Orthorhyncus cristatus

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Orthorhyncus cristatus
O. cristatus macho na ilha de Guadalupe
CITES Appendix II (CITES)[2]
Classificação científica
Reino:
Filo:
Classe:
Ordem:
Família:
Subfamília:
Tribo:
Gênero:
Orthorhyncus

Espécies:
O. cristatus
Nome binomial
Orthorhyncus cristatus
Linnaeus, 1758
Distribuição geográfica
Sinónimos

Trochilus cristatus Linnaeus, 1758

O beija-flor-de-poupa,[3][4] também conhecido por colibri-de-crista-das-antilhas[5] (nome científico: Orthorhyncus cristatus), é uma espécie de ave apodiforme pertencente à família dos troquilídeos, que inclui os beija-flores. É o único representante do gênero Orthorhyncus, que é monotípico. Por sua vez, também é, consequentemente, a espécie-tipo deste gênero. Pode ser encontrada em altitudes entre nível do mar até os 1000 metros acima do mesmo, se distribuindo por quase a totalidade do conjunto de arquipélagos conhecido como Pequenas Antilhas.[6]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O nome binomial desta espécie deriva da amálgama de dois termos gregos antigos, respectivamente; um adjetivo: ὀρθός, orthós, significando literalmente algo como "retilíneo"; adicionado ao substantivo do grego antigo: ῥύγχος, rhúnkhos, que descreve literalmente a região do bico. Nisso, seu descritor específico, termo que especifica tal espécie deriva da língua neolatina: cristatus, que significaria algo como "coroado, crista longa". Ambos os termos utilizados se baseiam nas características fisiológicas do animal, com seu nome significando algo como "bico reto de crista longa" ou "coroado de nariz ereto".[7][8] Subespécies receberam nomes a partir de características que lhes tornariam divergentes da subespécie nominal: ornatus, palavra latina, significa literalmente "decorado, ornamentado" ao que exilis denota algo "pequeno, estreito, delgado"; outra subespeciação, emigrans, receberia esse nome por seus hábitos migratórios.[9][10][11] Seus nomes populares dentro dos dialetos brasileiro e europeu, referem-se principalmente a aparência da "crista" do beija-flor-de-poupa, com a palavra "poupa" atuando como sinônimo de "crista", no sentido mais ornitológico. Enquanto isso, o nome "colibri-de-crista-das-antilhas" descreve tanto as penas superiores da cabeça quanto a região de distribuição geográfica do beija-flor, provavelmente para diferenciá-la de outras espécies com o mesmo nome.[3][5][12]

Descrição[editar | editar código-fonte]

De acordo com que foi indicado na seção anterior, os beija-flores-de-poupa estão entre as poucas espécies de troquilídeos a possuir uma estrutura similar à uma crista, não sendo uma estrutura carnosa, porém, mas um ornamento de plumas. Esta espécie demonstra o dimorfismo sexual clássico e bem acentuado, onde o macho apresenta plumagem vibrante e colorida e um comprimento ligeiramente maior do que a fêmea.[13] Os machos apresentam um bico preto curto retilíneo; cabeça com crista verde com a ponta verde-metálica até verde-azulado brilhante. As partes superiores são verde-bronze metálico e opaco, enquanto suas partes inferiores são negras e fuliginosas; sua cauda, de cor preta, possui extremidade arredondada. Nas fêmeas, o bico é semelhante ao do macho, mas a cabeça não apresenta crista. A região central da cabeça, o píleo e partes superiores são verde-bronze metálico. Ao que as partes inferiores possuem coloração cinzenta. Na cauda, arredondada de tom enegrecido, apresenta-se com quatro retrizes externas de pontas largas e com coloração branco-cinzenta.[14]

Tais subespécies podem ser distinguidas pela cor de suas cristas: exilis é totalmente verde ou ligeiramente colorida em azul na extremidade; ornatus apresenta a região terminal abruptamente azul; cristatus possui a crista dourada a esmeralda, com a extremidade final violeta; emigrans é semelhante ao nominal, mas mais violeta-azulado, com a garganta em cinza mais claro; o grau de palidez nas partes inferiores das fêmeas se muda conforme a raça.[14]

Sistemática[editar | editar código-fonte]

A história natural do beija-flor-de-poupa inicia-se pela primeira metade do século do iluminismo, com a sua inclusão em uma publicação de George Edwards, um estudioso notório conhecido como "pai da ornitologia britânica": A Natural History of Uncommon Birds, onde descreveria a espécie por "crested humming bird".[15] Conforme o próprio, o pesquisador baseou a gravura, colorida manualmente, através de um espécime, um macho, coletado na região das Índias Ocidentais. Tal espécie seria descrita formalmente apenas depois de algum tempo, pelo naturalista sueco Carlos Lineu, no ano de 1758, na publicação da décima edição de sua importante publicação, Systema Naturae, na qual esta espécie seria classificada juntamente com os outros beija-flores reconhecidos na época dentro do gênero Trochilus. Na publicação de Carlos Lineu introduziria-se uma breve descrição e uma citação ao trabalho de George Edwards.[16] Por ser o único representante de seu gênero, este se classifica como um monotipo, no qual a espécie caracteriza-se como a espécie-tipo do gênero Orthorhyncus, introduzido primeiramente por Bernard Germain de Lacépède em 1799.[17][6] O local tipo para esta espécie está restringido para a ilha de Barbados.[18]

Estão reconhecidas quatro subespécies:[6]

Distribuição e habitat[editar | editar código-fonte]

Esta espécie se distribui pela totalidade do conjunto de arquipélagos conhecido como Pequenas Antilhas, que se encontra entre Caribe e a América do Sul. Por está região, se distribui ao norte pelo leste de Porto Rico, seguindo pelas Ilhas Virgens Britânicas e Ilhas Virgens Americanas, pelo qual prossegue através da Anguilla, Antigua e Barbuda, São Cristóvão e Névis, e em Montserrat, nos territórios ultramarinos franceses de Guadalupe e Martinica, além das Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Dominica, Barbados ao sul. Os seus habitats naturais são: florestas subtropicais ou tropicais úmidas de baixa altitude, florestas semiáridas e florestas secundárias altamente degradadas, como vegetação aberta, parques, plantações, bordas de florestas desde o nível do mar até altas montanhas. Se torna mais frequentemente avistada abaixo dos 500 metros acima do nível do mar.[14]

Comportamento[editar | editar código-fonte]

O beija-flor-de-poupa se tornou a primeira espécie de ave conhecida a ser predada por amblifigídeos, estes que também são conhecidos como aranhas-chicote-sem-cauda; no registro, entretanto, não sabe se seria o aracnídeo o responsável pela caça, visto que a ave foi encontrada morta no local.[21] O colibri-de-crista-das-antilhas também seria encontrado predando em ninhos de Anolis stratulus.[22] O beija-flor-de-poupa e muitos outros troquilídeos exibiram comportamento agonístico não apenas em relação a outras espécies de beija-flores, mas também para outras espécies de aves não competidoras, répteis e insetos, que podem ter como efeito reduzir localmente a sua diversidade biótica e serviços ecossistêmicos.[23]

Alimentação[editar | editar código-fonte]

Sua dieta consiste principalmente em néctar de uma variedade de arbustos floridos de Lantana, Euphorbia, entre outros, partes baixas de trepadeiras-das-sebes e em grandes árvores floridas, como nas árvores em Capparis, outros incluem Hibiscus, Bauhinia, Tabebuia e Delonix.[24] O beija-flor-poupa alimenta-se próximo do solo e até a copa das árvores altas, apresentando uma preferência por plantas com flores do sub-bosque.[24] Pequenos artrópodes podem ser coletados de superfícies de plantas ou predados no ar.[14]

Reprodução[editar | editar código-fonte]

O beija-flor-de-poupa se reproduz o ano todo, porém principalmente de março a junho. Seu ninho possui forma de taça, construído em galhos finos de arbusto ou videira 1 a 3 metros acima do solo, e é geralmente sombreado por folhas. O interior do ninho é forrado com fibra vegetal macia e o exterior decorado com pedaços de folhas mortas, líquen, musgo ou cascas. A ninhada consiste em dois ovos brancos, tamanho de 11,6 mm × 8—8,2 mm;[25] a incubação dura entre 17 a 19 dias, feita pela fêmea, que também atacará persistentemente intrusos;[24] os filhotes nascem com duas fileiras dorsais de penugem;[26] o período de emplumação é de cerca de 19 a 21 dias; os jovens permanecem com a fêmea por 3 a 4 semanas; é uma ave de ninhada única. Eles começam a se reproduzir em seu segundo ano.

Estado de conservação[editar | editar código-fonte]

Não ameaçado globalmente (pouco preocupante) e CITES II. Espécie de distribuição restrita: presente em Porto Rico e Ilhas Virgens e Pequenas Antilhas por adaptação. É um residente comum em toda a sua área de distribuição. Particularmente comum ao nível do mar, com densidades de pelo menos 6–10 pares/km² em Santa Lúcia, pelo menos 4–8 pares/km² em Guadalupe e pelo menos 3–5 pares/km² em Dominica. Difundido nas Pequenas Antilhas, ocorrendo em todas as altitudes e em todos os tipos de habitat; A pronta ocupação de habitats artificiais sugere que a perda de habitat é improvável que seja um problema.[1]

Referências

  1. a b BirdLife International (1 de outubro de 2016). «Antillean Crested Hummingbird (Orthorhyncus cristatus. The IUCN Red List of Threatened Species. 2016: e.T22687164A93143236. doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T22687164A93143236.enAcessível livremente. e.T22687164A93143236. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  2. «Appendices | CITES». cites.org. Consultado em 22 de dezembro de 2022 
  3. a b Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 113. ISSN 1830-7809. Consultado em 25 de agosto de 2022 
  4. «Orthorhyncus cristatus (beija-flor-de-poupa)». Avibase. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  5. a b Alves, Paulo; Elias, Gonçalo; Frade, José; Nicolau, Pedro; Pereira, João, eds. (2019). «Trochilidae». Nomes das Aves PT. Lista dos Nomes Portugueses. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  6. a b c Gill, Frank; Donsker, David; Rasmussen, Pamela, eds. (11 de agosto de 2022). «Hummingbirds». IOC World Bird List (em inglês) 12.1 ed. Consultado em 21 de dezembro de 2022 
  7. Beekes, Robert S. P. (2010). van Beek, Lucien, ed. «Etymological Dictionary of Greek». Brill Academic Pub. Leiden Indo-European Etymological Dictionary Series (em inglês). 10. ISBN 9789004174207. Consultado em 23 de dezembro de 2022 
  8. Jobling, James A. (1991). A Dictionary of Scientific Bird Names (em inglês). Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-854634-3. OCLC 45733860 
  9. Lewis, Charlton T.; Short, Charles (1879). «exilis». A Latin Dictionary (em latim). Oxford: Clarendon Press. ISBN 978-1-99-985578-9. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  10. Lewis, Charlton T.; Short, Charles (1879). «ornatus». A Latin Dictionary (em latim). Oxford: Clarendon Press. ISBN 978-1-99-985578-9. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  11. Lewis, Charlton T.; Short, Charles (1879). «emigro». A Latin Dictionary (em latim). Oxford: Clarendon Press. ISBN 978-1-99-985578-9. Consultado em 3 de outubro de 2022 
  12. Infopédia (2022). «poupa». Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  13. Wolf, Larry L. (julho de 1975). «Female Territoriality in the Purple-Throated Carib». The Auk (em inglês) (3): 511–522. doi:10.2307/4084604. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  14. a b c d Schuchmann, Karl-Ludwig; Boesman, Peter F. D. (4 de março de 2020). Billerman, Shawn M.; Keeney, Brooke K.; Rodewald, Paul G.; Schulenberg, Thomas S., eds. «Antillean Crested Hummingbird (Orthorhyncus cristatus)». Cornell Lab of Ornithology (em inglês). doi:10.2173/bow.anchum1.01. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  15. Edwards, George (1743). «The crested humming bird». Impresso para o autor no College of Physicians. A Natural History of Uncommon Birds (em inglês). Parte 1: 37. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  16. Linnaeus, Carolus (1758). Systema Naturae per regna tria naturae, secundum classes, ordines, genera, species, cum characteribus, differentiis, synonymis, locis (em latim) 10.ª ed. Holmiae (Estocolmo): Laurentii Salvii. p. 121. 
  17. Lacépède, Bernard Germain de (1799). «Tableau des sous-classes, divisions, sous-division, ordres et genres des oiseux». Paris: Plassan. Discours d'ouverture et de clôture du cours d'histoire naturelle (em francês): 9. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  18. Peters, James Lee, ed. (1945). Check-List of Birds of the World. 5. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press. p. 29 
  19. Lovette, Irby J.; Seutin, Gilles; Ricklefs, Robert E.; Bermingham, Eldredge (1999). «The assembly of an island fauna by natural invasion: sources and temporal patterns in the avian colonization of Barbados». Biological Invasions (1): 33–41. doi:10.1023/A:1010090414598. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  20. «Orthorhyncus cristatus (Antillean crested hummingbird)». Centre for Agriculture and Bioscience International. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  21. Owen, Jennifer L.; Cokendolpher, James C. (setembro de 2006). «Tailless Whipscorpion (Phrynus longipes) Feeds on Antillean Crested Hummingbird (Orthorhyncus cristatus)». The Wilson Journal of Ornithology (em inglês) (3): 422–423. ISSN 1559-4491. doi:10.1676/05-062.1. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  22. Boal, Clint W. (9 de novembro de 2008). «Observations of An Antillean Crested Hummingbird (Orthorhyncus cristatus) attacking Saddled Anoles (Anolis stratulus)». Journal of Caribbean Ornithology (em inglês) (1): 48–49. ISSN 1544-4953. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  23. Howes, Alison; Mac Nally, Ralph; Loyn, Richard; Kath, Jarrod; Bowen, Michiala; McAlpine, Clive; Maron, Martine (abril de 2014). Lens, Luc, ed. «Foraging guild perturbations and ecological homogenization driven by a despotic native bird species». Ibis (em inglês) (2): 341–354. doi:10.1111/ibi.12136. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  24. a b c Shepherdson, Joseph P. (2018). «Observations of territorial behavior of the Antillean Crested Hummingbird (Orthorhyncus cristatus) on St. Eustatius». Journal of Caribbean Ornithology. 31: 48–50. ISSN 1544-4953. Consultado em 26 de dezembro de 2022 
  25. Bond, James (julho de 1941). «Nidification of the Birds of Dominica, B. W. I.». The Auk (3): 364–375. ISSN 0004-8038. doi:10.2307/4078955. Consultado em 27 de dezembro de 2022 
  26. Savage, T. (9 de maio de 2008). «II.-A Diary of the Nesting of Microlyssa exilis, the Crested Humming-bird of Montserrat, West Indies.». Ibis (em inglês) (1): 13–16. doi:10.1111/j.1474-919X.1928.tb08706.x. Consultado em 27 de dezembro de 2022 

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