Interior de São Paulo na Revolta Paulista de 1924

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Municípios paulistas com registros de revolta ou apoio à revolta

O interior de São Paulo foi palco da Revolta Paulista de 1924 desde julho, paralelamente à batalha pela cidade de São Paulo, até agosto e setembro, quando os rebeldes deixaram a capital e rumaram à divisa estadual, primeiro ao sul de Mato Grosso e depois ao Paraná. Há registro de revolta em 87 municípios, e em outros 32, de apoio à revolta. Facções políticas locais aderiram a um ou outro lado do conflito, cujo impacto foi sentido mesmo em municípios nunca percorridos pelo exército revolucionário.

As lideranças políticas municipais estavam alinhadas ao Partido Republicano Paulista e tendiam a ser contrárias à revolta, chegando a mobilizar seus eleitores em batalhões patrióticos para defender a causa dos governos estadual e federal. O centro do poder estadual estava ocupado pelos rebeldes, e dissidentes locais encontraram oportunidades para tomar o poder e instalar governos favoráveis à revolta, seja por iniciativa própria ou aliados aos militares rebeldes. Independente do lado, as prefeituras precisavam lidar com um clima de desordem e acolher centenas de milhares de refugiados da capital. A 9 de julho os rebeldes controlavam Itu, Jundiaí e Rio Claro, tomadas pelas unidades locais do Exército Brasileiro, e Campinas, uma das cidades mais importantes do estado. O governo tinha firmes, desde o início, a conexão com o Paraná, de Itararé até Itapetininga, o vale do Paraíba e a baixada Santista.

Três brigadas legalistas vieram do Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais para sitiar a capital; contra elas, os rebeldes mandaram três destacamentos. A brigada mineira foi derrotada na Estrada de Ferro Mogiana pela “Coluna da Morte” de João Cabanas. A brigada mato-grossense demorou demais para se deslocar, permitindo a captura pelos rebeldes de Bauru, entroncamento ferroviário crucial. 300 soldados da Força Pública de São Paulo que poderiam ter defendido Bauru haviam sido mandados embora pelo seu comandante em 10 de julho, após o governo estadual retirar-se do Palácio dos Campos Elíseos. A ofensiva legalista só teve sucesso na Estrada de Ferro Sorocabana, onde a “Coluna Sul” venceu as batalhas de Pantojo e Mairinque. Ela já estava prestes a cortar a única ligação férrea de São Paulo a Campinas quando o comando revolucionário abandonou a cidade com todo seu exército, na noite de 27 de julho. Portanto, essa campanha no interior foi fundamental para o desfecho da luta na capital.

A retirada seguiu na direção do rio Paraná, divisa com Mato Grosso. Como a conexão ferroviária por Três Lagoas estava ocupada, os rebeldes deram a volta em Botucatu e seguiram a Presidente Epitácio, alcançada pela vanguarda em 6 de agosto. Ao longo de todo o trajeto os legalistas da Coluna Sul, comandados pelo general Azevedo Costa, seguiram no seu encalço, travando diversas batalhas. De Botucatu em diante, a retaguarda dos rebeldes foi garantida pela Coluna da Morte, que destruía a infraestrutura ferroviária para retardar o inimigo. Na vanguarda, um batalhão rebelde adentrou Mato Grosso, onde foi derrotado na batalha de Três Lagoas, em 18 de agosto. Restou a opção de descer o rio e se fixar no oeste do Paraná. Em 10 de setembro todos os rebeldes já haviam deixado Presidente Epitácio, mas a descida do rio foi lenta, e só em outubro todos estavam no Paraná, onde a campanha prolongou-se até 1925.

Repercussão da Revolta[editar | editar código-fonte]

Refugiados da guerra na cidade de São Paulo

Em 5 de julho, as primeiras notícias da revolta em São Paulo chegaram ao interior pelo telefone. O movimento foi acompanhado com alvoroço e muitos boatos.[1] As conexões ferroviárias à capital foram interrompidas, e quando retornaram, no dia 12, eram irregulares e arriscadas.[2] As matérias-primas e alimentos pararam de entrar na cidade.[3] Os municípios dependiam do poder central na capital, e foram deixados desamparados pela sua ocupação pelos rebeldes liderados pelo general Isidoro Dias Lopes.[4] Até 250 dos 700 mil habitantes da capital rumaram aos seus subúrbios ou aos municípios interioranos, fugindo do intenso bombardeio de artilharia iniciado a partir do dia 11. Os refugiados chegavam principalmente de trem a municípios como Campinas, Jundiaí, Itu, Rio Claro e até municípios distantes como Bauru.[5][6] As famílias ricas preferiam recolher-se a suas fazendas ou a Santos.[7]

O súbito crescimento populacional criou problemas de abastecimento nos municípios interioranos.[8] Campinas, o maior destino dos refugiados, tinha 25 mil até 17 de julho,[9] e pode ter recebido até 100 mil.[10] Conforme um relatório da Comissão Católica de Socorros:[11]

Em dois dias todos os hotéis e hospedarias ficaram abarrotados. Entretanto os fugitivos continuavam a chegar em grandes levas, na sua quase totalidade completamente desprovidos de recursos e muitíssimos, só com a roupa do corpo. A cidade transbordava. Não só os hotéis mas as casas particulares estavam repletas de pacientes, amigos ou conhecidos de seus proprietários. Pessoas dormiam ao relento e os automóveis serviam de dormitórios! A situação era premente e em extremo aflitiva. E os foragidos continuavam sempre a chegar em número incalculável, tornando a situação cada vez mais desesperadora.
Reforços do Exército em Itapetininga

A Revolta em si, embora focada na capital, espalhou-se ao interior.[12] Cidades interioranas apoiaram o movimento desde o início.[13] Há registro de revolta em 87 municípios paulistas e manifestações de apoio em outros 32.[14] Controlar o interior não estava nos planos dos iniciadores do levante; o objetivo era capturar São Paulo imediatamente e prosseguir ao Rio de Janeiro para derrubar o governo federal. Bastava que as unidades militares do interior aderissem ao movimento. Mas este plano desandou, a marcha para o Rio de Janeiro não ocorreu, e surgiu a necessidade de expandir o território para o interior, garantindo uma possível rota de fuga na retaguarda.[15] Os novos territórios foram aproveitados para alistar voluntários e requisitar dinheiro e materiais.[16][17]

Participação local[editar | editar código-fonte]

Casarão do coronel Fernando Prestes de Albuquerque, centro do esforço de guerra legalista em Itapetininga

Ao estender sua influência ao interior, os revolucionários associaram-se a oposições e grupos dissidentes locais.[16][17] Não obstante o não-envolvimento originalmente pretendido pelos rebeldes na política municipal,[18] 35 municípios tiveram governos revolucionários, seja pela adesão ou substituição dos prefeitos e delegados. “Governadores municipais”, “governadores militares” e novos delegados eram nomeados.[19] Mas a revolução impactou mesmo locais nunca percorridos pelas tropas revoltosas,[20] e em 21 municípios, ela começou pela iniciativa de civis.[21]

No cenário político de cada município, situacionistas e oposicionistas escolheram entre aderir à revolta, tentar ser apolíticos ou permanecer leais ao governo federal de Artur Bernardes.[22] A tendência era a lealdade dos chefes políticos à legalidade, ou seja, ao presidente estadual Carlos de Campos e ao Partido Republicano Paulista. Mas a revolta abria uma grande oportunidade para dissidências políticas locais,[23][24] que se aproveitaram também da fraqueza de muitos prefeitos desde as disputadas eleições municipais de 1922.[22] Lideranças políticas tentaram unir-se em defesa de seu interesse comum, a manutenção da ordem, mas sua capacidade de controlar dissidências estava enfraquecida. A população em vários lugares expressava apoio ao movimento rebelde, e o clima era de instabilidade e terror.[25]

As mudanças de governo aconteciam de várias formas. Militares revolucionários podiam tomar o poder para si, como em Jundiaí e Itu, ou entregar o poder a civis locais, que podiam ser idealistas e ativistas ou políticos da oposição. Noutras vezes, os dissidentes tomavam o poder por conta própria. Em municípios como Avaí e Promissão, os políticos situacionistas conseguiram se alinhar à revolta. Em Araras o período foi caótico, dominado por dissidentes locais pouco ligados à revolta. Em São Simão e Bebedouro, longe das colunas revolucionárias, os dissidentes locais tentaram, mas não conseguiram, destituir o governo.[26]

Em meio ao conflito, os governos municipais convocavam reservistas e criavam guardas locais.[27] Campinas, por exemplo, chamou voluntários ao policiamento, controlou a saída de gêneros do município, tabelou os preços dos gêneros de primeira necessidade, nomeou um fiscal do expurgo do café, contratou trabalhadores para a limpeza pública e abriu crédito.[9] Para a população, a situação era confusa. A lei não funcionava plenamente, São Paulo entrava em guerra civil e o governo federal implantava o estado de sítio. Os revolucionários improvisavam seus meios de administrar os municípios, às vezes recorrendo a ameaças e violência.[27]

Civis locais participaram ativamente em ambos os lados do conflito. Em nome da revolução, pequenos grupos de sargentos e aliados civis tomaram Câmaras Municipais, delegacias, Tiros de Guerra, centros telefônicos e estações ferroviárias e telegráficas.[28] Também é digna de nota a contribuição de trabalhadores das ferrovias à logística dos revoltosos.[29][30] Os coronéis legalistas arregimentaram batalhões patrióticos, exércitos particulares recrutados entre seu eleitorado, como já era comum fazerem em eleições.[31][32] Seu armamento era semelhante ao do Exército, mas o nível de instrução não era comparável. O tenente rebelde João Cabanas, que reforçou sua coluna com voluntários e prisioneiros, referiu-se tanto a seus combatentes quanto aos irregulares legalistas como “bandoleiros”, pois a composição da tropa era a mesma.[33]

Campanhas em julho[editar | editar código-fonte]

Situação estratégica da revolta em julho

O vale do Paraíba, o ramal de Itararé, na divisa com o Paraná, e a baixada Santista estiveram sob controle do governo desde os primeiros dias.[34] O controle dos rebeldes, a 9 de julho, alcançava Jundiaí, Itu e Rio Claro, ocupadas pelas unidades locais do Exército antes de seus deslocamentos à capital.[35][a][b] Ao sair, essas unidades deixavam para trás frações de tropa com as quais novas frentes seriam abertas.[16]

Em Campinas, o chefe da oposição municipal, Álvaro Ribeiro, foi empossado na Prefeitura no dia 10. O destacamento policial havia seguido a São Paulo, e desde o dia 6 a única força de segurança era o Tiro de Guerra 176, cujo comandante acatou ordens dos revolucionários.[9] Campinas era uma cidade estratégica, com posição topográfica privilegiada, grande arrecadamento da cafeicultura e o maior entroncamento ferroviário do estado, controlando o acesso ao interior.[36] A jurisdição de Álvaro Ribeiro, “governador de Campinas”, foi aumentada no dia 15 pelo “Governo Provisório” do general Isidoro, com autorização para intervir em outros municípios. Ele e o prefeito de Jundiaí eram os únicos civis com autoridade para fazer requisições.[37]

O comando legalista organizou três brigadas regulares (do Exército e Forças Públicas) para sitiar a cidade, cortando os acessos ao interior. Elas viriam do Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais, respectivamente comandadas pelos generais Azevedo Costa, João Nepomuceno da Costa e Martins Pereira. O comando revolucionário reagiu em 17–19 de julho enviando três colunas ao interior, sob o comando do capitão da Força Pública Francisco Bastos, na Estrada de Ferro Sorocabana, tenente da Força Pública João Cabanas, na Estrada de Ferro Mogiana, e capitão do Exército Otávio Muniz Guimarães, nas Estradas de Ferro Paulista e Noroeste.[38] A expansão revolucionária no interior consolidou o triângulo entre São Paulo, Campinas e Sorocaba, além de um cone na direção de Bauru e Araraquara.[38]

Primeiras áreas legalistas[editar | editar código-fonte]

Oficialidade dos batalhões patrióticos de Itapetininga

O vale do Paraíba paulista, no plano dos rebeldes, já teria sido cruzado na noite de 5 de julho, e as tropas sublevadas estariam reunidas em Barra do Piraí, já em território fluminense.[39] Esse deslocamento foi cancelado devido à resistência legalista inesperada dentro de São Paulo.[40] Às 13h00 do dia 5, regimentos legalistas mineiros já estavam em ordem de marcha para o vale do Paraíba, que foi rapidamente fechado ao movimento dos rebeldes. No dia 7 o general Eduardo Sócrates, comandante da divisão legalista enviada contra São Paulo, reuniu seu estado-maior em Barra do Piraí. Em seguida, ele estabeleceu seu quartel general em Caçapava e posto de comando em Mogi das Cruzes, e por fim, o quartel em Mogi e o posto de comando em Guaiaúna, no leste de São Paulo.[41]

Em Itapetininga, no caminho para o Paraná, os coronéis locais foram os primeiros a organizar a resistência. Fernando Prestes de Albuquerque, vice-presidente de São Paulo, reuniu em seu sobrado outros políticos como Júlio Prestes, Washington Luís e Ataliba Leonel. Eles mobilizaram policiais e “patriotas” de Itapetininga, Sorocaba, São Roque, Avaré e outras cidades. Os irregulares foram organizados num Grupo de Batalhões de Caçadores, com três Batalhões de Caçadores Patriotas, nomeados de acordo com seus patronos: 1.º (“Fernando Prestes”), 2.º (“Ataliba Leonel”) e 3.º (“Washington Luís”). Um 4.º (“Júlio Prestes”), em vias de organização em Itapetininga, não chegou a ser completado. Em 8 de julho o batalhão Fernando Prestes já estava formado em Sorocaba, e no dia seguinte, os batalhões Ataliba Leonel e Fernando Prestes; no dia 10, eles se deslocaram a Itapetininga.[42][43][44]

Os rebeldes tinham planos para um levante em Santos, e enviaram telegramas com ordens para o capitão tenente Soares de Pina, comandante da Escola de Aprendizes Marinheiros e do Tiro Naval de Santos, e para o tenente Luis Braga Mury, do 3.º Grupo de Artilharia de Costa do Forte de Itaipu, ambos na baixada Santista. Os telegramas foram interceptados, e os cabeças do levante, presos antes mesmo de recebê-los.[45][46] A chegada da Marinha consolidou a posição do governo na cidade.[47] Em 6 de julho uma força-tarefa naval encabeçada pelo encouraçado Minas Gerais atracou e desembarcou um contingente de marinheiros, que prosseguiram a São Paulo.[48] O contra-almirante José Maria Penido, comandante da força-tarefa, foi nomeado governador civil e militar da cidade.[49] Um representante da Comissão de Abastecimento Público de São Paulo desceu a serra para comprar alimentos, mas a resposta do almirante foi: “não deixarei subir um grão de arroz para São Paulo.”[50]

EF Mogiana[editar | editar código-fonte]

João Cabanas e seu Estado-Maior em Amparo

Em 19 de julho o tenente João Cabanas partiu ao norte de Campinas com 95 soldados.[51] Contra ele, irregulares e policiais da região de Pirassununga e Ribeirão Preto, liderados pelo deputado Fernando de Sousa Costa, convergiam em Mogi Mirim, ao norte de Campinas, à espera do general Martins Pereira. Os regulares legalistas — policiais paulistas e reforços vindos de Pouso Alegre — não eram mais que 800. Os primeiros a chegar de Minas Gerais foram o contingente ou batalhão Amaral, da Força Pública mineira. Mais tarde (21 de julho), o principal componente dessa força, o 5.º Batalhão de Infantaria mineiro, chegou a Ouro Fino com 350 homens. O Exército contribuiu com uma bateria do 2.º Regimento de Artilharia Montada e um pelotão do 1.º Regimento de Cavalaria Divisionário.[c]

Apesar de sua vantagem numérica, o comandante legalista dispersou demais suas forças e agiu com passividade, sofrendo várias derrotas a uma tropa pequena, mas experiente e bem-motivada. Cabanas manteve sua força concentrada e em constante movimento e fez o possível para enganar seu oponente quanto à sua direção e efetivo. Por seus ardis, como telegramas com informações falsas e trens ornamentados com falsos canhões e metralhadoras, ele é considerado pioneiro na guerra psicológica no Brasil.[52][53] Um mito surgiu ao redor das figuras de João Cabanas e sua “Coluna da Morte”, como o contingente ficou conhecido nesse período. Cabanas tornou-se bem conhecido entre combatentes e civis e repercutiu na imprensa, ganhando entre os governistas a reputação de líder truculento, acusado de muitos crimes.[54]

Conforme o relato de Cabanas, logo no início ele telefonou a Ribeirão Preto dizendo ter mil homens a caminho. Em 20 de julho ele conquistou Jaguariúna e, em vez de seguir na estrada para Mogi Mirim, foi a leste para Amparo e Itapira no dia 21. Após convencer os legalistas que atacaria pelo leste, voltou a Jaguariúna e invadiu Mogi Mirim pelo sul. Desorientados, os legalistas recuaram no dia 23. Após o comboio revolucionário seguir a norte para Casa Branca, os irregulares presentes em Ribeirão Preto dispersaram-se. No dia 24 ele repeliu um pelotão legalista que vinha de Eleutério, e no dia 26, tomou de assalto Espírito Santo do Pinhal. Consequentemente, o general Martins Pereira não conseguiu tomar Campinas e isolar os revolucionários na capital.[55]

EF Paulista[editar | editar código-fonte]

Operações na região de São Paulo até Bauru

A maior autoridade revolucionária nas Estradas de Ferro Paulista e Noroeste era o capitão Guimarães, mas também atuaram os grupos do tenente Virgílio Ribeiro dos Santos e de vários sargentos. Virgílio, comandante do destacamento policial de Rio Claro, retornou à cidade dias após o embarque para a capital.[56] A partir de Rio Claro e Campinas os revolucionários ocuparam os municípios de Piracicaba, Limeira, São Carlos, Araraquara, Araras, Pirassununga, Descalvado e Jaboticabal.[57][16]

Em Araras, civis locais instalaram um governo revolucionário no dia 10.[58] Piracicaba teve seu novo governo instalado no dia 22.[20] O governo revolucionário em Jaboticabal permitiu a passagem de um grupo de rebeldes, nos dias 27 a 29, para confiscar as armas do Tiro de Guerra local.[59][20] Araraquara foi capturada pelo tenente Virgílio com cerca de 50 soldados do Exército e da Força Pública;[60] o prefeito abandonou a cidade no dia 24 e um novo governo local foi nomeado.[61]

Em Pirassununga, o 2.º RCD, sediado na cidade, era legalista, mas após sua partida para a capital, apenas uma pequena força ficou para defender o quartel. A cidade foi capturada no dia 28[d] pelo advogado Francisco Octaviano da Silveira e os sargentos Domingos Teixeira de Barros e Benedicto de Paula, que reuniram forças de Descalvado (cidade tomada no dia 25) e Araras. Após tomar Pirassununga, os sargentos e civis ofereceram ao destacamento de Leme para aderir à revolução, mas sem sucesso.[62]

Bauru[editar | editar código-fonte]

O capitão Guimarães partiu a Bauru sem tropa; seus homens foram alistados nas cidades do caminho. Ainda assim, essa força improvisada conseguiu ocupar a cidade em 18 de julho.[e] Não houve combates desgastantes nesse eixo. Bauru havia sido abandonada pelos 300 legalistas da Força Pública, concentrados ali em 10 de julho. Seus defensores haviam sido dispersos pelo major Januário Rocco, do Corpo Escola, e capitão Salvador Moya, do 3.º Batalhão de Infantaria, após a notícia do abandono da capital pelo governo estadual, e rumores infundados da vinda de revolucionários. O deputado Eduardo Vergueiro de Lorena não acreditou nos boatos e transformou seus patriotas numa pequena companhia motorizada (“coluna volante”), mas ele não conseguiu retomar a cidade e seguiu à margem norte do rio Tietê, atuando a oeste de Araraquara. O abandono de Bauru e sua captura pelo capitão Guimarães, mantendo o acesso até o oeste paulista, foram cruciais para o futuro da revolta.[63][64] Bauru tinha uma forte oposição local, disposta a apoiar os revolucionários, e uma convergência de três estradas de ferro, sendo assim passagem quase obrigatória para Mato Grosso, de onde se esperava obter adesões.[16]

Vergueiro de Lorena seguiu a Jaú, intentando cortar o caminho entre São Paulo e Bauru; seus destacamentos destruiriam a balsa do rio Tietê, entre Jaú e Pederneiras, e a ponte da Paulista sobre o Tietê, mas ele não conseguiu concretizar esse plano. Os revolucionários do capitão Guimarães, retornando de Bauru, passaram por Jaú e encontraram a “coluna volante” no rio Jacaré, em Bocaina, preparada para uma luta em campo aberto. Como os revolucionários não quiseram atacar, a “coluna volante” seguiu a Ibitinga, onde ficou no dia 21;[65] mais tarde os revoltosos também ocuparam essa cidade.[66] A partir de Bauru eles também ocuparam Agudos e Dois Córregos.[16]

Direção de Mato Grosso[editar | editar código-fonte]

Os reforços legalistas vindos da 4.ª Circunscrição Militar, de Mato Grosso, demoraram demais para impedir a queda de Bauru ou ameaçar o capitão Guimarães.[67] O percurso ferroviário de Campo Grande, de onde as forças eram concentradas, até Três Lagoas, na divisa com São Paulo, era de algumas horas, mas se passaram mais de 20 dias da emissão da ordem até a chegada na divisa. A 29 de julho, uma primeira força transpunha o rio Paraná, mas estava sem víveres e munição.[68] Só em agosto eles chegariam a Bauru.[69]

Pouco mais de 2.000 combatentes foram mobilizados em Mato Grosso, dos quais pelo menos metade eram irregulares; os coronéis eram mais eficientes em arregimentar soldados do que o sistema do serviço militar obrigatório. Porém, os comandantes do Exército não confiavam nos irregulares. A mobilização foi desorganizada, as decisões do comando tiveram muitos atrasos e o general Nepomuceno chegou a ser acusado de inépcia. Fora das ferrovias, o transporte era lento; as unidades não tinham caminhões próprios e precisavam de ajuda privada ou da tração animal.[69][68]

A oficialidade mato-grossense era descontente e repleta de simpatizantes da revolta. A desconfiança do governo contribuiu ao atraso do deslocamento. O tenente-coronel Ciro Daltro, comandante do 16.º Batalhão de Caçadores e da Brigada Mista organizada para seguir a Bauru, pode ter arrastado a operação, favorecendo os revolucionários. Houve uma tentativa de adesão à revolta no 17.º BC, em Corumbá, e uma revolta plena no 10.º Regimento de Cavalaria Independente, de Bela Vista, em 12 de julho. Outras unidades foram destacadas para atacar esse regimento, mas a revolta foi suprimida de dentro para fora pelos sargentos da unidade, que permaneceram leais ao governo. Com a situação controlada, o regimento seguiu no caminho a Três Lagoas no dia 23.[70][68] Alguns oficiais revolucionários, sem tropas, conseguiram abandonar a coluna e se juntar aos revoltosos.[71]

EF Sorocabana[editar | editar código-fonte]

Posições dos legalistas e revolucionários em Pantojo e Mairinque

Antes da chegada do capitão Francisco Bastos e seu destacamento a São Roque, entre São Paulo e Sorocaba, cerca de 30 revolucionários, apoiados pelo destacamento local, tomaram a cidade em 17 de julho. Alguns dias depois, outro grupo de 80 homens passaria pela cidade.[72] Após tomar Sorocaba, o capitão Bastos preparou uma defesa de posição, numa postura inversa à adotada pelo tenente Cabanas na Mogiana. Assim, os legalistas tiveram tempo para organizar sua ofensiva.[73]

Além dos batalhões patrióticos, os legalistas em Itapetininga reuniram 300 homens da Força Pública de São Paulo. Do Paraná vieram um batalhão policial, o 13.º Regimento de Infantaria (RI), o 5.º Regimento de Cavalaria Divisionário (RCD) e a 3.ª Bateria do 5.º Regimento de Artilharia Montada (RAM); de Santa Catarina, um batalhão policial; e do Rio Grande do Sul, o 7.º RI. A oficialidade do 13.º RI simpatizava com os revolucionários.[74][75][76]

Azevedo Costa moveu o grosso de sua coluna a Boituva e duas vanguardas: a esquerda, do coronel Abreu Lima, no rumo de Itu, e a direita, do coronel Franco Ferreira, para São Paulo via Sorocaba.[f] Abreu Lima alcançou Porto Feliz no dia 25 e Itu no dia 27, sem resistência. O destacamento de Franco Ferreira adentrou Sorocaba em 23 ou 24 de julho, sem encontrar resistência, e prendeu o comandante do destacamento local da Força Pública e seus 40 soldados.[77][74][78]

A vanguarda direita encontrou os rebeldes em Pantojo, antes de Mairinque, no dia 25. Pantojo era local estratégico: ali a Estrada de Ferro Sorocabana convergia com a estrada de rodagem em meio a morros onde os rebeldes tomaram posições. A luta durou dois dias e duas noites.[79][80] Ambos os lados usaram artilharia em campo aberto. No dia 27 os legalistas enfim ocuparam Mairinque. Este eixo foi o único com sucesso estratégico legalista: enquanto patrulhas de cavalaria legalistas seguiam de São Roque à capital no dia 28, a vanguarda esquerda prosseguia a Jundiaí, pretendendo cortar o acesso dos revolucionários a Campinas.[81][82][83] Um esquadrão de cavalaria revoltoso passou por Votorantim, dizia-se que para cortar a estrada entre Sorocaba e Mairinque, mas ele foi rendido na cidade de Una e levado prisioneiro pelo batalhão Fernando Prestes.[84]

Retirada de São Paulo[editar | editar código-fonte]

Deslocamento militar de trem

Em 27 de julho o comando revolucionário escolheu abandonar a cidade de São Paulo e seguir no rumo de Mato Grosso, onde poderiam continuar o movimento ou retirar-se para o exílio.[85] À noite o exército revolucionário inteiro, com 3.500 a 6.000 homens e suprimentos abundantes, partiu de trem. Havia motivos dentro da capital para essa decisão — a inexistência de qualquer chance de sucesso e a brutalidade do bombardeio legalista. Os eventos no interior foram também cruciais. A “Coluna Sul” do general Azevedo Costa estava prestes a cortar a última saída da cidade: ao meio-dia de 28 de julho, sua vanguarda alcançou Jundiaí após passar por Itu. Um dia de diferença teria preso os rebeldes dentro da capital.[86] Assim, ela apressou a decisão;[87][88] para o general legalista Abílio de Noronha, foi ela “quem de fato obrigou os revoltosos a uma retirada”.[89] Segundo Lourenço Moreira Lima, secretário da Coluna Miguel Costa-Prestes, abandonar a capital paulista foi a resposta correta ao “círculo de ferro” preparado pelo governo.[90]

Á medida que os rebeldes se retiravam e os legalistas recuperavam o controle, os governos municipais alinhados à revolta foram destituídos.[22]

Reorganização em Bauru[editar | editar código-fonte]

Mapa da retirada

Devido ao sucesso legalista no eixo de Sorocaba, a única rota disponível era por Bauru, aonde o grosso dos revolucionários chegou em 28 de julho, passando por Campinas, Rio Claro e Itirapina. A coluna do tenente Cabanas cobriu a retaguarda em Mogi Mirim e foi uma das últimas forças a se retirar.[91] O último dos comboios vindos da capital entrou em Itirapina, centro de baldeação da Companhia Paulista, às 07h00 do dia 28, e ao longo dos três dias seguintes, a carga foi transferida dos vagões de bitola estreita aos de bitola larga.[92] A 29 de julho, a tropa foi reorganizada em um regimento de cavalaria, um de artilharia e sete batalhões de caçadores, reunidos em três brigadas. O plano era seguir até Mato Grosso pela Estrada de Ferro Noroeste, entrando por Três Lagoas, mas essa posição já estava ocupada pelos legalistas.[93][94] Restava dar a volta em São Manoel e Botucatu e deslocar-se pela Sorocabana até a divisa mato-grossense.[92]

Ordem de batalha dos revolucionários em Bauru[95][94]
Comando geral: Isidoro Dias Lopes

Chefe de Estado-Maior: tenente-coronel Antonio Mendes Teixeira
1.ª Brigada (Bernardo de Araújo Padilha)

  • 1.º Batalhão de Caçadores (capitão Olintho Tolentino de Freitas Marques)
  • 2.º Batalhão de Caçadores (tenente (comissionado capitão) Luiz de França Albuquerque)

2.ª Brigada (Olinto Mesquita de Vasconcelos)

  • 3.º Batalhão de Caçadores (capitão (comissionado major) Juarez Távora)
  • 4.º Batalhão de Caçadores (tenente (comissionado capitão) Nélson de Melo)

3.ª Brigada (Miguel Costa)[g]

  • 5.º Batalhão de Caçadores (tenente (comissionado capitão) João Cabanas)
  • 6.º Batalhão de Caçadores (capitão Coriolano de Almeida Júnior)
  • 7.º Batalhão de Caçadores (tenente (comissionado capitão) Arlindo de Oliveira)

Regimento de Cavalaria (general João Francisco)

Regimento Misto de Artilharia (tenente-coronel Newton Estillac Leal)

Posições de combate em Botucatu

O capitão Guimarães, com 150 voluntários, foi enviado de Bauru a Araçatuba para resistir a um eventual avanço dos legalistas mato-grossenses;[96] governos revoltosos foram instalados nessa cidade e em Lins e Promissão, no caminho.[97] Os revolucionários foram mais longe e lançaram um ataque a São José do Rio Preto, vindos de Mirassol, no dia 31, mas foram repelidos.[98] Os batalhões de João Cabanas e Juarez Távora cobriram a retaguarda dos revolucionários na passagem por Botucatu;[95] Távora ficou nessa cidade, e Cabanas, em São Manoel.[99] Ao mesmo tempo, os legalistas moviam contra Bauru um destacamento da Coluna Sul, comandado pelo coronel Trajano e composto do 7.º RI, dois esquadrões do 5.º RCD, um batalhão do Paraná e uma bateria do 5.º RAM.[77] O destacamento Malan (isto é, a antiga coluna do general Martins Pereira, vinda de Minas Gerais, agora com novo comandante)[96] agora estava subordinado ao general Azevedo Costa, e cobria seu flanco. O destacamento Teles, também posto à sua disposição, foi encarregado de tomar Salto Grande.[77]

Em 31 de julho[100] ou 1.º de agosto[101] o destacamento Trajano encontrou o batalhão Távora na serra de Botucatu. A seis quilômetros dali, na estação de Rubião Júnior, estavam passando os trens com o grosso da divisão revolucionária. Ernani Donato cita uma força de 800 homens no batalhão Távora, incluindo um pelotão alemão e outro húngaro, contra 3.000 legalistas armados de artilharia. Os combates duraram 40 horas. Após a passagem dos trens, o batalhão revolucionário também embarcou à noite, quando o contato foi rompido. Os legalistas registraram três feridos no 7.º RI e a tomada de 54 prisioneiros.[100][101] No dia seguinte, o último trem do batalhão Cabanas, com 113 ocupantes, foi descarrilhado por autoridades locais em São Manoel e atacado pela vanguarda da coluna Malan, que apreendeu a composição e tomou, dependendo das fontes, 64 ou 67 prisioneiros. Morreram em combate 14 dos revolucionários, ao custo de dois mortos e nove feridos entre os legalistas.[102][103]

Em seu relato, o general Azevedo Costa incluiu Botucatu entre suas vitórias,[101] mas há opinião contrária de que o combate foi vitória revolucionária, pois o grosso das tropas rebeldes passou incólume.[96] Toda a Coluna Sul foi reunida em Botucatu em 3 de agosto.[101] A 5 de agosto, os legalistas mato-grossenses já estavam em Bauru, encontrando a cidade vazia.[104]

Invasão a Mato Grosso[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Batalha de Três Lagoas
Locais percorridos de Bauru até a divisa estadual

A vanguarda revolucionária era a companhia do capitão Asdrubal Gwyer Azevedo,[105] pertencente ao 1.º Batalhão de Caçadores. Após passar por Avaré, Cerqueira César, Ourinhos e Salto Grande, chegou a Assis em 5 de agosto.[99] Nessa cidade, realizou-se uma solenidade para comemorar o primeiro mês do movimento, e foi editado o jornal O Libertador.[106] Em Presidente Prudente, o chefe local da Sorocabana intentou sabotar a estrada, mas foi impedido por dissidentes locais. A ocupação da cidade pelos rebeldes duraria um mês.[20] A vanguarda alcançou Porto Tibiriçá (atual Presidente Epitácio), às margens do rio Paraná, no dia 6, apreendendo os vapores Guairá, Paraná, Rio Pardo, Brilhante e Conde de Frontin e aprisionando um pequeno contingente legalista. No mesmo dia o 11.º RCI, de Ponta Porã, foi enviado ao extremo sul de Mato Grosso para impedir que os revolucionários descessem o rio para Guaíra, na divisa com o Paraná. Sessenta homens defendiam Porto XV de Novembro, na divisa com Porto Tibiriçá, mas a cidade foi ocupada pelos revoltosos.[107][108]

Às margens do Paraná, a inatividade desanimava a tropa. As lideranças dividiam suas opiniões sobre o próximo passo. O coronel João Francisco era contra uma estratégia defensiva e preferia descer o rio até o trecho entre Guaíra e Foz do Iguaçu e avançar até Ponta Grossa por terra. De sua posição no oeste paranaense, a coluna se ligaria com os oficiais comprometidos com a revolução no Rio Grande do Sul. Isidoro preferia subir o rio até Três Lagoas e invadir Mato Grosso,[109][110][111] onde os revolucionários proclamariam o “Estado Livre da Brasilândia” e teriam condições de resistir e até contra-atacar.[112][113]

As informações eram que Três Lagoas estava fracamente defendida e as demais guarnições mato-grossenses poderiam aderir. Além da aparente viabilidade política e militar, o plano de invasão a Mato Grosso produziria resultados mais imediatos, e foi aprovado pela oficialidade.[109] Mas a invasão ocorreu muito tarde, e os legalistas já concentravam suprimentos e tropas em Três Lagoas. Unidades mato-grossenses (uma bateria de artilharia, o 17.º BC, 18.º BC e 50.º RC) retornavam de Bauru para defender os portos na margem direita do rio Paraná. O 17.º BC já estava em Três Lagoas no dia 10. A coluna Malan d'Angrogne chegou com reforços de Minas Gerais, e já tomava posição no dia 16.[114][104]

Na manhã de 17 de agosto, Juarez Távora desembarcou a força de invasão a 27 quilômetros da cidade.[115] Ela era composta do 3.º Batalhão, reforçado pelas companhias Gwyer e Azhaury, do 1.º Batalhão, e uma seção de artilharia do capitão Filinto Müller, somando 570 homens.[116] A tropa de choque era composta principalmente de estrangeiros.[117] Essa força de invasão sofreu uma derrota severa no dia seguinte, na localidade de Campo Japonês,[118] onde enfrentou a coluna Amaral, composta de 145 homens Força Pública de Minas Gerais, e companhias do 12.º Regimento de Infantaria.[119] Pelos números da Gazeta de Notícias, os revolucionários tiveram 24 mortos, 23 feridos e 67 prisioneiros, e os legalistas, 4 mortos e 28 feridos. A “República da Brasilândia” foi frustrada, e os sobreviventes retornaram a Porto Tibiriçá. Para os revolucionários, só restou a opção de descer o rio na outra direção e ocupar o oeste paranaense.[120] A derrota teve um benefício: os legalistas concentraram-se mais a norte na divisa, deixando o caminho ao Paraná menos protegido.[121]

Ações de retaguarda na Sorocabana[editar | editar código-fonte]

Ponte do rio Pardo, dinamitada pela Coluna da Morte e restaurada pelos engenheiros da Coluna Sul

Enquanto a vanguarda alcançava o rio Paraná, a retaguarda ainda tinha a Coluna Sul do general Azevedo Costa no seu encalço. Após Botucatu, a defesa da retaguarda coube à “Coluna da Morte” de João Cabanas. Foram 42 dias de perseguição ao longo dos cerca de 1.200 quilômetros de estrada. Para retardar o movimento legalista, esse batalhão dinamitou a infraestrutura ferroviária no seu caminho.[96] Os legalistas perderam muito tempo reconstruindo as pontes para permitir a passagem dos trens. Com a ferrovia inutilizada, as forças de perseguição motorizavam batalhões inteiros e usavam estradas vicinais, mas as tropas acabavam se perdendo.[122] A destruição ferroviária teve motivos militares, mas foi polêmica; a imprensa governista apresentou Cabanas como um vândalo.[96] Em seu relato, Cabanas afirma que os soldados da Brigada Militar gaúcha vinham em trens carregados de bebida e prostitutas;[122] ele definiu como “frouxo” o avanço legalista.[123] A vegetação estava seca, e ao longo do percurso, jagunços governistas incendiavam as margens das estradas para dificultar a visibilidade dos revolucionários.[122]

Em 11 de agosto a Coluna Sul chegou a Ourinhos, e no dia seguinte enviou o 12.º RI, 5.º RCD e uma bateria de artilharia de montanha para atacar a Coluna da Morte em Salto Grande. O inimigo escapou à noite em trens previamente preparados, e os legalistas não puderam persegui-lo, pois a ponte sobre o rio Pardo estava destruída. O trabalho de engenharia só restaurou a ponte no dia 17, permitindo o avanço do grosso da coluna até Assis. Azevedo Costa reorganizou essa força numa brigada de cavalaria, duas de infantaria e uma mista.[124]

Organização da Coluna Sul após a passagem por Salto Grande[124]
Brigada Provisória de Cavalaria (coronel Franco Ferreira)
  • 5.º Regimento de Cavalaria Divisionário, Palmital
  • 15.º Regimento de Cavalaria Independente, Itararé
  • Seção de artilharia de montanha, Salto Grande
  • Seção de metralhadoras do 13.º Regimento de Infantaria, Salto Grande
  • Esquadrão de cavalaria de patriotas[125]

1.ª Brigada de Infantaria (coronel Trajano)

  • 7.º Regimento de Infantaria, Chavantes
  • Grupo policial
    • Batalhão paranaense, Salto Grande
    • Batalhão catarinense, Salto Grande
    • Batalhão paulista, Ourinhos

2.ª Brigada de Infantaria (coronel Abreu Lima)

  • 13.º Regimento de Infantaria, Salto Grande
  • Grupo Policial do Rio Grande, Botucatu

3.ª Brigada Mista (coronel Teles)[h]

  • 11.º Regimento de Infantaria, Botucatu
  • 15.º Batalhão de Caçadores, Botucatu
  • Duas baterias do 1.º Regimento de Artilharia Montada, Botucatu
  • Seção do 1.º Grupo de Artilharia Pesada, Botucatu

Tropa sem brigada

  • Bateria do 5.º Regimento de Artilharia Montada, Ourinhos
  • Bateria do 1.º Grupo de Artilharia de Montanha, Salto Grande
Ponte ferroviária no interior

A brigada de cavalaria seguiu adiante, pelas estradas de rodagem,[126] e no dia 21 capturou um comboio dos revolucionários em Paraguaçu. No dia 23 encontraram em Quatá locomotivas inutilizadas e um incêndio nos vagões de passageiros e na madeira serrada que aguardava transporte às margens da estrada; a vanguarda atacou Rancharia, mas foi repelida. À noite os revolucionários abandonaram a estação e incendiaram a madeira.[127] O grosso da coluna foi novamente atrasado por uma ponte destruída, agora no rio Capivara. No dia 25 a brigada mista foi dissolvida, e a maior parte de suas forças transferidas.[126] A brigada de cavalaria atacou a Coluna da Morte em Indiana no dia 27, com uma ação envolvente: o 5.º RCD à esquerda, cavalaria irregular no centro e 15.º RCI à direita. Novamente os revolucionários escaparam à noite. Segundo Azevedo Costa, seu inimigo teve dois mortos e quatro feridos. Em 31 de agosto ele reorganizou sua tropa em duas colunas, da direita e da esquerda, e a 3 de setembro já tinha fixado seu posto de comando em Presidente Prudente.[128][129]

Organização da Coluna Sul em 31 de agosto[129][130]
Coluna da esquerda (coronel Franco Ferreira)
  • 5.º Regimento de Cavalaria Divisionário (coronel Alfredo Floro Cantalica)
  • 7.º Regimento de Infantaria (tenente-coronel Primo Dias)
  • Grupo de artilharia de montanha (tenente Côrrea Lima)
  • Companhias de metralhadoras pesadas:
  • Esquadrão de cavalaria de patriotas (capitão Onésio Costa)

Coluna da direita (comando direto do general)

  • 15.º Regimento de Cavalaria Independente
  • Grupo policial (tenente-coronel Ciro Vidal)
    • Batalhão paranaense
    • Batalhão catarinense
    • Batalhão paulista
    • 2.º Batalhão de patriotas (“Washington Luís”)
  • Grupo Policial do Rio Grande (coronel Lúcio Esteves)
  • Grupo de artilharia de montanha
  • Bateria de artilharia pesada

Uma esquadrilha de aviação foi incorporada à Coluna Sul[131] e sobrevoou Presidente Epitácio em 4–5 de setembro, mas não teve condições técnicas para mais operações.[129] Em Santo Anastácio travou-se um combate notório.[96] A Brigada Militar encontrou um inimigo entrincheirado e bem posicionado e atacou às 16h00 do dia 4. A vanguarda foi o 2.º Batalhão de Caçadores, seguido da Companhia de Metralhadoras Pesadas e do 1.º Batalhão. O combate cessou durante à noite, e os revolucionários aproveitaram para escapar de trem. Os gaúchos registraram quatro mortos e seis feridos do seu lado e quatro mortos, 18 feridos e 13 doentes capturados no inimigo;[132] Cabanas relata ter perdido 80 homens, entre mortos, feridos e extraviados.[133] O general Azevedo Costa cita 48 mortos, feridos e prisioneiros em mãos dos legalistas.[134]

Descida do Paraná[editar | editar código-fonte]

Último trecho da marcha, de Presidente Prudente até as margens do Paraná

No dia 9[134] ou 10 a Coluna Sul finalmente alcançou Porto Tibiriçá. Todos os revolucionários já haviam deixado o porto a caminho do Paraná;[135] a vanguarda já descia o rio desde 23 de agosto.[136] O controle revolucionário em Porto Tibiriçá durou 37 dias. Os combatentes deixavam para trás os povoados e cafezais do oeste paulista e encontravam um ambiente totalmente novo.[137] As margens paulista e mato-grossense do rio eram escassamente povoadas, e do lado mato-grossense não havia nem mesmo linhas telegráficas. A princípio, o governo nem mesmo sabia o paradeiro dos rebeldes.[135]

A vanguarda revolucionária adentrou o território paranense em 31 de agosto na localidade de São José.[138] Em 14 de setembro ela derrotou os defensores de Guaíra, sede da Companhia Mate Laranjeira, possibilitando a conquista do oeste paranaense,[139] que estava fracamente defendido.[140] No dia 23 a vanguarda já quase alcançava Foz do Iguaçu, enquanto a retaguarda ainda estava entre as margens paulista, paranaense e mato-grossense.[141] A viagem foi demorada, de ilha em ilha, com vários combates contra os legalistas na margem mato-grossense.[142] Ao final de outubro, os revolucionários já estavam fixos entre os rios Paraná, Piquiri e Iguaçu.[143]

Outro exército legalista, comandado pelo general Cândido Rondon, enfrentou os rebeldes ao redor de Catanduvas. A campanha no oeste paranaense arrastou-se até abril de 1925, quando chegou do Rio Grande do Sul outra coluna de revolucionários, liderada pelo capitão Luís Carlos Prestes. Sua junção com os rebeldes paulistas formou a Coluna Miguel Costa-Prestes, que deu continuidade ao movimento.[144]

Notas

  1. No dia 6, o 2.º Grupo de Artilharia de Montanha, de Jundiaí, e até o dia 9, o 4.º Regimento de Artilharia Montada, de Itu, e o 5.º Batalhão de Caçadores, de Rio Claro. Também aderiram o 6.º Regimento de Infantaria, de Caçapava, e uma companhia do 5.º Regimento de Infantaria, de Lorena quando chegaram à cidade (Meirelles 2002, p. 90, Castro 2022, p. 52-53, 56-57).
  2. Em Rio Claro, por exemplo, antes de seguir a São Paulo para se juntar aos revoltosos, o 5.º Batalhão de Caçadores destituiu o prefeito e a Câmara Municipal de e nomeou um governo provisório. Vide «5 de julho – A história que rio claro apagou: Quartel do Mercado Municipal foi fechado porque soldados em rebelião tomaram a cidade em 1924». Diário do Rio Claro. 9 de julho de 2022 .
  3. Santos 2013, p. 33 e 44-45, descreve as forças da perspectiva paulista, mas ignora o contingente Amaral e inclui o 5.º BI como a força enfrentada por Cabanas em Mogi. Andrade 1976, p. 60, 68-69 e 85-86, esclarece a situação do ponto de vista mineiro, quantificando o 5.º BI, datando sua chegada e especificando a presença do contingente Amaral.
  4. Castro 2022 cita as datas de 20, 23 e 28 como ataques a Pirassununga. O Correio Paulistano de 6 de agosto de 1924 especifica que o assalto à delegacia e ao quartel do regimento e a destituição do governo ocorreram no dia 28.
  5. 19 de julho, segundo Castro 2022, p. 173.
  6. A vanguarda esquerda tinha o 13.º RI (menos sua 6.ª Companhia), o batalhão policial paranaense, um esquadrão do 5.º RCD e uma companhia de metralhadoras pesadas do 7.º RI. A direita tinha os batalhões patrióticos e um esquadrão do 5.º RCD, reforçados no dia 27 por uma seção de metralhadoras pesadas do 7.º RI e a bateria de artilharia montada. Boletim n.º 57, de 12 de setembro de 1924, da Coluna de Operações Sul, redigido por Azevedo Costa e reproduzido em Ribeiro 1953, p. 283-284.
  7. Composta só de elementos da Força Pública de São Paulo.
  8. Dissolvida no dia 25. O 11.º RI e 15.º BC foram transferidos ao destacamento Malan e as baterias do 1.º RAM retornaram ao Rio de Janeiro (Ribeiro 1953, p. 287).

Referências[editar | editar código-fonte]

Citações[editar | editar código-fonte]

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  2. Corrêa 1976, p. 125.
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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Livros
Artigos e trabalhos acadêmicos