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Estoicismo: diferenças entre revisões

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A ética estoica defende uma perspectiva determinista. Com relação àqueles que não têm a virtude estoica, Cleanto uma vez opinou que o homem ímpio é "como um cão amarrado a uma carroça, obrigado a ir para onde ela vai".<ref name="russell254"/> Já um estoico de virtude, por sua vez, alteraria a sua vontade para se adequar ao mundo e permanecer, nas palavras de Epicteto, "doente e ainda feliz, em perigo e ainda assim feliz, morrendo e ainda assim feliz, no exílio e feliz, na desgraça e feliz",<ref name="russell264"/> assim afirmando um desejo individual "completamente autónomo" e, ao mesmo tempo, um universo que é "um todo rigidamente determinista".
A ética estoica defende uma perspectiva determinista. Com relação àqueles que não têm a virtude estoica, Cleanto uma vez opinou que o homem ímpio é "como um cão amarrado a uma carroça, obrigado a ir para onde ela vai".<ref name="russell254"/> Já um estoico de virtude, por sua vez, alteraria a sua vontade para se adequar ao mundo e permanecer, nas palavras de Epicteto, "doente e ainda feliz, em perigo e ainda assim feliz, morrendo e ainda assim feliz, no exílio e feliz, na desgraça e feliz",<ref name="russell264"/> assim afirmando um desejo individual "completamente autónomo" e, ao mesmo tempo, um universo que é "um todo rigidamente determinista".


O estoicismo se tornou a filosofia mais popular entre as elites educadas do mundo helenístico e do Império Romano,{{harvRef|Amos|1982}} a ponto de, nas palavras de Gilbert Murray, "quase todos os sucessores de [[Alexandre, o Grande|Alexandre]] [...] declararem-se estoicos."{{harvRef|Murray|1915|p=25}}
O estoicismo se tornou a filosofia mais popular entre as elites educadas do mundo helenístico e do Império Romano,{{harvRef|Amos|1982}} a ponto de, nas palavras de Gilbert Murray, "quase todos os sucessores de [[Alexandre, o Grande|Alexandre]] [...] declararem-se estoicos."{{harvRef|Murray|1915|p=25}} No planalto, terra de filosofos gregos romanos.


== História ==
== História ==

Revisão das 13h27min de 24 de março de 2014

Busto de Zenão de Cítio (334 a.C. - 262 a.C.), fundador do estoicismo, em Atenas, na Grécia
Busto de Crisipo de Solis (c. 279 a.C. - c. 206 a.C.)
Busto de Sêneca (4 a.C. - 65) em Córdoba, na Espanha
Retrato de Epiteto (55 - 135) na capa de uma tradução inglesa de 1751 do Manual de Epiteto
Busto do imperador romano Marco Aurélio (121 - 180)

O estoicismo (do grego Στωικισμός) é uma escola de filosofia helenística fundada em Atenas por Zenão de Cítio no início do século III a.C. Os estoicos ensinavam que as emoções destrutivas resultam de erros de julgamento, e que um sábio, ou pessoa com "perfeição moral e intelectual", não sofreria dessas emoções.[1] O estoicismo afirma que todo o universo é corpóreo e governado por um Logos divino (noção que os estoicos tomam de Heráclito e desenvolvem). A alma está identificada com este princípio divino como parte de um todo ao qual pertence. Este logos (ou razão universal) ordena todas as coisas: tudo surge a partir dele e de acordo com ele, graças a ele o mundo é um kosmos (termo grego que significa "harmonia").

O estoicismo propõe se viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao ser. O homem sábio obedece à lei natural, reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo, devendo, assim, manter a serenidade perante tanto as tragédias quanto as coisas boas. A partir disso, surgem duas consequências éticas: deve-se "viver conforme a natureza": sendo a natureza essencialmente o logos, essa máxima é prescrição para se viver de acordo com a razão. Sendo a razão aquilo por meio do que o homem torna-se livre e feliz, o homem sábio não apreende o seu verdadeiro bem nos objetos externos, mas usando estes objetos através de uma sabedoria pela qual não se deixa escravizar pelas paixões e pelas coisas externas.

Os estoicos preocupavam-se com a relação activa entre o determinismo cósmico e a liberdade humana, e com a crença de que é virtuoso manter uma vontade (denominada prohairesis) que esteja de acordo com a natureza. Por causa disso, os estoicos apresentaram a sua filosofia como um modo de vida, e pensavam que a melhor indicação da filosofia de uma pessoa não era o que teria dito mas como se teria comportado.

Estoicos mais tardios, como Séneca e Epicteto, enfatizaram que porque a "virtude é suficiente para a felicidade", um sábio era imune aos infortúnios. Esta crença é semelhante ao significado de calma estoica, apesar de essa expressão não incluir as visões "éticas radicais" estoicas de que apenas um sábio pode ser verdadeiramente considerado livre, e que todas as corrupções morais são todas igualmente viciosas.[1] O estoicismo floresceu na Grécia com Cleantes de Assos e Crisipo de Solis, sendo levado a Roma no ano 155 a.C. por Diógenes de Babilônia. Ali, seus continuadores foram Marco Aurélio, Séneca, Epiteto e Lucano.

O estoicismo foi uma doutrina que sobreviveu todo o período da Grécia Antiga, até o Império Romano, incluindo a época do imperador Marco Aurélio, até que todas as escolas filosóficas foram encerradas em 529 por ordem do imperador Justiniano I, que percepcionou as suas características pagãs, contrária à fé cristã[2][3]

A escola estoica preconizava a indiferença à dor de ânimo causada pelos males e agruras da vida. Reunia seus discípulos sob pórticos ("stoa", em grego) situados em templos, mercados e ginásios. Foi bastante influenciada pelas doutrinas cínica e epicurista, além da influência de Sócrates.

Princípios básicos do Estoicismo

Os estoicos apresentavam uma visão unificada do mundo, consistindo de uma lógica formal, uma física não dualista e uma ética naturalista. Dentre estes, eles enfatizavam a ética como o foco principal do conhecimento humano, embora suas teorias lógicas fossem de mais interesse para os filósofos posteriores.

O estoicismo ensina o desenvolvimento do autocontrole e da firmeza como um meio de superar emoções destrutivas. Defende que tornar-se um pensador claro e imparcial permite compreender a razão universal (logos). Um aspecto fundamental do estoicismo envolve a melhoria da ética do indivíduo e de seu bem-estar moral: "A virtude consiste em um desejo que está de acordo com a natureza".[5] Este princípio também se aplica ao contexto das relações interpessoais; "libertar-se da raiva, da inveja e do ciúme"[6] e aceitar até mesmo os escravos como "iguais aos outros homens, porque todos os homens são igualmente produtos da natureza".[7]

A ética estoica defende uma perspectiva determinista. Com relação àqueles que não têm a virtude estoica, Cleanto uma vez opinou que o homem ímpio é "como um cão amarrado a uma carroça, obrigado a ir para onde ela vai".[5] Já um estoico de virtude, por sua vez, alteraria a sua vontade para se adequar ao mundo e permanecer, nas palavras de Epicteto, "doente e ainda feliz, em perigo e ainda assim feliz, morrendo e ainda assim feliz, no exílio e feliz, na desgraça e feliz",[6] assim afirmando um desejo individual "completamente autónomo" e, ao mesmo tempo, um universo que é "um todo rigidamente determinista".

O estoicismo se tornou a filosofia mais popular entre as elites educadas do mundo helenístico e do Império Romano,[8] a ponto de, nas palavras de Gilbert Murray, "quase todos os sucessores de Alexandre [...] declararem-se estoicos."[9] No planalto, terra de filosofos gregos romanos.

História

Por volta de 301 a.C., Zenão de Cítio ensinou filosofia na Stoa Poikile, lugar a partir do qual o nome da filosofia se originou.[10] Ao contrário de outras escolas de filosofia, como a dos epicuristas, Zenão escolheu ensinar a sua filosofia num espaço público, que era uma colunata com vista para o local central de manifestação da opinião pública, a Ágora de Atenas.

As ideias de Zenão desenvolveram-se a partir do cinismo, cujo fundador, Antístenes, foi um discípulo de Sócrates. O seguidor mais influente de Zenão foi Crisipo de Solis, responsável pela moldagem do que actualmente é denominado estoicismo. Estoicos posteriores, da época do Império Romano, focaram o aspecto da promoção de uma vida em harmonia com o universo, sobre o qual não se tem controlo directo.

Os académicos dividem, normalmente, a história de estoicismo em três fases:

  • A primeira (estoicismo antigo) desenvolveu-se no século III a.C., com Zenão de Cítio, Cleanto, Crisipo de Solis e Antíprato de Tarso, se preocupando com a lógica, a física, a metafísica e a moral.
  • Na segunda (estoicismo médio), o pensamento estoico combinou-se com o espírito romano. Foi representado por Panécio de Rodes (180 a.C. - 110 a.C.) e Possidónio (135 a.C. - 51 a.C.).
  • A terceira (estoicismo imperial ou novo estoicismo), com representantes como: Caio Musónio Rufo, Séneca (nascido no início da era cristã e falecido em 65 d.C., Epicteto (50 d.C. - 125 d.C.) e Marco Aurélio (121 d.C. - 180 d.C.), que foi imperador romano em 161 d.C. As obras de Séneca, Epicteto e Marco Aurélio propagaram o estoicismo no mundo ocidental. A última época do estoicismo, ou período romano, caracteriza-se pela sua tendência prática e religiosa, fortemente acentuada como se verifica nos "Discursos" e no "Enchiridion" de Epiteto e nos "Pensamentos" ou "Meditações" de Marco Aurélio.

Não sobreviveu até a actualidade qualquer obra completa de um filósofo estoico das duas primeiras fases. Apenas textos romanos da última fase nos chegaram completos.[11]

Epistemologia

Os estoicos acreditavam que o conhecimento pode ser atingido através do uso da razão. A verdade pode ser distinguida da falácia, mesmo que, na prática, apenas uma aproximação possa ser efectuada. De acordo com os estoicos, os sentidos recebem constantemente sensações: pulsações que passam dos objectos através dos sentidos em direcção à mente, onde deixam uma impressão na imaginação (phantasia). Uma impressão originária da mente era designada de phantasma.[12]

A mente tem a capacidade de julgar (sunkatathesis) — aprovar ou rejeitar — uma impressão, permitindo que possa ser feita uma distinção entre uma verdadeira representação da realidade de uma falsa. Algumas impressões podem ter um assentimento imediato, enquanto que outras podem apenas atingir diferentes graus de aprovação hesitante, que podem ser chamadas de crenças ou opiniões (doxa). É apenas através da razão que podemos atingir uma clara compreensão e convicção (katalepsis). A certeza e o conhecimento verdadeiro (episteme), alcançável pelo sábio estoico, podem apenas ser atingidos pela verificação da convicção com a experiência dos pares e pelo julgamento colectivo da humanidade.

Filosofia social

Uma característica distintiva do estoicismo é o seu cosmopolitismo: todas as pessoas seriam manifestações do espírito universal único e deveriam, de acordo com os estoicos, em amor fraternal, ajudarem-se uns ao outros de maneira eficaz. Nos Discursos, Epicteto comenta sobre a relação do ser humano com o mundo: "cada ser humano é, primeiro, um cidadão da sua comunidade; mas também é membro da grande cidade dos homens e deuses..."[14] Este sentimento ecoa o de Diógenes de Sínope, que disse "Eu não sou nem ateniense nem coríntio, mas um cidadão do mundo."[15]

Apoiavam a ideia de que as diferenças externas, como status e riqueza, não são importantes nas relações sociais. Em vez disso, advogavam a irmandade da humanidade e a natural igualdade do ser humano. O estoicismo tornou-se a mais influente escola do mundo greco-romano. O estoicismo produziu uma grande quantidade de escritores e personalidades de renome, como Catão, o Jovem e Epicteto.

Em particuos estoicos eram notados pela sua defesa à clemência aos escravos. Séneca exortava: "Lembra-te com simpatia de que aquele a quem chamas de escravo veio da mesma origem, os mesmos céus lhe sorriem, e, em iguais termos, contigo respira, vive e morre."[16]

Referências

  1. a b «Stoicism» (em inglês). Stanford Encyclopedia of Philosophy. Consultado em 15 de janeiro de 2012 
  2. Agathias. Histories, 2.31.
  3. David, Sedley (1998). «Ancient philosophy». In: E. Craig. Routledge Encyclopedia of Philosophy. Consultado em 18 de outubro de 2008 
  4. Epicteto, Discursos, i.15.2, tradução para o inglês de Robin Hard.
  5. a b Russell 2004, p. 254.
  6. a b Russell 2004, p. 264.
  7. Russell 2004, p. 253.
  8. Amos 1982.
  9. Murray 1915, p. 25.
  10. Becker 2003, p. 27.
  11. A.A.Long, Hellenistic Philosophy, p.115.
  12. Diógenes Laércio (2000). Lives of eminent philosophers. Cambridge, MA: Harvard University Press  VII.49
  13. Meditações, iii. 11.
  14. Epicteto, Discursos, ii. 5. 26
  15. Epicteto, Discursos, i. 9. 1
  16. Séneca, Epístolas, xlvii. 10

Bibliografia

  • Amos, H (1982). These Were the Greeks (em inglês). Chester Springs: Dufour Editions. ISBN 9780802312754. OCLC 9048254 
  • Becker, Lawrence (2003). A History of Western Ethics (em inglês). Nova Iorque: Routledge. ISBN 978-0-415-96825-6 
  • Murray, Gilbert (1915). The Stoic Philosophy. In Russell, Bertrand. A History of Western Philosophy (1946) (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  • Sellars, John (2006). Stoicism (em inglês). Berkeley/Los Angeles: University of California Press. 219 páginas. ISBN 978-0-520-24908-0 
  • Russell, Bertrand (2004). A History of Western Philosophy (em inglês) 2 ed. [S.l.]: Routledge. 778 páginas. ISBN 9780415325059. Consultado em 15 de janeiro de 2012 


Ligações externas

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