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Arquipélago de São Pedro e São Paulo: diferenças entre revisões

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*[http://www.mares.io.usp.br/garp/The_First_Global_GARP_Experiment Primeira Visita do Navio Ocenográfico Brasileiro]
*[http://www.mares.io.usp.br/garp/The_First_Global_GARP_Experiment Primeira Visita do Navio Ocenográfico Brasileiro]
*[http://www.santoprotetor.com/sao-pedro-e-sao-paulo/ Bibliografia e Oração de São Pedro e São Paulo]

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Revisão das 18h02min de 1 de fevereiro de 2012

Arquipélago de São Pedro e São Paulo
Geografia física
País  Brasil
Localização Oceano Atlântico
Arquipélago São Pedro e São Paulo
Ponto culminante 18 m
Área 0,013  km²

Estação científica do arquipélago São Pedro e São Paulo / Brasil (Foto: SECIRM).
Mapa de localização e posicionamento geotectônico do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Oceano Atlântico Equatorial, segundo Sichel et al. (2008).
Ilhas do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, segundo Motoki et al. (2008)

O arquipélago de São Pedro e São Paulo é um conjunto de pequenas ilhas rochosas que se situa na parte central do oceano Atlântico equatorial, distando 627 quilômetros do arquipélago de Fernando de Noronha, 986 quilômetros do ponto mais próximo do continente e 1010 km a partir de Natal, no estado do Rio Grande do Norte.[1] Foi declarado como parte do território brasileiro, segundo o IBGE pertencente ao estado de Pernambuco, apesar de ser mais próximo do estado do Rio Grande do Norte.[2]

Em 1998, foi inaugurada a estação científica na ilha Belmonte, dando início ao Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo (Proarquipélago) sob administração da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM). A presença permanente de cientistas na estação científica é necessária para provar a habitabilidade no arquipélago, que é fundamental para obter o seu reconhecimento internacional como território brasileiro. Eventualmente radioamadores expedicionários apoiados pelas forças armadas efetuam contatos internacionais via rádio HF e satélite, reforçando a presença brasileira na região. Era chamado popularmente de "Penedo de São Pedro e São Paulo" ou "Rochedo de São Pedro e São Paulo", porém hoje em dia é chamado oficialmente de "Arquipélago de São Pedro e São Paulo". A rocha exposta é peridotito e peridotito serpentinizado, provavelmente originada de um megamullion tectonizado, sendo a única exposição mundial do manto abissal acima do nível do mar. O Arquipélago está no processo ativo de ascensão com taxa anual de soerguimento de 1.5 mm.

Localização

O Arquipélago de São Pedro e São Paulo está localizado na região equatorial do Oceano Atlântico, N00º55.1’, W29º20.7’, aproximadamente a 1010 quilômetros ao ENE da cidade de Natal, no estado do Rio Grande do Norte (RN). A área total emersa é de aproximadamente 13 mil m² à altitude máxima de 18 metros. É constituído por cinco ilhas maiores e numerosos rochedos, sendo um dos lugares mais inóspitos do país:

  • Ilha Belmonte (Sudoeste, Southwest): 5.380 m²
  • Ilha Challenger (São Paulo, Sudeste, Southeast): 3.000 m²
  • Ilha Nordeste (São Pedro, Northeast): 1.440 m²
  • Ilhota Cabral (Noroeste, Northwest): 1.170 m²
  • Ilhota Sul (South): 943 m²

Nenhum dos rochedos dispõe de água potável. Apenas a maior ilha possui vegetação, rasteira e rala. Os penedos servem de abrigo a diversas espécies de aves marinhas (Anous minutus, Anous stolidus e Sula leucogaster, por exemplo), que os cobrem com seus excrementos, formando o guano, um tipo de adubo orgânico natural. Outras espécies que podem ser relacionadas são os caranguejos (como o Grapsus grapsus) e diversos tipos de insetos e aranhas.

História

Caminho de Darwin, ao centro, o arquipélago.

As rochas foram descobertas acidentalmente por navegadores portugueses, quando a Armada de 20 de abril de 1511, composta por seis caravelas, sob o comando do Capitão-mor D. Garcia de Noronha, com destino à Índia, aí registou o seu primeiro naufrágio (de acordo com o Livro das Armadas, apenas duas das suas embarcações chegaram ao seu destino). Navegando em mar aberto, em noite fechada, ouviu-se de súbito o rugir das ondas, e antes que fosse possível qualquer providência, a "São Pedro", sob o comando do capitão Manuel de Castro Alcoforado, encontrava-se encalhada sobre um dos rochedos, com os fundos abertos. A tripulação foi resgatada por outra caravela da mesma esquadra, a "São Paulo", tendo o episódio dado o nome aos rochedos.[3]

Figuram pela primeira vez em um mapa espanhol de 1513, de autoria do navegador Juan da Nova Castello e, posteriormente, em 1529, em outro, do navegador português Diego Ribero.[3]

O primeiro desembarque registrado nos rochedos foi o do francês Bouvet du Losier (1738), seguido pelo do estadunidense Amasa Delano, no comando do "Perseverance" (1803) e pelo britânico George Criton, a bordo do "HMS Rhin".[3] O seu mais famoso visitante, porém, foi Charles Darwin, que ali desembarcou na manhã de 16 de fevereiro de 1832, na primeira parte de sua viagem ao redor do mundo, a bordo do "HMS Beagle".

As primeiras fotos dos rochedos foram feitas pela equipe do "Scotia", em viagem à Antártica em 1902. Pouco mais tarde, em 1911, a tripulação do "Deutschland" iniciou um estudo dos mesmos.[3] Por eles também passou o irlandês Ernest Henry Shackleton (1874-1922), a bordo do "Quest", em 1921 (expedição "Shackleton-Rowett 1921-1922").

Outros visitantes ilustres foram Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que ali amararam com o "Lusitânia" em 1922, para reabastecimento com o Cruzador República, da Marinha Portuguesa.

Em 1930, o navio "Belmonte", da Marinha do Brasil, instalou o primeiro farol, missão que levou um ano para ser concluída. Um terremoto destruiria parcialmente esse farol em 1933 e o atual farol foi inaugurado apenas em 1995.[3]

À época da Segunda Guerra Mundial, a àrea recebeu a visita de embarcações estadunidenses e, na década de 1960 de cientistas estrangeiros. O Brasil só passou a ocupar os rochedos de forma permanente a partir de 1996.[3]

Na noite de 31 de maio para 1 de junho de 2009, um acidente aéreo com o voo Air France 447, que saiu do Rio de Janeiro rumo a Paris, ocorreu nas proximidades do arquipélago, causando a morte das 228 pessoas que estavam a bordo do avião.

O Programa Arquipélago

Ficheiro:Base da Marinha Arquipélago de São Pedro e São Paulo.jpg
Base científica mantida pela Marinha do Brasil
Foto:Centro de Comunicação Social da Marinha.

Embora inóspito para a vida humana, o recente interesse pelo arquipélago decorreu da assinatura, pelo Brasil, da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), que no item 3 do artigo 121, reza: "Os rochedos que, por si próprios, não se prestam à habitação humana ou à vida econômica não devem ter Zona Econômica Exclusiva (ZEE) nem plataforma continental."

Embora o arquipélago sempre tenha sido objeto de pesquisas, visando determinar os seus recursos pesqueiros, assim como os parâmetros físico-químicos e biológicos das suas águas, bem como para coleta de dados meteorológicos, em 1995 a Marinha do Brasil iniciou ali a construção de um novo farol, visando reduzir a incidência de naufrágios naquelas águas, decorrentes da pouca visibilidade dos rochedos, que apresentam a altitude máxima de 18 metros, permanentemente batidos pelas ondas.

O primitivo farol havia sido iniciado na ilhota Belmonte em 1930, pela tripulação do Belmonte, sob o comando do Capitão-de-Fragata Álvaro Nogueira da Gama. O trabalho fora interrompido pela eclosão da Revolução de 1930, apenas sendo concluído em 1931, para ser destruído, provavelmente por um tremor tectônico, em 1933, sendo abandonado.

O atual farol localiza-se na Rocha Sudoeste. É automático, construído com fibra de vidro, e tem secção circular de um metro de diâmetro e seis metros de altura.

Na ocasião, foram também iniciados estudos para a construção de uma edificação que servisse de base a um grupo de pesquisa que se envolveria com a pesquisa oceanográfica e do meio-ambiente dos rochedos, instituindo-se o chamado Programa Arquipélago.

Com o apoio da Marinha, foram realizadas quatro viagens ao Arquipélago, procedendo-se o estudo de aspectos físico-ambientais, topográficos, de comportamento das aves, e outros, tendo como resultado a implantação da Estação Científica do Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ECASPSP), inaugurada em 1998.

Ali, numa edificação de madeira de 45 metros quadrados, equipes de quatro cientistas e pesquisadores revezam-se a cada 15 dias, com o apoio da Marinha do Brasil. As instalações compõem-se de uma cozinha, uma sala de refeições, centro de comunicações, quarto para quatro pessoas, quarto de banho e varanda. O telhado conta com painéis fotovoltaicos para geração de energia elétrica. À pequena distância, ergue-se um abrigo para os geradores e baterias, um equipamento de dessalinização da água do mar e outro abrigo para cilindros de oxigênio e de gás. Uma passarela liga a base ao ponto de embarque, servido por um turco. Entre os equipamentos científicos da base destaca-se um marégrafo.

Nos dias 5 e 6 de junho de 2006, a estação de pesquisas foi parcialmente destruída por forte ressaca. Porém, foi retomada imediatamente a reconstrução da estação, com base na nova estrutura.

Geologia

Morfologia submarina

Morfologia submarina em torno do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, cf. Motoki et al. (2008).

O Arquipélago de São Pedro e São Paulo situa-se na zona de expansão entre a Placa Sul-Americana e a Placa Africana. O sistema da falha transformante de São Paulo (Saint Paul Transform Fault System) é uma das maiores falhas transformantes do Oceano Atlântico, em que ocorre em total 630 quilômetros de descontinuidade dos segmentos da cadeia meso-oceânica. Esta é uma das regiões mais profundas do Oceano Atlântico e algumas localidades têm mais de 5000 metros de profundidade. A morfologia abissal apresenta que o Arquipélago situa-se no topo de uma elevação morfológica submarina, com comprimento de 100 quilômetros, largura de 20 quilômetros e altura aproximada de 3800 metros a partir do fundo do oceano, denominada Cadeia Peridotítica de São Pedro e São Paulo. Sendo diferentes de vulcões submarinos, esta saliência é constituída por duas elevações tabulares orientadas segundo leste-oeste, apresentando uma forma similar a Brachiosaurus cuja cabeça é direcionada a leste. Nos flancos do Arquipélago, a partir do nível do mar até 1000 metros de profundidade, ocorrem taludes de alto ângulo, em torno de 50º de inclinação. Não se observa uma plataforma submarina extensa de pequena profundidade em torno do Arquipélago. Ao sul do Arquipélago existe uma escarpa vertical com altura maior do que 2000 metros. Essas morfologias submarinas instáveis sugerem que o soerguimento do Arquipélago foi originado de um tectonismo recente, o que está em continuação até o presente.

Morfologia das ilhas

Duas plataformas de abrasão marinha observadas na Ilha Belmonte, conforme Motoki et al. (2008)

O mapa de seppômen das três maiores ilhas do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Belmonte, Challenger e Nordeste mostra a existência de plataforma de abrasão marinha, com altitude de 6 a 9 m. Considerando a plataforma como do Flandriano, há cerca de 6000 anos, calcula-se a taxa de soerguimento atual de 1,5 mm por ano. As datações carbono 14 para os fósseis de coral condizem com esta estimativa (Motoki et al., 2009).

Rocha ultramáfica serpentinizada

Peridotito serpentinizado altamente fraturado da Ilha Belmonte, segundo Sichel et al. (2008a)

A rocha constituinte do Arquipélago de São Pedro e São Paulo não é basalto, mas peridotito serpentinizado, uma rocha ultramáfica. Havia a interpretação de que esta rocha seria originada de magma de alta temperatura derivado do manto, formando um corpo intrusivo. Entretanto, pesquisas recentes demonstraram que esta rocha ultramáfica não é de origem magmática crustal, mas a rocha do manto exposta diretamente na superfície da Terra sem cobertura da crosta oceânica (Wiseman, 1966; Hekinian et al., 2000; Sichel et al., 2008). O Arquipélago de São Pedro e São Paulo corresponde à única localidade do Oceano Atlântico em que o manto abissal está exposto acima do nível do mar.

Soerguimento do Arquipélago por tectonismo ativo

Os artigos científicos revelam que as rocha ultramáfica do manto abissal expostas no Arquipélago de São Pedro e São Paulo são, provavelmente, originado de megamullion. Entretanto, em comparação com outros magamullions, a cadeia peridotítica de São Pedro e São Paulo é grande demais. Este fato é devido ao soerguimento tectônico ativo que ocorreu após a sua exposição no fundo do oceano, há em torno de 7 milhões de anos. Portanto, o surgimento como ilhas é um acontecimento geológico muito recente, em torno de 100 a 200 mil anos. A velocidade de soerguimento atual acima citada é 1.5 mm por ano, sendo que, esta velocidade é muito rápido como um movimento tectônico. O movimento tectônico é causada pela pressão norte-sul, causada pela forma não linear da falha transformante São Paulo e o movimento sinistral entra as placas América do Sul e África. O soerguimento que começõu há 7 milhões de anos está em aceleração e continuará até o futuro para 7 milhões de anos.

Referências

  1. Distâncias obtidas usando o software Google Earth
  2. Tesouro submerso, Revista Veja, agosto de 2005.
  3. a b c d e f Ilhas do Brasil: Uma terra incógnita e cobiçada. O Globo, 13 de outubro de 2008, p. 24.

  • Souza, J.E.B. 2006. O arquipélago de São Pedro e São Paulo. Rio de Janeiro, Revista do Clube Naval', 115-340, 70-72.
  • Andrade, F.G.G., Simões, L.S.A., Campos, T.F.C., Silva, A.J.C.A. 2007. Padrão estrutural da foliação milonítica do Arquipélago de São Pedro e São Paulo. Anais do 11º Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos, 5th International Symposium of Tectonics of the SBG. Natal, 233.
  • Bonatti, E. 1990. Subcontinental mantle exposed in the Atlantic Ocean on St Peter-Paul islets. Nature, 345, 800-802.
  • Campos, T.F.C., Virgens Neto, J., Amorim, V.A., Hartmann, L.A., Petta, R.A. 2003. Modificações metassomáticas das rochas milonitizadas do complexo ultramáfico do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Atlântico Equatorial. Geochimica Brasiliensis, 17-2, 81-90.
  • Campos, T.F.C., Virgens Neto, J., Costa, L.S., Petta, R.A., Sousa, L.C., Silva, F.O. 2007. Sistema de diaclasamento do Arquipélago de São Pedro e São Paulo (Atlântico Equatorial) como indicador de movimentação destral associado à falha transformante de São Paulo. Anais do 11º Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos, 5th International Symposium of Tectonics of the SBG. Natal, 238.
  • Campos, T.F.C., Virgens Neto, J., Srivastava, N.K., Petta, R.A., Harmann, L.A., Moraes, J.F.S., Mendes, L., Silveira, S.R.M. 2005. Arquipélago de São Pedro e São Paulo e São Paulo, soeerguimento tectônico de rochas infracrustais no Oceano Atlântico. Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil, SIGEP 002, UNB, 12p. [1], Acesso em 31 de dezembro de 2006.
  • Hekinian, R., Juteau, T., Gracia, E., Udintsev, G., Sichler, B., Sichel, S.E., Apprioual, R. 2000. Submersible observations of Equatorial Atlantic Mantle: The St. Paul Frature Zone region. Marine Geophysical Research, 21, 529-560.
  • Melson, W.G., Jarosewich, E., Bowen, V.T., Thompsonm G. 1967. St. Peter and St. Paul rocks: a high-temperature mentle-derived intrusion. Science, 155. 1532-1535.
  • Moraes, J.F.S., Linden, E.M., Moraes, F.A.B. 1997. Planta topográfica do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, escala 1:500. CPRM - Serviço Geológico do Brasil.
  • Motoki, A., Sichel, S.E., Campos, T.F.C., Srivastava, N.K., Soares, R.S. 2009. Taxa de soerguimento atual do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Oceano Atlântico Equatorial. Revista Escola de Minas, 62-3. 331-342.
  • Sichel, S.E., Esperança, S., Motoki, A., Maia, M., Horan, M.F., Szatmari, P., Alves, E.C., Mello, S.L.M. 2008. Geophysical and geochemical evidence for cold upper mantle beneath the Equatorial Atlantic Ocean. Revista Brasileira de Geofísica, 26-1, 69-86.
  • Virgens Neto, J., Campos, T.F.C. 2007. A influência da zona de fratura São Paulo no contexto estrutural do Arquipélago de São Pedro e São Paulo - Atlântico Equatorial. Anais do 11º. Simpósio Nacional de Estudos Tectônicos, 5th International Symposium of Tectonics of the SBG. Natal, 294-295.
  • Wiseman, J. D. H. 1966. St Paul´s Rocks and the Problem of the Upper Mantle. Geophysical Journal of the Royal Astronomical Society, 11, 519-525.

Ver também

Ligações externas