Garcia de Noronha

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Garcia de Noronha
Garcia de Noronha
Vice-rei da Índia
Período 15381540
Antecessor(a) Nuno da Cunha
Sucessor(a) Estêvão da Gama
Dados pessoais
Nascimento 1479
Morte 3 de abril de 1540 (61 anos)
Progenitores Mãe: Constança de Albuquerque
Pai: Fernando de Noronha
Brasão de Armas da família Noronha.

D. Garcia de Noronha (Lisboa,1479Cochim, 3 de abril de 1540), foi um fidalgo e estadista português, trineto do Rei D. Fernando I. Foi o terceiro vice-rei e o décimo governador da Índia (1537), já no final da sua carreira e vida. Na sua primeira viagem à Índia (1511 - 1512), terá avistado a ilha de Santa Helena.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

D. Garcia de Noronha era filho de D. Fernando de Noronha e de sua mulher Constança de Castro (irmã de Afonso de Albuquerque[2]), neto paterno de D. Pedro de Noronha, Arcebispo de Lisboa, e de Branca Dias Perestrelo, filha do primeiro casamento de Bartolomeu Perestrelo com Branca Dias.[3]

Na sua primeira estadia no Oriente, de 1512 a 1516, foi capitão-mor do mar da Índia, cargo imediatamente abaixo do de vice-rei, na altura este era exercido por seu tio materno, Afonso de Albuquerque, com o qual esteve nas conquistas de Goa, Ormuz e Calecute e cujo governo secundou.

Foi fidalgo do Conselho de D. Manuel I e D. João III, 1.° senhor do Cartaxo e alcaide-mor do Castelo do Cartaxo, moço fidalgo e depois cavaleiro fidalgo da Casa Real, e tinha de moradia 6 500 reais por mês quando no início de 1538 regressou à Índia, na nau Espírito Santo, para tomar posse como vice-rei.

D. Garcia foi considerado «um dos maiores homens de Portugal» ou, como diziam na Índia, «o mais ousado doudo de Portugal», e a sua vida é tratada pelo cronistas, nomeadamente João de Barros, Damião de Góis, Fernão Lopes de Castanheda e Brás de Albuquerque, além de ser referido por Luís Vaz de Camões nos «Lusíadas».

Primeira estadia no Oriente (1512 - 1516)[editar | editar código-fonte]

Serviu no Norte de África e partiu a primeira vez para a Índia em 1511 como capitão-mor da armada desse ano, de seis naus.

A ilha de Santa Helena[editar | editar código-fonte]

Nessa viagem, segundo o cronista Gaspar Correia, terá avistado a ilha de Santa Helena e os seus pilotos colocaram-na nos seus mapas. De acordo com o historiador A. R. Disney, esse acontecimento terá sido decisivo para transformar Santa Helena numa escala regular para as armadas que regressavam da Índia para Portugal, desde essa data até o século XVII.[1]

Capitão-mor do Mar da Índia[editar | editar código-fonte]

Chegou a Cochim em agosto de 1512, onde seu tio, o governador Afonso de Albuquerque, logo o nomeou capitão-mor do Mar da Índia[2]. Notabilizou-se na conquista de Benastarim, na expedição ao Mar Roxo e nas negociações com o rei de Calecute. São de 1 de Outubro de 1513 os capítulos que fez D. Garcia de Noronha com o rei de Calecute, pelos poderes concedidos por Afonso de Albuquerque, capitão-mor e governador das Índias. O pacto concluído nessa data previa o pagamento de indemnizações de guerra por Calecute, estabelecia as condições de acesso português à compra de especiarias e estipulava que seria edificada uma fortaleza portuguesa na cidade.[2]

Foi depois capitão-mor de Ormuz, em cuja conquista esteve e cuja fortaleza mandou construir.

Regresso e Portugal e missões em Marrocos (1516 - 1538)[editar | editar código-fonte]

Em 1516 regressou a Portugal, onde permaneceu 22 anos, como conselheiro de D. Manuel I e senhor e alcaide-mor do Cartaxo. Esteve no casamento de D. Manuel I com D. Leonor e «foi hum dos Fidalgos que lhe beijarao a mão».

Quando o rei de Marrocos cercou Safim com um exército de 90 000 homens, D. João III nomeou D. Garcia de Noronha (em 1534) capitão-mor de armada que partiu para o Norte de África para combater a ameaça, o que conseguiu, obrigando o rei de Marrocos a levantar o cerco e ficando como capitão-mor e governador de Safim.

Vice-Rei da Índia (1538 - 1540)[editar | editar código-fonte]

Já nomeado vice-rei, partiu de novo para a Índia em 1538, como capitão-mor da armada desse ano, de dez naus, e um ordenado de 8 000 cruzados e levando com ele 114 dos principais fidalgos do reino.

Datada de 29 de Outubro de 1539, enviou D. Garcia de Noronha, vice-rei da Índia, uma interessante carta ao secretário de Estado António Carneiro, onde dá notícias de Ormuz e Baçaim e comenta o governo e decadência do Estado da Índia, sobretudo por causa das armadas e dos ofícios da fazenda real, concluindo que, estando ele com 44 anos de serviço e muito velho, se via sem forças para sustentar esse governo.

Esta situação viria contudo a piorar, após a sua morte, quando lhe sucedeu no governo da Índia D. Estêvão da Gama., como se pode deduzir do conteúdo de uma carta dirigida ao rei, em 3 de Novembro de 1540, 7 meses após a morte de D. Garcia, por Sebastião Garcez. A carta dá conta da grande desordem que havia na Índia depois do falecimento do vice-rei D. Garcia, afirmando que, depois de entrar no governo, D. Estêvão da Gama, teria introduzido na feitoria toda a fazenda que tinha, vendendo-a por maior preço e exercitando ainda outras "violências".

D. Garcia de Noronha tentou colocar alguma ordem no uso e abuso de privilégios em Goa, do que resultou queixa dos moradores para o rei, existindo um longo traslado de 11 de Outubro de 1539 do agravo que interpuseram por o vice-rei lhes não guardar os privilégios, graças e franquezas que D. Manuel I lhes concedeu, como também Afonso de Albuquerque, em nome do dito senhor, e que contém as respostas que o vice-rei deu.

Morreu em Cochim, em 3 de abril de 1540, indo sepultar à Sé de Goa, onde está no centro da capela-mor, numa magnífica lápide negra com as armas dos Noronha e a seguinte inscrição, em letra redonda com feição gótica: «Aqui jaz Dom Garcia de Noronha Viso Rei que foi da Imdia. Faleceo nesta cidade de Goa aos 3 dias dabril da era de 1540».

Casamento e descendência[editar | editar código-fonte]

Casou-se, c. 1515, com sua prima D. Inês de Castro, filha de D. Álvaro de Castro[4], senhor do Paul do Boquilobo, e irmã de D. João de Castro, vice-rei da Índia (1545 - 1548).[3]

Deste casamento teve geração, cuja representação ficou na sua bisneta D. Joana de Noronha (c. 1571 - c. 1610), que casou em Aveiro, c. 1589, com Sebastião de Sousa de Meneses, senhor das casas de Pentieiros e Francemil[5] - com descendência, nos condes de Bertiandos, nos senhores da Trofa, etc.[6][7]

Referências

  1. a b Disney, A. R. (2016). The Portuguese in India and other studies, 1500-1700. New York: Routledge. p. 217-219. ISBN 978-1138-49378-0 
  2. a b c Pelúcia, Alexandra (2016). Afonso de Albuquerque - Corte, Cruzada e Império 1ª edição ed. Lisboa: Círculo de Leitores. p. 68, 236, 251. ISBN 978-989-644-337-5 
  3. a b Manuel Abranches de Soveral (1998). Sangue Real - aditamentos. Porto: Edição do Autor ISBN 972-97430-1-0. p. 22. Branca Dias (Perestrello) ... filha de Bartolomeu Perestrello e de sua 1ª mulher Branca Dias. Aquela Branca Dias (Perestrello) terá nascido entre 1418 e 1420, tendo 18 a 20 anos de idade à data do 1º filho, em cuja legitimação vem referida apenas como Branca Dias 
  4. Freire, Anselmo Braamcamp (1921). Brasões da Sala de Sintra - Livro Segundo. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 212 a 
  5. Felgueiras Gaio. «Biblioteca Nacional Digital. Nobiliário de Famílias de Portugal, Títulos de Souzas». purl.pt. p. 34. Consultado em 29 de agosto de 2021 
  6. Soveral, Manuel Abranches de (1999). «A Casa da Trofa». Edição do Autor. Consultado em 28 de julho de 2019 
  7. Soveral, Manuel Abranches de. «Cristóvão Mendes de Carvalho - História de um alto magistrado quinhentista e de sua família». "Fragmenta Historica" - Revista do Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa: 88 - 89. Consultado em 2 de junho de 2021 

Precedido por
Luís de Loureiro
Capitão de Safim
1534
Sucedido por
Jorge de Noronha
Precedido por
Nuno da Cunha
Vice-Rei da Índia Portuguesa
15381540
Sucedido por
Estêvão da Gama