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Revisão das 13h22min de 23 de setembro de 2020

Mário Ferreira da Silva
Mário Ferreira-dos Santos - Retrato.png
Ferreira dos Santos em 1945
Nome completo Mário Dias Ferreira da Silva
Escola/Tradição pitagorismo
anarquismo[1]
aristotelismo[2]
Data de nascimento 3 de janeiro de 1907
Local Tietê, Brasil
Morte 11 de abril de 1968 (61 anos)
Local São Paulo, Brasil
Principais interesses filosofia, política, economia[3], psicologia, oratória, religiões comparadas
Ideias notáveis Filosofia Concreta
Influências Pitágoras, Platão, Aristóteles, Pierre-Joseph Proudhon, Carl Jung[4], João Duns Escoto, Henri-Frédéric Amiel, Francisco Suárez
Influenciados Olavo de Carvalho, Jaime Cubero[5]

Mário Dias Ferreira dos Santos (Tietê, 3 de janeiro de 190711 de abril de 1968) foi um filósofo anarquista, escritor e tradutor brasileiro. Traduziu obras clássicas de diversos autores, e escreveu livros sobre várias disciplinas, publicados sob o nome Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais. Mário também desenvolveu seu próprio sistema filosófico, que nomeou de Filosofia Concreta. O autor italiano Carlo Beraldo definiu a filosofia de Mário como "aberta aos novos problemas da modernidade e ao mesmo tempo perene e ecumênica".[6]

Também escreveu extensamente sobre religião, sendo um dos estudiosos brasileiros do chamado anarquismo cristão, tendo sido ativo participante do Centro de Cultura Social, um dos mais importantes núcleos anarquistas de São Paulo da primeira metade do século.[7] Mário foi um militante anarquista,[8] lido e recomendado por expoentes do anarquismo, como José Oiticica,[9] Edgard Leuenroth e Jaime Cubero.[10]

Biografia

Mário Ferreira dos Santos nasceu em 3 de janeiro de 1907, na cidade de Tietê, em São Paulo. Seu pai, Francisco Dias Ferreira dos Santos, era dono de uma companhia teatral itinerante. Estabelecido em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Mário participou do curta-metragem de ficção Os Óculos do Vovô, filme brasileiro mais antigo de que se tem notícia, dirigido por Francisco.[11]

Apesar do anticlericalismo de seu pai, Mário foi matriculado em um colégio jesuíta e em 1925 ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no curso de Direito, em que se formou em 1930. Passou a escrever em jornais de Pelotas e no Diário de Notícias e Correio do Povo de Porto Alegre. Como jornalista participou da Revolução de 1930, e acabou na prisão pelas críticas feitas ao novo regime.[12]

Em 1929 casou-se com Yolanda Duro Lhullier, com quem teve duas filhas, Yolanda e Nadiejda. Mário traduziu várias obras clássicas de autores como Aristóteles, Pitágoras, Friedrich Nietzsche, Immanuel Kant, Blaise Pascal, Tomás de Aquino, Duns Scott, Henri-Frédéric Amiel e Walt Whitman.[12]

No início dos anos 40 foi contratado como tradutor pela Livraria do Globo, em Porto Alegre. Mudando-se para São Paulo em 1945, continuou seu trabalho como tradutor na Editora Flama. Com dificuldades em publicar seus livros, fundou suas próprias editoras, a Logos S.A. e a Matese S.A. Foi pioneiro no sistema de venda de livro a crédito, vendidos de porta em porta.[13]

Morreu em 1968, devido à uma doença cardiovascular.

Obra

A partir de 1947 passou a dedicar-se unicamente à filosofia, a qual o manteria ocupado pelo resto de sua vida. Ele lecionou durante todo esse tempo para alunos particulares e pequenos grupos informais:

Nunca ocupei nenhum cargo em nenhuma escola, por princípio. Deliberei, desde os primeiros anos, tomar uma atitude que consiste em nunca disputar cargos que podem ser ocupados por outros. Sempre decidi criar o meu próprio cargo, a minha própria posição sem ter de ocupar o lugar que possa caber a outro. Eis por que não disputo, nunca disputei nem disputarei qualquer posição que possa ser ocupada por quem quer que seja.
 
Mário Ferreira dos Santos[12].

Seu biógrafo, Luís Mauro Sá Martino, conta que "Havia um problema: praticamente não existiam livros sobre os assuntos aos quais ele se referia. Filosofia era um produto importado e caro. As obras filosóficas principais não estavam traduzidas e os textos em circulação, em sua maioria, eram precários, [12] por isso, foi preciso começar do zero, construir as bases de um pensamento filosófico e, em seguida, expor sua filosofia original.[12] Seu trabalho foi voltado a escrever filosofia para o grande público, principalmente o nacional, buscando afirmar nossa independência e capacidade para desenvolvimento de uma inteligência filosófica brasileira.

De acordo com o Mário, o brasileiro era um povo apto para uma filosofia de caráter ecumênico, que corresponda ao verdadeiro sentido com que foi criada desde o início.[12] Para ele, o brasileiro não poderia permanecer na situação de ser um povo que recebia todas as ideias vindas de todas as partes, que não poderia encontrar um caminho para si mesmo e sem esta visão "positiva e concreta" da filosofia não seria possível solucionar os inúmeros problemas vitais brasileiros de sua época, porque a heterogeneidade de ideias e posições facilitavam a de soluções, das quais muitas não eram adequadas às necessidades do país.[12]

O Anarquismo de Mário Ferreira

Mário foi defensor e entusiasta do cooperacionismo. De acordo com Mário, o socialismo, despido de seu caráter autoritário e de sua visão abstrata da humanidade, assume uma faceta libertária. Para Mário, a ação concreta o ser humano o mostra capaz de fazer livre-associações colaborativas que se depreendem do sistema capitalista, do qual Mário era crítico.[14]

A cultura e o saber não têm pátria nem classes nem interesses criados. A cultura é livre por sua natureza, vence o tempo, vence as contingências, vence o preconceito. Todo sábio, que é realmente prudente, e é assistido por uma sã sabedoria, é um libertário.[15]

Mário teve participação na militância anarquista pós-Estado Novo, sendo particularmente adepto às ideias econômicas de Proudhon. Na Editora e Distribuidora Sagitário, Mário traduziu e publicou a obra na qual o anarquista alemão Rudolf Rocker discorria sobre as origens do pensamento social-libertário.[16] Nas seções de livros recomendados dos jornais libertários, duas obras de Mário receberam destaque. Foram elas: Teses da Existência e da Inexistência de Deus, de 1946; e Análise Dialética do Marxismo.[17] Nesta última, Mário faz uma crítica social-libertária ao marxismo:

Nos últimos cem anos em que o marxismo se estruturou, a principal polêmica foi travada entre os dois socialismos: o autoritário e o libertário. Se este último, nessa época de cesarismo, é aceito por uma número reduzido e disperso de partidários, o primeiro, inegavelmente, atrai o maior número de seguidores. No entanto, é de verificar-se que, em face das decepções, os socialismos mais idealistas sentem, quando os fatos lhes mostram algum malogro do socialismo, a necessidade de retornar às posições do socialismo libertário, onde permanecem à espera de que novos acontecimentos possam mudar a fisionomia e a significação dos fatos.[18]

Mário conheceu o anarquista Jaime Cubero em 1945 e passou a discursar sobre o anarquismo em centros anarquistas, onde exerceu influência na formação de vários anarquistas, como Jaime e Chico Cubero e outros militantes do CCS, assim como Maurício Tragtenberg.[7]

Ostracismo

Apesar de sua prolífica obra, o trabalho de Mário Ferreira dos Santos não encontrou grande difusão na academia brasileira ou estrangeira, e permanece pouco citado ou debatido. O Ph.D Stanislavs Ladusãns, um dos primeiros divulgadores da filosofia de Mário, o classificou como “o homem que ainda [não havia sido] descoberto no Brasil”.[19] O escritor Olavo de Carvalho credita ostracismo ao meio acadêmico brasileiro, pois Mário era “anarquista confesso — pior ainda, um tipo estranho e incatalogável, misto de anarquista proudhoniano, católico tomista e gnóstico pitagórico”.[20] De acordo com o Prof. Carlos Aurélio Mota de Souza, doutor pela USP, ainda há 29 obras inéditas de Mario Ferreira que permanecem desconhecidas do grande público.[12]João Cezar de Castro Rocha atribui esse ostracismo ao contexto da década de 50, pois, durante esse período, havia o desejo de incutir a pesquisa nas universidades, ambição que se chocava diretamente com o autodidatismo de Mário.[21]

Livros publicados

  • Teses da Existência e da Inexistência de Deus - com pseudônimo de Charles Duclos. Editora e Distribuidora Sagitário, 1946.
  • Se a Esfinge Falasse - com pseudônimo de Dan Andersen. Editora e Distribuidora Sagitário, 1946.
  • Realidade do Homem - com pseudônimo de Dan Andersen. Editora e Distribuidora Sagitário, 1947.
  • Curso de Oratória e Retórica, Editora Logos, 1953 .
  • Técnica do Discurso Moderno. Editora Logos, 1953.
  • Filosofia e Cosmovisão. Editora Logos, 1954, É Realizações, 2015 (2ª edição).
  • Lógica e Dialética. Editora Logos, 1954, PAULUS, 2007 (2ª edição)
  • Psicologia. Editora Logos, 1954.
  • Teoria do Conhecimento. Editora Logos, 1954.
  • Ontologia e Cosmologia. Editora Logos, 1954.
  • O Homem que Nasceu Póstumo. Editora Logos, 1954.
  • Curso de Integração Pessoal. Editora Logos, 1954.
  • Análise Dialética do Marxismo. Editora Logos, 1954.
  • Tratado de Simbólica. Editora Logos, 1955, É Realizações, 2007 (2ª edição).
  • Filosofia da Crise. Editora Logos, 1955 (1ª edição), É Realizações, 2017 (2ª edição).
  • O Homem Perante o Infinito (Teologia). Editora Logos, 1955.
  • Aristóteles e as Mutações. Editora Logos, 1955.
  • Noologia Geral. Editora Logos, 1956.
  • Filosofia Concreta (3 volumes). Editora Logos, 1956, É Realizações, 2009 (2ª edição).
  • Sociologia Fundamental e Ética Fundamental. Editora Logos, 1957.
  • Filosofias da Afirmação e da Negação. Editora Logos, 1957.
  • Práticas de Oratória. Editora Logos, 1957.
  • O Um e o Múltiplo em Platão. Editora Logos, 1958, IBRASA, 2001 (2ª edição).
  • Métodos Lógicos e Dialéticos (3 volumes). Editora Logos, 1959.
  • Pitágoras e o Tema do Número. Editora Logos, 1960. IBRASA, 2000 (2ª edição)
  • Páginas Várias. Editora Logos, 1960.
  • Filosofia Concreta dos Valores. Editora Logos, 1960.
  • Convite à Estética. Editora Logos, 1961.
  • Convite à Psicologia Prática. Editora Logos, 1961.
  • Convite à Filosofia. Editora Logos, 1961.
  • Tratado de Economia (2 volumes). Editora Logos, 1962.
  • Filosofia e História da Cultura (3 volumes). Editora Logos, 1962.
  • Análise de Temas Sociais (3 volumes). Editora Logos, 1962.
  • O Problema Social. Editora Logos, 1962.
  • Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais (4 volumes). Editora Matese, 1963.
  • Dicionário de Pedagogia e Puericultura (3 volumes). Editora Matese, 1965.
  • Origem dos Grandes Erros Filosóficos. Editora Matese, 1965.
  • Protágoras. Editora Matese, 1965.
  • Isagoge de Porfírio. Editora Matese, 1965.
  • Grandezas e Misérias da Logística. Editora Matese, 1966.
  • Invasão Vertical dos Bárbaros. Editora Matese, 1967.
  • Erros na Filosofia da Natureza. Editora Matese, 1967.
  • A Sabedoria dos Princípios. Editora Matese, 1967.
  • A Sabedoria da Unidade. Editora Matese, 1967.
  • A Sabedoria do Ser e do Nada. Editora Matese, 1968.
  • O Apocalipse de São João (póstumo). Editorial Cone Sul, 1998.
  • A Sabedoria das Leis Eternas (póstumo). É Realizações, 2001.
  • Cristianismo, a Religião do Homem (póstumo). EDUSC, 2003.
  • Homens da Tarde (póstumo). É Realizações, 2019.

Ver também

Referências

  1. CUBERO, Jaime. Entrevista: depoimento de Jaime Cubero "O anarquismo é uma utopia positiva" (Jaime Cubero)". Educ. Pesqui. [online. 2008, vol.34, n.2 [cited 2020-08-16], pp.398-408. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022008000200013&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1517-9702.]
  2. A retórica simbólica: implicações de Mário Ferreira dos Santos à pragmática do Direito. (págs.15,16,19,41): VALE, Joelson Lima
  3. [A Dialética do Uso, Valor e Troca e Direção da Ação Humana Percipiente e Objetiva em Mário Ferreira dos Santos]
  4. Linguagem; Mário Ferreira dos Santos; Sinais e símbolos; Análise do discurso narrativo; Retórica; Filosofia do direito; Ética; Mito; Ballweg, Ottmar - Retórica analítica
  5. Depoimento de Jaime Cubero cedido à Antonio José Romera Valverde, entre 05 e 09 de maio de 1989, no Centro de Cultura Social, em São Paulo.
  6. Beraldo, Cario (1969). Enciclopedia Filosofica - Centro di Studi Filosofici di Gallarate. Firenze, GC Sansoni Editorem 1969. (em italiano). [S.l.: s.n.] p. 231. "The philosophical synthesis of F dos Santos is, at the same time, traditional and personal. Taking advantage of recent discoveries on Pythagoras, especially by the Pythagorean International Association, under the direction of Dr. Sakellariou, from the University of Athens, he seeks to conciliate the Pythagorean Mathesis Megisthe and the infused wisdom of St. Thomas Aquinas, as presented in the Tractatus de Hebdomadibus, by Boethius. It should be achieved, as stated by Aquinas, through a sapiential co-intuition and certain divine instinct. This is philosophy, according to F. dos Santos, as science, or better yet, as supra-science and wisdom of principles. It is concrete since allow us to know the reality of things within their inner roots, and not only intended to a priori ideas; should be positive, i.e., constructive, and not merely criticizing and negative; it is apodictic, not only problematical and probable. (…) Combining a deeper synthesis of elements of convergence between the greatest philosophers, from Pythagoras, Plato and Aristotle to St. Thomas, Scotus and Suarez, and integrating with more objectivity the points of divergence (…) Indefatigable and solitary apostle of the wisdom in its traditional and ancient sense, M.F. dos Santos strove to formulate a philosophy that, while at the same time open to new problems, was, at the same time, name and fact, “perennial” and “ecumenical”.” 
  7. a b Ramus, Gustavo (1 de janeiro de 2008). «Anarquismo cristão e sua influência no Brasil». verve. revista semestral autogestionária do Nu-Sol. 0 (13). ISSN 1676-9090 
  8. Ferreira dos Santos, Mário. Análise Dialética do Marxismo. "(...)A obra apresenta uma faceta ainda pouco apreciada de Mário Ferreira dos Santos: a de militante anarquista e entusiasta do cooperacionismo". [S.l.: s.n.] ISBN 978-85-8033-352-7 
  9. José Oiticica (novembro de 1954). «Mário Ferreira dos Santos». Ação Direta 
  10. Jaime Cubero, em entrevistas a Rodrigo Rosa da Silva (Imprensa Marginal) e Antonio José Romera Valverde (Educação e Pesquisa, USP)
  11. «OS ÓCULOS DO VOVÔ». cinemateca brasileira. Consultado em 18 de Janeiro de 2015 
  12. a b c d e f g h «Por que reler Mário Ferreira dos Santos hoje?». Consultado em 24 de dezembro de 2016. Arquivado do original em 24 de dezembro de 2016 
  13. «MarioFerreiraDosSantos» (PDF). Consultado em 24 de dezembro de 2016. Arquivado do original (PDF) em 24 de dezembro de 2016 
  14. AUTOR: Santos, Mário Ferreira dos Editora: É Realizações Gênero: Ciências Humanas e Sociais Subgênero: Política ISBN: 978-85-8033-352-7 Ano: 2018
  15. > Invasão Vertical dos Bárbaros. [S.l.: s.n.] 
  16. Viana, Allyson Bruno 2014, p. 240-241.
  17. Viana, Allyson Bruno 2014, p. 241.
  18. Ferreira dos Santos, Mário (1953). Anpalise Dialética do Marxismo. [S.l.]: Logos. p. 13-14 
  19. «Mário Ferreira dos Santos». Revista Filosofia. Consultado em 29 de dezembro de 2016. Arquivado do original em 28 de dezembro de 2016 
  20. de Carvalho, Olavo. O Imbecil Coletivo. [S.l.: s.n.] p. 83 
  21. Santos, Mário Ferreira dos (2017). Filosofia da Crise Prefácios de Hans Ulrich Gumbrecht e João Cezar de Castro Rocha. [S.l.]: É Realizações. p. 1-17. ISBN 978-85-8033-283-4 

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