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Gramsci descreve várias táticas principais para realizar uma revolução passiva. Seus objetivos seriam o controle das [[igreja]]s, [[ensino]], [[linguagem]],<ref name="Gramsci: Introduction"><span class="plainlinks">[https://books.google.com.br/books?id=V9b96S77hugC&pg=PT12&dq=gramsci+control+language&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjGg-Su1ZPfAhVDC5AKHb5MA4gQ6AEIMDAB#v=onepage&q=gramsci%20control%20language&f=false ''Gramsci: Introduction.'']</span> Autor: Alfonso Borello. Villaggio Publishing Ltd., 2012, {{en}} ISBN 9781301618972 Adicionado em 09/12/2018.</ref> [[mídia]], [[literatura]], [[música]], [[artes visuais]].<ref name="The Scorpion and the Frog: a Natural Conspiracy"><span class="plainlinks">[https://books.google.com.br/books?id=7Y6OAAAAQBAJ&pg=PA103&dq=gramsci+control+church&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjioMDU0ZPfAhVDiZAKHeKoAE0Q6AEIXDAH#v=onepage&q=gramsci%20control%20church&f=false ''The Scorpion and the Frog: a Natural Conspiracy.'']</span> Autor: William A. Borst
Gramsci descreve várias táticas principais para realizar uma revolução passiva. Todas essas táticas funcionariam em conjunto para, gradual e organicamente, mudar uma sociedade de tal maneira que atendesse às demandas da [[classe dominante]]. Este é o conceito de "mudança orgânica", mudança que parece ser autoiniciada e natural na [[Evolucionismo social|evolução de uma sociedade]].<ref name="264-267"/> Gramsci analisou movimentos como o [[reformismo]] e o [[fascismo]], assim como os métodos da "administração científica" e da [[linha de montagem]] de [[Frederick Taylor]] e [[Henry Ford]], respectivamente, como exemplos de revolução passiva iniciada pela [[burguesia]].
Xlibris Corporation, 2004, pág. 103, {{en}} ISBN 9781465332738 Adicionado em 09/12/2018.</ref> Todas essas táticas funcionariam em conjunto para, gradual e organicamente, mudar uma sociedade de tal maneira que atendesse às demandas da [[classe dominante]]. Este é o conceito de "mudança orgânica", mudança que parece ser autoiniciada e natural na [[Evolucionismo social|evolução de uma sociedade]].<ref name="264-267"/> Gramsci analisou movimentos como o [[reformismo]] e o [[fascismo]], assim como os métodos da "administração científica" <ref><span class="plainlinks">[https://books.google.com.br/books?id=KnVLlsbZ7vUC&pg=PA70&dq=gramsci+scientific+management&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjbjf6Ox5PfAhXJUJAKHRWrBSkQ6AEIKDAA#v=onepage&q=gramsci%20scientific%20management&f=false ''Gramsci and Education.'']</span> Autores: Carmel Borg, Joseph A. Buttigieg, Peter Mayo. Rowman & Littlefield, 2002, pág. 70, {{en}} ISBN 9780742500334 Adicionado em 09/12/2018.</ref> e da [[linha de montagem]] de [[Frederick Taylor]] e [[Henry Ford]],<ref><span class="plainlinks">[https://books.google.com.br/books?id=MaOcIx7h91EC&pg=PA122&dq=gramsci+scientific+management&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjbjf6Ox5PfAhXJUJAKHRWrBSkQ6AEINjAC#v=onepage&q=gramsci%20scientific%20management&f=false ''Scientific Management: A Management Idea to Reach a Mass Audience.'']</span> Autor: A. Khurana. Global India Publications, 2009, pág. 122, {{en}}. ISBN 9789380228013 Adicionado em 09/12/2018.</ref> respectivamente, como exemplos de revolução passiva iniciada pela [[burguesia]].


=== Ensino ===
=== Ensino ===


Gramsci teorizou que, para transformar uma sociedade, era preciso estar firme no [[Controle mental|controle das mentes]] das [[criança]]s, já que sua [[visão de mundo]] ainda está em formação. Assim, ele apoiava o [[ensino]] nacionalizado obrigatório, de modo que cada criança aprendesse e adotasse os [[valor (pessoal e cultural)|valor]]es, a [[moral]] e a visão de mundo que lhes fossem ensinadas. Isso garante que as gerações futuras tenham um histórico de pensamento nos princípios, ''[[ethos]]'' e logotipos revolucionários. Além de dar à parte controladora a capacidade de lidar diretamente com a próxima geração, evitando assim o filtro criterioso dos [[pais]] do indivíduo.{{sfn|GRAMSCI, Antonio & David Forgacs|1988|pp=269}}
Gramsci teorizou que, para transformar uma sociedade, era preciso estar firme no [[Controle mental|controle das mentes]] das [[criança]]s,<ref name="Gramsci: Introduction"/> já que sua [[visão de mundo]] ainda está em formação.<ref><span class="plainlinks">[https://books.google.com.br/books?id=kxSWZYjTOwYC&pg=PA107&dq=gramsci+control+de+la+mente&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwj0v-Ozz5PfAhWCHZAKHYXJCkEQ6AEILzAB#v=onepage&q=gramsci%20control%20de%20la%20mente&f=false ''Grandes pensadores: historia del pensamiento pedagógico occidental.'']</span> Autora: Monica Aguerrondo, 2005, pág. 107, {{es}} ("La Mente Antes del Poder"). ISBN 9789871274000 Adicionado em 09/12/2018.</ref> Assim, ele apoiava o [[ensino]] nacionalizado obrigatório, de modo que cada criança aprendesse e adotasse os [[valor (pessoal e cultural)|valor]]es, a [[moral]] e a visão de mundo que lhes fossem ensinadas. Isso garante que as gerações futuras tenham um histórico de pensamento nos princípios, ''[[ethos]]'' e logotipos revolucionários. Além de dar à parte controladora a capacidade de lidar diretamente com a próxima geração, evitando assim o filtro criterioso dos [[pais]] do indivíduo.{{sfn|GRAMSCI, Antonio & David Forgacs|1988|pp=269}}

{{Citação2
|quotetext=''A história do ensino mostra que toda classe que buscou o poder preparou-se para ele através de um ensino autônomo. O primeiro passo para emancipar-se da escravidão política e social é libertar a mente. Apresento esta nova ideia: a escolarização popular deve ser colocada sob o controle dos grandes sindicatos de trabalhadores. O problema do ensino é o problema de classe mais importante.''<ref>''Antonio Gramsci: Towards an Intellectual Biography.'' Autor: Alistair Davidson. BRILL, 2016, pág. 86, {{en}} ISBN 9789004326309 Adicionado em 09/12/2018.</ref>
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=== Linguagem ===
=== Linguagem ===


As teorias de Gramsci giravam em torno da ideia de criar uma nova [[hegemonia cultural]] na sociedade. O [[Novilíngua|controle da linguagem]] se tornaria um aspecto chave desta nova hegemonia. Controlando e influenciando a [[linguagem]] de uma sociedade, a nova hegemonia poderia controlar como a sociedade fala e, assim, eventualmente, como ela pensa. Isso começa em grande parte nas [[escola]]s, mas deve ser repetido em muitos âmbitos da sociedade. Quando se controla o modo como a linguagem é usada, ela pode influenciar a forma como as pessoas pensam sobre qualquer assunto, com base no que é socialmente permitido dizer ou não.{{sfn|GRAMSCI, Antonio & David Forgacs|1988|pp=250-251}}
As teorias de Gramsci giravam em torno da ideia de criar uma nova [[hegemonia cultural]] na sociedade. O [[Novilíngua|controle da linguagem]] se tornaria um aspecto chave desta nova hegemonia. Controlando e influenciando a [[linguagem]] de uma sociedade, a nova hegemonia poderia controlar como a sociedade fala e, assim, eventualmente, como ela pensa.<ref name="Gramsci: Introduction"/> Isso começa em grande parte nas [[escola]]s, mas deve ser repetido em muitos âmbitos da sociedade. Quando se controla o modo como a linguagem é usada, ela pode influenciar a forma como as pessoas pensam sobre qualquer assunto, com base no que é socialmente permitido dizer ou não.{{sfn|GRAMSCI, Antonio & David Forgacs|1988|pp=250-251}}


=== Religião ===
=== Religião ===


Gramsci viu na [[Igreja Católica]] uma força poderosa na sociedade italiana e ficou impressionado com sua capacidade de influenciar os corações e [[mente]]s dos indivíduos. Como resultado, a Igreja Católica tornou-se uma hegemonia rival em sua teórica revolução passiva. Assim, Gramsci teorizou que a Igreja deveria ser silenciada como uma hegemonia rival na sociedade. Isso poderia eventualmente ser feito à força, mas uma estratégia mais bem-sucedida seria infiltrar-se com o senso revolucionário de [[moral]], [[ética]] e [[lógica]]. Esta não poderia ser uma medida ativa, mas uma mudança gradual, como as outras táticas de revolução são implementadas. Controle ou infiltração na [[religião]] seriam de crucial importância. A religião deve ecoar a "mudança orgânica" na sociedade; deve servir para ajudar a nova hegemonia. A religião é um excelente meio para esse fim porque, por sua própria natureza, as pessoas estão dispostas a acreditar no que vem do [[púlpito]], como sendo objetivamente bom.{{sfn|GRAMSCI, Antonio & David Forgacs|1988|pp=266-267}}
Gramsci viu na [[Igreja Católica]] uma força poderosa na sociedade italiana e ficou impressionado com sua capacidade de influenciar os corações e [[mente]]s dos indivíduos. Como resultado, a Igreja Católica tornou-se uma hegemonia rival em sua teórica revolução passiva. Assim, Gramsci teorizou que a Igreja deveria ser silenciada como uma hegemonia rival na sociedade. Isso poderia eventualmente ser feito à força, mas uma estratégia mais bem-sucedida seria infiltrar-se com o senso revolucionário de [[moral]], [[ética]] e [[lógica]]. Esta não poderia ser uma medida ativa, mas uma mudança gradual, como as outras táticas de revolução são implementadas. Controle <ref name="The Scorpion and the Frog: a Natural Conspiracy"/> ou infiltração na [[religião]] seriam de crucial importância.<ref name="The Gramsci Factor: 59 Socialists in Congress"><span class="plainlinks">[https://books.google.com.br/books?id=OvV69F3yLukC&pg=PA2&dq=gramsci+media+control&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiHk7q9wZPfAhVFEZAKHRF_BnoQ6AEIKDAA#v=onepage&q=gramsci%20media%20control&f=false ''The Gramsci Factor: 59 Socialists in Congress.'']</span> Autor: Chuck Morse. iUniverse, 2002, págs. 02-03, {{en}} ISBN 9780595253579 Adicionado em 09/12/2018.</ref> A religião deve ecoar a "mudança orgânica" na sociedade; deve servir para ajudar a nova hegemonia. A religião é um excelente meio para esse fim porque, por sua própria natureza, as pessoas estão dispostas a acreditar no que vem do [[púlpito]], como sendo objetivamente bom.{{sfn|GRAMSCI, Antonio & David Forgacs|1988|pp=266-267}}


=== Mídia ===
=== Mídia ===


A [[mídia]] é o eixo do modelo de Gramsci. Deve ser usada com inteligência para repetir organicamente, edificar e reforçar os [[valor (pessoal e cultural)|valor]]es e a moral revolucionários que estão sendo disseminados por toda a sociedade (por meio do [[ensino]], da [[língua natural|língua]] e da religião). A mídia une as outras táticas de Gramsci e preenche as lacunas que elas podem deixar. Deve ecoar a moral revolucionária e promover as visões sociais da linguagem, ensino, religião e valores sociais. A mídia tem um grande controle sobre a [[opinião pública]], e isso deve ser utilizado, e não deve ser permitido influenciar em contraste com a revolução.{{sfn|GRAMSCI, Antonio & David Forgacs|1988|pp=267-269}}
A [[mídia]] é o eixo do modelo de Gramsci. Deve ser usada com inteligência para repetir organicamente, edificar e reforçar os [[valor (pessoal e cultural)|valor]]es e a moral revolucionários que estão sendo disseminados por toda a sociedade (por meio do [[ensino]], da [[língua natural|língua]] e da religião). A mídia une as outras táticas de Gramsci e preenche as lacunas que elas podem deixar. Deve ecoar a moral revolucionária e promover as visões sociais da linguagem, ensino, religião e valores sociais.<ref name="The Gramsci Factor: 59 Socialists in Congress"/> A mídia tem um grande controle sobre a [[opinião pública]], e isso deve ser utilizado, e não deve ser permitido influenciar em contraste com a revolução.{{sfn|GRAMSCI, Antonio & David Forgacs|1988|pp=267-269}}


== Ver também ==
== Ver também ==

Revisão das 22h02min de 9 de dezembro de 2018

Revolução passiva é um termo cunhado pelo político, filósofo e dirigente comunista italiano Antonio Gramsci durante o período entreguerras na Itália. Gramsci cunhou o termo para se referir a uma mudança significativa não abrupta, mas uma metamorfose lenta e gradual que pode levar anos ou gerações para se realizar.[1]

Gramsci usa "revolução passiva" em uma variedade de contextos com significados ligeiramente diferentes. O principal uso é contrastar a transformação passiva da sociedade burguesa na Itália do século XIX com o processo revolucionário ativo da burguesia na França. No entanto, Gramsci também associa o fascismo italiano com a noção de revolução passiva.[2]

A revolução passiva é uma transformação das estruturas políticas e institucionais sem processos sociais extremos. Ele também usa o termo para as mutações das estruturas da produção econômica capitalista que ele reconhece principalmente no desenvolvimento do sistema fabril americano das décadas de 1920 e 1930.

Mas, além desse uso do termo "revolução passiva" como uma ferramenta descritiva da análise histórica, Gramsci parece empregá-lo como uma sugestão como caminho para a luta. Numa sociedade inserida no capital, a única maneira que Gramsci vislumbrou para fazer uma revolução seria de forma relativamente "passiva" através das instituições da sociedade civil.[3]

Gramsci reelaborou o termo "revolução passiva", retirando o conceito do livro Saggio storico sulla rivoluzione di Napoli, de Vincenzo Cuoco, que aborda a chamada Revolução Napolitana de 1799. Em síntese, significa uma forma de revolução burguesa em que é excluído o momento radical de tipo jacobino. Trata-se, em suma, de uma forma de transformação das sociedades com vistas à objetivação do modo de produção capitalismo sem que seja necessária uma participação popular, tal como aquela ocorrida na Revolução Francesa (1789-1799). A este conceito, Gramsci incorporou o sentido dado pelo historiador francês Edgar Quinet para o período da Restauração bourbônica (1815-1830) como de uma "revolução-restauração".

Gramsci utiliza o conceito de "revolução passiva" para descrever o processo do Risorgimento italiano no século XIX, mas também é explícita sua utilização para a análise de outras formações sociais, como pode ser apreendido no seguinte trecho, retirado do seu Caderno 4: "O conceito de revolução passiva me parece exato não só para a Itália, mas também para os outros países que modernizaram o Estado através de uma série de reformas ou de guerras nacionais, sem passar pela revolução política de tipo radical-jacobino." Assim, Gramsci utiliza o conceito para analisar o fascismo italiano e a conexão entre o padrão fordista de produção e a cultura norte-americana.

Existe semelhança entre o conceito de revolução passiva de Gramsci e o de "via prussiana" desenvolvido por Lenin, no texto "O programa agrário da social-democracia russa na primeira revolução russa" (1905-1907). Neste texto, Lenin concebe duas formas de resolução do problema agrário, a via norte-americana e a via prussiana. Segundo Lenin, nos EUA "não existem domínios latifundiários ou são liquidados pela revolução (Guerra Civil, expansão para o Oeste)", enquanto na Prússia "a exploração feudal do latifundiário transforma-se lentamente numa exploração burguesa-junker, condenando os camponeses a decênios de exploração, ao mesmo tempo em que se distingue uma pequena minoria de Grossbauers (lavradores abastados)". Em suma, não existe uma resolução jacobina da questão agrária; não há uma reforma agrária na Prússia, tal como houve na França e nos EUA.

Na sociologia histórica norte-americana, há no trabalho de Barrington Moore Jr. uma ideia similar expressa no conceito de "modernização conservadora". No seu livro "Origens sociais da ditadura e democracia", Barrington Moore faz uma comparação entre as formas de resolução do problema agrário e o tipo de sociedade criada a partir de então, comparando as histórias dos EUA, do Japão e da China.

Táticas

Antonio Gramsci, pai da revolução passiva.

Gramsci descreve várias táticas principais para realizar uma revolução passiva. Seus objetivos seriam o controle das igrejas, ensino, linguagem,[4] mídia, literatura, música, artes visuais.[5] Todas essas táticas funcionariam em conjunto para, gradual e organicamente, mudar uma sociedade de tal maneira que atendesse às demandas da classe dominante. Este é o conceito de "mudança orgânica", mudança que parece ser autoiniciada e natural na evolução de uma sociedade.[2] Gramsci analisou movimentos como o reformismo e o fascismo, assim como os métodos da "administração científica" [6] e da linha de montagem de Frederick Taylor e Henry Ford,[7] respectivamente, como exemplos de revolução passiva iniciada pela burguesia.

Ensino

Gramsci teorizou que, para transformar uma sociedade, era preciso estar firme no controle das mentes das crianças,[4] já que sua visão de mundo ainda está em formação.[8] Assim, ele apoiava o ensino nacionalizado obrigatório, de modo que cada criança aprendesse e adotasse os valores, a moral e a visão de mundo que lhes fossem ensinadas. Isso garante que as gerações futuras tenham um histórico de pensamento nos princípios, ethos e logotipos revolucionários. Além de dar à parte controladora a capacidade de lidar diretamente com a próxima geração, evitando assim o filtro criterioso dos pais do indivíduo.[9]

A história do ensino mostra que toda classe que buscou o poder preparou-se para ele através de um ensino autônomo. O primeiro passo para emancipar-se da escravidão política e social é libertar a mente. Apresento esta nova ideia: a escolarização popular deve ser colocada sob o controle dos grandes sindicatos de trabalhadores. O problema do ensino é o problema de classe mais importante.[10]
 
Antonio Gramsci.

Linguagem

As teorias de Gramsci giravam em torno da ideia de criar uma nova hegemonia cultural na sociedade. O controle da linguagem se tornaria um aspecto chave desta nova hegemonia. Controlando e influenciando a linguagem de uma sociedade, a nova hegemonia poderia controlar como a sociedade fala e, assim, eventualmente, como ela pensa.[4] Isso começa em grande parte nas escolas, mas deve ser repetido em muitos âmbitos da sociedade. Quando se controla o modo como a linguagem é usada, ela pode influenciar a forma como as pessoas pensam sobre qualquer assunto, com base no que é socialmente permitido dizer ou não.[11]

Religião

Gramsci viu na Igreja Católica uma força poderosa na sociedade italiana e ficou impressionado com sua capacidade de influenciar os corações e mentes dos indivíduos. Como resultado, a Igreja Católica tornou-se uma hegemonia rival em sua teórica revolução passiva. Assim, Gramsci teorizou que a Igreja deveria ser silenciada como uma hegemonia rival na sociedade. Isso poderia eventualmente ser feito à força, mas uma estratégia mais bem-sucedida seria infiltrar-se com o senso revolucionário de moral, ética e lógica. Esta não poderia ser uma medida ativa, mas uma mudança gradual, como as outras táticas de revolução são implementadas. Controle [5] ou infiltração na religião seriam de crucial importância.[12] A religião deve ecoar a "mudança orgânica" na sociedade; deve servir para ajudar a nova hegemonia. A religião é um excelente meio para esse fim porque, por sua própria natureza, as pessoas estão dispostas a acreditar no que vem do púlpito, como sendo objetivamente bom.[13]

Mídia

A mídia é o eixo do modelo de Gramsci. Deve ser usada com inteligência para repetir organicamente, edificar e reforçar os valores e a moral revolucionários que estão sendo disseminados por toda a sociedade (por meio do ensino, da língua e da religião). A mídia une as outras táticas de Gramsci e preenche as lacunas que elas podem deixar. Deve ecoar a moral revolucionária e promover as visões sociais da linguagem, ensino, religião e valores sociais.[12] A mídia tem um grande controle sobre a opinião pública, e isso deve ser utilizado, e não deve ser permitido influenciar em contraste com a revolução.[14]

Ver também

Referências

  1. GRAMSCI, Antonio & David Forgacs 1988.
  2. a b GRAMSCI, Antonio & David Forgacs, 1988, págs. 264-267.
  3. Hardt, Michael & Antonio Negri 2011, pp. 365-366.
  4. a b c Gramsci: Introduction. Autor: Alfonso Borello. Villaggio Publishing Ltd., 2012, (em inglês) ISBN 9781301618972 Adicionado em 09/12/2018.
  5. a b The Scorpion and the Frog: a Natural Conspiracy. Autor: William A. Borst Xlibris Corporation, 2004, pág. 103, (em inglês) ISBN 9781465332738 Adicionado em 09/12/2018.
  6. Gramsci and Education. Autores: Carmel Borg, Joseph A. Buttigieg, Peter Mayo. Rowman & Littlefield, 2002, pág. 70, (em inglês) ISBN 9780742500334 Adicionado em 09/12/2018.
  7. Scientific Management: A Management Idea to Reach a Mass Audience. Autor: A. Khurana. Global India Publications, 2009, pág. 122, (em inglês). ISBN 9789380228013 Adicionado em 09/12/2018.
  8. Grandes pensadores: historia del pensamiento pedagógico occidental. Autora: Monica Aguerrondo, 2005, pág. 107, (em castelhano) ("La Mente Antes del Poder"). ISBN 9789871274000 Adicionado em 09/12/2018.
  9. GRAMSCI, Antonio & David Forgacs 1988, pp. 269.
  10. Antonio Gramsci: Towards an Intellectual Biography. Autor: Alistair Davidson. BRILL, 2016, pág. 86, (em inglês) ISBN 9789004326309 Adicionado em 09/12/2018.
  11. GRAMSCI, Antonio & David Forgacs 1988, pp. 250-251.
  12. a b The Gramsci Factor: 59 Socialists in Congress. Autor: Chuck Morse. iUniverse, 2002, págs. 02-03, (em inglês) ISBN 9780595253579 Adicionado em 09/12/2018.
  13. GRAMSCI, Antonio & David Forgacs 1988, pp. 266-267.
  14. GRAMSCI, Antonio & David Forgacs 1988, pp. 267-269.

Bibliografia

  • GRAMSCI, Antonio & David Forgacs. The Gramsci Reader: Selected Writings, 1916-1935. Lawrence and Wishart, 1988, (em inglês)
  • Hardt, Michael & Antonio Negri. Commonwealth. Harvard University Press, 2011, (em inglês) ISBN 9780674060289
  • GRAMSCI, Antonio &. Risorgimento italiano (Caderno 19). In. GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Vol. 5. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p. 11-128.
  • BRAGA, Ruy. “Risorgimento, fascismo e americanismo: a dialética da passivização.” In. DIAS, Edmundo Fernandes et alli. O outro Gramsci. São Paulo: Xamã, 1996, p. 167-182.
  • COUTINHO, Carlos Nelson. “As categorias de Gramsci e a realidade brasileira”. In Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p. 191-219.
  • BIANCHI, Álvaro. O Laboratório de Gramsci: filosofia, história e política. São Paulo: Alameda, 2008, p. 253-296.
  • VIANNA, Luíz Werneck. A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1997.

Ligações externas

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