Escola Austríaca

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A Escola Austríaca (também conhecida como Escola de Viena) é uma escola de pensamento econômico que enfatiza o poder de organização espontânea do mecanismo de preços. A Escola Austríaca afirma que a complexidade das escolhas humanas subjetivas faz com que seja extremamente difícil (ou indecidível) a modelação matemática do mercado em evolução e defende uma abordagem laissez-faire para a economia. Os economistas da Escola Austríaca defendem a estrita aplicação rigorosa dos acordos contratuais voluntários entre os agentes econômicos, e afirmam que transações comerciais devam ser sujeitas à menor imposição possível de forças que consideram ser coercivas (em particular a menor quantidade possível de intervenção do governo).

A Escola Austríaca deriva seu nome de seus fundadores e adeptos iniciais predominantemente austríacos, incluindo Carl Menger, Eugen von Böhm-Bawerk e Ludwig von Mises. Outros proeminentes economistas da Escola Austríaca do século XX incluem Henry Hazlitt, Israel Kirzner, Murray Rothbard, e o ganhador do Prémio de Ciências Económicas Friedrich Hayek.[1] Embora chamados de "austríacos", os atuais defensores da escola austríaca podem vir de qualquer parte do mundo. A Escola Austríaca foi influente no início do século XX e foi por um tempo considerada por muitos como sendo parte do pensamento econômico dominante (ou economia mainstream). Contribuições austríacas ao mainstream incluem ser uma das principais influências no desenvolvimento da teoria do valor neoclássica, incluindo a teoria do valor subjetivo em que se baseia, bem como as contribuições para o debate sobre o problema do cálculo econômico, que diz respeito à propriedades de alocação de uma economia planificada versus as propriedades de alocação de uma economia de livre mercado descentralizada.[2] A partir de meados do século 20 em diante, foi considerada uma escola heterodoxa[3][4], e atualmente contribui relativamente pouco para o pensamento econômico dominante.[5][6] No entanto, algumas afirmações de economistas da Escola Austríaca foram interpretados por alguns como avisos sobre a crise financeira de 2007-2009, que por sua vez levou ao interesse renovado em teorias da Escola.

Economistas da Escola Austríaca defendem estrita observância do Individualismo metodológico, que eles descrevem como a analise da ação humana a partir da perspectiva dos agentes individuais.[7] Economistas da Escola Austríaca argumentam que o único meio de se chegar a uma teoria econômica válida é derivá-la logicamente a partir dos princípios básicos da ação humana, um método denominado praxeologia. Este método sustenta que permite a descoberta de leis econômicas fundamentais válidas para toda a ação humana. Paralelamente a praxeologia, essas teorias tradicionalmente defendem uma abordagem interpretativa da história para abordar acontecimentos históricos específicos.[8] Além disso, enquanto economistas freqüentemente utilizam experimentos naturais, os economistas austríacos afirmam que testabilidade na economia é praticamente impossível, uma vez que depende de atores humanos que não podem ser colocados em um cenário de laboratório sem que sejam alteradas suas possíveis ações. Economistas pertencentes ao mainstream acreditam que a metodologia adotada pela moderna economia austríaca carece de rigor científico;[5][9] Os críticos argumentam que a abordagem austríaca falha no teste de falseabilidade.[5][10]

Origens

A Escola Austríaca de Economia reúne em torno de si uma gama considerável de autores distribuídos ao longo de cinco ou mais gerações de economistas. O início dessa tradição de pesquisa acontece com a publicação do Grundsätze, de Carl Menger, em 1871, um autor até então desconhecido que residia em Viena. Menger desde então tornou-se conhecido como o pai ou o fundador de um movimento específico no interior do pensamento econômico. A trajetória das ideias austríacas, desde essa época, pode ser traçada em seus aspectos gerais. Menger notabilizou-se pela sua exposição dos fundamentos da teoria do valor econômico, pela sua minuciosa descrição dos processos de produção e consumo e por um número de definições que viriam a ser incorporadas pela ortodoxia econômica no século XX. Mas Menger não se tornou muito conhecido à sua época, cabendo a dois seguidores, Böhm-Bawerk e Wieser, o papel de divulgadores de suas ideias para o público internacional. De fato, esses últimos tornaram-se muito respeitados na comunidade acadêmica e suas contribuições teóricas foram bastante aproveitadas na edificação de uma teoria do valor, da produção, dos ciclos econômicos e da lógica da escolha entre o início do século XX e os anos 30. Por essa época não havia uma clara distinção entre a tradição austríaca e a ortodoxia econômica que se firmara na Inglaterra, nos EUA e em outros países, mas a Escola Austríaca sempre guardou um afastamento da tradição marginalista e marshalliana que passou a predominar nesses meios.[11]

Metodologia

Na literatura especializada, os ensaios de Jaffé e Streissler demonstraram que a tradição austríaca em Menger mantinha uma especificidade de conceitos e ideias de modo a não poder ser confundida com a abordagem de um William Stanley Jevons ou de um Leon Walras, nomes usualmente colocados ao lado de Menger como representantes do episódio conhecido como Revolução Marginalista. Ao processo de separação de ideias entre Jevons, Walras e Menger, Jaffé cunhou a expressão “desomogeneização” (de-homogeneized) para indicar tratar-se de três tradições distintas que se filiam a diferentes técnicas de análise e pedigrees filosóficos, e como conseqüência cada qual focaliza a Economia de um modo bem particular.[11]

A escola austríaca baseia-se no conceito filosófico de individualismo (em oposição ao conceito de colectivismo), sendo a sua visão Aristotélica/racionalista da economia divergente das teorias económicas neo-clássicas actualmente dominantes, baseadas numa visão Platónica/positivista da economia.[12]

A escola austríaca considera o Individualismo metodológico como única fonte válida para a determinação de teorias económicas, ou seja, dada a complexidade e infinitos fatores que influenciam as decisões económicas dos vários indivíduos numa sociedade, a única forma válida de explicar essas decisões é estudar quais os princípios fundamentais que regem todas as ações humanas.[13]

À aplicação formal do Individualismo metodológico dá-se o nome de praxeologia. Esta visa definir leis económicas válidas para qualquer ação humana, ou seja, preocupa-se em analisar quais os conceitos e implicações lógicas por detrás das preferências e escolhas dos indivíduos, considerando verdadeiras apenas as leis económicas que são válidas independentemente do tempo ou lugar em que se aplicam.

A praxeologia levou à definição axiomas como, por exemplo, de que o homem age sempre com a intenção de aumentar o seu conforto ou reduzir seu desconforto, respeitando sempre uma escala ordinal de necessidades que nem sempre são objectivas ou racionais.

Utilizando o mesmo axioma[13], concluem alguns, que um mercado livre da influência estatal é a forma mais eficiente de suprir as diversas necessidades que surgem numa sociedade, dada, segundo esses, a incapacidade do Estado em interpretar correctamente e suprir com eficiência as necessidades em constante mutação dos diferentes indivíduos que compõem uma sociedade.[13]

Núcleo

  • Individualismo metodológico: este preceito, compartilhado pela teoria neoclássica, busca a explicação dos fenômenos econômicos na ação dos indivíduos, e não em entidades coletivas, como por exemplo faz o historicismo. Rejeita-se da mesma forma conceitos e agregados macroeconômicos que não sejam fundamentados na ação individual. A ação humana individual é o ponto de partida para a EA.[14]
  • Subjetivismo Metodológico: o subjetivismo da EA não se limita as preferências do consumidor, mas parte da noção de ação humana baseada em planos individuais, que incorpora também as expectativas e o conhecimento geral dos agentes econômicos, como conjecturas empresariais. Os meios e fins dos planos individuais têm sua origem na mente dos agentes, são imaginados e definidos pelas pessoas. É um subjetivismo "espitêmico": as expectativas, o conhecimento das preferências, dos bens e as conjecturas empresariais são conhecimento falível e conjectural, imaginados pelos agentes, não sendo "dados" de antemão ao economista. A relação entre o conhecimento individual e as realidades objetivas do mercado faz parte dos problemas estudados pela EA.[14]
  • Análise de Processo: os austríacos não centram sua análise nas propriedades de um estado de equilíbrio, mas sim no processo de trocas que levaria ou não a tal estado. Estuda a ação humana fora do equilíbrio. A análise de processo parte das conjecturas empresariais, cuja implementação leva a erros que surgem das ações baseadas em conhecimento imperfeito e prossegue estudando os mecanismos de correção de erros. A EA estuda a ordem espontânea do mercado, que surge da interação de indivíduos que agem conforme seus planos independentes, baseados em conhecimento imperfeito e sujeito a mudanças inesperadas.[14]
  • Complexidade: A EA identifica na diversidade micro a causa fundamental de vários fenômenos econômicos. Suas teorias evitam utilizar agregados homogêneos, apontando em vez disso para as relações estruturais entre os elementos diferenciados de tais agregados: enfatiza-se a estrutura do capital em detrimento de sua quantidade total, os movimento relativos nos preços são mais importantes do que o estudo do "nível dos preços", o conhecimento e expectativas variam conforme o agente e o sistema de preços é visto como um sistema complexo de adaptação a mudanças frequentes e desconhecidas pelos agentes, formando uma ordem espontânea auto-organizável.[14]
  • Heurística Positiva: orientada por estes preceitos básicos, a EA desenvolve teorias nas seguintes direções: tornar os fenômenos inteligíveis em termos de ação humana proposital, em especial o estudo de planos individuais; traçar consequências não intencionais da ação humana; lidar com as consequências da passagem do tempo e da imperfeição do conhecimento, como o estudo da inconsistência de planos; desenvolver teorias sobre a aquisiçao de conhecimento por parte dos agentes; estabelecer as condições para se admitir a existência de uma tendência ao equilíbrio; estabelecer as condições em que ocorrem desequilíbrio, como na teoria de ciclos; construir teorias com relações estruturais entre seus elementos, que dêem conta da diversidade e complexidade do fenômeno estudado.[14]
  • Heurística Negativa: paralelamente a este programa positivo, os austríacos seguem regras negativas como: não construir teorias que estabeleçam relações causais entre agregados e médias, sem fazer referência a ações humanas individuais; não construir teorias nas quais as ações humanas são completamente determinadas por situações externas, negando-se alguma autonomia a mente humana; não utilizar teorias que admitem conhecimento perfeito ou optimamente imperfeito; não desconsiderar diversidade individual dos agentes e o realismo das hipóteses (rejeita-se o instrumentalismo metodológico).[14]

Pessoas Importantes

Economistas filiados a escola austríaca

Precursores

Primeira Geração

Segunda Geração

Terceira Geração

Quarta Geração

Quinta Geração

Sexta Geração

George Mason e New York University
Mises Institute
Outros

Críticos

Ver também

Referências

  1. The Austrian School of Economics, Peter J. Boettke
  2. Jack Birner & Rudy Van Zijp. Hayek, Co-ordination and Evolution. Routledge, 1994. p. 94
  3. Boettke, Peter J.; Peter T. Leeson (2003). «28A: The Austrian School of Economics 1950-200». In: Warren Samuels, Jeff E. Biddle, and John B. Davis. A Companion to the History of Economic Thought. [S.l.]: Blackwell Publishing. pp. 446–452. ISBN 978-0631225737 
  4. Boettke, Peter. «Is Austrian Economics Heterodox Economics?». The Austrian Economists. Consultado em 13 de fevereiro de 2009 
  5. a b c Caplan, Bryan. «Why I Am Not an Austrian Economist». George Mason University. Consultado em 4 de julho de 2008  Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Caplan" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  6. Mankiw, Greg. «Mankiw: Austrian Economics». Consultado em 8 de fevereiro de 2009 
  7. Ludwig von Mises. «The Principle of Methodological Individualism». Human Action. Ludwig von Mises Institute. Consultado em 24 de abril de 2009 
  8. The interpretive turn, Don Lavoie
  9. "Austrian economics and the mainstream: View from the boundary" by Roger E. Backhouse, "Hayek did not fall out of favor because he was not Keynesian (neither are Friedman or Lucas) but because he was perceived to be doing neither rigorous theory nor empirical work."
  10. Why We Can't Associate Too Closely with the Austrians
  11. a b Feijo, Ricardo. Economia e Filosofia na Escola Austríaca. São Paulo: Nobel - 2000
  12. PRUNES, Cândido. Mont Pèlerin 2005. Rio de Janeiro: Especial para o "Instituto Liberal", 19/8/2005
  13. a b c (em inglês) Short History and Statement of Aims. Mont Pelerin Society
  14. a b c d e f (em português) O Processo de Mercado na Escola Austríaca Moderna. São Paulo - FEA/USP 2001
  15. a b George Mason University site
  16. Chase Distinguished Professor of International Business and Professor of Economics
  17. Karel Englis, Economist, politician
  18. Associate Professor of Economics

Bibliografia

Ligações externas

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