Pesticida

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Os pesticidas (do inglês pesticide)[1] ou praguicidas são todas as substâncias ou misturas que têm, como objetivo, impedir, destruir, repelir ou mitigar qualquer praga.[1] Um pesticida pode ser uma substância química ou um agente biológico (tal como um vírus ou bactéria) que é lançado de encontro às pragas que estiverem destruindo uma plantação, disseminando doenças, incomodando pessoas etc. É utilizada em diversas formas de seres vivos, tais como: insetos, erva daninha, moluscos, pássaros, mamíferos, peixes, nematelmintos e micróbios. Não são necessariamente venenos, porém, quase sempre, são tóxicos ao ser humano.

Tipos de pesticidas[editar | editar código-fonte]

Os pesticidas são classificados de acordo com as pragas que eles atacam:

Eles também podem ser classificados em:

  • Orgânicos de síntese: carbamatos (nitrogenados), clorados, fosforados e clorofosforados;

História[editar | editar código-fonte]

Description of a New Knapsack Sprayer (1890) fig. 10

Os seres humanos têm usado pesticidas para impedir danos a suas colheitas desde aproximadamente 500 a.C.. O primeiro pesticida conhecido foi o enxofre. Por volta do Século XV, começaram a serem utilizados elementos químicos tóxicos como o arsênio e o mercúrio no combate a pragas em colheitas. No Século XVII, o sulfato de nicotina foi extraído das folhas de tabaco para ser usado como pesticida. Já no Século XIX, viu-se a introdução de dois novos pesticidas: um derivado do Chrysanthemum cinerariaefolium (da família Asteraceae, e o rotenone, que é derivado de raízes de legumes tropicais).

Em 1939, Paul Müller descobriu que o diclorodifeniltricloroetano (DDT) era um inseticida muito eficaz. O DDT transformou-se então rapidamente no pesticida mais usado no mundo. Entretanto, na década de 1960, descobriu-se que o DDT provocava danos à saúde de diversas espécies de aves, prejudicando sua reprodução e oferecendo grandes riscos para biodiversidade. Rachel Carson escreveu o livro best-seller Silent Spring, que criticava e alertava para o uso deste pesticida.

Atualmente, o DDT é proibido em pelo menos 86 países. No entanto, ele continua sendo usado em algumas nações no combate à malária e outras doenças tropicais, matando mosquitos e outros insetos transmissores.

O uso de pesticidas dobrou desde a década de 1950, e cerca de 2,5 milhões de toneladas de pesticidas industriais são usadas agora todos os anos.

Legislação[editar | editar código-fonte]

Na maior parte dos países, a venda ou uso de um pesticida deve ser aprovada por uma agência do governo. Diversos estudos devem ser feitos para indicar se o material é eficaz no combate às pragas.

Alguns pesticidas são considerados demasiadamente perigosos para serem vendidos ao público em geral. Somente pessoas e/ou organizações que passaram por avaliações prévias podem comprar e supervisionar a aplicação destes tipos de pesticida.

Segundo a legislação brasileira,[2] as substâncias tóxicas utilizadas na agricultura devem ser obrigatoriamente denominadas como agrotóxicos. O seu uso pode causar contaminação ou até mesmo desertificação dos solos.[carece de fontes?]

Efeitos nocivos de pesticidas[editar | editar código-fonte]

Do lado do custo do uso de pesticidas, pode haver custos para o meio ambiente, para a saúde humana,  bem como custos de desenvolvimento e pesquisa de novos pesticidas[2].

No ambiente[editar | editar código-fonte]

O uso intenso de agrotóxicos pode levar a degradação dos recursos naturais, em alguns casos de forma irreversível, levando a desequilíbrios biológicos e ecológicos, entre eles a contaminação dos lençóis freáticos e do próprio solo. O uso de pesticidas levanta uma série de preocupações ambientais. Mais de 98% dos inseticidas pulverizados e 95% dos herbicidas chegam a um destino diferente de suas espécies-alvo, incluindo espécies não-alvo, ar, água e solo[3].  A deriva de pesticidas ocorre quando pesticidas suspensos no ar como partículas são levados pelo vento para outras áreas, potencialmente contaminando-as.

Os pesticidas são uma das causas da poluição da água, e alguns pesticidas são poluentes orgânicos persistentes e contribuem para a contaminação do solo e das flores (pólen, néctar)[4]. Além disso, o uso de pesticidas pode afetar adversamente a atividade agrícola vizinha, pois as próprias pragas se deslocam e prejudicam as plantações próximas que não têm pesticidas usados ​​nelas[5].

Além disso, o uso de pesticidas reduz a biodiversidade, contribui para o declínio dos polinizadores[6][7][8], destrói o habitat (especialmente para pássaros)[9] e ameaça espécies ameaçadas de extinção[10]. As pragas podem desenvolver uma resistência ao pesticida (resistência a pesticidas), necessitando de um novo pesticida. Alternativamente, uma dose maior do pesticida pode ser usada para neutralizar a resistência, embora isso cause um agravamento do problema de poluição ambiental.

Entre os animais marinhos, as concentrações de agrotóxicos são maiores nos peixes carnívoros, e ainda mais nas aves piscívoras e nos mamíferos do topo da pirâmide ecológica[11]. A destilação global é o processo pelo qual os pesticidas são transportados das regiões mais quentes para as mais frias da Terra, em particular os pólos e os topos das montanhas. Os pesticidas que evaporam na atmosfera a uma temperatura relativamente alta podem ser levados pelo vento a distâncias consideráveis ​​(milhares de quilômetros) até uma área de temperatura mais baixa, onde se condensam e são levados de volta ao solo pela chuva ou neve[12].

De acordo com um estudo da US Geological Survey (em inglês), pesticidas foram encontrados em lagos, rios e córregos nos Estados Unidos. Tal situação se repete em outros países.

Na agricultura[editar | editar código-fonte]

Através do processo de seleção natural, as pragas podem se tornar muito resistentes à ação do pesticida. Os agricultores, então, aumentam a quantidade do pesticida usado, intensificando o problema.

Houve muitos estudos com agricultores com o objetivo de determinar os efeitos nocivos à saúde resultantes do contato com pesticidas.[3] Uma pesquisa em Bangladesh sugere que muitos agricultores não precisam aplicar o pesticida em suas plantações de arroz, mas continuam a fazê-lo somente porque o pesticida é pago pelo governo (vide artigo).

Outros estudos indicaram que a exposição ao pesticida está associada, a longo prazo, com vários problemas de saúde, tais como: dificuldades respiratórias, problemas de memória, problemas na pele,[4][5] câncer,[6] depressão,[7] etc..

Resíduos de pesticidas em alimentos[editar | editar código-fonte]

Devido aos impactos de pesticidas no meio ambiente, é grande o risco de que haja contaminação de alimentos por pesticidas.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department of Agriculture) desenvolveu um programa chamado Pesticide Data Program que teve, como objetivo, verificar o índice de alimentos contaminados por pesticidas vendidos em território estadunidense. Iniciado em 1990, o programa coletou dados de aproximadamente 60 tipos diferentes de alimentos e cerca de 400 tipos de pesticidas a partir de amostras retiradas nos locais de venda. Os primeiros resultados foram divulgados em 2004.[8]

Na página 30, por exemplo, são analisadas amostras de frutas contaminadas com pesticidas. Alguns dados obtidos:

Fruta/Vegetal Nº amostras analisadas Amostras com resíduos detectados % de amostras contaminadas Diferentes pesticidas encontrados Resíduos diferentes encontrados
Maçã 774 727 94 33 41
Alface 743 657 88 47 57
Pera 741 643 87 31 35
Suco de laranja 186 93 50 3 3

Notas

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 321.
  2. Fantke, Peter; Friedrich, Rainer; Jolliet, Olivier (15 de novembro de 2012). «Health impact and damage cost assessment of pesticides in Europe». Environment International: 9–17. ISSN 1873-6750. PMID 22940502. doi:10.1016/j.envint.2012.08.001. Consultado em 3 de dezembro de 2022 
  3. Miller GT (2004). "Cap. 9. Biodiversidade". Sustentando a Terra(6ª ed.). Pacific Grove, CA: Thompson Learning, Inc. pp. 211–216. ISBN 9780495556879. OCLC  52134759 .
  4. Tosi, Simone; Costa, Cecília; Vesco, Umberto; Quaglia, Giancarlo; Guido, Giovanni (2018). "Uma pesquisa de pólen coletado por abelhas revela contaminação generalizada por pesticidas agrícolas". Ciência do Meio Ambiente Total. 615: 208–218. doi:10.1016/j.scitotenv.2017.09.226. PMID28968582. S2CID19956612.
  5. Soyalism | Documentário DW". YouTube (mídia AV). Brasil. 21 de fevereiro de 2020.
  6. Dicks, Lynn V.; Brisa, Tom D.; Ngo, Hien T.; Senapathi, Deepa; An, Jiandong; Aizen, Marcelo A.; Basu, Parthiba; Buchori, Damayanti; Galetto, Leonardo; Garibaldi, Lucas A.; Gemmill-Herren, Bárbara; Howlett, Brad G.; Imperatriz-Fonseca, Vera L.; Johnson, Steven D.; Kovács-Hostyánszki, Anikó; Kwon, Yong Jung; Lattorff, H. Michael G.; Lungharwo, Thingreipi; Seymour, Colleen L.; Vanbergen, Adam J.; Potts, Simon G. (16 de agosto de 2021). "Uma avaliação especializada em escala global de drivers e riscos associados ao declínio de polinizadores" . Natureza Ecologia & Evolução . 5 (10): 1453–1461. doi : 10.1038/s41559-021-01534-9 . PMID 34400826 . S2CID 237148742.
  7. Goulson, Dave; Nicholls, Elizabeth; Botías, Cristina; Rotheray, Ellen L. (27 de março de 2015). «Bee declines driven by combined stress from parasites, pesticides, and lack of flowers». Science (em inglês) (6229). 1255957 páginas. ISSN 0036-8075. doi:10.1126/science.1255957. Consultado em 8 de dezembro de 2022 
  8. Wells M (11 de março de 2007). "Abelhas em extinção ameaçam as plantações dos EUA" . www.bbc.co.uk . Londres: BBC News . Recuperado 2007-09-19.
  9. Palmer WE, Bromley PT, Brandenburg RL. "Wildlife & Pesticidas - Amendoins" . Serviço de Extensão Cooperativa da Carolina do Norte. Arquivado do original em 17 de fevereiro de 2008 . Consultado em 11 de outubro de 2007.
  10. Miller GT (2004). "Cap. 9. Biodiversidade". Sustentando a Terra(6ª ed.). Pacific Grove, CA: Thompson Learning, Inc. pp. 211–216. ISBN 9780495556879. OCLC  52134759.
  11. Castro P, Huber ME (2010). Biologia Marinha (8ª ed.). Nova York: McGraw-Hill Companies Inc. ISBN 9780073524160. OCLC  488863548.
  12. Quinn AL (2007). Os impactos dos agrotóxicos e da temperatura na resposta fisiológica ao estresse em peixes (Tese de Mestrado). Lethbridge: Universidade de Lethbridge.

Fontes[editar | editar código-fonte]

FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 321.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. O que são pesticidas? (em inglês) (US EPA definitions, em 24 de junho de 2006).
  2. Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1.989.
  3. JOHNSTON, A. E. "Soil organic-matter, effects on soils and crops". Soil use management. 1986, p. 97-105 (em inglês).
  4. McCAULEY, Linda A. et. al.. "Studying health outcomes in farmworker populations exposed to pesticides". Environmental health perspectives. 2006, p. 114 (em inglês).
  5. Arcury TA, Quandt SA, Mellen BG. "An exploratory analysis of occupational skin disease among latino migrant and seasonal farmworkers in North Carolina". Journal of Agricultural Safety and Health. 2003, p. 221–32 (em inglês).
  6. NO'MALLEY, MA. "Skin reactions to pesticides". Occupational medicine. 1997, p. 327–345 (em inglês).
  7. DANIELS, JL; OLSHAN, AF; SAVITZ, DA. "Pesticides and childhood cancers". Environmental health perspectives 105. 1997, p. 1068-1077 (em inglês).
  8. KAMEL, F et.al. "Neurobehavioral performance and work experience in Florida farmworkers". Environmental Health Perspectives 111. 2003, p. 1765-1772 (em inglês).
  9. Pesticide Data Program (fevereiro de 2006). Annual Summary Calendar Year 2004 (pdf).

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]