Assassinato de Bruno Vanzan Nunes

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O Assassinato de Bruno Vanzan Nunes ocorreu no dia 27 de outubro de 2022, quando o agente da Polícia Rodoviária Federal reagiu a um assalto, foi alvejado e caiu da avenida Transolímpica. As forças policiais do Rio de Janeiro se mobilizaram para buscar os criminosos, porém os agentes da PRF mataram Lorenzo Dias Palhinhas, de 14 anos, no Complexo do Chapadão.

A PRF afirmou que o garoto fazia parte do tráfico de drogas e teria atirado na viatura antes de morrer. Como prova, foi mostrado o depoimento de outros dois garotos presos que admitiram ser do tráfico e uma série de armas e drogas apreendidas. Ainda, a polícia afirmou que Lorenzo morreu com uma bala perdida.

Já a família e os moradores afirmaram que o garoto era apenas um entregador de lanches. Ele teria sido abordado pela polícia, liberado e então teria levado um tiro na nuca. A polícia ainda teria tentado mover o corpo do local, mas a comunidade não deixou. Ainda, como prova, o jornal O Dia publicou vídeo do garoto trabalhando como entregador.

Assassinato de Bruno Vanzan Nunes[editar | editar código-fonte]

Assassinato de Bruno Vanzan Nunes

Bruno Vanzan Nunes morreu após reagir a um assalto
Local do crime Avenida Transolímpica, na altura da Vila Militar, na Zona Oeste do Rio de Janeiro
Data 27 de outubro de 2022
14h12 (UTC-3)
Tipo de crime Latrocínio
Arma(s) Arma de fogo
Vítimas Bruno Vanzan Nunes
Vídeos externos
Bruno Vanzan Nunes caiu da avenida Transolímpica após tentar fugir dos assaltantes a pé

Bruno Vanzan Nunes tinha 41 anos e trabalhava chefiando o núcleo de policiamento e fiscalização da 7ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Resende. Ele era considerado um policial exemplar e trabalhava para a corporação desde 2004, quando passou em primeiro lugar no concurso público. Era casado com Silvia Vanzan e tinha dois filhos.[1]

No dia 27 de outubro de 2022, por volta das 14h12, Bruno estava dirigindo seu Jeep Renegade na avenida Transolímpica, na altura da Vila Militar, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, enquanto conversava com sua esposa pelo celular. Ele estava indo para a superintendência da PRF.[1] Então, foi abordado por um Nissan Kicks preto. Ele reagiu e houve troca de tiros, deixando o veículo de Bruno alvejado. Os carros se emparelharam e Nunes saiu do veículo e foi perseguido pelos quatro criminosos a pé.[2][3]

A alguns metros do assassinato, um Kia Cerato fugiu em direção a Vila Kennedy por estar sendo perseguido pela Polícia Militar (PM). No caminho, os criminosos atiraram contra um veículo. Uma mulher e sua filha, que estavam próximas do carro, fugiram para se proteger, e não foram feridas. Os criminosos se esconderam dentro de uma favela local. De acordo com a PM, o veículo também esteve envolvido no assassinato.[2][3]

Ambas trocas de tiros foram flagradas por câmeras de segurança instaladas nos locais.[2]

Perícia[editar | editar código-fonte]

Após a troca de tiros, o policiais do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) foi acionado. O Corpo de Bombeiros também foi acionado por volta das 14h20, mas o corpo já havia sido atendido por uma ambulância antes que chegassem no local. O corpo de Bruno foi encontrado debaixo da Transolímpica, na entrada da avenida Duque de Caxias, em Magalhães Bastos.[2] A área foi isolada e a Delegacia de Homicídios do Estado passou a investigar o caso.[4]

De acordo com a PM, os bandidos buscavam roubar o veículo ainda em movimento. A polícia suspeita que ele tenha tentado fugir pulando a mureta que dividia as vias da Transolímpica, mas caiu da altura de dez metros por ter sido alvejado.[2]

Enterro[editar | editar código-fonte]

Bruno Vanzan foi enterrado no dia seguinte no Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O enterro foi acompanhado por cerca de 200 pessoas, com 20 motos da PRF escoltando o corpo.[5]

Reações[editar | editar código-fonte]

A PRF lamentou o ocorrido e demonstrou sua solidariedade com a família, dizendo que Bruno "sempre se destacou pela competência, eficiência e disponibilidade durante o período em que exerceu suas funções".[2] A ViaRio, que administra a Transolímpica, também demonstrou o seu pesar.[6]

Operação de busca[editar | editar código-fonte]

O Portal de Procurados divulgou um cartaz pedindo informações, com recompensa de R$ 5 mil. Foi aberto um disque denúncia com anonimato garantido.[7]

Após o assassinato, as forças de segurança do Rio de Janeiro realizaram busca pelos criminosos na Vila Kennedy. A TV Globo flagrou o uso de carros blindados na comunidade, dois helicópteros da Polícia Civil (PC)[2] e um da PRF.[8] As operações também contaram com a participação da Polícia Federal (PF) e da PM, incluindo o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). Os moradores relataram que as forças policiais realizaram invasão de domicílio.[6][8] Durante a busca, foram recuperadas duas motocicletas com registro de roubo/furto.[3] A operação se estendeu para o Complexo do Chapadão, pois havia a informação que dez pessoas armadas com fuzis haviam queimado o Kia Cerato usado no crime. Ainda, um dos assaltantes teria sido morto, e outro estaria amarrado esperando a reunião da alta cúpula do Comando Vermelho (CV).[3][9]

Assassinato de Lorenzo Dias Palhinhas[editar | editar código-fonte]

Assassinato de Lorenzo Dias Palhinhas

Lorenzo Dias Palhinhas morreu após tomar um tiro na nuca de agentes da Polícia Rodoviária Federal
Local do crime Via Beco da Suede, no Complexo do Chapadão, na Zona Oeste do Rio de Janeiro
Data 27 de outubro de 2022
por volta das 23h00 (UTC-3)
Tipo de crime
Arma(s) Arma de fogo
Vítimas Lorenzo Dias Palhinhas

Lorenzo Dias Palhinhas tinha 14 anos e morava com a mãe, Celline, de 28 anos, e tinha um irmão de três anos. Estudava na escola Honório Gurgel e estava no sétimo ano. Ele gostava de jogar futebol e ouvir música funk.[10][11]

Por volta das 23h00 do dia 27 de outubro, Lorenzo foi morto com um tiro na nuca enquanto passava pela via Beco da Suede.[3]

Versão da PRF[editar | editar código-fonte]

De acordo com a PRF, eles foram recebidos por tiros por cerca de 30 suspeitos pertencentes a organização Bonde da Índia, ligada ao tráfico de drogas, prenderam duas crianças que estavam trabalhando em uma boca de fumo local e mataram Lorenzo com uma bala perdida. Ainda de acordo com a PRF, Lorenzo teria atirado na viatura antes de ser atingido. Os garotos apreendidos admitiram fazer parte do tráfico. A PRF aprendeu uma pistola .380 com dois carregadores e 23 munições, uma pistola Taurus 9mm com 5 carregadores, sendo um deles estendido, 45 munições, um carregador de fuzil 556, 600 papelotes de crack, 622 pinos de cocaína, 149 frascos de lança-perfume e 425 tabletes de maconha.[3][8][9][12]

Versão dos moradores da comunidade[editar | editar código-fonte]

A família, porém, afirmou que o garoto era entregador de lanches e que estava trabalhando durante a operação, estando, inclusive, segurando R$ 10,00 que teria ganhado por uma entrega quando foi assassinado.[8] De acordo com a mãe, ele estava fazendo entregas na garupa de uma moto quando o motorista, Fernando Padilha, foi abordado pela PRF, e quando ele foi liberado, Lorenzo levou um tiro pelas costas.[13][14] Ele oferecia lanches pela favela de moto, e tinha a meta de vender ao menos 70 lanches ao dia, recebendo cerca de R$350,00 por semana.[15] Sua mãe ficou sabendo do assassinato através da chefe do garoto. A cena foi presenciada por testemunhas. De acordo com seu avô, ele não foi encontrado com nenhuma arma ou pólvora. Os moradores ainda relataram que os policiais comeram parte dos lanches que estavam na mochila do garoto e tentaram mover o corpo da cena do crime, mas a comunidade não permitiu.[14][16] Ainda, o jornal O Dia publicou um vídeo do garoto trabalhando como entregador na comunidade.[17] A mãe também mostrou para a Revista Piauí uma série de mensagens que ele enviou para os parentes discutindo questões de carreira.[15]

Reações[editar | editar código-fonte]

O vereador Luciano Vieira (PL), nascido na favela, passou a madrugada prestrando apoio à família de Lorenzo. As lideranças da Federação das Favelas prestaram assistência e acionaram o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública. A Delegacia de Homicídios abriu um inquérito para investigar o assassinato.[8] O MPF pediu uma série de informações para a PRF, como o nome dos policiais envolvidos no assassinato, horário de entrada, laudos periciais e boletins de ocorrência.[18]

A perícia foi acionada por volta das 7h00, mas os moradores impediram que o corpo de Lorenzo fosse levado para o Instituto Médico Legal (IML).[8] O corpo foi removido para o Hospital Carlos Chagas em uma caçamba de caminhonete.[19]

Enterro[editar | editar código-fonte]

Lorenzo Dias Palhinhas foi enterrado no dia 29 de outubro no Cemitério Municipal de Irajá, na Zona Norte do Rio. Seu corpo foi velado pelos seus parentes, amigos e outros moradores da comunidade. Após o enterro, os moradores realizaram um "buzinaço" com seus veículos como forma de protesto.[16] O custo do enterro foi pago pelos órgãos públicos.

Investigação[editar | editar código-fonte]

No mesmo dia do assassinato, o Ministério Público Federal (MPF) abriu um inquérito para investigar as circunstâncias da morte de Lorenzo. O MPF reiterou que não houve comunicação da PRF para a realização da operação e deu até 72 horas para informar os agentes que participaram e o registro de deslocamento de viaturas, além de outras informações relevantes.[20]

Protestos[editar | editar código-fonte]

No dia 28 de outubro, por volta das 3h00, os moradores fecharam a estrada Rio do Pau e a a avenida Crisóstomo Pimentel de Oliveira com entulhos e pneus queimados, e um ônibus foi atravessado para bloquear a passagem.[8][11] Os moradores seguravam cartazes como “Lorenzo era uma criança” e “quem matou Lorenzo?”, além de comparar a atuação da polícia com Lorenzo e com Roberto Jefferson, que deu mais de 50 tiros e jogou granadas na PF, e ganhou tratamento diferenciado.[19]

O protesto ganhou apoio da Defensoria Pública e a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que negociaram com os policiais para que ele não fosse reprimido.[19]

No dia 1 de novembro, familiares e moradores protestaram debaixo de chuva na frente da 39ª Delegacia de Polícia com cartazes e buzinando com os veículos.[11][21]

Referências

  1. a b Bette Lucchese e Guilherme Santos (28 de outubro de 2022). «Agente da PRF morto conversava com esposa por telefone quando sofreu tentativa de assalto na Zona Oeste do Rio». RJ2. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de outubro de 2022 
  2. a b c d e f g Alice Portes (27 de outubro de 2022). «Agente da PRF é morto por bandidos na Transolímpica, Rio». TV Globo e G1 Rio. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de outubro de 2022 
  3. a b c d e f «Adolescente morre após ser baleado no Complexo do Chapadão». O Dia. 28 de outubro de 2022. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  4. Frederico Vasconcelos (17 de abril de 2003). «Polícia Rodoviária: Diretor é exonerado após denúncias de irregularidades». Folha de S. Paulo. Consultado em 17 de novembro de 2022. Cópia arquivada em 17 de novembro de 2022 
  5. Ana Fernanda Freire (28 de outubro de 2022). «Corpo de agente da PRF é enterrado; policiais prestam homenagem». O Dia. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  6. a b «Agente da PRF morre após cair de viaduto da Transolímpica durante confronto com assaltantes». Extra Online. 27 de outubro de 2022. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  7. «Portal dos Procurados pede informações sobre envolvidos na morte de agente da PRF | Rio de Janeiro». O Dia. 28 de outubro de 2022. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  8. a b c d e f g Marco Antônio Canosa e Thaís Espírito Santo (28 de outubro de 2022). «Adolescente morre baleado em operação no Complexo do Chapadão». TV Globo e G1 Rio. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  9. a b Ana Carolina Moraes (28 de outubro de 2022). «PRF diz que menor morto no Chapadão era do tráfico». Enfoco. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  10. Maíra Rubim (29 de outubro de 2022). «Em velório, avô diz que adolescente de 14 anos morto pela PRF no Chapadão 'nunca pegou em uma arma'». O Globo. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  11. a b c Pedro Medeiros e Ana Fernanda Freire (1 de novembro de 2022). «Mãe de adolescente morto no Chapadão desabafa: 'Sofrendo para provar a inocência dele'». O Dia. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  12. «Operação policial deixa um adolescente morto no Complexo do Chapadão, no Rio». CartaCapital. 28 de outubro de 2022. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  13. «Disque Denúncia pede informações de envolvidos em morte de agente da PRF na zona oeste do Rio». R7. 28 de outubro de 2022. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  14. a b Rafael Lopes (31 de outubro de 2022). «Família de Lorenzo acusa PRF de atirar pelas costas». Correio do Povo de Alagoas. Consultado em 3 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 4 de janeiro de 2023 
  15. a b Tiago Coelho (18 de janeiro de 2023). «Tempo perdido». Revista Piauí. Consultado em 29 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 29 de janeiro de 2023 
  16. a b «'Tiraram a vida do meu neto covardemente', desabafa avô de jovem morto no Chapadão». TV Prefeito. 30 de outubro de 2022. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  17. «Vídeo mostra adolescente morto em ação da PRF trabalhando como entregador | Rio de Janeiro». O Dia. 28 de outubro de 2022. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  18. «MPF do Rio investiga ação da PRF em comunidade após morte de agente». Portal Mato Grosso. 29 de outubro de 2022. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  19. a b c Jeniffer Mendonça (29 de outubro de 2022). «Bolsonarizada, PRF faz nova vítima: Lorenzo, 14 anos, sem arma e sem culpa». Ponte Jornalismo. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022 
  20. «MPF investiga morte de adolescente no Chapadão em operação da Polícia Rodoviária Federal». Extra Online. 28 de outubro de 2022. Consultado em 3 de janeiro de 2023. Cópia arquivada em 4 de janeiro de 2023 
  21. «Mãe do adolescente Lorenzo passa mal e reunião entre familiares e Defensoria Pública é adiada». Jornal Meia Hora. 1 de novembro de 2022. Consultado em 14 de dezembro de 2022. Cópia arquivada em 14 de dezembro de 2022