Currais do governo

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Os currais do governo, oficialmente designados de Campos de Concentração, foram campos de concentração criados pelo Governo Federal brasileiro para as vítimas das secas no Ceará de 1915 e 1932.[1][2][3]

As secas e os governos brasileiros[editar | editar código-fonte]

Os períodos de estiagem com grave carestia (fome generalizada) que fazem parte do clima do Nordeste brasileiro despertaram (e despertam) a atenção dos governantes desde a época do Império de D. Pedro II. E, por sua vez, estes reagiram com planos e projetos nas áreas de engenharia, social e política, tentando assim amenizar as consequências das secas tanto para as populações diretamente afetadas (os flagelados), bem como as classes políticas locais.

Um exemplo na área social foram as ações durante a Grande Seca de 18771879. Nesta, o governo do império incentivou a migração de uma grande parte da população do Ceará para a Amazônia e outras regiões. Com esta campanha, os migrantes cearenses agilizaram o primeiro Ciclo da Borracha.

Essa campanha se repete na seca de 1943, desta vez coordenada e centralizada por uma instância federal, o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia — SEMTA (ver: Soldados da Borracha), com o apoio financeiro dos Acordos de Washington, e assim agilizou o segundo ciclo da Borracha.

Como exemplo da ações na área de engenharia temos a iniciativa de D. Pedro II, que depois da seca de 1877 envia uma equipe de engenheiros para a região nordestina para estudar as possibilidades de projetos de engenharia com a intenção de amenizar as consequências das secas. Os resultados desses estudos, realizados por engenheiros brasileiros e ingleses, indicaram a construção de barragens ou açudes. Um bom exemplo disto é o projeto da construção do Açude do Cedro, uma obra que foi iniciada pelo primeiro governo republicano de Deodoro da Fonseca e finalizada na gestão de Afonso Pena.

A criação do Instituto de Obras Contra as Secas (IOCS), atual Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), em 1909 por Nilo Peçanha é uma das respostas governamentais ao fenômeno da seca.

Os Campos de Concentração no Ceará, os "currais do governo", foram reações governamentais executadas nas secas de 1915 e 1932 no estado do Ceará.

A seca de O Quinze[editar | editar código-fonte]

A seca de 1915 foi o cenário para obras escritas como o livro O Quinze, de Rachel de Queiroz, bem com para a implantação do primeiro campo de concentração no Ceará, no Alagadiço, ao oeste de Fortaleza.

No Alagadiço, estima-se um ajuntamento de 8 mil pessoas, cuidadas com alguma comida e sob a vigília de soldados.

A razão para o uso desta estratégia foi os temores de invasões e saques dos flagelados da seca em Fortaleza — isso já acontecera na seca de 1877, quando sertanejos famintos invadiram a capital cearense, aterrorizando a população urbana.

Esse campo foi desfeito e as vítimas foram dispersadas em 18 de dezembro do mesmo ano.

Durante essa seca, muitos cearenses também migraram para a Amazônia.

A seca de 1932[editar | editar código-fonte]

Na seca de 1932 o nordeste brasileiro sofria com as consequências da estiagem, mas também vivia um momento histórico próprio dentro da era de Getúlio Vargas; Lampião e seu bando centralizavam as atenções dos políticos; as oligarquias políticas do Nordeste mudavam de nomes: Padre Cícero ainda tinha influência política e milagrosa para os sertanejos e a irmandade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto atraia centenas de flagelados para os arredores de Crato, no Ceará.

Com o temor da intensa invasão de flagelados para Fortaleza — e para outras grandes cidades do Ceará — a estratégia dos Currais do Governo mais uma vez foi implantada, só que desta vez não somente em Fortaleza, mas também em cidades com alguma estrutura básica e com estações de trens. Além dos campos de concentração na capital da Terra da Luz, um no já conhecido Alagadiço e um outro no noroeste da capital, no Pirambu (ou Campo do Urubu como ficou conhecido), foram instalados outros em Crato, Cariús, Ipu, Quixadá, Quixeramobim e Senador Pompeu.

Os sertanejos ali alojados recebiam algum cuidado e comida, e podiam trabalhar nas frentes de obras, sempre sob a vigilância de soldados.

Estima-se que cerca de 73 000 flagelados foram confinados nesses campos onde as condições eram desumanas, o que resultou em inúmeras mortes. Ainda durante essa seca, flagelados cearenses foram enviados para o combate nas trincheiras da Revolução de 1932 em São Paulo.

Referências

  1. (em português) Diariodonordeste - Currais humanos. Página acessada em 12 de Novembro de 2010.
  2. (em português) Papodebudega - Campos de Concentração no Brasil, sim, eles existiram… Acessado em 12 de Novembro de 2010.
  3. (em português) História Abril - Ceará: nos campos da seca. Acessado em 12 de Novembro de 2010.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]