Lista de monarcas que abdicaram

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A abdicação é um instrumento político através do qual um monarca reinante ou pretendente real renuncia seus direitos ao trono, findando seu reinado ou até mesmo rejeitando o reino antes de ascender ou ser coroado. Ao longo da história, diversos monarcas abdicaram de seus tronos mediante as mais diversas situações políticas. Há monarcas que abdicaram de seus tronos em favor de um herdeiro mais jovem ou de maior aceitação popular e monarcas que foram forçados à abdicar em meio a uma crise política, sendo sucedidos por outra figura monárquica ou até mesmo por uma transição de regime.

Dentro de cada Estado monárquico, a abdicação é interpretada e regulamentada de uma maneira distinta. Em alguns países, o ato do monarca de abdicar é tido como sinal de crise real e visto negativamente pela população enquanto em outros países pode indicar um gesto de liderança para com seus súditos. Por exemplo, a abdicação de Eduardo VIII do Reino Unido em 1936 gerou uma crise política que só foi estabilizada com a coroação de seu irmão, Jorge VI. Mediante este cenário histórico, tornou-se uma tradição que monarcas britânicos nunca renunciem. Por outro lado, o Japão possui um longo histórico de monarcas que abdicaram voluntariamente em favor de um herdeiro mesmo em tempos de estabilidade política, como foi o caso mais recente de Akihito que deixou o trono para seu filho Naruhito em 2019.

Monarcas que abdicaram[editar | editar código-fonte]

Era moderna[editar | editar código-fonte]

Monarca Estado monárquico Coroação Abdicação Nota(s)
Go-Hanazono Japão 21 de janeiro de 1430 21 de agosto de 1464 Em 1464, abdicou do trono em favor de seu filho que viria a ser entronizado como Go-Tsuchimikado.
Bajazeto II Império Otomano 22 de maio de 1481 24 de abril de 1512 Bajazeto II enfrentou uma disputa sucessória entre seus filhos Selim I e Şehzade Ahmet. Diante de uma iminente guerra sucessória em Constantinopla, Bajazeto II abdicou do trono em 1512 e se auto-exilou em Didimoteico.
Carlos I Espanha 23 de janeiro de 1516 16 de janeiro de 1556 Em 16 de janeiro de 1556, Carlos (V como Sacro Imperador Romano e I como Rei da Espanha) abdicou do trono espanhol em favor de seu filho, Filipe II. Também abdicou voluntariamente de suas posses germânicas e do título de Sacro Imperador Romano em favor de seu irmão Fernando I.
Carlos V Sacro Império Romano-Germânico 28 de junho de 1519 27 de agosto de 1556
Maria I Escócia 9 de setembro de 1543 24 de julho de 1567 Em 1566, Maria I foi aprisionada por forças leais à sua prima, Isabel I, e forçada a abdicar em meio a uma grande crise interna. Em 1587, após mais de uma década de tentativas de reassumir o trono, Maria foi executada.
Cristina  Suécia 20 de outubro de 1650 6 de junho de 1654 Nos anos finais de seu reinado, Cristina enfrentou uma onda de impopularidade por sua conversão secreta ao catolicismo e seu voto celibatário. Em 1654, diante do agravamento da crise política, Cristina abdicou do trono e exilou-se em Roma.
João II Casimiro República das Duas Nações 19 de janeiro de 1649 16 de setembro de 1668 Após sucessivas derrotas militares, João II Casimiro passou a enfrentar oposição de seu irmão Henrique Júlio de Condé até que abdicou do trono em 1668 e exilou-se na França como abade.
Jaime II Inglaterra Inglaterra
Escócia
23 de abril de 1685 11 de dezembro de 1688 Diante de uma grave crise política, Jaime II foi deposto e forçado à abdicação durante a Revolução Gloriosa em 1688. Em 1696, durante a Guerra dos Nove Anos, Jaime II tentou reassumir o trono mas foi capturado e retornou para o exílio na corte de Luís XIV de França, seu primo.
Ulrica Leonor  Suécia 19 de março de 1719 29 de fevereiro de 1720 Ulrica Leonor assumiu o trono sueco em 1718 em meio a uma grande oposição por parte da nobreza que apoiava seu sobrinho Carlos Frederico. Em 1720, Ulrica Leonor abdicou do trono em favor de seu marido Frederico I.
Filipe V Espanha 1 de novembro de 1700 15 de janeiro de 1724 Em 1724, Filipe V abdicou do trono em favor de seu filho Luís I diante da possibilidade de uma nova guerra de sucessão por ser herdeiro direto do trono francês após a morte de Filipe II, Duque d'Orleães no ano anterior.
Vítor Amadeu II Sardenha 17 de fevereiro de 1720 3 de setembro de 1730 Em 1730, após um reinado de grandes conquistas territoriais, Vítor Amadeu II abdicou do trono em favor de seu filho Carlos Emanuel III.
Amade III Império Otomano 22 de agosto de 1703 20 de setembro de 1730 Em 1730, Amade III abdicou do trono diante do golpe liderado pelo janízaro Patrona Halil. Foi sucedido por seu filho Mamude I.
Pedro III Rússia 5 de janeiro de 1762 9 de julho de 1762 Após promover reformas que desagradaram a nobreza, o clero e o exército, Pedro III conquistou a antipatia de quase todos os núcleos de Estado. Durante uma viagem, sua esposa, Catarina II, apoiada pela guarda imperial, ordenou a prisão de Pedro e, alguns dias depois, ele abdicou em nome do filho.

Século XIX[editar | editar código-fonte]

Monarca Estado monárquico Coroação Abdicação Nota(s)
Pedro I Brasil 1 de dezembro de 1822 7 de abril de 1831 Pedro I (IV em Portugal) já era Imperador do Brasil quando sucedeu ao trono português em 1826 e, no mesmo ano, abdicou em favor de sua filha Maria da Glória. Em 1831, diante de uma grave crise política, abdicou do trono brasileiro em favor de seu filho, Pedro de Alcântara, e regressou a Portugal para reivindicar os direitos sucessórios de sua filha contra a ascensão de seu irmão, Miguel I.
Miguel I Portugal 11 de junho de 1828 26 de maio de 1834 Miguel I abdicou formalmente do trono português para si e para seus descendentes através da Convenção de Évora Monte, que encerrou decisivamente a Guerra Civil Portuguesa. Meses após o reconhecimento da derrota, Maria II promulgou a Lei do Banimento, exilando Miguel I e seus descendentes do território português e sem qualquer possibilidade reivindicar o trono futuramente.
Guilherme I  Países Baixos 16 de março de 1815 7 de outubro de 1840 Guilherme I abdicou em favor de seu filho Guilherme II devido a conflitos políticos sobre a constituição do país e sua intenção em casar-se com a católica e belga Henriqueta d'Oultremont.
Luís Filipe I França 9 de agosto de 1830 24 de fevereiro de 1848 Após sofrer vários atentados, Luís Filipe I foi obrigado a adotar políticas mais rígidas e centralizadoras que desagradaram gradativamente a população francesa. Após a deflagração da Revolução de Fevereiro de 1848, Luís Filipe abdicou em favor de seu neto, Luís Filipe, Conde de Paris, que não foi reconhecido como monarca legítimo pelos revolucionários.
Isabel II Espanha 10 de novembro de 1843 25 de junho de 1870 Isabel II buscou refúgio na França em 1868 após sua derrota na Revolução Gloriosa Espanhola e a subsequente instauração da República de Espanha. Entretanto, Isabel II abdicou formalmente do trono somente em 1870 em favor de seu filho, Afonso de Bourbon.

Século XX[editar | editar código-fonte]

Monarca Estado monárquico Coroação Abdicação Nota(s)
Nicolau II Rússia 26 de maio de 1846 15 de março de 1917 Nicolau II abdicou do trono russo em meio a uma profunda crise política gerada pela Revolução de Fevereiro, fase inicial da Revolução Russa de 1917. O monarca abdicou em favor de seu irmão, Miguel Alexandrovich, que recusou assumir o trono e levou ao encerramento abrupto de séculos de reinado da Casa de Romanov.
Constantino I Grécia 18 de março de 1913 11 de junho de 1917 Durante os últimos anos de seu reinado, Constantino I enfrentou forte oposição do Primeiro-ministro Eleftherios Venizelos sobre a possibilidade de envolvimento do país na Primeira Guerra Mundial. A discordância entre as duas figuras resultou uma forte crise civil em todo o país, conhecida como Cisma Nacional. Constantino I abdicou do trono diante da pressão internacional dos Aliados e foi sucedido por seu filho, Alexandre.
Maria Adelaide  Luxemburgo 18 de junho de 1912 14 de janeiro de 1919 Nos últimos meses de seu reinado, Maria Adelaide enfrentou uma grande onda política e uma crítica internacional. Após uma onda de levantes republicanos, a monarca negociou com seu governo e abdicou em favor de sua irmã mais nova, Carlota, com a finalidade de manter a estabilidade da monarquia.
Guilherme II Alemanha 15 de junho de 1888 9 de novembro de 1918 Guilherme II enfrentou forte oposição política interna após as sucessivas derrotas germânicas na Primeira Guerra Mundial. Suas tentativas fracassadas de conciliar seus interesses com as exigências do Reichstag culminaram no enfraquecimento de sua posição como monarca. Durante a Revolução de Novembro, forças políticas leais ao Chanceler Friedrich Ebert proclamaram oficialmente a República Alemã, forçando o exílio de Guilherme II nos Países Baixos, onde abdicou.
Eduardo VIII  Reino Unido 20 de janeiro de 1936 11 de dezembro de 1936 Eduardo VIII passou a enfrentar uma forte oposição dos setores mais conservadores da elite britânica e da própria família real diante de sua vontade expressa de casar-se morganaticamente com a socialite Wallis Simpson. Com o agravamento da crise de abdicação e a oposição irredutível de diversos setores da sociedade e governo britânicos, Eduardo VIII abdicou do trono em favor de seu irmão mais novo, Alberto, Duque de Iorque.
Guilhermina  Países Baixos 6 de novembro de 1898 4 de setembro de 1948 Após completar seu jubileu de ouro, Guilhermina abdicou voluntariamente do trono neerlandês em favor de sua filha, Juliana, em 1948, para tratar seus problemas de saúde.
Juliana  Países Baixos 6 de setembro de 1948 30 de abril de 1980 Em 1980, Juliana abdicou voluntariamente do trono neerlandês em favor de sua filha, Beatriz.
Carlota Luxemburgo 14 de janeiro de 1919 12 de novembro de 1964 Em 1964, após ficar afastada do governo por problemas de saúde, Carlota abdicou em nome de seu filho, João.
Letsie III Lesoto 12 de novembro de 1990 25 de janeiro de 1995 Letsie III abdicou do trono em favor de seu pai, Moshoeshoe II, em 1995. No entanto, retornou ao trono no ano seguinte após a morte deste. É, desde então, o presente monarca do país.

Século XXI[editar | editar código-fonte]

Monarca Estado monárquico Coroação Abdicação Nota(s)
João  Luxemburgo 12 de novembro de 1964 7 de outubro de 2000 Após um longo reinado, João abdicou do trono em 2000 e foi sucedido por seu filho Henrique.
Norodom Sihanouk Camboja Camboja 24 de setembro de 1993 7 de outubro de 2004 Em 2004, Norodom Sihanouk buscou exílio na China e abdicou do trono em meio a uma complexa crise política. Seu filho Norodom Sihamoni foi eleito o monarca sucessor.
Saad al-Abdullah Kuwait 5 de janeiro 2006 24 de janeiro 2006 Saad sucedeu a seu irmão, Jaber Al-Ahmad Al-Sabah, como Emir do Kuwait em 2006. Reinou por apenas nove dias antes de abdicar por problemas de saúde.
Beatriz  Países Baixos 30 de abril de 1980 30 de abril de 2013 Em 2013, Beatriz abdicou voluntariamente do trono neerlandês em favor de seu filho, Guilherme Alexandre.[1]
Margarida II Alemanha 14 de janeiro de 1972 14 de janeiro de 2024 Em 2024, no aniversário de 52 anos de reinado, Margarida abdicou voluntariamente do trono dinamarquês em favor de seu filho, Frederico X.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

Referências