A abdicação é um instrumento político através do qual um monarca reinante ou pretendente real renuncia seus direitos ao trono, findando seu reinado ou até mesmo rejeitando o reino antes de ascender ou ser coroado. Ao longo da história, diversos monarcas abdicaram de seus tronos mediante as mais diversas situações políticas. Há monarcas que abdicaram de seus tronos em favor de um herdeiro mais jovem ou de maior aceitação popular e monarcas que foram forçados à abdicar em meio a uma crise política, sendo sucedidos por outra figura monárquica ou até mesmo por uma transição de regime.
Dentro de cada Estado monárquico, a abdicação é interpretada e regulamentada de uma maneira distinta. Em alguns países, o ato do monarca de abdicar é tido como sinal de crise real e visto negativamente pela população enquanto em outros países pode indicar um gesto de liderança para com seus súditos. Por exemplo, a abdicação de Eduardo VIII do Reino Unido em 1936 gerou uma crise política que só foi estabilizada com a coroação de seu irmão, Jorge VI. Mediante este cenário histórico, tornou-se uma tradição que monarcas britânicos nunca renunciem. Por outro lado, o Japão possui um longo histórico de monarcas que abdicaram voluntariamente em favor de um herdeiro mesmo em tempos de estabilidade política, como foi o caso mais recente de Akihito que deixou o trono para seu filho Naruhito em 2019.
Bajazeto II enfrentou uma disputa sucessória entre seus filhos Selim I e Şehzade Ahmet. Diante de uma iminente guerra sucessória em Constantinopla, Bajazeto II abdicou do trono em 1512 e se auto-exilou em Didimoteico.
Em 16 de janeiro de 1556, Carlos (V como Sacro Imperador Romano e I como Rei da Espanha) abdicou do trono espanhol em favor de seu filho, Filipe II. Também abdicou voluntariamente de suas posses germânicas e do título de Sacro Imperador Romano em favor de seu irmão Fernando I.
Em 1566, Maria I foi aprisionada por forças leais à sua prima, Isabel I, e forçada a abdicar em meio a uma grande crise interna. Em 1587, após mais de uma década de tentativas de reassumir o trono, Maria foi executada.
Nos anos finais de seu reinado, Cristina enfrentou uma onda de impopularidade por sua conversão secreta ao catolicismo e seu voto celibatário. Em 1654, diante do agravamento da crise política, Cristina abdicou do trono e exilou-se em Roma.
Após sucessivas derrotas militares, João II Casimiro passou a enfrentar oposição de seu irmão Henrique Júlio de Condé até que abdicou do trono em 1668 e exilou-se na França como abade.
Diante de uma grave crise política, Jaime II foi deposto e forçado à abdicação durante a Revolução Gloriosa em 1688. Em 1696, durante a Guerra dos Nove Anos, Jaime II tentou reassumir o trono mas foi capturado e retornou para o exílio na corte de Luís XIV de França, seu primo.
Ulrica Leonor assumiu o trono sueco em 1718 em meio a uma grande oposição por parte da nobreza que apoiava seu sobrinho Carlos Frederico. Em 1720, Ulrica Leonor abdicou do trono em favor de seu marido Frederico I.
Em 1724, Filipe V abdicou do trono em favor de seu filho Luís I diante da possibilidade de uma nova guerra de sucessão por ser herdeiro direto do trono francês após a morte de Filipe II, Duque d'Orleães no ano anterior.
Após promover reformas que desagradaram a nobreza, o clero e o exército, Pedro III conquistou a antipatia de quase todos os núcleos de Estado. Durante uma viagem, sua esposa, Catarina II, apoiada pela guarda imperial, ordenou a prisão de Pedro e, alguns dias depois, ele abdicou em nome do filho.
Miguel I abdicou formalmente do trono português para si e para seus descendentes através da Convenção de Évora Monte, que encerrou decisivamente a Guerra Civil Portuguesa. Meses após o reconhecimento da derrota, Maria II promulgou a Lei do Banimento, exilando Miguel I e seus descendentes do território português e sem qualquer possibilidade reivindicar o trono futuramente.
Guilherme I abdicou em favor de seu filho Guilherme II devido a conflitos políticos sobre a constituição do país e sua intenção em casar-se com a católica e belga Henriqueta d'Oultremont.
Após sofrer vários atentados, Luís Filipe I foi obrigado a adotar políticas mais rígidas e centralizadoras que desagradaram gradativamente a população francesa. Após a deflagração da Revolução de Fevereiro de 1848, Luís Filipe abdicou em favor de seu neto, Luís Filipe, Conde de Paris, que não foi reconhecido como monarca legítimo pelos revolucionários.
Durante os últimos anos de seu reinado, Constantino I enfrentou forte oposição do Primeiro-ministroEleftherios Venizelos sobre a possibilidade de envolvimento do país na Primeira Guerra Mundial. A discordância entre as duas figuras resultou uma forte crise civil em todo o país, conhecida como Cisma Nacional. Constantino I abdicou do trono diante da pressão internacional dos Aliados e foi sucedido por seu filho, Alexandre.
Nos últimos meses de seu reinado, Maria Adelaide enfrentou uma grande onda política e uma crítica internacional. Após uma onda de levantes republicanos, a monarca negociou com seu governo e abdicou em favor de sua irmã mais nova, Carlota, com a finalidade de manter a estabilidade da monarquia.
Guilherme II enfrentou forte oposição política interna após as sucessivas derrotas germânicas na Primeira Guerra Mundial. Suas tentativas fracassadas de conciliar seus interesses com as exigências do Reichstag culminaram no enfraquecimento de sua posição como monarca. Durante a Revolução de Novembro, forças políticas leais ao ChancelerFriedrich Ebert proclamaram oficialmente a República Alemã, forçando o exílio de Guilherme II nos Países Baixos, onde abdicou.
Eduardo VIII passou a enfrentar uma forte oposição dos setores mais conservadores da elite britânica e da própria família real diante de sua vontade expressa de casar-se morganaticamente com a socialiteWallis Simpson. Com o agravamento da crise de abdicação e a oposição irredutível de diversos setores da sociedade e governo britânicos, Eduardo VIII abdicou do trono em favor de seu irmão mais novo, Alberto, Duque de Iorque.
Após completar seu jubileu de ouro, Guilhermina abdicou voluntariamente do trono neerlandês em favor de sua filha, Juliana, em 1948, para tratar seus problemas de saúde.
Letsie III abdicou do trono em favor de seu pai, Moshoeshoe II, em 1995. No entanto, retornou ao trono no ano seguinte após a morte deste. É, desde então, o presente monarca do país.
Em 2004, Norodom Sihanouk buscou exílio na China e abdicou do trono em meio a uma complexa crise política. Seu filho Norodom Sihamoni foi eleito o monarca sucessor.