Usuário(a):Lullyprado/Testes/8emeio

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Fellini 8 ½ (PRT)
Oito e meio (BRA)
Lullyprado/Testes/8emeio
 Itália/ França
1963 •  p&b •  138 min 
Género drama
comédia
Direção Federico Fellini
Codireção Lina Wertmüller
Produção Angelo Rizzoli
Roteiro Ennio Flaiano
Tullio Pinelli
Federico Fellini
Brunello Rondi
Elenco Marcello Mastroianni
Claudia Cardinale
Anouk Aimée
Sandra Milo
Rossella Falk
Barbara Steele
Guido Alberti
Madeleine Lebeau
Jean Rougeul
Caterina Boratto
Annibale Ninchi
Giuditta Rissone
Música Nino Rota
Diretor de fotografia Gianni Di Venanzo
Direção de arte Piero Gherardi
Figurino Piero Gherardi
Edição Leo Cattozzo
Distribuição Cineriz (Itália) Columbia Pictures (França)
Lançamento 14 de Fevereiro de 1963
Idioma italiano

[ˈɔtto e ˈmɛddzo] (br: Oito e meio — pt: Fellini 8 ½) é um filme italiano de 1963, do gênero comédia dramática, dirigido por Federico Fellini.

Com roteiro co-escrito por Ennio Flaiano, Tullio Pinelli e Brunello Rondi, estrela Marcello Mastroianni no papel de Guido Anselmi, um diretor de cinema italiano que sofre de um bloqueio criativo enquanto tenta dirigir seu próximo filme. Filmado em preto e branco pelo fotógrafo Gianni Di Venanzo , conta com trilha musical assinada pelo compositor Nino Rota e figurino e design de set por Piero Gherardi.

O título do filme é uma referência à carreira do próprio diretor, que até então já havia dirigido seis longa-metragens, dois episódios de filme e havia codirigido um longa-metragem.

Oito e Meio ganhou o Oscar de melhor filme de língua estrangeira e de melhor figurino (em preto e branco). O filme foi sétimo colocado na lista da BBC de 2018 dos 100 maiores filmes de língua estrangeira votados por 209 críticos de cinema de 43 países.[1]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

Guildo Anselmi é um famoso cineasta italiano que está em crise. Ele sofre com um bloqueio artístico durante a produção de seu próximo filme. Após um estranho pesadelo, Guido segue as recomendações de um médico e se interna em uma terma para buscar tratamento e inspiração. Contudo, mesmo ali não consegue paz.

Sua equipe de filmagem e os atores de seu filme juntam-se a ele no hotel e o assombram com perguntas sobre a obra. Além deles, outras figuras conhecidas frequentam o lugar ou vêm a sua procura como sua amante Carla, sua esposa Luísa, amigos e críticos de cinema.

Atormentado por sua vida real e sem encontrar uma solução para seu filme, Guido mergulha cada vez mais em memórias de sua infância e suas próprias fantasias. [2]

Produção[editar | editar código-fonte]

Em Outubro de 1960, por meio de uma carta para Brunello Rondi, Fellini primeiramente introduziu as ideias que tinha para o filme, sobre um homem encarando um bloqueio criativo que precisa interromper sua rotina por duas semanas por conta de uma doença não muito séria.[3] Nesse ponto o roteiro não passava de uma série de fragmentos, uma história sem início ou fim, um protagonista sem profissão, um filme sem título definido[4] - sendo primeiramente chamado de “La Bella Confusione” (“A bela confusão” traduzido literalmente) por Ennio Flaiano. Posteriormente o título proposto por Flaiano foi recusado, e ficou definido como 8½, um título que faz referência a quantos filmes Fellini tinha dirigido até então.[5]

Apesar de um roteiro ainda vago, no início de 1962 Fellini determinou que o processo de escrita tinha avançado até quanto podia, e decidiu que precisava começar a testar os atores, escolher locações e “ir buscar o filme” na esperança de resolver sua confusão. Seu produtor executivo, Clemente Fracassi, se ocupou com contratos, datas, construção do set e com a busca pela locação do spa - o local principal do filme. O diretor começou a testar atores no início de 1962 e marcou o início das gravações para o dia 1 de Abril daquele ano, mas essa data acabou sendo adiada múltiplas vezes já que Fellini continuava incerto sobre seu filme.[6]

Enquanto seus colaboradores confiavam nele e acreditavam que o mistério acerca da história não se passava de uma “jogada de marketing”, Fellini se sentia cada vez mais angustiado quanto ao projeto que permanecia com um protagonista sem profissão definida.[6]

Em meio a essa crise, em seu escritório na Cinecittà, o diretor começou a escrever uma carta para seu produtor Angelo Rizzoli dizendo que teria que abandonar o filme. Mas interrompido pelo seu chefe de equipe, Fellini deixou a carta de lado e foi até o set onde estava sendo comemorado o aniversário de um dos carpinteiros do projeto.[6] Ao ter um brinde da equipe em sua homenagem, Fellini conta:

Me senti sobrecarregado de vergonha. Me senti um capitão que abandona sua equipe. Eu não queria voltar a meu escritório onde minha carta escrita pela metade me esperava [...]. Eu disse a mim mesmo que estava em uma situação sem saída. Eu era um diretor que queria fazer um filme do qual ele não se lembrava mais. E eis que, naquele exato momento tudo se encaixou. Eu fui ao coração do filme. Eu narraria tudo aquilo que estava acontecendo comigo. Eu faria um filme contando a história de um diretor que não sabia mais que filme ele queria fazer.[7]

As filmagens iniciaram em 9 de Maio de 1962, com um roteiro que se diferenciava do usual já que não continha direções para movimentos de câmera ou descrições de planos individuais. Nunca havia mais de duas cópias do roteiro em set, e os atores não tinham acesso a eles - suas falas eram entregues em uma folha de papel, frequentemente apenas meia hora antes de começar as gravações.[8] Esses aspectos se relacionam com o estilo de direção de Fellini, que valorizava o improviso, como conta a atriz Claudia Cardinale sobre a produção de :

A atriz tunisiana Claudia Cardinale em cena da produção do filme.

Com Fellini você não tem um roteiro - é tudo improviso. [...] O set era como um circo, pessoas gritando no telefone. Ele não conseguia gravar sem barulho.[9]

O barulho no set era permitido já que, assim como a maioria dos filmes italianos da época, foi inteiramente dublado na pós-produção. Esse aspecto possibilitava que as falas fossem escritas mais tarde, de forma que os atores frequentemente diziam falas aleatórias durante as filmagens. O filme também marcou a primeira vez em que Claudia Cardinale pode dublar suas próprias falas, já que até então sua voz e seu italiano com sotaque tunisiano eram considerados indesejáveis.[10]

As filmagens acabaram em 14 de Outubro de 1962. Esse foi o último filme de Fellini em preto e branco.[11]

Lançamento e circulação[12][editar | editar código-fonte]

País Data de lançamento
México 2 de Janeiro de 1963 (exibição no Festival de Cinema de Acapulco)
Itália 13 de Fevereiro de 1963 (premiere em Roma)
França 23 de Maio de 1963 (exibição no Festival de Cannes)
Alemanha Ocidental 23 de Maio de 1963
Espanha 7 de Junho de 1963 (exibição no Festival Internacional de Cinema de San Sebastián)
Estados Unidos 24 de Junho de 1963
União Soviética 18 de Julho de 1963 (exibição no Festival Internacional de Cinema de Moscou)
Reino Unido Agosto de 1963
Finlândia 27 de Setembro de 1963
Argentina 8 de Outubro de 1963
Suécia 15 de Outubro de 1963
Líbano 19 de Outubro de 1963 (exibição no Festival de Cinema de Beirute)
Uruguai 21 de Outubro de 1963
Dinamarca 5 de Novembro de 1963
Noruega 26 de Dezembro de 1963
Portugal 24 de Fevereiro de 1964
Hungria 14 de Maio de 1964
Polônia 1 de Março de 1965
Japão 26 de Setembro de 1965

Recepção Crítica e de bilheteria[editar | editar código-fonte]

O filme chegou ao mundo controverso devido seu tom enigmático e gerou abertura para diversas análises de todas as partes do mundo. Esse apelo do filme tem base em seu caráter metalinguístico presente em sua estética. A existência da crítica incorporada como um personagem na obra também foi grande motivo de debate na época.[13]

A subjetividade que vinha crescendo ao longo das obras de Fellini, ganha um outro degrau ao operar como um elemento central de 8½ . Isso foi muito ressaltado pela crítica da época, que pontuou, entre outros fatores, o caráter autobiográfico materializado no paralelo entre Guido e Fellini.[13]

Se por uma parte da crítica o filme simbolizava uma simples viagem através da subjetividade do autor da obra, para outra parcela a modernidade, a clareza na narrativa e a abordagem irônica a respeito do diretor, conferiam sua força fílmica e ganhava destaque na história do cinema.[13]

Na França boa parte das análises ressaltou o papel do crítico para ser o porta-voz da subjetividade de Guido. Para Jean Collet, por exemplo, a presença do crítico gera a difícil tarefa de analisar o filme, já que a própria obra traz uma crítica enraizada em si, principalmente no que diz respeito a uma cumplicidade ao universo pequeno burguês apontada por Daumier, que a faz direcionada a Guido. Dessa forma, sendo necessário muita coragem para atravessar essa barreira.[14]

Boa parte do público taxou o filme como incompreensível e em muitos cinemas na Itália os espectadores tentaram agredir o projecionista, achando que o mesmo tinha deteriorado as cópias em um determinado ponto do filme. Dessa forma, apesar do filme ter ido bem tanto em crítica quanto para o público, seu lançamento foi marcado por diversos debates e polêmicas[13]

Já Giovanni Grazzini em uma crítica para o Corriere della Sera pontua que a beleza do filme está presente na confusão, no meandro entre o erro e a verdade, o objetivo e o sonho nos valores morais e de estilo, além de estar presente também na completa unidade entre a linguagem cinematográfica que o Fellini empregou ao filme e a viagem através da subjetividade de Guido. Para ele é impossível distinguir a figura de Fellini que paira o filme da personagem de Guido e, dessa forma, os problemas de Fellini coincidem com as indagações espirituais de Guido. Ele ressalta ainda que a osmose entre arte e vida é tão brilhantes que seria difícil de ser replicada. A genialidade do Fellini reluz em tudo que a câmera filma e em todos os detalhes há um significado preciso para o entendimento do palco que é 8½[15].

Na revista Bianco e Nero Mario Verdone discorreu que a obra é uma improvisação incrível e constrói uma metáfora dizendo que o que Fellini criou no filme foi semelhante a uma série de acrobacias realizadas por um equilibrista bem em cima do público e que sempre no momento em que ele aparenta cair em todos ele executa uma cambalhota e se safa, ganhando o clamor de todos.[16]

No Brasil, Roberto Schwartz, em sua análise, traz a discussão para o fator de não-autor presente no filme e ousou ao evidenciar a ironia e crítica de Fellini sobre a indústria do entretenimento presente ao longo de toda a sua filmografia.[17]

Em sua análise, Gilda De Mello e Souza discorre sobre a forma inovadora de falar da crise do autor e ressalta o contraste do que ela chama de planos horizontais - no que confere ao sonho, a memória e o imaginário, em relação aos planos verticais, que condizem a realidade. Além de discutir sobre como o Fellini dá um passo adiante em relação ao neorrealismo no que diz respeito a representação do espaço e do tempo através da subjetividade da personagem de Guido.[18]

Já Luís Renato Martins escreve sobre a política dos autores, muito debatida pelos pensadores da revista Cahiers du Cinema, e conclui como Fellini é um símbolo dessa expressão, é um autor por excelência. Ele relata, ainda, como 8½ se transforma em um "paradigma da perspectiva autoral, eclipsando seu projeto crítico, para a contrariedade do realizador"[19]

Elenco[editar | editar código-fonte]

Ator/Atriz Papel
Marcello Mastroianni Guido Anselmi, diretor italiano
Anouk Aimée Luisa Anselmi, esposa de Guido
Sandra Milo Carla, amante de Guido
Rossella Falk Rossella, melhor amiga de Luisa
Eddra Gale La Saraghina
Claudia Cardinale Claudia, uma estrela de cinema
Jean Rougeul Carini Daumier, um crítico de cinema
Mario Pisu Mario Mezzabotta, um amigo de Guido
Barbara Steele Gloria Morin, a nova namorada de Mezzabotta
Madeleine LeBeau Madeleine, a atriz francesa
Guido Alberti Pace, o produtor do filme
Mario Conocchia Conocchia, o assistente de produção de Guido
Bruno Agostini o diretor de produção
Cesarino Miceli Picardi Cesarino, o supervisor de produção
Eugene Walter jornalista americano
Mary Indovino Maya, a vidente
Ian Dallas Maurice, o mágico assistente de Maya
Giuditta Rissone a mãe de Guido
Annibale Ninchi pai de Guido
Caterina Boratto mulher misteriosa no hotel

Premiações[12][editar | editar código-fonte]

Premiação Ano Categoria Receptor Resultado
Oscar 1964 Melhor Direção Federico Fellini Indicado
Melhor Roteiro Original Federico Fellini

Tullio Pinelli

Ennio Flaiano

Brunello Rondi

Indicado
Melhor Filme Estrangeiro Federico Fellini Venceu
Melhor Direção de Arte e Cenografia em Preto-e-Branco Piero Gherardi Indicado
Melhor Figurino em Preto-e-Branco Venceu
BAFTA 1964 Melhor Filme Federico Fellini Indicado
Prêmio Bodil 1964 Melhor Filme Europeu Federico Fellini Venceu
Cahiers du Cinéma 1963 Os 10 Melhores Filmes Federico Fellini Venceu
Taças de Ouro 1963 Melhor Diretor Federico Fellini Venceu
Directors Guild of America 1964 Realização notável na direção de filmes Federico Fellini Indicado
Sindicato Nacional dos Jornalistas Cinematográficos da Itália 1964 Melhor Ator Marcello Mastroianni Indicado
Melhor Figurino Piero Gherardi Indicado
Melhor História Original Ennio Flaiano

Federico Fellini

Venceu
Melhor Direção de Arte Piero Gherardi Indicado
Melhor Diretor Federico Fellini Venceu
Melhor Produtor Angelo Rizzoli Venceu
Melhor Roteiro Federico Fellini

Ennio Flaiano

Tullio Pinelli

Brunello Rondi

Venceu
Melhor Atriz Coadjuvante Sandra Milo Venceu
Melhor Fotografia, Preto e Branco Gianni Di Venanzo Venceu
Melhor Música Nino Rota Venceu
Prêmios Jussi 1964 Melhor Diretor Estrângeiro Federico Fellini Venceu
Festival Internacional de Cinema de Moscou 1963 Grand Prix Federico Fellini Venceu
Prêmios Kinema Junpo 1966 Melhor Filme de Língua Estrangeira Federico Fellini Venceu
Melhor Diretor de Filme de Língua Estrangeira Federico Fellini Venceu
Associação de Críticos de Nova Iorque 1963 Melhor Filme de Língua Estrangeira Venceu
National Board of Review 1963 Melhor Filme Estrangeiro Venceu

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «"The 100 Greatest Foreign Language Films"». BBC. 29 de outubro de 2018. Consultado em 17 de julho de 2021 
  2. Filmin, Filmin. «Fellini 8½ ( oito e meio)». Filmin 
  3. AFFRON, Charles (1987). 8½ Federico Fellini, Director. [S.l.]: Rutgers University Press. p. 227. ISBN 978-0813512112 
  4. ALPERT, Hollis (1988). Fellini: A Life. [S.l.]: Simon & Schuster. pp. 154–155. ISBN 978-0743213097 
  5. BONDANELLA, Peter. The Films of Federico Fellini. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 212. ISBN 978-0521575737 
  6. a b c ALPERT, Hollis (1988). Fellini: A Life. [S.l.]: Simon & Schuster. pp. 159–163. ISBN 978-0743213097 
  7. BONDANELLA, Peter (1992). The Cinema of Frederico Fellini. [S.l.]: Princeton University Press. p. 211. ISBN 978-0691008752 
  8. ALPERT, Hollis (1988). Fellini: A Life. [S.l.]: Simon & Schuster. pp. 164–165. ISBN 978-0743213097 
  9. BOWMAN, Manoah (2015). Fellini: The Sixties. [S.l.]: Running Press Adult. p. 143. ISBN 978-0762458387 
  10. 81⁄2, Criterion Collection DVD, featured commentary track.
  11. KEZICH, Tullio (2007). Federico Fellini: His Life and Work. [S.l.]: Bloomsbury Publishing PLC. p. 245. ISBN 978-1845114251 
  12. a b 8½ (1963) - IMDb, consultado em 19 de julho de 2021 
  13. a b c d SOUZA, Christiane Pereira de (2003). A construção em abismo como construção crítica em oito e meio de Fellini. São Paulo: [s.n.] 
  14. COLLET, Jean (1990). La Création selon Fellini. Paris: CORTI. ISBN 978-2714303752 
  15. A crítica de Grazzini foi publicada no Corriere della Sera em 16 de fevereiro de 1963 em Milão.
  16. Publicado na edição 255 da revista Bianco e Nero (Roma) em 1963
  17. SCHWARTZ, Roberto (1981). A Sereia e o Desconfiado. [S.l.]: Paz e Terra. ISBN 978-0007906031 
  18. SOUZA, Gilda de Mello e (2009). "O salto mortal de Fellini" In: Exercícios de Leitura. São Paulo: Editora 34. ISBN ‎978-8573264364 Verifique |isbn= (ajuda) 
  19. MARTINS, Luís Renato (1994). Conflito e interpretação em Fellini: construção da perspectiva do público. São Paulo: Edusp. ISBN 978-8531402081 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]