouro do mérito]] e as boas obras dos santos do passado para perdoar a punição temporal pelos pecados. As ''Teses'' são formuladas como proposições a serem discutidas em debate não representam necessariamente as opiniões de Lutero, porém ele as esclareceu posteriormente na obra ''Explicações da Disputa sobre o Valor das Indulgências''.
{{Info/Documento
|nome_documento = 95 Teses
|imagem = 95Thesen.jpg
|imagem_tamanho = 220px
|imagem_legenda = As 95 Teses de Lutero
|data_criado = [[1517]]
|data_ratificado =
|local_documento = [[Wittenberg]], [[Alemanha]]
|escritor = [[Martinho Lutero]]
|signatários = Dr. Martinho Lutero
|propósito = Iniciar uma discussão sobre as doutrinas católicas.
}}


Lutero enviou as ''Teses'' anexadas com uma carta à [[Alberto de Mainz]], o [[Arcebispo de Mainz]], em 31 de outubro de 1517, data que agora é considerada o início da Reforma Protestante e comemorado anualmente como [[Dia da Reforma Protestante]]. Lutero também pode ter postado as ''Teses'' na porta da [[Igreja do Castelo de Wittenberg]] e de outras igrejas em Wittenberg, de acordo com o costume da Universidade, em 31 de outubro, ou em meados de novembro. As ''Teses'' foram rapidamente reimpressas, traduzidas e distribuídas por toda a Alemanha e a Europa. Iniciou-se então uma [[guerra panfletária]] com o pregador de indulgências [[Johann Tetzel]], contribuindo para a difusão da fama de Lutero. Os superiores eclesiásticos de Lutero o julgaram de [[heresia]], o que culminou na sua [[excomunhão]] em 1521. Embora as ''Teses'' fossem o início da Reforma Protestante, Lutero não considerava as indulgências tão importantes como outras questões teológicas que dividiriam a igreja, como a [[justificação pela fé]] e o [[De servo arbitrio|livre arbítrio]]. Sua descoberta acerca destas questões viria mais tarde, e ele não via a escrita das Teses como o ponto em que suas crenças divergiram daquelas da Igreja Católica.
A '''Disputação do Doutor [[Martinho Lutero]] sobre o Poder e Eficácia das [[Indulgências]]''', que em 31 de outubro de 1517 Lutero fixou na porta da igreja do castelo de Wittenberg, conhecida como as '''95 Teses''', desafiou os ensinamentos da [[Igreja Católica]] quanto à natureza da penitência, a autoridade do [[Papa]] e da utilidade das indulgências. As 95 teses impulsionaram o debate teológico que acabou por resultar no nascimento das tradições [[Luteranismo|luteranas]], [[Igrejas Reformadas|reformadas]] e [[anabaptista]]s dentro do [[cristianismo]].<ref name="InfoEscola"/> Este documento é considerado por muitos como um marco da [[Reforma Protestante]].<ref name="InfoEscola">{{citar web |url=http://www.infoescola.com/historia/95-teses-de-martinho-lutero/ |título=95 Teses de Martinho Lutero |acessodata=30 de outubro de 2012 |autor=Antonio Gasparetto Junior |coautores= |data=27 de janeiro de 2012 |ano= |mes= |formato= |obra= |publicado= |páginas= |língua= |língua2=pt |língua3= |lang= |citação= }}</ref>


== Contexto ==
A ação de Lutero foi em grande parte uma resposta à venda de indulgências (perdão) por [[João Tetzel]], um frade [[Ordem dos Pregadores|dominicano]], delegado do Arcebispo de [[Mogúncia]] e do papa. O objetivo desta campanha de angariação de fundos foi o financiamento da [[Basílica de São Pedro|Basílica de S. Pedro]] em [[Roma]]".<ref name="Treu 15">{{Citar livro |primeiro=Martin |ultimo=Treu |ano=2003 |título=Martin Luther in Wittenberg: a biographical tour |local=Wittenberg |editora=Saxon-Anhalt Luther Memorial Foundation |página=15 |isbn=978-3-9808619-4-6 |oclc=60519808}}</ref>
[[Martinho Lutero]], professor de [[teologia moral]] da [[Universidade de Wittenberg]] e pregador na cidade, escreveu as ''95 Teses'' contra a prática contemporânea da igreja com respeito às [[indulgência]]s.{{sfn|Junghans|2003|pp=23, 25}} Na [[Igreja Católica]], praticamente a única igreja cristã na Europa na época, as indulgências faziam parte do que era chamado de [[economia da salvação]]. Neste sistema, quando os cristãos [[pecado|pecam]] e [[confissão (sacramento)|confessam]], eles são perdoados e não receberam mais uma punição eterna no [[inferno]], mas podem ainda ser passíveis de castigo temporal.{{sfn|Brecht|1985|p=176}} Tal punição poderia ser quitada pelo penitente com a realização de [[obras de misericórdia]].{{sfn|Wengert|2015a|p=xvi}} Se esta punição temporal não for quitada durante a vida, ela precisaria ser no [[purgatório]]. Com uma indulgência (que pode ser traduzida como "bondade"), esta punição temporal poderia ser diminuída.{{sfn|Brecht|1985|p=176}} Com o abuso do sistema de indulgências, o [[clero]] se beneficiava com a venda destas, e o [[papa]] dava uma sanção oficial em troca de uma taxa.{{sfn|Noll|2015|p=31}}


[[Imagem:Indulgence selling from On Aplas von Rom.png|thumb|Xilogravura de uma venda de indulgências em uma igreja registrada em um panfleto de 1521.]]
Mesmo apesar de o príncipe-eleitor (soberano) de Lutero, [[Frederico, o Sábio]], e o príncipe do território vizinho, o duque [[Jorge da Saxônia]], terem proibido a venda de indulgências em seu território, muitas pessoas viajaram para as poder adquirir. Quando estas pessoas vieram confessar-se, apresentaram a indulgência, afirmando que não mais necessitavam de penitenciar pelos seus pecados, uma vez que o documento as perdoava de todos os pecados.
Os papas são autorizados a conceder indulgências plenárias, que fornecem completo perdão para qualquer punição temporal restante devido aos pecados, estas compradas em nomes de pessoas que se acredita estarem no purgatório. Isto levou à criação do dito popular: "Assim que a moeda no cofre cai, a alma do purgatório sai", o qual foi criticado pelos teólogos da [[Universidade de Paris]] no final do século XV.{{sfn|Brecht|1985|p=182}} Os críticos mais antigos das indulgências incluíam a [[John Wycliffe]], que negou que o papa tivesse jurisdição sobre o purgatório.{{sfn|Waibel|2005|p=47}} [[Jan Hus]] e seus [[Hussitas|seguidores]] defendiam um sistema mais severo de penitências, no qual as indulgências não estavam disponíveis.{{sfn|Brecht|1985|p=177}} Já os governantes políticos tinham interesse em controlar as indulgências porque as economias locais sofriam quando determinados territórios eram utilizados como pagamento das indulgências. Os governantes, muitas vezes, procuravam receber uma parte dos lucros ou das indulgências proibidas, como fez [[Jorge, Duque da Saxônia]] no [[Eleitorado da Saxônia]] de Lutero.{{sfn|Brecht|1985|pp=178, 183}}


Em 1515, o [[Papa Leão X]] concedeu uma indulgência plenária destinada a financiar a construção da [[Basílica de São Pedro]] em [[Roma]], que seria aplicável a quase todos os pecados, com exceção do adultério e do roubo.{{sfn|Brecht|1985|p=178}} Todas as outras pregações de indulgência cessariam em um período de oito anos, enquanto esta estaria sendo oferecida à quem doasse valores para ajudar na construção do edifício. Aos pregadores de indulgência foram dadas instruções rigorosas de como as indulgências deveriam ser pregadas, sendo que estas deveriam ser muito mais laudatórias do que as indulgências anteriores.{{sfn|Brecht|1985|p=180}} [[Johann Tetzel]] foi o encarregado de pregar e oferecer esta indulgência em 1517, e esta sua campanha em cidades próximas à [[Wittenberg]] atraiu muitos dos moradores para viajarem a tais cidades para comprá-las, uma vez que sua venda havia sido proibida em Wittenberg e outras cidades saxônicas.{{sfn|Brecht|1985|p=183}}
== Antecedentes ==
Alguns dizem que Lutero afixou as 95 teses na porta da igreja castelo em [[Wittenberg]], Alemanha, a [[31 de Outubro]] de [[1517]]. Outros acadêmicos questionaram a veracidade desta noção, notando que não existem relatos de contemporâneos para ela. Outros afirmaram que não houve necessidade de tais relatos pois esta ação era nos dias de Lutero o modo comum de anunciar eventos nas universidades do tempo. As portas de igrejas funcionavam na altura como os placares informativos funcionam hoje nos campos universitários. Outros ainda sugeriram que as 95 teses podem muito bem ter sido afixadas em 31 de outubro de 1517. A maioria é unânime pelo menos em que Lutero teria remetido estas teses por correio ao [[Arcebispo de Mogúncia]], ao [[papa]], a amigos e a outras universidades nessa data, enquanto historiadores como Gottfried Fitzer, Erwin Iserloh e Klemens Houselmann contestaram essa versão e disseram que não houve de fato a fixação das 95 teses em Wittemberg. Do relato de Johannes Schneider, um criado de Lutero, é que se extraiu a notícia da afixação das teses. Escreveu apenas: "No ano de 1517, Lutero apresentou em Wittenberg, sobre o EIba, segundo a antiga tradição da universidade, certas sentenças para discussão, porém modestamente e sem haver desejado insultar ou ofender alguém". Assim, alguns concluem que não houve esse evento.<ref name="InfoEscola"/>


Lutero também havia tido experiência com as indulgências relacionadas à [[Igreja do Castelo de Wittenberg]].{{sfn|Brecht|1985|p=186}} Ao venerar a grande coleção de relíquias da igreja, qualquer um poderia receber uma indulgência.{{sfn|Brecht|1985|pp=117–118}} Ele já pregava em 1514 contra o abuso das indulgências e o modo como eles barateavam a graça ao invés de exigir verdadeiro [[arrependimento]].{{sfn|Brecht|1985|p=185}} Lutero ficou preocupado principalmente em 1517, quando os seus paroquianos, ao retornar da compra de indulgências oferecidas por Tetzel, afirmaram que eles não precisavam se arrepender e mudar as suas vidas para serem perdoados de seus pecados. Depois de escutar o que Tetzel discorria sobre as indulgências em seus sermões, Lutero começou a estudar cuidadosamente o assunto e contactar especialistas sobre o tema. Ele realizou diversas pregações em 1517 sobre as indulgências, sempre explicando que o verdadeiro arrependimento era mais eficaz do que a compra de uma indulgência.{{sfn|Brecht|1985|p=184}} Ele ensinou que receber uma indulgência pressupunha que o penitente havia se confessado e se arrependido, caso contrário de nada valia. Um pecador verdadeiramente arrependido também não procuraria uma indulgência, porque amava a justiça de Deus e desejava receber o castigo interior de seu pecado.{{sfn|Brecht|1985|p=187}} Estes sermões cessaram de ser pregados entre abril e outubro de 1517, presumivelmente enquanto Lutero estava escrevendo as ''95 Teses''.{{sfn|Brecht|1985|p=188}} Ele redigiu um ''Tratado sobre a indulgência e a graça'' no início do outono de 1517, sendo este um exame cauteloso e uma pesquisa sobre o assunto.{{sfn|Wicks|1967|p=489}} Ele contactou os líderes da igreja por meio de cartas, incluindo o seu superior [[Hieronymus Schulz]], [[Bispo de Brandemburgo]], alguns momentos antes do dia 31 de outubro, que foi quando ele enviou as ''95 Teses'' para o [[Arcebispo de Mainz|Arcebispo]] [[Alberto de Mainz]].{{sfn|Leppin|Wengert|2015|p=387}}
[[Ficheiro:Wittenberg Schlosskirche.JPG|thumb|direita|A [[Wittenberg|Igreja do Castelo]], onde Lutero pregou suas 95 Teses]]
== As 95 Teses ==


== Conteúdo ==
{{Quote box
{{wikisource|Disputação do Doutor Martinho Lutero sobre o Poder e Eficácia das Indulgências}}
|quote =Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em [[Wittenberg]], sob a presidência do reverendo padre [[Martinho Lutero]], mestre de Artes e de Santa Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor [[Jesus Cristo]]. Amém. <ref name="Luteranos95"> http://www.luteranos.com.br/lutero/95_teses.html </ref>
A primeira tese tornou-se famosa: "Ao dizer: "Fazei penitência", etc. ({{citar bíblia|Mateus|4|17}}), o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência." Nas primeiras teses, Lutero desenvolve a ideia de arrependimento do cristão em uma luta interna contra o pecado, invés de um sistema externo de confissão sacramental.{{sfn|Brecht|1985|p=192}} As teses 5–7 então afirmam que o papa só possui o direito de libertar as pessoas de punições que ele mesmo impôs por decisões próprias ou dos cânones, e não da culpa do pecado. O papa só possui o direito de anunciar o perdão de Deus da culpa do pecado no nome dele.{{sfn|Waibel|2005|p=43}} Nas teses 14–29, Lutero desafiou a crenças comuns sobre o purgatório. As teses 14–16 discutem a ideia de que a punição do purgatório pode ser comparada ao medo e ao desespero sentidos pelas pessoas que morrem.{{sfn|Wengert|2015b|p=36}} Nas teses 17–24, ele afirma que nada pode ser definitivamente dito sobre o estado espiritual das pessoas que se encontram no purgatório, e conclui nas teses 25 e 26 negando que o papa tenha qualquer poder sobre as pessoas no purgatório. Nas teses 27–29, ele ataca a ideia de que, assim que o pagamento é feito, a alma do ente querido do pagador é libertada do purgatório. Ele vê isso como uma maneira de encorajar a ganância pecaminosa, e diz que é impossível ter certeza porque somente Deus tem poder supremo em perdoar punições no purgatório.{{sfn|Brecht|1985|p=194}}


[[Imagem:Forgiveness from Christ outweighs indulgences from the Pope.png|thumb|Xilogravura datada de 1525 na qual o perdão de Cristo supera as indulgências do papa.]]
1. Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.
As teses 30–34 tratam da desconfiança que Lutero possuía nos pregadores de indulgência que as ofereciam para os cristãos. Uma vez que ninguém sabe se uma pessoa está verdadeiramente arrependida, uma carta que assegura uma pessoa de seu perdão é perigosa. Nas teses 35 e 36, ele ataca a ideia de que uma indulgência torna o arrependimento desnecessário. Isso leva à conclusão de que a pessoa verdadeiramente arrependida, que só pode se beneficiar da indulgência, já recebeu o único benefício que a indulgência proporciona. Os cristãos verdadeiramente arrependidos, segundo Lutero, já foram perdoados de seus pecados e respectivas culpas.{{sfn|Brecht|1985|p=194}} Nas teses 37 e 38, ele deixa explícito que as indulgências não são necessárias para que os cristãos recebam todos os benefícios proporcionados por Cristo. As teses 39 e 40 argumentam que as indulgências tornam o verdadeiro arrependimento mais difícil. O verdadeiro arrependimento deseja a punição de Deus para com o pecado, mas as indulgências ensinam a evitar a punição, uma vez que esse é o propósito de comprar uma indulgência.{{sfn|Brecht|1985|p=195}}


Nas teses 41–47, Lutero critica as indulgências com base em que estas desencorajam obras de misericórdia por aqueles que as compram. Aqui ele começa a utilizar a frase "Deve-se ensinar aos cristãos que..." para indicar como ele acha que as pessoas devem ser instruídas sobre o valor das indulgências. Eles devem ser ensinados que dar aos pobres é incomparavelmente mais importante do que comprar indulgências, já que a compra de uma indulgência sem dar nada aos pobres provoca a ira de Deus, e fazer [[boas obras]] torna uma pessoa melhor, enquanto a compra de indulgências não provoca este efeito. Nas teses 48–52, Lutero discorre sobre o papel do papa, dizendo que se o papa soubesse o que estava sendo pregado em seu nome, ele "preferiria reduzir a cinzas a Basílica de São Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas."{{sfn|Brecht|1985|p=195}} As teses 53–55 são lamentações sobre as restrições na pregação da Palavra enquanto havia o oferecimento de indulgências.{{sfn|Waibel|2005|p=44}}
2. Esta penitência não pode ser entendida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).


Lutero critica a doutrina do [[tesouro do mérito]], ou tesouro da Igreja, que serve de base para a doutrina das indulgências, durante as teses 56–66. Ele afirma que os cristãos não entendem a doutrina verdadeira e estão sendo enganados, pois, para ele, o verdadeiro tesouro da Igreja é o [[Evangelho]] de Jesus Cristo.{{sfn|Brecht|1985|p=196}} No entanto, este tesouro acaba sendo odiado "pois faz com que os primeiros sejam os últimos", palavras de {{citar bíblia|Mateus|19|30}} e {{citar bíblia|Mateus|20|16}}.{{sfn|Wengert|2015a|p=22}} Lutero utiliza de [[metáfora]] e [[jogo de palavras]] para descrever os tesouros do evangelho como redes para pescarem homens de riqueza, enquanto os tesouros das indulgências são redes para pescar a riqueza dos homens.{{sfn|Brecht|1985|p=196}}
3. No entanto, ela não se refere apenas a uma penitência interior; sim, a penitência interior seria nula se, externamente, não produzisse toda sorte de mortificação da carne.


[[Imagem:Ninety-five Theses (Basel).jpg|thumb|Primeira página da impressão de 1517 das ''Teses'', distribuída na [[Basileia]] no formato de [[panfleto]].]]
4. Por consequência, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.
Durante as teses 67–80, Lutero discute ainda mais sobre os problemas causados pela forma como as indulgências estavam sendo pregadas, conforme carta que enviou ao Arcebispo Alberto. Os pregadores têm promovido indulgências como a maior das graças disponíveis na igreja, mas na verdade só promovem a ganância. Ele aponta que os bispos foram ordenados a oferecer reverência aos pregadores de indulgência que entram na sua jurisdição, mas os bispos também são acusados ​​de proteger seu povo de pregadores que pregam de forma contrária à intenção do papa.{{sfn|Brecht|1985|p=196}} Ele então ataca a crença supostamente propagada pelos pregadores de que a indulgência poderia perdoar alguém que violou a [[Virgem Maria]]. Lutero afirma que as indulgências não podem tirar a culpa nem do mais leve dos [[pecado venial|pecados veniais]]. Ele rotula várias outras supostas declarações dos pregadores de indulgência como [[blasfêmia]]: que [[São Pedro]] não poderia ter concedido uma indulgência maior do que a atual, e que a indulgência da cruz com as [[Brasões dos Papas|armas do papa]], insigneamente erguida, equivale à cruz de Cristo.{{sfn|Brecht|1985|p=197}}


Lutero enumera várias críticas feitas por leigos contra indulgências nas teses 81–91. Ele as apresenta como difíceis objeções que seus fiéis estão trazendo em vez de suas próprias críticas. Como ele deveria responder àqueles que perguntam por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas? O que ele deveria dizer àqueles que perguntam por que se mantém as exéquias e os [[requiem|aniversários dos falecidos]] e por que o papa não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos? Lutero afirmou que parecia estranho para alguns que pessoas piedosas no purgatório pudessem ser redimidas por pessoas ímpias e vivas. Lutero também menciona a questão de por que o papa, que é muito rico, requer dinheiro de crentes pobres para construir a Basílica de São Pedro. Ele afirma que ignorar estas questões significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.{{sfn|Brecht|1985|p=197}} Ele apela ao interesse financeiro do papa, dizendo que se os pregadores limitassem sua pregação de acordo com as posições de Lutero sobre as indulgências (o que ele alegava ser também a posição do papa), as objeções deixariam de ser relevantes.{{sfn|Brecht|1985|p=198}} Lutero encerra as ''Teses'' exortando os cristãos a imitar Cristo, mesmo que traga dor e sofrimento: "E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz."{{sfn|Brecht|1985|p=199}}
5. O papa não quer nem pode dispensar de quaisquer penas senão daquelas que impôs por decisão própria ou dos cânones.


== A intenção de Lutero ==
6. O papa não tem o poder de perdoar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados. Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria.
As ''Teses'' foram escritas como proposições a serem discutidas em uma [[disputa (escolástica)|disputa]] acadêmica formal, embora não hajam evidências de que tal evento tenha ocorrido.{{sfn|Brecht|1985|pp=199–200}} No cabeçalho das ''Teses'', Lutero convidou estudiosos interessados ​​de outras cidades para participarem.{{sfn|Leppin|Wengert|2015|p=388}} A realização de tal debate era um privilégio que Lutero tinha como doutor e não era uma forma incomum de investigação acadêmica.{{sfn|Brecht|1985|pp=199–200}} Lutero preparou vinte conjuntos de teses para disputa em Wittenberg entre 1516 e 1521.{{sfn|Hendrix|2015|p=61}} [[Andreas Karlstadt]] havia escrito um conjunto dessas teses em abril de 1517, e estas eram mais radicais em termos teológicos do que as de Lutero. Ele as postou na porta da Igreja do Castelo, como Lutero teria feito com as ''Noventa e Cinco Teses''. Karlstadt postou suas teses num momento em que as relíquias da igreja foram colocadas em exibição, e isso pode ter sido considerado um gesto provocativo. Da mesma forma, Lutero publicou as ''Noventa e Cinco Teses'' no [[Dia de Todos-os-Santos]], o dia mais importante do ano para a exibição de relíquias na Igreja do Castelo.{{sfn|McGrath|2011|pp=23–24}}


As teses de Lutero tinham como objetivo iniciar um debate entre acadêmicos, e não uma revolução popular, mas há indícios de que ele viu sua ação como profética e relevante.{{sfn|Hendrix|2015|p=61}} Nesta época, ele começou a usar o nome "Lutero" e às vezes "Eleutherius", tradução [[língua grega|grega]] para livre", em vez de "Luder". Isso parece referir-se ao fato de ele estar livre da teologia escolástica, a qual ele havia discutido contra naquele ano.{{sfn|Lohse|1999|p=101}} Mais tarde, Lutero afirmou não ter desejado que as Teses fossem amplamente distribuídas. [[Elizabeth Eisenstein]] argumentou que sua alegada surpresa em seu sucesso pode ter envolvido um engano consigo mesmo, e [[Hans Hillerbrand]] afirmou que Lutero certamente estava pretendendo instigar uma grande controvérsia.{{sfn|Cummings|2002|p=32}} Às vezes, Lutero parece usar a natureza acadêmica das ''Teses'' como um disfarce para permitir que ele possa atacar a crenças estabelecidas, sendo capaz de negar que ele pretendia atacar o ensino da igreja. Uma vez que escrever um conjunto de teses para uma disputa não compromete necessariamente o autor à essas opiniões, Lutero poderia negar que ele tinha as ideias mais polêmicas discorridas nas ''Teses''.{{sfn|Cummings|2002|p=35}}
7. Deus não perdoa a culpa de qualquer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.


== Distribuição e publicação ==
8. Os cânones penitenciais são impostos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.
Em 31 de outubro de 1517, Lutero enviou uma carta ao [[Arcebispo de Mainz]], [[Alberto de Brandemburgo]], sob cuja autoridade as indulgências estavam sendo vendidas. Na carta, Lutero se dirige ao arcebispo por um leal desejo de alertá-lo para os problemas pastorais criados pelos sermões de indulgência. Ele assume que Alberto não possui conhecimento do que está sendo pregado sob sua autoridade, e fala com preocupação que o povo está sendo levado para longe do evangelho, e que os pregadores de indulgência podem trazer vergonha ao nome de Alberto. Ele não condena as indulgências ou a doutrina atual sobre tais, nem mesmo os sermões que tinham sido pregados por eles, já que Lutero não os tinha visto em primeira mão. Em vez disso, ele afirma sua preocupação com os mal-entendidos do povo sobre as indulgências que acabaram sendo fomentadas pela pregação, como a crença de que qualquer pecado poderia ser perdoado por indulgências ou que a culpa, bem como a punição pelo pecado, poderiam ser perdoados por uma indulgência. Em um pós-escrito, Lutero escreveu que Alberto poderia encontrar algumas teses sobre o assunto anexadas com sua carta, de modo que ele pudesse ver a incerteza em torno da doutrina das indulgências, em contraste com os pregadores que explanavam tão confiantes os benefícios das indulgências.{{sfn|Brecht|1985|pp=190–192}}


[[Imagem:Der Anschlag von Luthers 95 Thesen.jpg|thumb|upright=1.3|esquerda|Esta pintura de [[Julius Hübner]] feita no século XIX sensacionaliza a afixação das ''Teses'' diante de uma multidão.]]
9. Por isso, o Espírito Santo nos beneficia através do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circunstância da morte e da necessidade.
Costumava-se, ao propor uma disputa, fazer com que as teses fossem publicadas pela imprensa universitária e postadas publicamente.{{sfn|Pettegree|2015|p=128}} Não existem cópias de uma impressão de Wittenberg sobre as ''95 Teses'' que ainda possa ser consultada, mas isso não é surpreendente, visto que Lutero não era famoso e a importância do documento não foi reconhecida.{{sfn|Pettegree|2015|p=129}}{{efn|O responsável pela impressão em Wittenberg era [[Johann Rhau-Grunenberg]]. Um exemplar de Rhau-Grunenberg sobre a "Disputa Contra a Teologia Escolástica", publicada apenas oito semanas antes das ''95 Teses'', foi descoberta em 1983.{{sfn|Pettegree|2015|p=97}} Seu formato é bastante similar à impressão de Nuremberg sobre as ''95 Teses'', sendo que provavelmente foi utilizada uma cópia da versão original de Wittenberg.{{sfn|Pettegree|2015|p=129}}}} Em Wittenberg, os estatutos universitários exigem que as teses sejam postas em cada porta da igreja da cidade, mas [[Filipe Melâncton]], que mencionou pela primeira vez a postagem das teses, só a fez na porta da Igreja do Castelo.{{efn|[[Georg Rörer]], clérigo de Lutero, afirmou em uma nota que Lutero havia afixado as teses na parte de todas as igrejas.}}{{sfn|Wengert|2015b|p=23}} Melâncton também afirmou que Lutero postou as teses em 31 de outubro, porém, isso está em conflito com as várias das declarações de Lutero sobre o curso dos acontecimentos.{{sfn|Brecht|1985|pp=199–200}} Lutero sempre alegou que ele trouxe suas objeções através de meios adequados, invés de incitar uma controvérsia pública.{{sfn|Marius|1999|p=138}} É possível que, enquanto Lutero posteriormente considerou a carta de 31 de outubro enviada à Alberto como o início da Reforma Protestante, ele não tenha afixado as ''Teses'' na porta de todas as igrejas até meados de novembro.{{sfn|Brecht|1985|pp=199–200}} Não obstante, as ''Teses'' tornaram-se bem conhecidas entre a elite intelectual de Wittenberg logo depois que Lutero as enviou para Alberto.{{sfn|Pettegree|2015|p=129}}


As ''Teses'' foram copiadas e distribuídas para as partes interessadas logo após Lutero enviar a carta para o Arcebispo Alberto.{{sfn|Hendrix|2015|p=62}} As ''Teses'' em [[latim]] foram impressas em um [[panfleto]] de quatro páginas na [[Basileia]], e em formato de [[cartaz]] em [[Leipzig]] e [[Nuremberg]].{{sfnm|Cummings|2002|1p=32|Hendrix|2015|2p=62}} Ao todo, várias cententas de cópias das ''Teses'' em latim foram impressas na Alemanha em 1517. [[Kaspar Nützel]], em Nuremberg, traduziu-as para a [[língua alemã]] mais tarde naquele ano,{{sfn|Hendrix|2015|p=62}} e cópias desta tradução foram enviadas para as localidades do país que possuíam interesse em ler o material, mas não sendo estas necessariamente impressas.{{sfn|Leppin|Wengert|2015|p=389}}{{efn|Nenhuma cópia da tradução alemã de 1517 ainda existe.{{sfn|Oberman|2006|p=191}}}}
10. Agem mal e sem conhecimento de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.


== Reações ==
11. Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.
Alberto parece ter recebido a carta de Lutero com as ''Teses'' no final de novembro. Pediu a opinião dos teólogos na [[Universidade de Mainz]] e conferiu com seus conselheiros. Seus conselheiros recomendaram que ele proibisse Lutero de pregar contra as indulgências devido aos disparates sobre as indulgências e as normas vigentes na época, e sendo assim, Alberto pediu tal ação na [[Santa Sé]].{{sfn|Brecht|1985|pp=205–206}} Em [[Roma]], Lutero foi imediatamente percebido como uma ameaça.{{sfn|Pettegree|2015|p=152}} Em fevereiro de 1518, o papa Leão solicitou ao chefe dos [[Ordem de Santo Agostinho|eremitas agostinianos]], a [[ordem religiosa]] de Lutero, para convencê-lo a parar de difundir suas ideias sobre indulgências.{{sfn|Brecht|1985|pp=205–206}} [[Silvestro Mazzolini]] também foi nomeado para escrever uma opinião que seria usado em um julgamento contra ele.{{sfn|Brecht|1985|p=242}} Mazzolini então redigiu ''Um Diálogo contra as Teses Presuntivas de Martinho Lutero sobre o Poder do Papa'', que se concentrou no questionamento de Lutero sobre a autoridade do papa, sem citar as suas queixas sobre a pregação das indulgências.{{sfn|Hendrix|2015|p=66}} Lutero recebeu uma convocação para Roma em agosto de 1518.{{sfn|Brecht|1985|p=242}} Ele respondeu com '' Explicações da Disputa sobre o Valor das Indulgências'', em que ele tentou se esclarecer da acusação de que ele estava atacando o papa.{{sfn|Hendrix|2015|p=66}} Ao apresentar suas opiniões mais amplamente, Lutero parece ter reconhecido que as implicações de suas crenças o afastavam do ensino oficial do que inicialmente sabia. Ele disse mais tarde que talvez não tivesse começado a controvérsia se soubesse até onde esta o conduziria.{{sfn|Marius|1999|p=145}} As ''Explicações'' foram conhecidas como a primeira obra da Reforma Protestante de Lutero.{{sfn|Lohse|1986|p=125}}


[[Imagem:Wittenberg Thesentuer Schlosskirche.JPG|thumb|esquerda|Estas portas comemorativas foram instaladas na [[Igreja do Castelo de Wittenberg]] no 375º aniversário de Lutero, em 1858.{{sfn|Stephenson|2010|p=17}}]]
12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.
Johann Tetzel respondeu às Teses solicitando que Lutero fosse queimado por praticar [[heresia]] e que o teólogo [[Konrad Wimpina]] escrevesse 106 teses contra a obra de Lutero. Tetzel defendeu estas em uma disputa perante [[Universidade Europeia Viadrina]] em janeiro de 1518.{{sfn|Brecht|1985|pp=206–207}} 800 exemplares da disputa impressa foram enviados para serem vendidos em Wittenberg, mas estudantes da Universidade as pegaram do livreiro e as queimaram. Lutero ficou cada vez mais temeroso de que a situação estivesse fora de controle e que ele estaria em perigo. Para aplacar seus oponentes, ele publicou ''[[Um Sermão Sobre a Indulgência e a Graça]]'', que não desafiou a autoridade do papa.{{sfn|Hendrix|2015|p=64}} Este panfleto, escrito em alemão, era muito curto e de fácil compreensão para os leigos.{{sfn|Leppin|Wengert|2015|p=389}} Sendo este o primeiro trabalho bem-sucedido de Lutero, acabou por ser reimpresso vinte vezes.{{sfn|Brecht|1985|pp=208–209}} Tetzel respondeu com uma refutação ponto-a-ponto, citando fortemente a Bíblia e teólogos importantes, porém, seu panfleto não era tão popular quanto o de Lutero.{{sfn|Hendrix|2015|p=65}}{{efn|O panfleto de Tetzel é intitulado ''Refutação Contra um Presunçoso Sermão de Vinte Artigos Errôneos''.{{sfn|Pettegree|2015|p=144}}}} A resposta de Lutero ao panfleto de Tetzel, por outro lado, foi outro sucesso de publicação.{{sfn|Pettegree|2015|p=145}}{{efn|A resposta de Lutero à ''Refutação'' de Tetzel é intitulada ''A Respeito da Liberdade do Sermão Sobre as Indulgências Papais e a Graça''.{{sfn|Brecht|1985|p=209}}}}


Outro crítico proeminente das Teses foi [[João Maier]], amigo de Lutero e teólogo da [[Universidade de Ingolstadt]]. Eck escreveu uma refutação, destinada ao [[Diocese de Eichstätt|bispo de Eichstätt]], intitulada ''Os Obeliscos''. O nome foi utilizado em referência aos [[obelisco]]s usados para marcar passagens heréticas em textos na Idade Média, sendo este um ataque pessoal áspero e inesperado, acusando Lutero de heresia e estupidez. Lutero respondeu em privado com ''Os Asteriscos'', intitulado após as marcas de [[asterisco]]s usadas para destacar textos importantes. A resposta de Lutero foi violenta e expressou a opinião que Maier não compreendeu a matéria que ele escreveu.{{sfn|Brecht|1985|p=212}} A disputa entre Lutero e Maier tornar-se-ia pública no [[debate de Leipzig]] em 1519.{{sfn|Hendrix|2015|p=65}}
13. Através da morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.


Lutero foi convocado pela autoridade do papa para defender-se contra acusações de heresia de [[Tomás Caetano]] em [[Augsburgo]], em outubro de 1518. Caetano não permitiu que Lutero discutisse com ele sobre suas supostas heresias, mas identificou dois pontos de controvérsia. A primeira foi contra a tese 58, que afirmava que o papa não podia usar o tesouro do mérito para perdoar a punição temporal do pecado.{{sfn|Hequet|2015|p=124}} Isto contradiz a bula pontifícia ''Unigênito'', promulgada por [[Papa Clemente VI|Clemente VI]] em 1343.{{sfn|Brecht|1985|p=253}} O segundo ponto era saber se alguém poderia ter certeza de que tinham sido verdadeiramente perdoados quando seus pecados foram absolvidos por um padre. As ''Explicações'' de Lutero sobre a tese sete afirmam que se poderia basear-se na promessa de Deus, mas Caetano argumentou que o humilde cristão nunca deve presumir estar certo de sua posição perante Deus.{{sfn|Hequet|2015|p=124}} Lutero se recusou a retrair-se e pediu que o caso fosse revisado por teólogos universitários. Este pedido foi negado, então Lutero apelou ao papa antes de sair de Augsburgo.{{sfn|Hequet|2015|p=125}} Lutero foi finalmente [[excomunhão|excomungado]] em 1521 depois que ele queimou [[Exsurge Domine|a bula pontifícia]] que o ameaçava a se retratar ou então receber a excomunhão.{{sfn|Brecht|1985|p=427}}
14. Saúde ou amor imperfeito no moribundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.


== Legado ==
15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purgatório, uma vez que estão próximos do horror do desespero.
[[Imagem:Göttlicher Schrifftmessiger print.jpg|thumb|upright=1.3|Impressão feita para o Jubileu da Reforma de 1617, exibindo Lutero escrevendo as ''Teses'' na igreja de Wittenberg com uma pena gigante.]]
A controvérsia sobre as indulgências desencadeada pelas ''Teses'' foi o início da [[Reforma Protestante]], um [[cisma]] na Igreja Católica que iniciou profundas e duradouras mudanças sociais e políticas na Europa.{{sfn|Dixon|2002|p=23}} Lutero declarou posteriormente que a questão das indulgências era insignificante em relação às controvérsias que ele iria enfrentar mais tarde, como o seu debate com [[Erasmo de Roterdão]] sobre o [[de serve arbitrio|livre arbítrio]], sendo que nem ele viu a controvérsia como importante para sua descoberta intelectual sobre o evangelho.{{sfn|McGrath|2011|p=26}} Mais tarde, Lutero escreveria que na época em que formulou as ''Teses'' ele permaneceu um "papista", e não parecia pensar que as ''Teses'' representariam uma ruptura com a [[doutrina da Igreja Católica|doutrina católica]] estabelecida.{{sfn|Marius|1999|p=138}} No entanto, foi fora da controvérsia das indulgências que o movimento intitulado Reforma começou, todavia a controvérsia propeliu Lutero para a posição de liderança que ele iria desempenhar nesse movimento.{{sfn|McGrath|2011|p=26}} As ''Teses'' também tornaram evidente que Lutero acreditava que a igreja não estava pregando corretamente e que isso colocava os leigos em grave perigo. Além disso, as teses contradiziam o decreto do [[Papa Clemente VI]], que afirmava que as indulgências são o tesouro da igreja. Este desprezo pela autoridade papal pressagiou conflitos posteriores.{{sfn|Wengert|2015a|pp=xliii–xliv}}


31 de outubro de 1517, o dia em que Lutero enviou suas teses à Alberto, foi comemorado como o início da Reforma já em 1527, momento em que Lutero e seus amigos brindaram com um copo de [[cerveja]] para comemorar o "pisoteio das indulgências".{{sfn|Stephenson|2010|pp=39–40}} A publicação das ''Teses'' foi estabelecida na historiografia da Reforma como o início do movimento de [[Filipe Melâncton]] na obra ''Historia de vita et actis Lutheri'' de 1548. Durante o Jubileu da Reforma de 1617, o centenário de 31 de outubro foi comemorado com uma procissão até a Igreja de Wittenberg, onde Lutero teria afixado as teses. Uma gravura foi feita mostrando Lutero escrevendo as ''Teses'' na porta da igreja com uma gigantesca pena, a qual penetra na cabeça de um [[leão]] que simboliza o Papa Leão X.{{sfn|Cummings|2002|pp=15–16}} Em 1668, 31 de outubro foi oficializado como o [[Dia da Reforma Protestante]], um festival anual no [[Eleitorado da Saxônia]] e que se espalhou para outras terras [[luteranismo|luteranas]].{{sfn|Stephenson|2010|p=40}}
16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o semidesespero e a segurança.


{{Notas}}
17. Parece necessário, para as almas no purgatório, que o horror devesse diminuir à medida que o amor crescesse.


{{Referências|col=4}}
18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem fora do estado de mérito ou de crescimento no amor.


== Bibliografia ==
19. Também parece não ter sido provado que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso.
{{refbegin|3}}
* {{citar livro|ultimo=Brecht |primeiro=Martin |autor=Martin Brecht |ano=1985 |anooriginal=1981 |titulo=Sein Weg zur Reformation 1483–1521 |lingua=alemão |titulotrad=Martinho Lutero: Seu Caminho para a Reforma 1483–1521 |outros=Traduzido por James L. Schaff |local=Minneapolis, MN |editora=Fortress |isbn=978-0-8006-2813-0 |url=https://www.questia.com/read/119881926/martin-luther-his-road-to-reformation-1483-1521 |subscricao=sim |via=[[Questia]] |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Cummings |primeiro=Brian |ano=2002 |titulo=The Literary Culture of the Reformation: Grammar and Grace |local=Oxford |editora=Oxford University Press |subscricao=sim |via=Oxford Scholarship Online |doi=10.1093/acprof:oso/9780198187356.001.0001 |url=http://www.oxfordscholarship.com/view/10.1093/acprof:oso/9780198187356.001.0001/acprof-9780198187356 |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Dixon |primeiro=C. Scott |ano=2002 |titulo=The Reformation in Germany |local=Malden, Massachusetts |editora=Blackwell |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Hendrix |primeiro=Scott H. |ano=2015 |titulo=Martin Luther: Visionary Reformer |local=New Haven, CT |editora=Yale University Press |isbn=978-0-300-16669-9 |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Hequet |primeiro=Suzanne |ano=2015 |capitulo=The Proceedings at Augsburg, 1518 |titulo=The Annotated Luther, Volume 1: The Roots of Reform |editor-ultimo=Wengert |editor-primeiro=Timothy J. |local=Minneapolis, MN |editora=Fortress |isbn=978-1-4514-6535-8 |urlcapitulo=http://muse.jhu.edu/chapter/1692338 |url=http://muse.jhu.edu/book/43325 |paginas=121–166 |subscricao=sim |via=[[Project MUSE]] |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Junghans |primeiro=Helmar |ano=2003 |capitulo=Luther's Wittenberg |editor-ultimo=McKim |editor-primeiro=Donald K. |editor-link=Donald McKim |titulo=Cambridge Companion to Martin Luther |local=Cambridge |editora=Cambridge University Press |paginas=20–36 |url=http://www.questia.com/read/107288031/the-cambridge-companion-to-martin-luther |subscricao=sim |via=[[Questia]] |ref=harv}}
* {{citar jornal |ultimo1=Leppin |primeiro1=Volker |ultimo2=Wengert |primeiro2=Timothy J. |ano=2015 |titulo=Sources for and against the Posting of the ''Ninety-Five Theses'' |jornal=Lutheran Quarterly |volume=29 |paginas=373–398 |url=http://www.lutheranquarterly.com/uploads/7/4/0/1/7401289/lq-95theses-leppin_wengert.pdf |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Lohse |primeiro=Bernhard |ano=1999 |anooriginal=1995 |titulo=Luthers Theologie in ihrer historischen Entwicklung und in ihrem systematischen Zusammenhang |lingua=alemão|titulotrad=Martin Luther's Theology: Its Historical and Systematic Development. Contributors |outros=Traduzido por Roy A. Harrisville |editora=Fortress |local=Minneapolis, MN |isbn=978-0-8006-3091-1 |url=https://www.questia.com/read/119871550/martin-luther-s-theology-its-historical-and-systematic |subscricao=sim |via=[[Questia]] |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Lohse |primeiro=Bernhard |ano=1986 |titulo=Martin Luther—Eine Einfubrung in sein Leben und sein Werk |anooriginal=1980 |titulotrad=Martin Luther: An Introduction to His Life and Work |outros=Traduzido por Robert C. Schultz |lingua=alemão|editora=Fortress |local=Minneapolis, MN |isbn=978-0-8006-0764-7 |url=https://www.questia.com/read/120338828/martin-luther-an-introduction-to-his-life-and-work |subscricao=sim |via=[[Questia]] |ref=harv}}
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* {{citar livro|ultimo=McGrath |primeiro=Alister E. |ano=2011 |titulo=Luther's Theology of the Cross: Martin Luther's Theological Breakthrough |editora=Wiley-Blackwell |local=Malden, MA |url=https://www.questia.com/read/123488797/luther-s-theology-of-the-cross-martin-luther-s-theological |subscricao=sim |via=[[Questia]] |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Noll |primeiro=Mark A. |autor=Mark A. Noll |ano=2015 |titulo=In the Beginning Was the Word: The Bible in American Public Life, 1492–1783 |local=Nova Iorque |editora=Oxford University Press |isbn=978-0-19-026398-0 |url=http://www.oxfordscholarship.com/view/10.1093/acprof:oso/9780190263980.001.0001/acprof-9780190263980 |doi=10.1093/acprof:oso/9780190263980.001.0001 |subscricao=sim |via=Oxford Scholarship Online |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Oberman |primeiro=Heiko A. |autor=Heiko A. Oberman |ano=2006 |anooriginal=1982 |titulo=Luther: Mensch zwischen Gott und Teufel |trans_titulo=Luther: Man Between God and the Devil |lingua=alemão|outros=Traduzido por Eileen Walliser-Schwarzbart |local=New Haven, CT |editora=Yale University Press |isbn=978-0-300-10313-7 |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Pettegree |primeiro=Andres |ano=2015 |titulo=Brand Luther |local=Nova Iorque |editora=Penguin |isbn=978-1-59420-496-8 |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Stephenson |primeiro=Barry |titulo=Performing the Reformation: Religious Festivals in Contemporary Wittenberg |local=Nova Iorque |editora=Oxford University Press |ano=2010 |via=Oxford Scholarship Online |doi=10.1093/acprof:oso/9780199732753.001.0001 |url=http://www.oxfordscholarship.com/view/10.1093/acprof:oso/9780199732753.001.0001/acprof-9780199732753 |subscricao=sim |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Waibel |primeiro=Paul R. |ano=2005 |titulo=Martin Luther: A Brief Introduction to His Life and Works |editora=Harlan Davidson |local=Wheeling, IL |isbn=978-0-88295-231-4 |url=https://www.questia.com/read/117981089/martin-luther-a-brief-introduction-to-his-life-and |subscricao=sim |via=[[Questia]] |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Wengert |primeiro=Timothy J. |ano=2015a |titulo=Martin Luther's Ninety-Five Theses: With Introduction, Commentary, and Study Guide |local=Minneapolis, MN |editora=Fortress |url=https://muse.jhu.edu/book/43237 |subscricao=sim |via=[[Project MUSE]] |ref=harv}}
* {{citar livro|ultimo=Wengert |primeiro=Timothy J. |ano=2015b |capitulo=[The 95 Theses or] Disputation for Clarifying the Power of Indulgences, 1517 |titulo=The Annotated Luther, Volume 1: The Roots of Reform |editor-ultimo=Wengert |editor-primeiro=Timothy J. |local=Minneapolis, MN |editora=Fortress |isbn=978-1-4514-6535-8 |urlcapitulo=http://muse.jhu.edu/chapter/1692334 |url=http://muse.jhu.edu/book/43325 |paginas=13–46 |subscricao=sim |via=[[Project MUSE]] |ref=harv}}
* {{citar jornal |ultimo=Wicks |primeiro=Jared |ano=1967 |titulo=Martin Luther's Treatise on Indulgences |jornal=Theological Studies |volume=28 |numero=3 |paginas=481–518 |url=http://cdn.theologicalstudies.net/28/28.3/28.3.2.pdf |ref=harv}}
{{refend}}


{{refbegin}}
20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.
{{refend}}

21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pessoa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.

23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.

24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promessa de absolvição da pena.

25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.

26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.

27. Pregam doutrina mundana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando [do purgatório para o céu].

28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resgatadas, como na história contada a respeito de São Severino e São Pascoal?

30. Ninguém tem certeza da veracidade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.

31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.

32. Serão condenados em eternidade, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salvação através de carta de indulgência.

33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indulgências do papa aquela inestimável dádiva de Deus através da qual a pessoa é reconciliada com Ele.

34. Pois aquelas graças das indulgências se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.

35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutrinas incompatíveis com o cristão.

36. Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência.

37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os benefícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina[2].

39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simultaneamente perante o povo a liberalidade de indulgências e a verdadeira contrição.[3]

40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abundância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto.[4]

41. Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do amor.[5]

42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a compra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.

43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.[6]

44. Ocorre que através da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.

45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.

46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.

47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.

48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar.

49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.

50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exações dos pregadores de indulgências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.

52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.

53. São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas.

54. Ofende-se a palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indulgências do que a ela.

55. A atitude do Papa necessariamente é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o Evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.

56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o povo de Cristo.

57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distribuem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.

58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.

59. S. Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.

60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem estes tesouros.

61. Pois está claro que, para a remissão das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente.

62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63. Mas este tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos.

64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.

65. Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.

66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.

67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendidas como tais, na medida em que dão boa renda.

68. Entretanto, na verdade, elas são as graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz.

69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostólicas.

70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa.

71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.

72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosidade das palavras de um pregador de indulgências.

73. Assim como o papa, com razão, fulmina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,

74. muito mais deseja fulminar aqueles que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade.

75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa.

77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atualmente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o Papa.

78. Dizemos contra isto que qualquer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o Evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em I.Coríntios XII.

79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insigneamente erguida, equivale à cruz de Cristo.

80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundidos entre o povo.

81. Essa licenciosa pregação de indulgências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos.

82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas –, se redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?

83. Do mesmo modo: Por que se mantêm as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos?

84. Do mesmo modo: Que nova piedade de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito?

85. Do mesmo modo: Por que os cânones penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?

86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos ricos mais Crassos, não constrói com seu próprio dinheiro ao menos esta uma Basílica de São Pedro, ao invés de fazê-lo com o dinheiro dos próprios fiéis?

87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação?

88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma concedesse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis?

89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?

90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.

91. Se, portanto, as indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.

92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo "Paz, paz!" sem que haja paz!

93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo "Cruz! Cruz!" sem que haja cruz!

94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, sua cabeça, através das penas, da morte e do inferno.

95. E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz.

[1517 D.C.]
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== Ver também ==
* [[Martinho Lutero]]
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* [[Selo de Lutero]]
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== Ligações externas ==
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Revisão das 16h54min de 14 de fevereiro de 2017

Impressão das 95 Teses em uma igreja de Nuremberg, atualmente disponível na Biblioteca Estadual de Berlim.

As 95 Teses ou Disputação do Doutor Martinho Lutero sobre o Poder e Eficácia das Indulgências (em latim: Disputatio pro declaratione virtutis indulgentiarum[a]) são uma lista de proposições para uma disputa acadêmica escritas em 1517 por Martinho Lutero, professor de teologia moral da Universidade de Wittenberg, Alemanha, as quais iniciaram a Reforma Protestante, um cisma da Igreja Católica que mudou profundamente a Europa. Tais teses discorrem sobre as posições de Lutero contra o que ele viu como práticas abusivas por pregadores que realizavam a venda de indulgências, que tinham por finalidade reduzir a punição temporal de pecados cometidos pelos próprios pecadores ou por algum de seus entes queridos no purgatório. Nas Teses, Lutero afirmou que o arrependimento requerido por Cristo para que os pecados sejam perdoados envolve o arrependimento espiritual interior e não meramente uma confissão sacramental externa. Ele argumentou que as indulgências levam os cristãos a evitar o verdadeiro arrependimento e a tristeza pelo pecado, acreditando que podem renunciá-lo comprando uma indulgência. Elas também, de acordo com Lutero, desencorajam os cristãos de dar aos pobres e realizarem outros atos de misericórdia, acreditando que os certificados de indulgência eram mais valiosos espiritualmente. Apesar de Lutero ter afirmado que suas posições sobre as indulgências estavam de acordo com as do papa, as teses desafiaram uma bula pontifícia do século XIV afirmando que o papa poderia usar o tesouro do mérito e as boas obras dos santos do passado para perdoar a punição temporal pelos pecados. As Teses são formuladas como proposições a serem discutidas em debate não representam necessariamente as opiniões de Lutero, porém ele as esclareceu posteriormente na obra Explicações da Disputa sobre o Valor das Indulgências.

Lutero enviou as Teses anexadas com uma carta à Alberto de Mainz, o Arcebispo de Mainz, em 31 de outubro de 1517, data que agora é considerada o início da Reforma Protestante e comemorado anualmente como Dia da Reforma Protestante. Lutero também pode ter postado as Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg e de outras igrejas em Wittenberg, de acordo com o costume da Universidade, em 31 de outubro, ou em meados de novembro. As Teses foram rapidamente reimpressas, traduzidas e distribuídas por toda a Alemanha e a Europa. Iniciou-se então uma guerra panfletária com o pregador de indulgências Johann Tetzel, contribuindo para a difusão da fama de Lutero. Os superiores eclesiásticos de Lutero o julgaram de heresia, o que culminou na sua excomunhão em 1521. Embora as Teses fossem o início da Reforma Protestante, Lutero não considerava as indulgências tão importantes como outras questões teológicas que dividiriam a igreja, como a justificação pela fé e o livre arbítrio. Sua descoberta acerca destas questões viria mais tarde, e ele não via a escrita das Teses como o ponto em que suas crenças divergiram daquelas da Igreja Católica.

Contexto

Martinho Lutero, professor de teologia moral da Universidade de Wittenberg e pregador na cidade, escreveu as 95 Teses contra a prática contemporânea da igreja com respeito às indulgências.[2] Na Igreja Católica, praticamente a única igreja cristã na Europa na época, as indulgências faziam parte do que era chamado de economia da salvação. Neste sistema, quando os cristãos pecam e confessam, eles são perdoados e não receberam mais uma punição eterna no inferno, mas podem ainda ser passíveis de castigo temporal.[3] Tal punição poderia ser quitada pelo penitente com a realização de obras de misericórdia.[4] Se esta punição temporal não for quitada durante a vida, ela precisaria ser no purgatório. Com uma indulgência (que pode ser traduzida como "bondade"), esta punição temporal poderia ser diminuída.[3] Com o abuso do sistema de indulgências, o clero se beneficiava com a venda destas, e o papa dava uma sanção oficial em troca de uma taxa.[5]

Xilogravura de uma venda de indulgências em uma igreja registrada em um panfleto de 1521.

Os papas são autorizados a conceder indulgências plenárias, que fornecem completo perdão para qualquer punição temporal restante devido aos pecados, estas compradas em nomes de pessoas que se acredita estarem no purgatório. Isto levou à criação do dito popular: "Assim que a moeda no cofre cai, a alma do purgatório sai", o qual foi criticado pelos teólogos da Universidade de Paris no final do século XV.[6] Os críticos mais antigos das indulgências incluíam a John Wycliffe, que negou que o papa tivesse jurisdição sobre o purgatório.[7] Jan Hus e seus seguidores defendiam um sistema mais severo de penitências, no qual as indulgências não estavam disponíveis.[8] Já os governantes políticos tinham interesse em controlar as indulgências porque as economias locais sofriam quando determinados territórios eram utilizados como pagamento das indulgências. Os governantes, muitas vezes, procuravam receber uma parte dos lucros ou das indulgências proibidas, como fez Jorge, Duque da Saxônia no Eleitorado da Saxônia de Lutero.[9]

Em 1515, o Papa Leão X concedeu uma indulgência plenária destinada a financiar a construção da Basílica de São Pedro em Roma, que seria aplicável a quase todos os pecados, com exceção do adultério e do roubo.[10] Todas as outras pregações de indulgência cessariam em um período de oito anos, enquanto esta estaria sendo oferecida à quem doasse valores para ajudar na construção do edifício. Aos pregadores de indulgência foram dadas instruções rigorosas de como as indulgências deveriam ser pregadas, sendo que estas deveriam ser muito mais laudatórias do que as indulgências anteriores.[11] Johann Tetzel foi o encarregado de pregar e oferecer esta indulgência em 1517, e esta sua campanha em cidades próximas à Wittenberg atraiu muitos dos moradores para viajarem a tais cidades para comprá-las, uma vez que sua venda havia sido proibida em Wittenberg e outras cidades saxônicas.[12]

Lutero também havia tido experiência com as indulgências relacionadas à Igreja do Castelo de Wittenberg.[13] Ao venerar a grande coleção de relíquias da igreja, qualquer um poderia receber uma indulgência.[14] Ele já pregava em 1514 contra o abuso das indulgências e o modo como eles barateavam a graça ao invés de exigir verdadeiro arrependimento.[15] Lutero ficou preocupado principalmente em 1517, quando os seus paroquianos, ao retornar da compra de indulgências oferecidas por Tetzel, afirmaram que eles não precisavam se arrepender e mudar as suas vidas para serem perdoados de seus pecados. Depois de escutar o que Tetzel discorria sobre as indulgências em seus sermões, Lutero começou a estudar cuidadosamente o assunto e contactar especialistas sobre o tema. Ele realizou diversas pregações em 1517 sobre as indulgências, sempre explicando que o verdadeiro arrependimento era mais eficaz do que a compra de uma indulgência.[16] Ele ensinou que receber uma indulgência pressupunha que o penitente havia se confessado e se arrependido, caso contrário de nada valia. Um pecador verdadeiramente arrependido também não procuraria uma indulgência, porque amava a justiça de Deus e desejava receber o castigo interior de seu pecado.[17] Estes sermões cessaram de ser pregados entre abril e outubro de 1517, presumivelmente enquanto Lutero estava escrevendo as 95 Teses.[18] Ele redigiu um Tratado sobre a indulgência e a graça no início do outono de 1517, sendo este um exame cauteloso e uma pesquisa sobre o assunto.[19] Ele contactou os líderes da igreja por meio de cartas, incluindo o seu superior Hieronymus Schulz, Bispo de Brandemburgo, alguns momentos antes do dia 31 de outubro, que foi quando ele enviou as 95 Teses para o Arcebispo Alberto de Mainz.[20]

Conteúdo

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A Wikisource contém fontes primárias relacionadas com 95 Teses

A primeira tese tornou-se famosa: "Ao dizer: "Fazei penitência", etc. (Mateus 4:17), o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência." Nas primeiras teses, Lutero desenvolve a ideia de arrependimento do cristão em uma luta interna contra o pecado, invés de um sistema externo de confissão sacramental.[21] As teses 5–7 então afirmam que o papa só possui o direito de libertar as pessoas de punições que ele mesmo impôs por decisões próprias ou dos cânones, e não da culpa do pecado. O papa só possui o direito de anunciar o perdão de Deus da culpa do pecado no nome dele.[22] Nas teses 14–29, Lutero desafiou a crenças comuns sobre o purgatório. As teses 14–16 discutem a ideia de que a punição do purgatório pode ser comparada ao medo e ao desespero sentidos pelas pessoas que morrem.[23] Nas teses 17–24, ele afirma que nada pode ser definitivamente dito sobre o estado espiritual das pessoas que se encontram no purgatório, e conclui nas teses 25 e 26 negando que o papa tenha qualquer poder sobre as pessoas no purgatório. Nas teses 27–29, ele ataca a ideia de que, assim que o pagamento é feito, a alma do ente querido do pagador é libertada do purgatório. Ele vê isso como uma maneira de encorajar a ganância pecaminosa, e diz que é impossível ter certeza porque somente Deus tem poder supremo em perdoar punições no purgatório.[24]

Xilogravura datada de 1525 na qual o perdão de Cristo supera as indulgências do papa.

As teses 30–34 tratam da desconfiança que Lutero possuía nos pregadores de indulgência que as ofereciam para os cristãos. Uma vez que ninguém sabe se uma pessoa está verdadeiramente arrependida, uma carta que assegura uma pessoa de seu perdão é perigosa. Nas teses 35 e 36, ele ataca a ideia de que uma indulgência torna o arrependimento desnecessário. Isso leva à conclusão de que a pessoa verdadeiramente arrependida, que só pode se beneficiar da indulgência, já recebeu o único benefício que a indulgência proporciona. Os cristãos verdadeiramente arrependidos, segundo Lutero, já foram perdoados de seus pecados e respectivas culpas.[24] Nas teses 37 e 38, ele deixa explícito que as indulgências não são necessárias para que os cristãos recebam todos os benefícios proporcionados por Cristo. As teses 39 e 40 argumentam que as indulgências tornam o verdadeiro arrependimento mais difícil. O verdadeiro arrependimento deseja a punição de Deus para com o pecado, mas as indulgências ensinam a evitar a punição, uma vez que esse é o propósito de comprar uma indulgência.[25]

Nas teses 41–47, Lutero critica as indulgências com base em que estas desencorajam obras de misericórdia por aqueles que as compram. Aqui ele começa a utilizar a frase "Deve-se ensinar aos cristãos que..." para indicar como ele acha que as pessoas devem ser instruídas sobre o valor das indulgências. Eles devem ser ensinados que dar aos pobres é incomparavelmente mais importante do que comprar indulgências, já que a compra de uma indulgência sem dar nada aos pobres provoca a ira de Deus, e fazer boas obras torna uma pessoa melhor, enquanto a compra de indulgências não provoca este efeito. Nas teses 48–52, Lutero discorre sobre o papel do papa, dizendo que se o papa soubesse o que estava sendo pregado em seu nome, ele "preferiria reduzir a cinzas a Basílica de São Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas."[25] As teses 53–55 são lamentações sobre as restrições na pregação da Palavra enquanto havia o oferecimento de indulgências.[26]

Lutero critica a doutrina do tesouro do mérito, ou tesouro da Igreja, que serve de base para a doutrina das indulgências, durante as teses 56–66. Ele afirma que os cristãos não entendem a doutrina verdadeira e estão sendo enganados, pois, para ele, o verdadeiro tesouro da Igreja é o Evangelho de Jesus Cristo.[27] No entanto, este tesouro acaba sendo odiado "pois faz com que os primeiros sejam os últimos", palavras de Mateus 19:30 e Mateus 20:16.[28] Lutero utiliza de metáfora e jogo de palavras para descrever os tesouros do evangelho como redes para pescarem homens de riqueza, enquanto os tesouros das indulgências são redes para pescar a riqueza dos homens.[27]

Primeira página da impressão de 1517 das Teses, distribuída na Basileia no formato de panfleto.

Durante as teses 67–80, Lutero discute ainda mais sobre os problemas causados pela forma como as indulgências estavam sendo pregadas, conforme carta que enviou ao Arcebispo Alberto. Os pregadores têm promovido indulgências como a maior das graças disponíveis na igreja, mas na verdade só promovem a ganância. Ele aponta que os bispos foram ordenados a oferecer reverência aos pregadores de indulgência que entram na sua jurisdição, mas os bispos também são acusados ​​de proteger seu povo de pregadores que pregam de forma contrária à intenção do papa.[27] Ele então ataca a crença supostamente propagada pelos pregadores de que a indulgência poderia perdoar alguém que violou a Virgem Maria. Lutero afirma que as indulgências não podem tirar a culpa nem do mais leve dos pecados veniais. Ele rotula várias outras supostas declarações dos pregadores de indulgência como blasfêmia: que São Pedro não poderia ter concedido uma indulgência maior do que a atual, e que a indulgência da cruz com as armas do papa, insigneamente erguida, equivale à cruz de Cristo.[29]

Lutero enumera várias críticas feitas por leigos contra indulgências nas teses 81–91. Ele as apresenta como difíceis objeções que seus fiéis estão trazendo em vez de suas próprias críticas. Como ele deveria responder àqueles que perguntam por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema necessidade das almas? O que ele deveria dizer àqueles que perguntam por que se mantém as exéquias e os aniversários dos falecidos e por que o papa não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos redimidos? Lutero afirmou que parecia estranho para alguns que pessoas piedosas no purgatório pudessem ser redimidas por pessoas ímpias e vivas. Lutero também menciona a questão de por que o papa, que é muito rico, requer dinheiro de crentes pobres para construir a Basílica de São Pedro. Ele afirma que ignorar estas questões significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.[29] Ele apela ao interesse financeiro do papa, dizendo que se os pregadores limitassem sua pregação de acordo com as posições de Lutero sobre as indulgências (o que ele alegava ser também a posição do papa), as objeções deixariam de ser relevantes.[30] Lutero encerra as Teses exortando os cristãos a imitar Cristo, mesmo que traga dor e sofrimento: "E que confiem entrar no céu antes passando por muitas tribulações do que por meio da confiança da paz."[31]

A intenção de Lutero

As Teses foram escritas como proposições a serem discutidas em uma disputa acadêmica formal, embora não hajam evidências de que tal evento tenha ocorrido.[32] No cabeçalho das Teses, Lutero convidou estudiosos interessados ​​de outras cidades para participarem.[33] A realização de tal debate era um privilégio que Lutero tinha como doutor e não era uma forma incomum de investigação acadêmica.[32] Lutero preparou vinte conjuntos de teses para disputa em Wittenberg entre 1516 e 1521.[34] Andreas Karlstadt havia escrito um conjunto dessas teses em abril de 1517, e estas eram mais radicais em termos teológicos do que as de Lutero. Ele as postou na porta da Igreja do Castelo, como Lutero teria feito com as Noventa e Cinco Teses. Karlstadt postou suas teses num momento em que as relíquias da igreja foram colocadas em exibição, e isso pode ter sido considerado um gesto provocativo. Da mesma forma, Lutero publicou as Noventa e Cinco Teses no Dia de Todos-os-Santos, o dia mais importante do ano para a exibição de relíquias na Igreja do Castelo.[35]

As teses de Lutero tinham como objetivo iniciar um debate entre acadêmicos, e não uma revolução popular, mas há indícios de que ele viu sua ação como profética e relevante.[34] Nesta época, ele começou a usar o nome "Lutero" e às vezes "Eleutherius", tradução grega para livre", em vez de "Luder". Isso parece referir-se ao fato de ele estar livre da teologia escolástica, a qual ele havia discutido contra naquele ano.[36] Mais tarde, Lutero afirmou não ter desejado que as Teses fossem amplamente distribuídas. Elizabeth Eisenstein argumentou que sua alegada surpresa em seu sucesso pode ter envolvido um engano consigo mesmo, e Hans Hillerbrand afirmou que Lutero certamente estava pretendendo instigar uma grande controvérsia.[1] Às vezes, Lutero parece usar a natureza acadêmica das Teses como um disfarce para permitir que ele possa atacar a crenças estabelecidas, sendo capaz de negar que ele pretendia atacar o ensino da igreja. Uma vez que escrever um conjunto de teses para uma disputa não compromete necessariamente o autor à essas opiniões, Lutero poderia negar que ele tinha as ideias mais polêmicas discorridas nas Teses.[37]

Distribuição e publicação

Em 31 de outubro de 1517, Lutero enviou uma carta ao Arcebispo de Mainz, Alberto de Brandemburgo, sob cuja autoridade as indulgências estavam sendo vendidas. Na carta, Lutero se dirige ao arcebispo por um leal desejo de alertá-lo para os problemas pastorais criados pelos sermões de indulgência. Ele assume que Alberto não possui conhecimento do que está sendo pregado sob sua autoridade, e fala com preocupação que o povo está sendo levado para longe do evangelho, e que os pregadores de indulgência podem trazer vergonha ao nome de Alberto. Ele não condena as indulgências ou a doutrina atual sobre tais, nem mesmo os sermões que tinham sido pregados por eles, já que Lutero não os tinha visto em primeira mão. Em vez disso, ele afirma sua preocupação com os mal-entendidos do povo sobre as indulgências que acabaram sendo fomentadas pela pregação, como a crença de que qualquer pecado poderia ser perdoado por indulgências ou que a culpa, bem como a punição pelo pecado, poderiam ser perdoados por uma indulgência. Em um pós-escrito, Lutero escreveu que Alberto poderia encontrar algumas teses sobre o assunto anexadas com sua carta, de modo que ele pudesse ver a incerteza em torno da doutrina das indulgências, em contraste com os pregadores que explanavam tão confiantes os benefícios das indulgências.[38]

Esta pintura de Julius Hübner feita no século XIX sensacionaliza a afixação das Teses diante de uma multidão.

Costumava-se, ao propor uma disputa, fazer com que as teses fossem publicadas pela imprensa universitária e postadas publicamente.[39] Não existem cópias de uma impressão de Wittenberg sobre as 95 Teses que ainda possa ser consultada, mas isso não é surpreendente, visto que Lutero não era famoso e a importância do documento não foi reconhecida.[40][b] Em Wittenberg, os estatutos universitários exigem que as teses sejam postas em cada porta da igreja da cidade, mas Filipe Melâncton, que mencionou pela primeira vez a postagem das teses, só a fez na porta da Igreja do Castelo.[c][42] Melâncton também afirmou que Lutero postou as teses em 31 de outubro, porém, isso está em conflito com as várias das declarações de Lutero sobre o curso dos acontecimentos.[32] Lutero sempre alegou que ele trouxe suas objeções através de meios adequados, invés de incitar uma controvérsia pública.[43] É possível que, enquanto Lutero posteriormente considerou a carta de 31 de outubro enviada à Alberto como o início da Reforma Protestante, ele não tenha afixado as Teses na porta de todas as igrejas até meados de novembro.[32] Não obstante, as Teses tornaram-se bem conhecidas entre a elite intelectual de Wittenberg logo depois que Lutero as enviou para Alberto.[40]

As Teses foram copiadas e distribuídas para as partes interessadas logo após Lutero enviar a carta para o Arcebispo Alberto.[44] As Teses em latim foram impressas em um panfleto de quatro páginas na Basileia, e em formato de cartaz em Leipzig e Nuremberg.[45] Ao todo, várias cententas de cópias das Teses em latim foram impressas na Alemanha em 1517. Kaspar Nützel, em Nuremberg, traduziu-as para a língua alemã mais tarde naquele ano,[44] e cópias desta tradução foram enviadas para as localidades do país que possuíam interesse em ler o material, mas não sendo estas necessariamente impressas.[46][d]

Reações

Alberto parece ter recebido a carta de Lutero com as Teses no final de novembro. Pediu a opinião dos teólogos na Universidade de Mainz e conferiu com seus conselheiros. Seus conselheiros recomendaram que ele proibisse Lutero de pregar contra as indulgências devido aos disparates sobre as indulgências e as normas vigentes na época, e sendo assim, Alberto pediu tal ação na Santa Sé.[48] Em Roma, Lutero foi imediatamente percebido como uma ameaça.[49] Em fevereiro de 1518, o papa Leão solicitou ao chefe dos eremitas agostinianos, a ordem religiosa de Lutero, para convencê-lo a parar de difundir suas ideias sobre indulgências.[48] Silvestro Mazzolini também foi nomeado para escrever uma opinião que seria usado em um julgamento contra ele.[50] Mazzolini então redigiu Um Diálogo contra as Teses Presuntivas de Martinho Lutero sobre o Poder do Papa, que se concentrou no questionamento de Lutero sobre a autoridade do papa, sem citar as suas queixas sobre a pregação das indulgências.[51] Lutero recebeu uma convocação para Roma em agosto de 1518.[50] Ele respondeu com Explicações da Disputa sobre o Valor das Indulgências, em que ele tentou se esclarecer da acusação de que ele estava atacando o papa.[51] Ao apresentar suas opiniões mais amplamente, Lutero parece ter reconhecido que as implicações de suas crenças o afastavam do ensino oficial do que inicialmente sabia. Ele disse mais tarde que talvez não tivesse começado a controvérsia se soubesse até onde esta o conduziria.[52] As Explicações foram conhecidas como a primeira obra da Reforma Protestante de Lutero.[53]

Estas portas comemorativas foram instaladas na Igreja do Castelo de Wittenberg no 375º aniversário de Lutero, em 1858.[54]

Johann Tetzel respondeu às Teses solicitando que Lutero fosse queimado por praticar heresia e que o teólogo Konrad Wimpina escrevesse 106 teses contra a obra de Lutero. Tetzel defendeu estas em uma disputa perante Universidade Europeia Viadrina em janeiro de 1518.[55] 800 exemplares da disputa impressa foram enviados para serem vendidos em Wittenberg, mas estudantes da Universidade as pegaram do livreiro e as queimaram. Lutero ficou cada vez mais temeroso de que a situação estivesse fora de controle e que ele estaria em perigo. Para aplacar seus oponentes, ele publicou Um Sermão Sobre a Indulgência e a Graça, que não desafiou a autoridade do papa.[56] Este panfleto, escrito em alemão, era muito curto e de fácil compreensão para os leigos.[46] Sendo este o primeiro trabalho bem-sucedido de Lutero, acabou por ser reimpresso vinte vezes.[57] Tetzel respondeu com uma refutação ponto-a-ponto, citando fortemente a Bíblia e teólogos importantes, porém, seu panfleto não era tão popular quanto o de Lutero.[58][e] A resposta de Lutero ao panfleto de Tetzel, por outro lado, foi outro sucesso de publicação.[60][f]

Outro crítico proeminente das Teses foi João Maier, amigo de Lutero e teólogo da Universidade de Ingolstadt. Eck escreveu uma refutação, destinada ao bispo de Eichstätt, intitulada Os Obeliscos. O nome foi utilizado em referência aos obeliscos usados para marcar passagens heréticas em textos na Idade Média, sendo este um ataque pessoal áspero e inesperado, acusando Lutero de heresia e estupidez. Lutero respondeu em privado com Os Asteriscos, intitulado após as marcas de asteriscos usadas para destacar textos importantes. A resposta de Lutero foi violenta e expressou a opinião que Maier não compreendeu a matéria que ele escreveu.[62] A disputa entre Lutero e Maier tornar-se-ia pública no debate de Leipzig em 1519.[58]

Lutero foi convocado pela autoridade do papa para defender-se contra acusações de heresia de Tomás Caetano em Augsburgo, em outubro de 1518. Caetano não permitiu que Lutero discutisse com ele sobre suas supostas heresias, mas identificou dois pontos de controvérsia. A primeira foi contra a tese 58, que afirmava que o papa não podia usar o tesouro do mérito para perdoar a punição temporal do pecado.[63] Isto contradiz a bula pontifícia Unigênito, promulgada por Clemente VI em 1343.[64] O segundo ponto era saber se alguém poderia ter certeza de que tinham sido verdadeiramente perdoados quando seus pecados foram absolvidos por um padre. As Explicações de Lutero sobre a tese sete afirmam que se poderia basear-se na promessa de Deus, mas Caetano argumentou que o humilde cristão nunca deve presumir estar certo de sua posição perante Deus.[63] Lutero se recusou a retrair-se e pediu que o caso fosse revisado por teólogos universitários. Este pedido foi negado, então Lutero apelou ao papa antes de sair de Augsburgo.[65] Lutero foi finalmente excomungado em 1521 depois que ele queimou a bula pontifícia que o ameaçava a se retratar ou então receber a excomunhão.[66]

Legado

Impressão feita para o Jubileu da Reforma de 1617, exibindo Lutero escrevendo as Teses na igreja de Wittenberg com uma pena gigante.

A controvérsia sobre as indulgências desencadeada pelas Teses foi o início da Reforma Protestante, um cisma na Igreja Católica que iniciou profundas e duradouras mudanças sociais e políticas na Europa.[67] Lutero declarou posteriormente que a questão das indulgências era insignificante em relação às controvérsias que ele iria enfrentar mais tarde, como o seu debate com Erasmo de Roterdão sobre o livre arbítrio, sendo que nem ele viu a controvérsia como importante para sua descoberta intelectual sobre o evangelho.[68] Mais tarde, Lutero escreveria que na época em que formulou as Teses ele permaneceu um "papista", e não parecia pensar que as Teses representariam uma ruptura com a doutrina católica estabelecida.[43] No entanto, foi fora da controvérsia das indulgências que o movimento intitulado Reforma começou, todavia a controvérsia propeliu Lutero para a posição de liderança que ele iria desempenhar nesse movimento.[68] As Teses também tornaram evidente que Lutero acreditava que a igreja não estava pregando corretamente e que isso colocava os leigos em grave perigo. Além disso, as teses contradiziam o decreto do Papa Clemente VI, que afirmava que as indulgências são o tesouro da igreja. Este desprezo pela autoridade papal pressagiou conflitos posteriores.[69]

31 de outubro de 1517, o dia em que Lutero enviou suas teses à Alberto, foi comemorado como o início da Reforma já em 1527, momento em que Lutero e seus amigos brindaram com um copo de cerveja para comemorar o "pisoteio das indulgências".[70] A publicação das Teses foi estabelecida na historiografia da Reforma como o início do movimento de Filipe Melâncton na obra Historia de vita et actis Lutheri de 1548. Durante o Jubileu da Reforma de 1617, o centenário de 31 de outubro foi comemorado com uma procissão até a Igreja de Wittenberg, onde Lutero teria afixado as teses. Uma gravura foi feita mostrando Lutero escrevendo as Teses na porta da igreja com uma gigantesca pena, a qual penetra na cabeça de um leão que simboliza o Papa Leão X.[71] Em 1668, 31 de outubro foi oficializado como o Dia da Reforma Protestante, um festival anual no Eleitorado da Saxônia e que se espalhou para outras terras luteranas.[72]

Notas

  1. Este título se encontra na impressão do panfleto da Basileia de 1517. As primeiras cópias das Teses usam de um incipit no lugar de um título que resuma o conteúdo. O cartaz de Nuremberg de 1517 introduz as Teses com Amore et studio elucidande veritatis: hec subscripta disputabuntur Wittenberge. Presidente R.P Martino Lutther ... Quare petit: vt qui non possunt verbis presentes nobiscum disceptare: agant id Uteris absentes. Lutero usualmente as chama de "meine Propositiones" (minhas proposições).[1]
  2. O responsável pela impressão em Wittenberg era Johann Rhau-Grunenberg. Um exemplar de Rhau-Grunenberg sobre a "Disputa Contra a Teologia Escolástica", publicada apenas oito semanas antes das 95 Teses, foi descoberta em 1983.[41] Seu formato é bastante similar à impressão de Nuremberg sobre as 95 Teses, sendo que provavelmente foi utilizada uma cópia da versão original de Wittenberg.[40]
  3. Georg Rörer, clérigo de Lutero, afirmou em uma nota que Lutero havia afixado as teses na parte de todas as igrejas.
  4. Nenhuma cópia da tradução alemã de 1517 ainda existe.[47]
  5. O panfleto de Tetzel é intitulado Refutação Contra um Presunçoso Sermão de Vinte Artigos Errôneos.[59]
  6. A resposta de Lutero à Refutação de Tetzel é intitulada A Respeito da Liberdade do Sermão Sobre as Indulgências Papais e a Graça.[61]

Referências

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