Intervenção federal no Brasil
No Brasil, a intervenção federal é uma ação realizada pela União Federal, em nome da Federação, nos Estados e no Distrito Federal, nas hipóteses taxativamente previstas no artigo 34 da Constituição:[1]
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
Interventor federal é a denominação do governador nomeado pelo Presidente da República. Emílio Garrastazu Médici, Floriano Peixoto, Getúlio Vargas, Michel Temer e Luiz Inácio Lula da Silva [2][3] nomearam interventores.
Intervenções recentes
[editar | editar código-fonte]Rio de Janeiro em 2018
[editar | editar código-fonte]A intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018 foi a decisão do Governo Federal do Brasil de intervir na autonomia do estado do Rio de Janeiro. Foi a primeira aplicação do art. 34 da Constituição Federal de 1988.[4] Foi decretada com o objetivo de amenizar a situação da segurança interna, com término em 31 de dezembro de 2018. A decisão foi instituída por meio do Decreto n.º 9.288, de 16 de fevereiro de 2018, outorgado pelo Presidente da República, com publicação no Diário Oficial da União no mesmo dia.[5]
O decreto de intervenção restringiu os efeitos à segurança pública do estado do Rio de Janeiro e foi assinado pelo Presidente da República, Michel Temer, em 16 de fevereiro de 2018. A assinatura foi antecedida por reunião de emergência no Palácio da Alvorada com ministros, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira, e o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão.[6]
Foi nomeado como interventor o general de exército Walter Souza Braga Netto, comandante do Comando Militar do Leste, que tem seu quartel-general localizado na cidade do Rio de Janeiro.[7] O general Braga Netto foi um dos responsáveis pela segurança nos Jogos Olímpicos de Verão de 2016, sediado nessa mesma cidade.[8] O general assumiu o comando da Polícia Militar do Rio de Janeiro, da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros, e respondia diretamente ao Presidente da República.Roraima em 2018
[editar | editar código-fonte]A intervenção federal em Roraima em 2018 foi a decisão do Governo Federal do Brasil de intervir na autonomia do estado de Roraima. Foi a segunda aplicação do art. 34 da Constituição Federal de 1988. É a segunda intervenção federal decretada pelo presidente Michel Temer, sendo que a primeira foi no Rio de Janeiro.[9] O objetivo é amenizar a situação da segurança interna e da crise financeira do estado e a data de término, contida no decreto que ordenou a intervenção, foi o dia 31 de dezembro de 2018.[10]
Foi nomeado como interventor o governador eleito Antonio Denarium (PSL).[11]Distrito Federal em 2023
[editar | editar código-fonte]A intervenção federal no Distrito Federal em 2023 foi a decisão do Governo Federal do Brasil de intervir na autonomia do Distrito Federal diante das invasões na Praça dos Três Poderes.[12] Tornou-se a terceira aplicação do art. 34 da Constituição Federal de 1988, que já havia ocorrido nos estados do Rio de Janeiro e de Roraima durante o Governo Michel Temer, em 2018.[13][14] A decisão foi instituída por meio do Decreto n.º 11 377, de 8 de janeiro de 2023, outorgado pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, com publicação no Diário Oficial da União em edição extra no mesmo dia.[15]
Foi nomeado como interventor o secretário-executivo do Ministério da Justiça Ricardo Garcia Cappelli, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes.[16][17] A intervenção tirou o poder do governo do Distrito Federal sobre a área da segurança pública, e durou até 31 de janeiro.[18][19]
A Câmara dos Deputados aprovou o decreto no dia seguinte de sua instituição em votação simbólica, com os partidos PL e NOVO liberando suas bancadas.[20] O texto foi aprovado pelo Senado Federal no dia 10 de Janeiro de 2023.[21]Interventores durante o Estado Novo
[editar | editar código-fonte]Alguns dos interventores relacionados já estavam no exercício do cargo antes de 10 de novembro de 1937 data que foi o marco inicial do Estado Novo e que adotamos como critério para iniciar esta relação. Deposto Getúlio Vargas em 29 de outubro de 1945 os interventores abandonavam seus postos nos dias seguintes.
De acordo com o Art. 8º do Ato das Disposições Transitórias da Constituição de 1946 os territórios federais de Ponta Porã e Iguaçu foram reincorporados a Mato Grosso e Paraná, respectivamente. Na relação abaixo constam os então territórios federais do Acre, Fernando de Noronha, Guaporé[22] e Rio Branco,[23] embora no caso dos territórios a designação correta seja a de "governador nomeado".
Deve se ressaltar que no caso do então Distrito Federal seus mandatários recebiam o título de prefeito sendo que a figura do governador só teve lugar após a Emenda Constitucional Número Um de 17 de outubro de 1969 quando já existia o atual Distrito Federal.
Referências
- ↑ CF88
- ↑ «Temer decreta intervenção integral em Roraima e governadora é afastada do cargo». Gazeta do Povo. 7 de dezembro de 2018. Consultado em 8 de dezembro de 2018
- ↑ «Temer anuncia intervenção federal em Roraima até 31 de dezembro». www2.planalto.gov.br. 7 de dezembro de 2018. Consultado em 8 de dezembro de 2018
- ↑ «Intervenção Federal no Rio de Janeiro é a 1° desde a Constituição de 1988». G1. 16 de Fevereiro de 2018. Consultado em 16 de Fevereiro de 2018
- ↑ «Diário Oficial da União - Imprensa Nacional». www.imprensanacional.gov.br. Consultado em 17 de fevereiro de 2018
- ↑ «Temer assina decreto de Intervenção Federal na segurança pública do Rio de Janeiro». G1. 16 de Fevereiro de 2018. Consultado em 16 de Fevereiro de 2018
- ↑ «Quem é o general que vai comandar a intervenção federal no RJ». EXAME. 16 de Fevereiro de 2018. Consultado em 16 de Fevereiro de 2018
- ↑ «Interventor federal que atuará no RJ foi um dos responsáveis pela segurança durante a Olimpíada». G1. 16 de Fevereiro de 2018. Consultado em 16 de Fevereiro de 2018
- ↑ «Intervenção Federal no Rio de Janeiro é a 1° desde a Constituição de 1988». G1. 16 de Fevereiro de 2018. Consultado em 8 de dezembro de 2018
- ↑ «Michel Temer decreta intervenção federal em Roraima». Veja
- ↑ «Governador eleito de Roraima vai comandar intervenção no estado». Agência Brasil. 8 de dezembro de 2018. Consultado em 8 de dezembro de 2018
- ↑ «Lula decreta intervenção federal no DF até 31 de janeiro». noticias.uol.com.br. Consultado em 8 de janeiro de 2023
- ↑ «Intervenção Federal no Rio de Janeiro é a 1° desde a Constituição de 1988». G1. 16 de fevereiro de 2018. Consultado em 8 de janeiro de 2023
- ↑ «Governador eleito de Roraima vai comandar intervenção no estado». Agência Brasil. 8 de dezembro de 2018. Consultado em 8 de janeiro de 2023
- ↑ «'DOU' publica Decreto da intervenção federal na área de segurança do DF». noticias.uol.com.br. Consultado em 9 de janeiro de 2023
- ↑ «Ricardo Garcia Cappelli». UNE - União Nacional dos Estudantes. Consultado em 8 de janeiro de 2023
- ↑ «Lula decreta intervenção federal no Distrito Federal». O Globo. Consultado em 8 de janeiro de 2023
- ↑ «Lula decreta intervenção federal no DF até 31 de janeiro». noticias.uol.com.br. Consultado em 9 de janeiro de 2023
- ↑ «Intervenção federal na segurança do DF é concluída após 23 dias de vigência». Ministério da Justiça e Segurança Pública. Consultado em 23 de setembro de 2023
- ↑ «Câmara aprova decreto de intervenção federal no DF; texto vai ao Senado». noticias.uol.com.br. Consultado em 10 de janeiro de 2023
- ↑ «Senado aprova intervenção na segurança do Distrito Federal». Senado Federal. Consultado em 10 de janeiro de 2023
- ↑ Criado por força do decreto-lei 5.812 de 13 de setembro de 1943, mesmo dia em que foram criados os territórios federais do Amapá, Ponta Porã e Iguaçu.
- ↑ Criado pela Constituição de 1937, foi efetivamente instalado com a posse de seu primeiro governador.
- ↑ Deposto no dia seguinte à decretação do Estado Novo.
- ↑ Faleceu em Porto Alegre em 19 de janeiro de 1938.
- ↑ Faleceu em Santos em 22 de maio de 1938 vítima de um acidente aéreo.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Galeria de governadores brasileiros Acesso em 3 de outubro de 2010.
- Banco de dados da Fundação Getúlio Vargas Acesso em 3 de outubro de 2010.
- Constituição brasileira de 1946 Acesso em 1º de outubro de 2010.