Australopithecus: diferenças entre revisões

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Australopithecus (do [[Latim]] australis 'do sul', e [[Língua grega|Grego]] πίθηκος (pithekos) 'macaco'), é um gênero de [[Hominidae|Hominídeo]] extinto, que existiu entre o Plioceno e o Pleistoceno, na África. Sendo muito pŕoximos, evolutivamente, ao gênero [[Homo]], seu estudo é de vital importância para a compreensão da evolução humana.
Os '''australopitecos''' (''Australopithecus'') ([[Latim]] ''australis'' "do sul", [[Língua grega|Grego]] ''pithekos'' "macaco") constituem um [[gênero (biologia)|género]] de diversos [[hominídeo]]s [[extinção|extintos]], bastante próximos aos do género ''[[Homo]]'' e, dentre eles, o ''A. afarensis'' e o ''A. africanus'' são os mais famosos. O ''A. africanus'', primeiro descrito por [[Raymond Dart]], com base no "[[Criança de Taung|crânio Infantil de Taung]]", datado em 2,5 a 2,9 milhões de anos, foi considerado durante muito então o [[ancestral]] direto do género ''Homo'' (em especial da espécie ''[[Homo erectus]]'').


As espécies mais conhecidas são A. africanus e A. afarensis, sendo que o primeiro espécime do gênero foi descoberto em 1924 , na África do Sul, descrito por [[Raymond Dart]], que considerou o fóssil (crânio da [[criança de Taung]]) como um ancestral dos Homo <ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/48138863|título=Human evolution : an illustrated introduction|ultimo=Lewin|primeiro=Roger|data=1999|editora=Blackwell Science|edicao=4th ed|local=Malden, Mass.|oclc=48138863}}</ref>.
As descobertas recentes de outros [[fóssil|fósseis]] de hominídeos, mais antigos que o ''A. africanus'' e que, contudo, parecem pertencer ao género ''Homo'', colocaram em dúvida aquela teoria: ou o género ''Homo'' se separou do ''Australopithecus'' anteriormente do que se pensava (o ancestral comum mais antigo que se conhece pode ser o ''A. afarensis'' ou outro ainda mais antigo), ou então ambos se desenvolveram independentemente a partir dum outro ancestral comum, ainda desconhecido.


== Anatomia ==
Os australopitecíneos parecem ter aparecido há cerca de 3,9 milhões de anos. Os [[cérebro]]s da maior parte das espécies de ''Australopithecus'' conhecidas eram 35% menores que o do [[Homo sapiens]] e os próprios animais tinham pequeno tamanho, geralmente não mais de 1,2 m de altura. Em diversas espécies é considerável o grau de dimorfismo sexual, machos sendo maiores que as fêmeas. Os seres humanos modernos não parecem exibir o mesmo grau de dimorfismo sexual que os Australopithecus tinham. Em populações modernas, os machos são, em média, apenas 15% maiores que as fêmeas, enquanto que nos Australopithecus, os machos poderiam ser até 50% maiores que as fêmeas. Além disso, modelos termorreguladores sugerem que as espécies de ''Australopithecus'' eram completamente cobertas de pelo, mais como [[chimpanzé]]s e [[bonobo]]s, ao contrário dos humanos moderno. O nome da gênero significa "Macaco Austral".


=== Crânio ===
O registro fóssil parece indicar que o género ''Australopithecus'' é o ancestral comum do grupo de hominídeos distintos reconhecidos nos géneros ''[[Paranthropus]]'' e ''Homo''. Ambos géneros eram formados por seres mais avançados no seu comportamento e hábitos que os ''Australopithecus'', sendo que estes eram praticamente tão [[inteligente]]s quanto os chimpanzés. Contudo, apenas os representantes do género ''Homo'' viriam a desenvolver a [[linguagem]] e a aprender a controlar o [[fogo]].
O volume craniano dos Australopithecus varia entre as espécies conhecidas, de acordo com o período em que existiram. Em média, apresentavam cérebros com cerca de 35% do volume de um pertencente a um humano moderno <ref name=":4">{{citar web |url=https://humanorigins.si.edu/evidence/human-fossils/species/australopithecus-afarensis |titulo="Australopithecus afarensis". The Smithsonian Institution's Human Origins Program.}}</ref> , sendo que algumas espécies mais antigas se aproximavam mais ao volume craniano de [[Chimpanzé|chimpanzés]] <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1038/s41586-019-1513-8 |titulo=A 3.8-million-year-old hominin cranium from Woranso-Mille, Ethiopia |data=2019-08-28 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Nature |número=7773 |ultimo=Haile-Selassie |primeiro=Yohannes |ultimo2=Melillo |primeiro2=Stephanie M. |paginas=214–219 |doi=10.1038/s41586-019-1513-8 |issn=0028-0836 |ultimo3=Vazzana |primeiro3=Antonino |ultimo4=Benazzi |primeiro4=Stefano |ultimo5=Ryan |primeiro5=Timothy M.}}</ref>, enquanto alguns espécimes mais tardios se aproximavam aos tamanhos observados em fósseis antigos do gênero Homo <ref>{{Citar periódico |url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4920303/ |titulo=From Australopithecus to Homo: the transition that wasn't† |data=2016-07-05 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences |número=1698 |ultimo=Kimbel |primeiro=William H. |ultimo2=Villmoare |primeiro2=Brian |doi=10.1098/rstb.2015.0248 |issn=0962-8436 |pmc=4920303 |pmid=27298460}}</ref>.


=== Estrutura Corporal ===
A reconstrução do comportamento social de espécies fósseis extintas é difícil, mas a estrutura social dos ''Australopithecus'' seria provavelmente comparável à dos macacos modernos, dada a diferença média de tamanho corporal entre machos e fêmeas ([[dimorfismo sexual]]). Os machos eram substancialmente maiores que as fêmeas. Se as observações sobre a relação entre o [[dimorfismo sexual em primatas|dimorfismo sexual e a estrutura do grupo social dos macacos modernos]] forem aplicadas aos ''Australopithecus'', essas criaturas provavelmente viviam em pequenos grupos familiares contendo um macho dominante e várias fêmeas reprodutoras ([[poligamia]]), como ocorre com os [[gorila]]s. {{sfn|Wood|1994|p=239}}. No entanto, também foi argumentado que ''A. afarensis'' tinha níveis muito mais baixos de dimorfismo e, portanto, tinha uma sociedade baseada em parentesco multi-machos (sistema patrifocal), como os [[chimpanzé]]s. O baixo dimorfismo também pode ser interpretado como uma sociedade monogâmica com forte competição homem-homem. Ao contrário, os dentes caninos são muito menores em ''A. afarensis'' do que em primatas não humanos, o que deve indicar menor agressão porque o tamanho dos caninos é geralmente correlacionado positivamente com a agressão homem-homem.<ref>{{citar periódico|primeiro=C. S.|último=Larsen|ano=2003|título=Equality for the sexes in human evolution? Early hominid sexual dimorphism and implications for mating systems and social behavior|periódico=Proceedings of the National Academy of Sciences|volume=100|número=16|páginas=9103–9104|doi=10.1073/pnas.1633678100|pmc=170877|pmid=12886010|bibcode=2003PNAS..100.9103L}}</ref><ref>{{Citar periódico| último1=Reno| primeiro1=P. L.| último2=Lovejoy| primeiro2=C. O.|autorlink2=Owen Lovejoy|ano=2015| título=From Lucy to Kadanuumuu: balanced analyses of ''Australopithecus afarensis'' assemblages confirm only moderate skeletal dimorphism| periódico=PeerJ| volume=3| páginas=e925|doi=10.7717/peerj.925|issn=2167-8359|pmc=4419524|pmid=25945314}}</ref><ref>{{Citar periódico| último=Lovejoy|primeiro=C. O.|autor-link=Owen Lovejoy|ano=2009| título=Reexamining human origins in light of ''Ardipithecus ramidus''| periódico=Science |volume=326|número=5949|páginas=74e1–8|issn=1095-9203|pmid=19810200|bibcode=2009Sci...326...74L|doi=10.1126/science.1175834|id=42790876|url=http://doc.rero.ch/record/211449/files/PAL_E4439.pdf}}</ref>
As espécies de Australopithecus apresentam diferentes médias de tamanho, em geral eram pequenos com um notável [[dimorfismo sexual]] relacionado ao tamanho corpóreo. A. africanus <ref>{{citar web |url=https://humanorigins.si.edu/evidence/human-fossils/species/australopithecus-africanus |titulo="Australopithecus africanus". The Smithsonian Institution's Human Origins Program.}}</ref>, por exemplo, apresentavam uma média, entre os machos, de 138 cm de altura e uma massa corporal de 41 kg, enquanto as fêmeas apresentavam média de 30 kg e 115 cm de altura. A. afarensis, por sua vez, apresenta proporções ligeiramente maiores (machos em média 151 cm de altura) <ref name=":4" /><ref>{{citar periódico |título=Equality for the sexes in human evolution? Early hominid sexual dimorphism and implications for mating systems and social behavior |periódico=Proceedings of the National Academy of Sciences |número=16 |último=Larsen |primeiro=C. S. |ano=2003 |páginas=9103–9104 |bibcode=2003PNAS..100.9103L |doi=10.1073/pnas.1633678100 |pmc=170877 |pmid=12886010 |volume=100}}</ref>.


Devido ao seu tamanho e proporções de membros, uma comparação foi traçada entre Australopithecus e [[Bonobo|Bonobos]] <ref>{{Citar periódico |url=https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/703839 |titulo=Pygmy chimpanzee as a possible prototype for the common ancestor of humans, chimpanzees and gorillas |data=1978-10-26 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Nature |número=5682 |ultimo=Zihlman |primeiro=A. L. |ultimo2=Cronin |primeiro2=J. E. |paginas=744–746 |doi=10.1038/275744a0 |issn=0028-0836 |pmid=703839 |ultimo3=Cramer |primeiro3=D. L. |ultimo4=Sarich |primeiro4=V. M.}}</ref>. Essa análise comparativa levou ao desenvolvimento de modelos para regulação térmica em Australopithecus, levando pesquisadores a crer que esses indivíduos eram, diferentemente de nós humanos, revestidos por pelos <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1016/j.jhevol.2016.02.006 |titulo=Bipedality and hair loss in human evolution revisited: The impact of altitude and activity scheduling |data=2016-05 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Journal of Human Evolution |ultimo=Dávid-Barrett |primeiro=Tamás |ultimo2=Dunbar |primeiro2=Robin I.M. |paginas=72–82 |doi=10.1016/j.jhevol.2016.02.006 |issn=0047-2484}}</ref>.
Um estudo de 2011 que utilizou razões de isótopos de [[estrôncio]] em dentes fossilizados também sugeriu que há cerca de 2 milhões de anos, entre os grupos de ''Australopithecus'' e de ''[[Paranthropus]]'' do sul da África, as fêmeas tendiam a se estabelecer mais longe da sua região de nascimento do que os machos, ou seja a espécie tinha um sistema patrifocal.<ref name="CavewomenBBC2011">{{citar jornal| primeiro=Neil | último=Bowdler | url=http://www.bbc.co.uk/news/science-environment-13609260 | título=Ancient cave women 'left childhood homes' | data=2 de Junho de 2011}}</ref><ref name="Copeland2011">{{citar periódico|título=Strontium isotope evidence for landscape use by early hominins |vauthors=Copeland SR, etal |volume=474 |ano=2011 |páginas=76–78 |periódico=Nature |doi=10.1038/nature10149 |url=http://www.nature.com/doifinder/10.1038/nature10149 |pmid=21637256}}</ref> Em um sistema patrifocal, fêmeas que estão no grupo não são aparentadas, ao passo que os machos são, já que eles permanecem no bando em que nasceram, e esta associação entre os machos é bastante influente em seu comportamento. Geralmente, grupos assim são pequenos. Estes novos dados também descartam a plausibilidade de uma sociedade de [[harém]] (como a dos [[gorila]]s), que teria resultado em uma sociedade matrilocal devido ao aumento da competição homem-homem.<ref>{{citar periódico|primeiro1=S. R.|último1=Copeland|primeiro2=M.|último2=Sponheimmer|primeiro3=D. J.|último3=de Ruiter|primeiro4=J.|último4=Lee-Thorp|ano=2011|título=Strontium isotope evidence for landscape use by early hominins|periódico=Nature|volume=474|issue=7349|páginas=76–78|doi=10.1038/nature10149|pmid=21637256|s2cid=205225222}}</ref> Como os Australopithecus viviam num habitat de [[savana]], uma sociedade com vários machos (como a dos [[chimpanzé]]s) teria sido mais produtiva para defender melhor o bando de predadores no ambiente mais exposto, como hoje ainda o fazem os [[babuíno]]s da savana.


Outra característica importante desse grupo é o [[Bipedismo|bipedalismo]] bem desenvolvido, embora o surgimento desse caráter anteceda o surgimento dos Australopithecus <ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.1126/science.1140799 |titulo=Origin of Human Bipedalism As an Adaptation for Locomotion on Flexible Branches |data=2007-06-01 |acessodata=2021-07-19 |jornal=Science |número=5829 |ultimo=Thorpe |primeiro=S. K. S. |ultimo2=Holder |primeiro2=R. L. |paginas=1328–1331 |doi=10.1126/science.1140799 |issn=0036-8075 |ultimo3=Crompton |primeiro3=R. H.}}</ref>.
Outros estudos mostraram que poderia haver uma sobreposição substancial de tamanho entre machos e fêmeas.<ref>{{citar periódico|último =Reno|primeiro =Philip L.|último2 =Lovejoy|primeiro2 =C. Owen|data=2015-04-28|título=From Lucy to Kadanuumuu: balanced analyses of Australopithecus afarensis assemblages confirm only moderate skeletal dimorphism| url=https://peerj.com/articles/925/|periódico=PeerJ|língua=en| volume=3|doi=10.7717/peerj.925|issn=2167-8359|pmc=4419524|pmid=25945314}}</ref> Isto, juntamente com a redução dos dentes caninos, tem sido argumentado para sugerir que os Australopithecus machos e fêmeas eram monogâmicos (ou pelo menos algumas espécies; cabe frisar que "monogamia" não implica fidelidade sexual).<ref>{{citar periódico|último =Lovejoy|primeiro =C. Owen|data=2009-10-02|título=Reexamining human origins in light of Ardipithecus ramidus|periódico=Science |volume=326|número=5949|páginas=74e1–8|issn=1095-9203|pmid=19810200|bibcode=2009Sci...326...74L|doi=10.1126/science.1175834}}</ref> Os machos podem ter se envolvido no comportamento de provisão (que pode ter iniciado com seus antepassados ''[[Ardipithecus]]''), e a necessidade de levar comida para as fêmeas pode ter levado à evolução do bipedalismo. O dimorfismo sexual então começou a diminuir. Porém estudos sugerem que o dimorfismo sexual alcançou níveis humanos modernos somente no tempo do [[Homo erectus]] há entre {{fmtn|500000}} anos a 2 milhões de anos.<ref name="Arsuaga,Carretero,Lorenzo,Gracia,Martinez,BermudezdeCastro,Carbonell,1997">{{citar periódico|último1 = Arsuaga |primeiro1 = J.L. |último2 = Carretero |primeiro2 = J.M. |último3 = Lorenzo |primeiro3 = C. |último4 = Gracia |primeiro4 = A. |último5 = Martínez |primeiro5 = I. |último6 = de Castro |primeiro6 = Bermúdez |último7 = Carbonell |primeiro7 = E. |ano= 1997 |título= Size variation in Middle Pleistocene humans | url = |periódico= Science | volume = 277 |número= |páginas= 1086–1088 | doi=10.1126/science.277.5329.1086}}</ref>


Apesar de haver diferenças de opinião a respeito das espécies ''aethiopicus, boisei'' e ''robustus'' deverem ser incluídas no género ''Australopithecus'', o consenso actual na comunidade científica é de que eles devem ser colocados no género ''Paranthropus'', que se pensa ter-se desenvolvido a partir do ancestral ''Australopithecus''. ''Paranthropus'', que é mais maciço e robusto e também [[morfologia (biologia)|morfologicamente]] diferente dos ''Australopithecus'', com a sua [[fisiologia]] especializada, deve ter tido um comportamento bastante diferente do seu ancestral.


[[Imagem:Africa, australopitecines discovery sites.png|thumb|226x226px|esquerda|Locais onde foram descobertos fósseis de Australopithecus]]
[[Imagem:Africa, australopitecines discovery sites.png|thumb|226x226px|esquerda|Locais onde foram descobertos fósseis de Australopithecus]]
A existência do ''Australopithecus'' desmente a teoria de que a [[inteligência]] humana se desenvolveu primeiro e o bipedalismo depois, uma vez estas espécies tinham um crânio não significativamente maior que o de um chimpanzé actual e, no entanto, eram definitivamente bípedes, o que sugere que foi o bipedalismo que tornou possível a inteligência humana e não o contrário.

Pensa-se ainda que a maior parte das espécies de ''Australopithecus'' não era melhor adaptada ao uso de instrumentos que os actuais [[símio]]s.

Entretanto, ''Australopithecus garhi'' parece ter sido o mais avançado nesta linha, uma vez que os seus fósseis têm sido encontrados juntamente com instrumentos e restos de animais retalhados, o que sugere que esta espécie teria iniciado uma indústria primitiva de fabrico de instrumentos. Isto leva muitos cientistas a supor que ''A. garhi'' é o ancestral mais próximo do género ''Homo''.

Há evidências de que os Australopithecus eram presas do [[Dinofelis]], um felino da sub-família extinta [[Machairodontinae]].


== Uso de ferramentas ==
== Uso de ferramentas ==

Revisão das 21h25min de 19 de julho de 2021

Como ler uma infocaixa de taxonomiaAustralopithecus
Ocorrência: 4–2 Ma
Classificação científica
Domínio: Eukaryota
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Infrafilo: Gnathostomata
Superclasse: Tetrapoda
Classe: Mammalia
Subclasse: Theria
Infraclasse: Placentalia
Superordem: Euarchontoglires
Ordem: Primates
Subordem: Haplorrhini
Infraordem: Simiiformes
Parvordem: Catarrhini
Superfamília: Hominoidea
Família: Hominidae
Subfamília: Homininae
Gênero: Australopithecus
Distribuição geográfica

Espécies
A. afarensis

A. africanus

A. anamensis

A. garhi

A. sediba

Australopithecus (do Latim australis 'do sul', e Grego πίθηκος (pithekos) 'macaco'), é um gênero de Hominídeo extinto, que existiu entre o Plioceno e o Pleistoceno, na África. Sendo muito pŕoximos, evolutivamente, ao gênero Homo, seu estudo é de vital importância para a compreensão da evolução humana.

As espécies mais conhecidas são A. africanus e A. afarensis, sendo que o primeiro espécime do gênero foi descoberto em 1924 , na África do Sul, descrito por Raymond Dart, que considerou o fóssil (crânio da criança de Taung) como um ancestral dos Homo [1].

Anatomia

Crânio

O volume craniano dos Australopithecus varia entre as espécies conhecidas, de acordo com o período em que existiram. Em média, apresentavam cérebros com cerca de 35% do volume de um pertencente a um humano moderno [2] , sendo que algumas espécies mais antigas se aproximavam mais ao volume craniano de chimpanzés [3], enquanto alguns espécimes mais tardios se aproximavam aos tamanhos observados em fósseis antigos do gênero Homo [4].

Estrutura Corporal

As espécies de Australopithecus apresentam diferentes médias de tamanho, em geral eram pequenos com um notável dimorfismo sexual relacionado ao tamanho corpóreo. A. africanus [5], por exemplo, apresentavam uma média, entre os machos, de 138 cm de altura e uma massa corporal de 41 kg, enquanto as fêmeas apresentavam média de 30 kg e 115 cm de altura. A. afarensis, por sua vez, apresenta proporções ligeiramente maiores (machos em média 151 cm de altura) [2][6].

Devido ao seu tamanho e proporções de membros, uma comparação foi traçada entre Australopithecus e Bonobos [7]. Essa análise comparativa levou ao desenvolvimento de modelos para regulação térmica em Australopithecus, levando pesquisadores a crer que esses indivíduos eram, diferentemente de nós humanos, revestidos por pelos [8].

Outra característica importante desse grupo é o bipedalismo bem desenvolvido, embora o surgimento desse caráter anteceda o surgimento dos Australopithecus [9].


Locais onde foram descobertos fósseis de Australopithecus

Uso de ferramentas

Ferramentas simples

Orangotango utilizando graveto como ferramenta no Zoológico de San Diego. Provavelmente os Australopithecus também apresentavam esse tipo de comportamento.

Ao pensar em uso de ferramentas por hominíneos, é muito comum pensar em pedra lascada, porém existe uma série de outros materiais que podem ser utilizados como ferramentas. Como exemplos atuais, os macacos-prego utilizam pedras não lascadas para quebrar cocos e nozes, e os chimpanzés e orangotangos utilizam gravetos para retirar insetos de dentro do ninho. No entanto, essas ferramentas dificilmente se preservam no registro fóssil, já que materiais orgânicos se degradam rapidamente e com facilidade, e no caso da pedra, quando ela não é lascada, é difícil ter evidências de que foi utilizada como ferramenta. Sendo assim, não existe evidência de uso de ferramentas que não sejam de pedra lascada pelos Australopithecus, mas por comparação com espécies atuais de primatas, essa possibilidade é perfeitamente plausível.[10]

Primeiras pedras lascadas

Algumas espécies de Australopithecus têm sido recentemente creditadas como responsáveis pela confecção de ferramentas líticas, especialmente as mais antigas. O registro mais antigo de uso de ferramentas ocorreu em Dikika, Etiópia, onde foram encontrados ossos de ungulados, datando cerca de 3,4 milhões de anos, que foram considerados evidência para o uso de ferramentas por A. afarensis, a única espécie de hominíneo que viveu no local nesse período. Esses ossos possuíam marcas que poderiam ter sido feitas por meio de pedras lascadas, enquanto um indivíduo cortava a carne do animal, porém essa evidência não é muito aceita pela comunidade científica. [11][12][13]

Já no caso de Lomekwi, no Quênia, foram encontradas pedras propositalmente lascadas, datando de 3,3 milhões de anos. Não se sabe ao certo qual espécie confeccionou essas ferramentas, porém sabe-se que o gênero Homo ainda não existia na época, sendo os australopitecíneos os prováveis responsáveis. O autor da descoberta reconhece a diferença entre essas ferramentas e as da Indústria Olduvaiense, propondo, então, o nome de Indústria Lomekwiense. Apesar de mais aceita que a primeira, essa evidência não é consenso no meio acadêmico, pois apesar de indiscutivelmente se tratarem de ferramentas confeccionadas propositalmente, há quem questione sua datação. Além disso, os registros são poucos, demonstrando que essa produção, se existia, era pequena e pouco frequente.[13] [14][15][16]

Indústria Olduvaiense

Ferramentas olduvaienses encontradas no sítio de Bokol Dora 1, Afar, Etiópia.

É só a partir de 2,6 milhões de anos atrás, após 700 mil anos de ausência de confecção de ferramentas no registro fóssil, que temos registros de uma produção sistemática e muito frequente de ferramentas de pedra lascada, por toda a extensão da África. Por muito tempo acreditou-se que os primeiros representantes do gênero Homo (H. habilis) haviam sido os responsáveis pela primeira confecção dessas ferramentas, porém evidências recentes têm colocado os Australopithecus como possíveis inventores dessa tecnologia, embora ainda hajam controvérsias.[13][16][17][18]

Essa tecnologia ficou conhecida como Indústria Olduvaiense, e é caracterizada principalmente por simples lascas, obtidas a partir do choque entre duas pedras, um percutor e um núcleo. O percutor é a pedra mais dura, que se mantém inteira durante o processo, enquanto o núcleo sofre fraturas conchoidais, formando lascas que são utilizadas principalmente para cortar carnes e outros alimentos. Essas lascas eram usadas “cruas” ou moldadas em outras ferramentas, de forma que, de acordo com o formato dos núcleos e das lascas processadas, as ferramentas encontradas podem ser classificadas em discóides, poliedros, esferóides, talhadores, furadores, dentre outros, variando em sua raridade. Acredita-se que a maior parte dessa variedade de formatos de núcleos seja apenas subproduto da produção de lascas, embora essas ferramentas de núcleo também tenham algumas utilidades.[18][19][20]

Existe muita variação no que concerne às ferramentas olduvaienses. Diferentes materiais e/ou formatos podem ser observados conforme analisamos sítios arqueológicos de locais e/ou períodos diferentes. Os materiais mais comumente utilizados para a produção dessas ferramentas eram quartzito e basalto, devido à maior facilidade que se tinha em retirar lascas rígidas e afiadas desses materiais.[20]

Referências

  1. Lewin, Roger (1999). Human evolution : an illustrated introduction 4th ed ed. Malden, Mass.: Blackwell Science. OCLC 48138863 
  2. a b «"Australopithecus afarensis". The Smithsonian Institution's Human Origins Program.» 
  3. Haile-Selassie, Yohannes; Melillo, Stephanie M.; Vazzana, Antonino; Benazzi, Stefano; Ryan, Timothy M. (28 de agosto de 2019). «A 3.8-million-year-old hominin cranium from Woranso-Mille, Ethiopia». Nature (7773): 214–219. ISSN 0028-0836. doi:10.1038/s41586-019-1513-8. Consultado em 19 de julho de 2021 
  4. Kimbel, William H.; Villmoare, Brian (5 de julho de 2016). «From Australopithecus to Homo: the transition that wasn't†». Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences (1698). ISSN 0962-8436. PMC 4920303Acessível livremente. PMID 27298460. doi:10.1098/rstb.2015.0248. Consultado em 19 de julho de 2021 
  5. «"Australopithecus africanus". The Smithsonian Institution's Human Origins Program.» 
  6. Larsen, C. S. (2003). «Equality for the sexes in human evolution? Early hominid sexual dimorphism and implications for mating systems and social behavior». Proceedings of the National Academy of Sciences. 100 (16): 9103–9104. Bibcode:2003PNAS..100.9103L. PMC 170877Acessível livremente. PMID 12886010. doi:10.1073/pnas.1633678100 
  7. Zihlman, A. L.; Cronin, J. E.; Cramer, D. L.; Sarich, V. M. (26 de outubro de 1978). «Pygmy chimpanzee as a possible prototype for the common ancestor of humans, chimpanzees and gorillas». Nature (5682): 744–746. ISSN 0028-0836. PMID 703839. doi:10.1038/275744a0. Consultado em 19 de julho de 2021 
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