Afonso VI de Portugal: diferenças entre revisões

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Este era o dia em que se iniciava também a regência da sua mãe, D. [[Luísa de Gusmão]].<ref name="História8"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 43, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>.
Este era o dia em que se iniciava também a regência da sua mãe, D. [[Luísa de Gusmão]].<ref name="História8"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 43, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>.


A regência de D. Luísa centrou-se, inicialmente, na organização do governo de modo a impor-se às facções palacianas em jogo. Nomeia então, D. [[Francisco de Faro]], [[Conde de Odemira]], para aio de D. Afonso e mantém os oficiais da Casa Real que exerciam tais funções no tempo do seu marido. D. Francisco filho do segundo [[Conde de Faro]], D. [[Estevão de Faro]], e de D. Guiomar de Castro, filha do quarto [[Barão do Alvito]], D. [[João Lobo da Silveira]], e neta, por parte da mãe, do segundo [[Senhor de Lavre]] e [[Senhor de Estepa|Estepa]], D. João Mascarenhas. Através dos matrimónios das suas filhas, D. Maria e D. Guiomar, traçou relações com o sétimo [[Conde da Feira]] e com o primeiro [[Duque de Cadaval]], o célebre D. [[Nuno Álvares Pereira de Melo]], e com o terceiro conde de [[Vila Nova de Portimão]], respectivamente. D. Francisco, como se constata, pertencia a uma das famílias mais poderosas e de maior tradição em [[Portugal]], e com dilectas ligações de parentesco com outras casas de suma importância, como é o caso da Casa de Cadaval. <ref>[http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=3494 Dados biográficos de D. Francisco de Faro, sétimo conde de Odemira no site GeneAll.net]</ref> A Pedro Vieira da Silva e Gaspar Faria Severim, comendador de Moura, coube o Conselho de Estado. Porém a rivalidade entre D. Francisco e o Conde de Cantanhede dificulta a regência da mãe de D. Afonso. Esta vê-se obrigada a nomear a «Junta Nocturna», assim conhecida por ter reuniões à noite.<ref name="História8"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 43, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>. Para além dos dois nobres em disputa, constavam nela outros oficiais de confiança, como o [[marquês de Nisa]], Pedro Fernandes Monteiro, o [[conde de São Lourenço]] e Frei Domingos do Rosário, diplomata experiente. Esta Junta teve bastante utilidade e agilidade aos comandos dos negócios públicos.<ref name="História8"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 43, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>
A regência de D. Luísa centrou-se, inicialmente, na organização do governo de modo a impor-se às facções palacianas em jogo. Nomeia então, D. [[Francisco de Faro]], [[Conde de Odemira]], para aio de D. Afonso e mantém os oficiais da Casa Real que exerciam tais funções no tempo do seu marido. D. Francisco filho do segundo [[Conde de Faro]], D. [[Estevão de Faro]], e de D. Guiomar de Castro, filha do quarto [[Barão do Alvito]], D. [[João Lobo da Silveira]], e neta, por parte da mãe, do segundo [[Senhor de Lavre]] e [[Senhor de Estepa|Estepa]], D. João Mascarenhas. Através dos matrimónios das suas filhas, D. Maria e D. Guiomar, traçou relações com o sétimo [[Conde da Feira]] e com o primeiro [[Duque de Cadaval]], o célebre D. [[Nuno Álvares Pereira de Melo]], e com o terceiro [[conde de Vila Nova de Portimão]], respectivamente. D. Francisco, como se constata, pertencia a uma das famílias mais poderosas e de maior tradição em [[Portugal]], e com dilectas ligações de parentesco com outras casas de suma importância, como é o caso da Casa de Cadaval. <ref>[http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=3494 Dados biográficos de D. Francisco de Faro, sétimo conde de Odemira no site GeneAll.net]</ref> A Pedro Vieira da Silva e Gaspar Faria Severim, comendador de Moura, coube o Conselho de Estado. Porém a rivalidade entre D. Francisco e o Conde de Cantanhede dificulta a regência da mãe de D. Afonso. Esta vê-se obrigada a nomear a «Junta Nocturna», assim conhecida por ter reuniões à noite.<ref name="História8"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 43, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>. Para além dos dois nobres em disputa, constavam nela outros oficiais de confiança, como o [[marquês de Nisa]], Pedro Fernandes Monteiro, o [[conde de São Lourenço]] e Frei Domingos do Rosário, diplomata experiente. Esta Junta teve bastante utilidade e agilidade aos comandos dos negócios públicos.<ref name="História8"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 43, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>


===Amizade com António Conti===
===Amizade com António Conti===
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Surgem então na vida do jovem rei dois jovens cortesãos que lhe restituem as amizades perdidas. São eles [[Jerónimo de Ataíde, 6º Conde de Atouguia|D. Jerónimo de Ataíde]] (um dos filhos da célebre [[Filipa de Vilhena]]), e D. [[Luís de Vaconcelos e Sousa]], que ficou para a [[História]] como o célebre [[conde de Castelo Melhor]], título que lhe pertencia. Como diz Veríssimo Serrão, «não <small>[se aproximaram de D. Afonso]</small> porque lhes conviesse a vida escandalosa deste mas porque sentiam que o favor régio estava a seu alcance logo que ele tomasse o poder.» <ref name="História6"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 46, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>.
Surgem então na vida do jovem rei dois jovens cortesãos que lhe restituem as amizades perdidas. São eles [[Jerónimo de Ataíde, 6º Conde de Atouguia|D. Jerónimo de Ataíde]] (um dos filhos da célebre [[Filipa de Vilhena]]), e D. [[Luís de Vaconcelos e Sousa]], que ficou para a [[História]] como o célebre [[conde de Castelo Melhor]], título que lhe pertencia. Como diz Veríssimo Serrão, «não <small>[se aproximaram de D. Afonso]</small> porque lhes conviesse a vida escandalosa deste mas porque sentiam que o favor régio estava a seu alcance logo que ele tomasse o poder.» <ref name="História6"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 46, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>.


===Guerras da Restauração===
===A Guerra da Restauração===
Mereceu D. Afonso o cognome de ''O Vitorioso'', por no seu reinado [[Portugal]] ter vencido a [[Espanha]] em várias batalhas da [[Guerra da Restauração]]. Em dez anos, mais ou menos o tempo em que combateu o país vizinho, diz António Pereira de Figueiredo, que «alcançou tão grande nomeada, que ninguém se pode comparar com ele no número de vitórias e na glória que delas resultou». <ref name="História4"> FIGUEIREDO, António Pereira, ''[http://books.google.com/books?id=vX3Rumhai8UC&printsec=frontcover&dq=reis+de+portugal&as_brr=3&hl=pt-PT#PPA211,M1 Elogios dos reis de Portugal: em latim e em portuguez, illustrados de notas historicas e críticas]'', p. 211, 1785</ref>

*'''A Batalha de Linhas de Elvas'''
[[Imagem:BLElvas 01.jpg|160px|right|thumb|Pedra comemorativa da [[Batalha das Linhas de Elvas]], 1659, com menção a D. Afonso VI.]]
[[Imagem:BLElvas 01.jpg|160px|right|thumb|Pedra comemorativa da [[Batalha das Linhas de Elvas]], 1659, com menção a D. Afonso VI.]]
Foram cinco as vezes em que os portugueses combateram os castelhanos durante o seu reinado, por ocasião da [[Guerra da Restauração]], sempre em menor número que os adversários. Logo no ínício do ano de 1657, a regente é informada pelo Conde de Soure que os espanhóis reunião tropas para invadir [[Portugal]] na [[Primavera]]<ref name="História8"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 43, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref> <ref> Carta à rainha D. Luísa de Gusmão, Elvas, 15 de Janeiro de 1657.</ref>. Pouco tempo depois André de Albuquerque, general português, precisa o local de ajuntamento das tropas: [[Badajoz]]. Constava ainda que o próprio monarca vizinho viria dirigir um poderoso exército a Mérida<ref> Carta à rainha D. Luísa de Gusmão, Elvas, 21 de Janeiro de 1657.</ref>. Substituído o [[conde de Soure]] no comando das operações militares nacionais no [[Alentejo]], é o [[conde de São Lourenço]] que se encarrega de tal tarefa<ref name="História10"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 44, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>.
Mereceu o cognome de ''O Vitorioso'', por no seu reinado [[Portugal]] ter vencido a [[Espanha]] em várias batalhas da [[Guerra da Restauração]]. Em dez anos, mais ou menos o tempo em que combateu o país vizinho, diz António Pereira de Figueiredo, que «alcançou tão grande nomeada, que ninguém se pode comparar com ele no número de vitórias e na glória que delas resultou». <ref name="História4"> FIGUEIREDO, António Pereira, ''[http://books.google.com/books?id=vX3Rumhai8UC&printsec=frontcover&dq=reis+de+portugal&as_brr=3&hl=pt-PT#PPA211,M1 Elogios dos reis de Portugal: em latim e em portuguez, illustrados de notas historicas e críticas]'', p. 211, 1785</ref> Foram cinco as vezes em que os portugueses combateram os castelhanos durante o seu reinado, por ocasião da Guerra, sempre em menor número que os adversários. A primeira batalha foi a de [[Batalha de Badajoz|Badajoz]] em [[1657]], comandada pelo General João Mendes de Vasconcelos. A segunda ocorreu nas Linhas d'Elvas, em [[1659]], e foi comandada por D. António Luís de Meneses, conde de Cantanhede. No ano de [[1663]] ocorreu em Lisboa um perigoso motim perante a perda de [[Évora]] e de outras terras [[Alentejo|alentejanas]], que desassossegou a corte. Sucede-se então, no mesmo ano, a [[Batalha do Ameixial|terceira batalha]] deste reinado, no [[Ameixial]], junto a [[Extremoz]], comandada por D. [[Sancho Manoel]], depois primeiro [[Conde de Vila-Flor]].<ref name="História5"> TOSCANO, Francisco Soares, ''[http://books.google.com/books?id=nedHAAAAMAAJ&pg=PA3&dq=Sancho+Manoel&as_brr=3&hl=pt-PT#PRA2-PA380,M1 Parallelos de principes]'', p. 380, 1733</ref>

Providencia a nomeação de capitães nas praças de [[Castelo de Vide]], [[Marvão]] e [[Vila Viçosa]] e chama reforços de [[Trás-os-Montes]], das [[Beiras]] e do [[Algarve]]. A zona do Guadiana é, em princípios do mês de Abril, dominada pelos espanhóis. Não resistiram as praças de [[Olivença]] e [[Mourão]]. Já em [[1658]], sabe-se então da pretenção das tropas de Filipe em ocupar [[Vila Viçosa]]. Eis que surge um dos grandes generais da Restauração, D. [[Sancho Manoel]], governador da Praça de Elvas. D. Luis de Haro e as suas tropas, de cerca de 20 mil homens e muita artilharia, cercam [[Elvas]], cerco este que se mantém durante três meses. Dentro das muralhas, resistiram os portugueses sob diário fogo de artilharia. Trezentos mortos por dia foi o resultado da [[peste]] que também se abateu sobre os [[militar]]es. Esperavam-se os reforços vindos de todo o país, comandados pelo [[conde de Cantanhede]], António Luís de Menzes, que não tardaram a chegar. A batalha era decisiva, pois estava em causa o controlo de [[Lisboa]]. É a [[14 de Janeiro]] de [[1659]] que se dá a batalha nos campos de Elvas, tendo vencido os portugueses. D. Sancho recebe em troca da sua valentia em Elvas, o título de [[Conde de Vila Flor]].

Porém, a [[batalha]] - viriam os portugueses a saber mais tarde - não foi definitiva, pois o [[Tratado dos Pirinéus]] deixa a Espanha sem outros encargos militares.<ref name="História11"> SERRÃO, Joaquim Veríssimo, ''História de Portugal'', vol. V, p. 46, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed</ref>

{{quote2|''(...) em breve, o Rei voltaria a sentir os efeitos de uma ameaça, porventura mais grave.|Joaquim Veríssimo Serrão.}}

Antes, todavia, deflagra uma crise política no sei da corte, que opõe D. Luísa a D. Afonso, mãe e filho, pelas rédeas do Poder.

No ano de [[1663]] ocorreu em Lisboa um perigoso motim perante a perda de [[Évora]] e de outras terras [[Alentejo|alentejanas]], que desassossegou a corte. Sucede-se então, no mesmo ano, a [[Batalha do Ameixial|terceira batalha]] deste reinado, no [[Ameixial]], junto a [[Extremoz]], comandada por D. [[Sancho Manoel]].<ref name="História5"> TOSCANO, Francisco Soares, ''[http://books.google.com/books?id=nedHAAAAMAAJ&pg=PA3&dq=Sancho+Manoel&as_brr=3&hl=pt-PT#PRA2-PA380,M1 Parallelos de principes]'', p. 380, 1733</ref>

[[Imagem:Frederick Schomberg.jpg|thumb|left|130px|O estratega alemão, [[Armando Frederico|Frederico, conde e duque de Schomberg]], que apoiou militarmente as campanhas de Afonso VI contra a [[Espanha]].]]
[[Imagem:Frederick Schomberg.jpg|thumb|left|130px|O estratega alemão, [[Armando Frederico|Frederico, conde e duque de Schomberg]], que apoiou militarmente as campanhas de Afonso VI contra a [[Espanha]].]]
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Revisão das 17h23min de 25 de janeiro de 2009

Predefinição:Info/Rei de Portugal D. Afonso VI (Lisboa, 21 de Agosto de 1643, Lisboa - 12 de Setembro de 1683) foi o 2º Rei de Portugal da Dinastia de Bragança.

Biografia

Nascido apenas como Infante de Portugal, D. Afonso não estava destinado a reinar nem foi preparado para tal, em virtude do herdeiro da coroa ser o seu irmão mais velho, o brilhante Príncipe D. Teodósio.[1] A sua formação foi pouco cuidada, à semelhança dos restantes irmãos, o que se confirma quando D. Catarina parte para a Inglaterra, em virtude do seu casamento com Carlos II, quase sem saber falar inglês. [1]

Ao contrário dos seus irmãos, Afonso passou a sua infância e juventude em Lisboa, num ambiente tenso e mergulhado em preocupações políticas, governativas, militares, entre outras. [1] Com 3 ou 4 anos de idade, atinge-o uma «febre maligna» que lhe afecta o lado direito do corpo e que se repercutirá na sua vida em variados aspectos, desde políticos a familiares e sexuais[1]. Uma doença do sistema nervoso central, pensa-se hoje, talvez uma meningoencefalite, uma doença de foro nervoso, como propõe Montalvão Machado [2].

A morte do irmão, D. Teodósio, sucede-se a 13 de Maio de 1653 e, a 17 de Novembro do mesmo ano, falece D. Joana. Passa Afonso para a ribalta como novo herdeiro do trono de Portugal.

Criação da Casa do Infantado

Entre 1654 e 1655, poucos anos antes de falecer, D. João VI dispensa em benefício do infante D. Pedro, que mais tarde se tornaria rei de Portugal, um vasto património de senhorios, grande parte deles usurpados aos nobres contrários à Restauração que haviam partido para Castela. Estes senhorios expandiam-se ao longo do território português, do Norte ao Baixo Alentejo, e estão na origem da Casa do Infantado.

Garantia-se assim, não só «o mantimento dos filhos segundos da coroa», nas palavras de Veríssimo Serrão, mas também o suporte da descendência de forma a perpetuar o sangue real português o mais que se pudesse. [3] Porém, alguns historiadores interpretam esta medida de forma diferente: com a debilidade da monarquia portuguesa, que nem sequer era reconhecida internacionalmente, e a insegurança que representava da incapacidade do herdeiro[3], inclusive a gerar descendentes, esta medida conseguia colocar nas mãos da família real um vasto património, que garantitia a sua importância senhorial.

A Casa de Bragança, a Casa do Infantado e a Casa do Cadaval, com quem a monarquia mais tarde contraiu alianças, formavam a trindade da nobiliarquia portuguesa e, embora tivessem todas elas ligações à coroa, as suas possessões estavam segregadas do património do Estado.[3]

Subida ao trono e regência de D. Luísa

Volvidos três anos, falece D. João IV, deixando um sucessor cuja idade ainda não lhe permitia governar e de capacidade mental duvidosa para assumir a função. Foi aclamado e jurado rei a 15 de Novembro de 1656[4]. O boato que sofria de alguma doença mental, levou a levantar-se a questão do adiamento da cermónia Manteve-se a data por entendimento da rainha. A oração de praxe foi coube aos doutor António de Sousa Macedo, jurisconsulato e diplomata, destacando, não a figura de D. Afonso, mas a de seu pai, a quem definiu como «hum sugeito quasi divino». Não deixou de evocar os feitos dos reis anteriores, provavelemte, com o propósito de despertar o brio do jovem monarca, cuja nação se preparava para o recomeço da ofensiva espanhola, que já se fazia anunciar, e ao qual se incumbia o dever de juntar todas os estímulos para, ao fim de dezasseis anos de guerra, não comprometer a independência face ao país vizinho e todo o processo de restauração agregado[5].

Retrato de D. Luísa de Gusmão, rainha de Portugal, regente no início do reinado de D. Afonso VI.

Este era o dia em que se iniciava também a regência da sua mãe, D. Luísa de Gusmão.[6].

A regência de D. Luísa centrou-se, inicialmente, na organização do governo de modo a impor-se às facções palacianas em jogo. Nomeia então, D. Francisco de Faro, Conde de Odemira, para aio de D. Afonso e mantém os oficiais da Casa Real que exerciam tais funções no tempo do seu marido. D. Francisco filho do segundo Conde de Faro, D. Estevão de Faro, e de D. Guiomar de Castro, filha do quarto Barão do Alvito, D. João Lobo da Silveira, e neta, por parte da mãe, do segundo Senhor de Lavre e Estepa, D. João Mascarenhas. Através dos matrimónios das suas filhas, D. Maria e D. Guiomar, traçou relações com o sétimo Conde da Feira e com o primeiro Duque de Cadaval, o célebre D. Nuno Álvares Pereira de Melo, e com o terceiro conde de Vila Nova de Portimão, respectivamente. D. Francisco, como se constata, pertencia a uma das famílias mais poderosas e de maior tradição em Portugal, e com dilectas ligações de parentesco com outras casas de suma importância, como é o caso da Casa de Cadaval. [7] A Pedro Vieira da Silva e Gaspar Faria Severim, comendador de Moura, coube o Conselho de Estado. Porém a rivalidade entre D. Francisco e o Conde de Cantanhede dificulta a regência da mãe de D. Afonso. Esta vê-se obrigada a nomear a «Junta Nocturna», assim conhecida por ter reuniões à noite.[6]. Para além dos dois nobres em disputa, constavam nela outros oficiais de confiança, como o marquês de Nisa, Pedro Fernandes Monteiro, o conde de São Lourenço e Frei Domingos do Rosário, diplomata experiente. Esta Junta teve bastante utilidade e agilidade aos comandos dos negócios públicos.[6]

Amizade com António Conti

Com 13 anos, narra Veríssimo Serrão [2], divertia-se quando de uma janela do Paço Real observava rapazes de baixa condição nas suas brincadeiras, que incluiam lutas e outras arruaças [2]. A dita janela voltava as vistas para um pátio rodeado de arcadas, onde se reuniam alguns mercadores e outros negociantes. Entre eles estava António Conti, um astuto genovês, que, constam documentos, soube insinuar-se nas boas graças do monarca, aplaudindo os seus protegidos e ofertando bugigangas condizentes com o seu pouco apurado gosto, sempre que o rei descia ao pátio para conversar com ele. [8] Conti tratou de lhe apresentar o seu irmão e também outros rapazes, incluindo negros, lacaios, mouros e outros de ínfima estirpe[2]. [8] Tomada possa da sua casa, a 7 de Abril de 1660, D. Afonso introduz António no paço, concedendo-lhe alojamente, um quarto com porta para a câmara do rei, causando, claramente, um escândalo na corte.

Painel de azulejos do século XVII, que representam o antigo Paço da Ribeira, destruído em 1755 devido ao terramoto que abalou Lisboa nesse mesmo ano. D. Afonso VI foi o primeiro infante a habitar neste palácio.

Tomando posse da sua casa, a 7 de Abril de 1660, deliberadamente, consegue D. Afonso um alojamento no paço para António Conti, um quarto com porta para a câmara do rei, atitude que provocou escândalo na corte. Atribui-lhe igualmente o foro de moço do guarda-roupa do rei. Assim, tinha o privilégio de assistir aos vestir e despir da real pessoa, que o designou também moço das chaves. António consegue ainda do rei que este o tornasse fidalgo, lhe concedesse uma comenda e ainda o hábito da Ordem de Cristo. O monarca dispensa-lhe ainda uma capela cujo rendimento acercava-se dos 1000 cruzados[9].

A regente, de início, tentou apaziguar estas atitudes e impedir que o rei mantivesse contacto com estes rapazes, aconselhando-o. Porém, D. Afonso não a escutava, nem tão pouco aos conselheiros, entre os quais o conde de Odemira, D. Francisco. As brincadeiras de mau gosto continuavam, eram motivo de preocupação na Corte e no Reino e D. Luísa teve que tomar uma medida drástica. É implementada a pena de açoites e degredo a quem, com mais de quinze anos, «jogasse pedradas».[2] [10]. Ao abrigo desta lei, António Conti é desterrado para o Brasil. D. Francisco de Faro aproveita o mote e expulsa o grupo do paço, que ali entrava a seu belo-prazer.[2]. Quem não gostou foi, obviamente, D. Afonso, que, ao ver-se impedido de contactar com os seus amigos, volta a sua ira contra a mãe e contra os membros do conselho de estado, incluindo D. Francisco[2].

Surgem então na vida do jovem rei dois jovens cortesãos que lhe restituem as amizades perdidas. São eles D. Jerónimo de Ataíde (um dos filhos da célebre Filipa de Vilhena), e D. Luís de Vaconcelos e Sousa, que ficou para a História como o célebre conde de Castelo Melhor, título que lhe pertencia. Como diz Veríssimo Serrão, «não [se aproximaram de D. Afonso] porque lhes conviesse a vida escandalosa deste mas porque sentiam que o favor régio estava a seu alcance logo que ele tomasse o poder.» [2].

A Guerra da Restauração

Mereceu D. Afonso o cognome de O Vitorioso, por no seu reinado Portugal ter vencido a Espanha em várias batalhas da Guerra da Restauração. Em dez anos, mais ou menos o tempo em que combateu o país vizinho, diz António Pereira de Figueiredo, que «alcançou tão grande nomeada, que ninguém se pode comparar com ele no número de vitórias e na glória que delas resultou». [11]

  • A Batalha de Linhas de Elvas
Pedra comemorativa da Batalha das Linhas de Elvas, 1659, com menção a D. Afonso VI.

Foram cinco as vezes em que os portugueses combateram os castelhanos durante o seu reinado, por ocasião da Guerra da Restauração, sempre em menor número que os adversários. Logo no ínício do ano de 1657, a regente é informada pelo Conde de Soure que os espanhóis reunião tropas para invadir Portugal na Primavera[6] [12]. Pouco tempo depois André de Albuquerque, general português, precisa o local de ajuntamento das tropas: Badajoz. Constava ainda que o próprio monarca vizinho viria dirigir um poderoso exército a Mérida[13]. Substituído o conde de Soure no comando das operações militares nacionais no Alentejo, é o conde de São Lourenço que se encarrega de tal tarefa[14].

Providencia a nomeação de capitães nas praças de Castelo de Vide, Marvão e Vila Viçosa e chama reforços de Trás-os-Montes, das Beiras e do Algarve. A zona do Guadiana é, em princípios do mês de Abril, dominada pelos espanhóis. Não resistiram as praças de Olivença e Mourão. Já em 1658, sabe-se então da pretenção das tropas de Filipe em ocupar Vila Viçosa. Eis que surge um dos grandes generais da Restauração, D. Sancho Manoel, governador da Praça de Elvas. D. Luis de Haro e as suas tropas, de cerca de 20 mil homens e muita artilharia, cercam Elvas, cerco este que se mantém durante três meses. Dentro das muralhas, resistiram os portugueses sob diário fogo de artilharia. Trezentos mortos por dia foi o resultado da peste que também se abateu sobre os militares. Esperavam-se os reforços vindos de todo o país, comandados pelo conde de Cantanhede, António Luís de Menzes, que não tardaram a chegar. A batalha era decisiva, pois estava em causa o controlo de Lisboa. É a 14 de Janeiro de 1659 que se dá a batalha nos campos de Elvas, tendo vencido os portugueses. D. Sancho recebe em troca da sua valentia em Elvas, o título de Conde de Vila Flor.

Porém, a batalha - viriam os portugueses a saber mais tarde - não foi definitiva, pois o Tratado dos Pirinéus deixa a Espanha sem outros encargos militares.[15]

Antes, todavia, deflagra uma crise política no sei da corte, que opõe D. Luísa a D. Afonso, mãe e filho, pelas rédeas do Poder.

No ano de 1663 ocorreu em Lisboa um perigoso motim perante a perda de Évora e de outras terras alentejanas, que desassossegou a corte. Sucede-se então, no mesmo ano, a terceira batalha deste reinado, no Ameixial, junto a Extremoz, comandada por D. Sancho Manoel.[16]

O estratega alemão, Frederico, conde e duque de Schomberg, que apoiou militarmente as campanhas de Afonso VI contra a Espanha.

A quarta batalha travada foi a de Castelo Rodrigo, também em 1663, comandada por Pedro Jacques de Magalhães, e a quinta a de Montes Claros, cujo comando coube ao terceiro conde de Cantanhede, D. António Luís de Meneses, depois Marquês de Marialva. Porém, as vitórias levadas a cabo desde 1660 foram amparadas por um estratega alemão, o Conde de Schomberg, contratado naquele ano pelo conde de Soure.

A rainha chegou a encarar a hipótese de o infante D. Pedro, seu 3º filho, vir a ser jurado herdeiro do trono, para o que recebeu casa própria (seria mais tarde efectivamente rei como D. Pedro II de Portugal). Mas tendo falhado o golpe palaciano de 1662, que visava o desterro de António Conti no Brasil ou, talvez mesmo, a prisão do monarca, abriu-se o processo que levou ao termo da regência em 23 de Junho de 1662, à entrega do poder efectivo ao rei.

Poder efectivo

Realeza Portuguesa
Dinastia de Bragança
Descendência

Teve por primeiro-ministro e amigo dilecto D. Luís de Vasconcelos e Sousa, o 3.º conde de Castelo Melhor, que o ajudou a manter-se no poder, não obstante a sua incapacidade mental. Não oferece dúvida que foi ele o cérebro da manobra que afastou a rainha da vida pública, tendo nela participado o conde de Atouguia e Sebastião César de Meneses. Levaram o rei para Alcântara e para lá convocaram a nobreza, retirando-se ao Paço da Ribeira o centro de decisão política. A rainha, tratada com o maior respeito pelo grupo de Castelo Melhor, se manteve no Paço até Março de 1663, quando se recolheu ao convento dos Agostinhos Descalços (ou dos Grilos). Era obra sua a aliança com a Inglaterra, assinada em 1662, condição de sobrevivência da dinastia, assim como o preparo das forças que, entre 1657 e 1661, mantiveram a defesa do Reino. Morreu ela a 27 de Novembro do ano seguinte, no convento do vale de Xabregas.

O golpe palaciano que a depôs é assim descrito: «O conde de Castelo Melhor, auxiliado por alguns fidalgos, conseguiu que o monarca saísse para Alcântara, e daí fizesse saber a sua mãe que resolvera assumir o poder. A rainha tentou resistir por boas razões e conselhos, porém nada conseguiu, porque o conde de Castelo Melhor, disposto a subir ao poder, não desistia por caso algum. A 29 de Junho de 1662, el-rei assumiu definitivamente o governo do reino, ou antes, em seu nome o conde de Castelo Melhor, que se fez nomear escrivão da puridade. O conde empregou sua astúcia em afastar de junto do rei as pessoas que podiam ofuscar-lhe o seu valimento; até conseguiu que a própria rainha se afastasse, acolhendo-se ao convento do Grilo. É certo porém, que se o conde se serviu de meios nem sempre dignos para subir ao poder, mostrou-se digníssimo em exercê-lo. O reinado de D. Afonso VI deveu-lhe a glória que o iluminou, e o inepto soberano pôde alcançar na história o epíteto de o vitorioso.

Já no tempo da regência da rainha D. Luísa, Portugal tinha resistido aos combates contínuos que se seguiram à aclamação de D. João IV e às dissidências que se armaram entre os portugueses. Ganharam forças os dois partidos, do conde de Odemira, D. Francisco de Faro, e do conde de Cantanhede, D. António Luís de Meneses; ambos contavam grandes influências no seu grémio. A rainha teve de lutar com as dificuldades que lhe criavam; um terceiro partido, o do clero, também se organizou a favor da rainha, tendo à sua frente o irlandês Frei Domingos do Rosário. D. Luísa, perfeita diplomata, organizara um governo composto de todas as facções. A Espanha, sempre em guerra, começou a célebre campanha em 1657, e tomou as praças de Olivença e Mourão. Portugal conseguiu recuperar a praça de Mourão. Em 1658, deu-se o desastre de Badajoz, pela malograda tentativa de Joanes Mendes de Vasconcelos, desastre que causou muitas vítimas e muitas perdas; no mesmo ano, porém, a brilhante batalha do forte de S. Miguel foi gloriosa compensação. O cerco de Elvas, praça tão heroicamente defendida por D. Sancho Manuel, e em 14 de Janeiro de 1659 a célebre batalha das linhas de Elvas foram grandiosos feitos de armas. Nesta batalha distinguiu-se o conde de Cantanhede, que recebeu, entre outras mercês, o título de 1.º marquês de Marialva, por carta de lei de 11 de Junho de 1661. O tratado de paz entre França a Espanha, em 1660, prejudicou muito a política portuguesa, colocando em risco a nossa independência.

«Depois de Afonso VI tomar posse da governação de Estado, D. João de Áustria, filho bastardo do rei de Castela, invadiu o Alentejo, tomou Évora, e chegou quase às portas de Lisboa. O conde de Castelo Melhor tratou de organizar importantes forças para repelirem esta invasão, colocando à frente dessas forças D. Sancho Manuel, conde de Vila Flor, e o conde de Schomberg. Seguiu-se uma série de combates a de vitórias; a reconquista de Évora, a tomada de Assumar, Ouguela, Veiros, Monforte, Crato e Borba; Figueira de Castelo Rodrigo, Ameixial, batalha que se deu em 1663, em que muito se distinguiram os generais marquês de Marialva, e conde de Schomberg. A decadência de Portugal era inevitável, com um rei tão fraco que tudo sacrificava à quietação do espírito e às suas comodidades. Nas colónias ainda essa decadência mais se pronunciava. As complicações da Índia, a aliança da Inglaterra, com o casamento da infanta D. Catarina de Bragança, filha de D. João IV, com o rei de Inglaterra, Carlos II, que levou em dote duas praças, Bombaim e Tânger, a tomada, pelos holandeses, de Ceilão, Cranganor, Negapatam, Cochim, Coulam, e Cananor, as negociações a que foi indispensável entrar com eles e a traição do duque de Aveiro e de D. Fernando Teles de Faro. A campanha contra os espanhóis, terminou por assim dizer, com a batalha de Montes Claros, ganha pelo marquês de Marialva e o conde de Schomberg. Depois desta batalha, só houve escaramuças a guerras de fronteira. Os espanhóis, já cansados de tanto lutar, começaram a tratar da paz, que o conde de Castelo Melhor só queria aceitar com as condições a que nos dava direito a nossa constante supremacia militar. Assim o conde exigia que a Espanha nos cedesse uma porção do seu próprio território, queria a Galiza, e com certeza o conseguiria, se as intrigas da corte o não houvessem precipitado do poder.»

Grupos palacianos se aproveitaram da situação. Um grupo de nobres que incluía também o marquês de Marialva, o conde de Sarzedas, o conde de Vila Flor, conseguiu derrubar o conde de Castelo Melhor. A 27 de Outubro a Câmara de Lisboa pediu a convocação imediata das Cortes, enquanto Castelo Melhor se exilava num mosteiro de arrábidos perto de Torres Vedras, exilando-se depois nas cortes de Sabóia, França e da Inglaterra (sua situação só se desanuviou depois da morte da Rainha em 1683). A Rainha deixou o Paço em 21 de Novembro, recolhendo-se ao convento da Esperança em clausura com suas damas e oficiais, no que se considerou grande escândalo.

Após seu afastamento em 1667 D. Afonso foi compelido por sua mulher, Maria Francisca, e irmão, Pedro, a abdicar do trono no dia 22 de Novembro. O infante D. Pedro justificou a tomada do governo pela exigência do «Senado lisboeta». Guardou apenas o título de «curador» e governador do Reino. Desde 26 de Novembro de 1667 os documentos vêm assinados pelo «Infante» e só depois de Cortes em 1668 passaram a sê-lo pelo «Príncipe». Fez membros do Conselho de Estado o duque de Cadaval, D. Nuno Álvares Pereira de Melo, D. Vasco Luís da Gama, marquês de Nisa. escolheu como Presidente da Mesa do Desembargo do Paço o marquês de Gouveia, D. João da Silva, e como vedor da Fazenda o velho general D. António Luís de Meneses, marquês de Marialva. Eram todos elementos ligados ao «partido francês», vitoriosos sobre a facção «inglesa» comandada por Castelo Melhor.

D. Afonso foi banido para a ilha Terceira, nos Açores. Tais actos foram sancionados pelas Cortes de Lisboa de 1668. O rei morreu em Sintra, em 1683 depois de preso durante 9 anos no Quarto com seu nome no Palácio Real de Sintra. Sua morte, se diz ter sido por envenenamento, após deposto pelo irmão Pedro II, que veio a casar com a sua mulher. Apenas saía do quarto para se dirigir à Capela do Palácio.

Casamento

Em 1652 falhou o casamento com a filha do príncipe de Parma, o mesmo sucedendo pouco depois com Mademoiselle de Montpensier, e tampouco resultou o plano de o casar com a filha do duque de Orléans, origem de uma missão de D. Francisco Manuel de Melo. Afinal o marquês de Sande, D. Francisco de Melo, assinou em Paris a 24 de fevereiro de 1666 o contrato matrimonial com D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, Mademoiselle d´Aumale. O casamento se celebrou por procuração em La Rochelle em 27 de junho e a nova Rainha chegou a Lisboa a 2 de agosto. D. Maria Francisca alimentou esperanças de gravidez, em que pese a corrente favorável ao infante D. Pedro (o duque de Cadaval, o embaixador francês e outros) dizer depois que o casamento não se consumara.

Depois de se recolher ao convento, como se menciona acima, a Rainha entrou no dia seguinte com um pedido de anulação do matrimônio no Cabido de Lisboa. Diz Veríssimo Serrão que «o processo constitui uma página lamentável de nossa história», ,mas mesmo que a tese da não consumação possa suscitar reservas, o processo contém matéria abundante para provar a incapacidade do monarca em assegurar a sucessão do Reino. Não resiste à menor crítica, segundo o mesmo historiador, a versão posta a correr de os dois cunhados terem amores incestuosos. Antes da anulação ser declarada, já as Cortes de 1668 tinham sentido o grave problema e sugerido ao infante o casamento com a Rainha, «para quietação do Reino e segurança de sua real sucessão». Efetuaram-se diligências em Roma para a necessária dispensa, no impedimento publicae honestatis que pudesse haver entre os nubentes, tendo a bula de autorização chegado a Lisboa a 27 de março.

Fim da vida

Instalado na ilha Terceira, ali permaneceu ao longo de cinco anos. Viveu caprichoso, em turbulência constante e com grande violência física, nem mesmo poupava os criados. Em fins de 1673 descobriu-se em Lisboa uma conspiração para favorecer seu regresso. Diversos conspiradores foram mesmo enforcados no Rossio. O Rei, mandado vir, chegou a Lisboa em 14 de setembro de 1674, sendo conduzido ao Palácio de Sintra. Durante nove anos viveu ali, fechado em seus aposentos, com servidores da inteira confiança do duque de Cadaval. No início de 1683 foi sangrado, tomou purgas, em 30 de maio teve «agastamentos, com dores», na manhã de 12 de setembro teve um acidente apoplético e ficou sem fala, morrendo logo. Montalvão Machado, em «Causas de Morte dos Reis Portugueses», Lisboa, 1974, diz que o rei morreu de tuberculose pulmonar, como outros filhos de D. João IV e D. Luísa.

Jaz juntamente com seu irmão D. Pedro II e D. Maria Francisca no Panteão dos Braganças em Lisboa.

Bibliografia

  • RIBEIRO, Mário de Sampayo, Estudos de Crítica Histórica I, 1667 - 1668, A destronação de el-Rei D. Afonso VI e a anulação de seu matrimónio, Lisboa, 1938.

Referências

  1. a b c d LOURENÇO, Paula, PEREIRA, Ana Cristina, TRONI, Joana, Amantes dos Reis de Portugal, p. 163, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2ª ed, Dezembro de 2008
  2. a b c d e f g h SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, vol. V, p. 46, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed
  3. a b c SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Prtugal, vol. V, p. 128-129, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed
  4. LOURENÇO, Paula, PEREIRA, Ana Cristina, TRONI, Joana, Amantes dos Reis de Portugal, p. 164, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2ª ed, Dezembro de 2008
  5. SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, vol. V, p. 42-43, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed
  6. a b c d SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, vol. V, p. 43, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed
  7. Dados biográficos de D. Francisco de Faro, sétimo conde de Odemira no site GeneAll.net
  8. a b Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro.
  9. LOURENÇO, Paula, PEREIRA, Ana Cristina, TRONI, Joana, Amantes dos Reis de Portugal, p. 165, A Esfera dos Livros, Lisboa, 2ª ed, Dezembro de 2008
  10. Alvará de 31 de Janeiro de 1604, confirmado por resolução a 29 de Outubro de 1659, J. J. Andrade e Silva, Collecção Chronologica de Legislação Portugueza (1657-1674), p. 34
  11. FIGUEIREDO, António Pereira, Elogios dos reis de Portugal: em latim e em portuguez, illustrados de notas historicas e críticas, p. 211, 1785
  12. Carta à rainha D. Luísa de Gusmão, Elvas, 15 de Janeiro de 1657.
  13. Carta à rainha D. Luísa de Gusmão, Elvas, 21 de Janeiro de 1657.
  14. SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, vol. V, p. 44, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed
  15. SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, vol. V, p. 46, Editorial Verbo, Lisboa, 2ª ed
  16. a b TOSCANO, Francisco Soares, Parallelos de principes, p. 380, 1733

Ver também


Precedido por
D. João IV

Rei de Portugal e dos Algarves
d'Aquém e d'Além-mar em África, etc.

1656 - 1683
Sucedido por
D. Pedro II
Precedido por:
D. Teodósio
III de Bragança

Príncipe do Brasil

Seguido por:
D. João V de Portugal
(III de Bragança)

Duque de Bragança

1653 - 1683

Conde de Ourém

1653 - 1683