Eleições estaduais em Mato Grosso em 1970

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1966 Brasil 1974
Eleições estaduais em  Mato Grosso em 1970
3 de outubro de 1970
(Eleição indireta)
15 de novembro de 1970
(Eleição direta)


Candidato José Fragelli


Partido ARENA


Natural de Corumbá, MS


Vice José Monteiro de Figueiredo
Votos 20
Porcentagem 100%

As eleições estaduais em Mato Grosso em 1970 ocorreram em duas etapas conforme previa o Ato Institucional Número Três e assim a eleição indireta do governador José Fragelli e o vice-governador José Monteiro de Figueiredo foi em 3 de outubro e a escolha dos senadores Filinto Müller e Saldanha Derzi, seis deputados federais e dezoito estaduais ocorreu em 15 de novembro a partir de um receituário aplicado aos 22 estados e aos territórios federais do Amapá, Rondônia e Roraima.[1][2][nota 1]

Advogado natural de Corumbá e formado na Universidade de São Paulo em 1938, José Fragelli voltou a Campo Grande no ano seguinte e trabalhou como promotor de justiça, jornalista, professor do educandário Carlos de Carvalho e professor universitário, além de diretor e professor do Colégio Osvaldo Cruz. Sobrinho de Fernando Correia da Costa, integrou a UDN sendo eleito deputado estadual em 1947 e 1950 e deputado federal em 1954. Filiado à ARENA após o Regime Militar de 1964, presidiu o diretório municipal em Aquidauana e estava à frente do diretório estadual quando foi escolhido governador de Mato Grosso pelo presidente Emílio Garrastazu Médici em 1970 e cumpriu integralmente seu mandato.[3][4][5][6]

Para vice-governador foi escolhido José Monteiro de Figueiredo, nascido em Nossa Senhora do Livramento e formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. De volta a Cuiabá, tornou-se conhecido ao clinicar na Santa Casa de Misericórdia e em razão disso ingressou na política via PSD elegendo-se vereador na cidade em 1947 e deputado estadual em 1950, retornando depois à medicina.

Resultado das eleições para governador[editar | editar código-fonte]

A eleição realizada pelos membros da Assembleia Legislativa de Mato Grosso convertida em Colégio Eleitoral convocado para este fim. Foram apurados vinte votos para José Fragelli e cinco em branco.

Candidatos a governador do estado
Candidatos a vice-governador Número Coligação Votação Percentual
José Fragelli
ARENA
José Monteiro de Figueiredo
ARENA
-
ARENA (sem coligação)
20
100%
Fontes:[7][8]
  Eleito

Biografia dos senadores eleitos[editar | editar código-fonte]

Filinto Müller[editar | editar código-fonte]

Nascido em Cuiabá, Filinto Müller trabalhou na Imprensa Oficial de Mato Grosso e a seguir integrou-se no 16° Batalhão dos Caçadores, sediado na capital mato-grossense, antes de sentar praça na Escola Militar do Realengo. Preso durante cinco meses sob a acusação de participar da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, quando estava de serviço no 1º Regimento de Artilharia Montada (1º RAM), cumpriu foi transferido para Campo Grande antes de atuar na Revolta Paulista de 1924 e exilar-se em território argentino, sendo preso ao retornar ao Brasil após três anos. Anistiado pela Revolução de 1930, foi chefe de gabinete do ministro da Guerra, general José Fernandes Leite de Castro e no ano seguinte assumiu o cargo de secretário do capitão João Alberto Lins de Barros, interventor federal em São Paulo antes de voltar à cidade do Rio de Janeiro, onde foi inspetor da Guarda Civil antes de tornar-se chefe de polícia do Distrito Federal em 1932. Efetivado no cargo no ano seguinte, nele manteve-se até 1942.[9]

Filiado ao PSD nos meses finais do Estado Novo, passou a atuar na política de Mato Grosso. Derrotado na eleição para senador em 1945, foi vitorioso em 1947, contudo perdeu a eleição para governador em 1950.[10][11][12] Eleito senador em 1954, disputou novamente o governo estadual em 1960, colhendo mais uma derrota.[13][14] Vitorioso na eleição para senador em 1962,[15] alinhou-se ao Regime Militar de 1964 e renovou o mandato em 1970. Durante o Governo Emílio Médici, ascendeu à presidência nacional da ARENA, além de presidir o Senado Federal e o Congresso Nacional.[16] Faleceu em 11 de julho de 1973, vítima de um acidente aéreo no Aeroporto de Orly em Paris.[17]

Saldanha Derzi[editar | editar código-fonte]

Natural de Ponta Porã, o médico Saldanha Derzi diplomou-se em 1939 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com especialização em cirurgia, obstetrícia e pediatria. No ano anterior à sua graduação, ascendeu ao conselho deliberativo do Instituto Nacional do Mate,[18] onde permaneceu até 1942, quando assumiu o Posto de Saúde de Campo Grande.[19] Nesse mesmo ano, o interventor Júlio Müller o nomeou prefeito de Ponta Porã, cargo mantido por três anos.[20] Membro da UDN, fez carreia política em sua cidade natal, sendo eleito vereador em 1947 e prefeito em 1950. Também agropecuarista e jornalista, colaborou com os jornais Correio do Estado e O Estado de Mato Grosso, sendo vitorioso ao buscar um mandato de deputado federal em 1954, 1958 e 1962. O único revés de sua carreira ocorreu em 1955, quando disputou o governo de Mato Grosso.[21] Com a vitória do Regime Militar de 1964, renovou o mandato de deputado federal pela ARENA em 1966 e obteve uma cadeira de senador em 1970.[13][22][15][23][24]

Suplente efetivado[editar | editar código-fonte]

Italívio Coelho[editar | editar código-fonte]

Nascido em Rio Brilhante, o advogado Italívio Coelho formou-se na Universidade Federal do Rio de Janeiro.[25] Eleito deputado estadual em Mato Grosso em 1947 via UDN, afastou-se da política ao final do mandato.[11] Agropecuarista, foi presidente do Frigorífico Mato-Grossense, da Associação dos Criadores do Sul, vice-presidente da Associação das Indústrias de Campo Grande e também da Associação de Criadores de Santa Gertrudes. Como banqueiro e industrial, ocupou a vice-presidência do Banco Financial de Mato Grosso, sendo presidente da Financial Bragança e da Companhia Imobiliária do Oeste do Brasil.[26] Irmão de Lúdio Coelho e cunhado de Saldanha Derzi, retornou à política ao eleger-se suplente de senador pela ARENA em 1970, assumindo o mandato em 6 de agosto de 1973, dias após a morte de Filinto Müller.[27][28][29]

Resultado das eleições para senador[editar | editar código-fonte]

Conforme os arquivos do Tribunal Superior Eleitoral foram apurados 397.073 votos nominais (73,04%), 130.988 votos em branco (24,09%) e 15.609 votos nulos (2,87%), resultando no comparecimento de 543.670 eleitores.

Candidatos a senador da República
Candidatos a suplente de senador Número Coligação Votação Percentual
Filinto Müller
ARENA
Italívio Coelho
ARENA
-
ARENA (sem coligação)
170.365
42,91%
Saldanha Derzi
ARENA
João Ponce de Arruda
ARENA
-
ARENA (sem coligação)
146.257
36,83%
Plínio Martins
MDB
Vicente Bezerra Neto
MDB
-
MDB (sem coligação)
80.451
20,26%
Fontes:[1]
  Eleitos

Deputados federais eleitos[editar | editar código-fonte]

São relacionados os candidatos eleitos com informações complementares da Câmara dos Deputados.[30][31]

Representação eleita

  ARENA: 6
Deputados federais eleitos Partido Votação Percentual Cidade onde nasceu Unidade federativa
José Garcia Neto ARENA 32.390 12,80% Rosário do Catete  Sergipe
Ubaldo Barém ARENA 23.592 9,33% Ponta Porã  Mato Grosso do Sul
Marcílio Lima ARENA 22.942 9,07% Campo Grande  Mato Grosso do Sul
Emanuel Pinheiro[nota 2] ARENA 21.476 8,49% Cuiabá  Mato Grosso
Gastão Müller ARENA 17.325 6,85% Três Lagoas  Mato Grosso do Sul
João da Câmara[nota 3] ARENA 14.741 5,83% Dourados  Mato Grosso do Sul
Fontes:[1][nota 4]

Deputados estaduais eleitos[editar | editar código-fonte]

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral a ARENA conquistou dezesseis vagas em disputa contra duas do MDB.

Representação eleita

  ARENA: 16
  MDB: 2
Deputados estaduais eleitos Partido Votação Percentual Cidade onde nasceu Unidade federativa
Maçao Tadano ARENA 10.476 Cornélio Procópio  Paraná
Vicente Vuolo ARENA 10.436 Cuiabá  Mato Grosso
Nelson Almeida ARENA 9.283 Cuiabá  Mato Grosso
Benedito Canelas ARENA 8.987 São Manuel  São Paulo
Oscar Soares ARENA 8.842 Água Boa  Mato Grosso
Alexandrino Marques ARENA 7.970 Guiratinga  Mato Grosso
Ruben Figueiró ARENA 7.408 Rio Brilhante  Mato Grosso do Sul
Valdomiro Gonçalves ARENA 7.381 Paranaíba  Mato Grosso do Sul
Ivo Cersósimo ARENA 6.767 Pompeia  São Paulo
Levy Dias ARENA 6.525 Aquidauana  Mato Grosso do Sul
Joaquim Nunes Rocha ARENA 6.438 Tocantinópolis  Tocantins
Venício da Silva ARENA 6.421 Rondonópolis  Mato Grosso
Antônio Lins ARENA 6.226 Cuiabá  Mato Grosso
Afro Stefanini ARENA 6.056 Campo Grande  Mato Grosso do Sul
Carlos Albanese ARENA 6.043 Nova Mutum  Mato Grosso
Londres Machado ARENA 5.826 Rio Brilhante  Mato Grosso do Sul
Cecílio Gaeta MDB 4.952 Cuiabá  Mato Grosso
Cleómenes da Cunha MDB 4.244 Campo Grande  Mato Grosso do Sul
Fontes:[1][nota 4]

Eleições municipais[editar | editar código-fonte]

Houve eleições municipais em todo o estado embora Cuiabá, Aripuanã, Cáceres, Mirassol d'Oeste e Vila Bela da Santíssima Trindade tivessem seus prefeitos nomeados por serem áreas de segurança nacional nos termos da legislação vigente.

Notas

  1. Nos territórios federais o pleito serviu apenas para a escolha de deputados federais, não havendo eleições no Distrito Federal e no Território Federal de Fernando de Noronha.
  2. Foi assassinado em Chapada dos Guimarães em 26 de julho de 1974 e em seu lugar foi efetivado Edil Ferraz.
  3. Eleito prefeito de Dourados em 1972, foi substituído por Paulino Lopes da Costa.
  4. a b Observando o cenário político desenhado em 1970, vemos que ganhou corpo uma "separação política" que remonta ao início do Século XX, pois os "sulistas" obtiveram quatro das seis vagas de Mato Grosso na Câmara dos Deputados embora fossem todos da ARENA. Também fariam política no futuro estado de Mato Grosso do Sul os políticos Italívio Coelho, José Fragelli, Pedro Pedrossian, Plínio Martins e Saldanha Derzi. Na disputa pelas cadeiras da Assembleia Legislativa os governistas ganharam por dezesseis a dois e dentre eles havia "sulistas" como Levy Dias, Londres Machado e Ruben Figueiró, dentre outros.

Referências

  1. a b c d BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1970». Consultado em 28 de dezembro de 2023 
  2. BRASIL. Presidência da República. «Ato Institucional Número Três». Consultado em 28 de dezembro de 2023 
  3. BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado José Fragelli». Consultado em 22 de maio de 2018 
  4. BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador José Fragelli». Consultado em 22 de maio de 2018 
  5. Agência Estado (30 de abril de 2010). «Morre ex-presidente do Senado José Fragelli». g1.globo.com. G1. Consultado em 22 de maio de 2018 
  6. Assumem amanhã os 22 governadores (online). O Estado de S. Paulo, São Paulo (SP), 14/03/1971. Geral, p. 05. Página visitada em 22 de maio de 2018.
  7. Assembléias (sic) estaduais elegem os governadores (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 04/10/1970. Primeiro caderno, p. 26. Página visitada em 22 de maio de 2018.
  8. José Fragelli consegue uma vitória tranquila: têve (sic) até um voto do MDB (online). O Estado de Mato Grosso, Cuiabá (MT), 04/10/1970. Capa. Página visitada em 11 de fevereiro de 2020.
  9. BRASIL. Fundação Getúlio Vargas. «Biografia de Filinto Müller no CPDOC». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  10. BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1945». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  11. a b BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1947». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  12. BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1950». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  13. a b BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1954». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  14. BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1960». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  15. a b BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1962». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  16. BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador Filinto Müller». Consultado em 22 de maio de 2018 
  17. Redação (7 de agosto de 2023). «Relembre o acidente de avião que pode ter sido causado por cigarro e no qual brasileiro foi o único passageiro sobrevivente». g1.globo.com. G1. Consultado em 28 de dezembro de 2023 
  18. BRASIL. Presidência da República. «Decreto-Lei n.º 375 de 13/04/1938». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  19. BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Saldanha Derzi». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  20. BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador Saldanha Derzi». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  21. BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1955». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  22. BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1958». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  23. BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. «Eleições de 1966». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  24. BRASIL. Fundação Getúlio Vargas. «Biografia de Saldanha Derzi no CPDOC». Consultado em 1º de janeiro de 2024 
  25. BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador Italívio Coelho». Consultado em 22 de maio de 2018 
  26. BRASIL. Fundação Getúlio Vargas. «Biografia de Italívio Coelho no CPDOC». Consultado em 2 de janeiro de 2024 
  27. Redação (22 de setembro de 2005). «Senado aprova voto de pesar pela morte de Italívio Coelho». senado.leg.br. Agência Senado. Consultado em 2 de janeiro de 2024 
  28. Redação (2 de agosto de 1973). «Câmara e Senado reabrem, mas não realizam sessões. Primeiro Caderno, Política e Governo – p. 04». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 2 de janeiro de 2024 
  29. Redação (7 de agosto de 1973). «Senado elege Paulo Torres para a presidência com os votos das duas bancadas. Primeiro Caderno, Política e Governo – p. 03». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 2 de janeiro de 2024 
  30. «Página oficial da Câmara dos Deputados». Consultado em 1º de outubro de 2014. Arquivado do original em 2 de outubro de 2013 
  31. BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 9.504 de 30/09/1997». Consultado em 1º de outubro de 2014