Língua galega

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Galego
Falado(a) em: Espanha (Galiza, Astúrias (zona ocidental), Castela e Leão (O Bierzo) e por emigrantes galegos na diáspora.
Total de falantes: 3 a 4 milhões
Família: Indo-europeia
 Itálica
  Românica
   Ítalo-ocidental
    Românica ocidental
     Galo-ibérica
      Ibero-românica
       Ibero-ocidental
        Galaico-portuguesa
         Galego
Estatuto oficial
Língua oficial de: Comunidade Autônoma da Galiza, aceite oralmente como língua portuguesa pelos serviços de interpretação do Parlamento Europeu.

A Veiga, Asturias, co-oficial junto ao castelhano desde janeiro de 2016.
Regulado por: Real Academia Galega
Códigos de língua
ISO 639-1: gl
ISO 639-2: glg
ISO 639-3: glg

A língua galega é o nome oficial no Reino da Espanha, na União Europeia e na UNESCO do idioma natural da Comunidade Autónoma da Galiza[1][2][3][4][5]. Esta língua é falada na Galiza, bem como em zonas de fronteira das comunidades autónomas das Astúrias e de Castela e Leão e nas comunidades de galegos emigrantes, como na Argentina, Cuba e no Uruguai, com mais de três milhões de emigrantes galegos nestes países.

Há quem a chame "o português da Galiza ou o codialecto galego do português"[6], da mesma forma que se fala de "português de Portugal" ou "português do Brasil".

História

A língua galega, vem do galaico-português, que expandiu-se para sul juntamente com a expansão da Reconquista Cristã sobrepondo-se ao dialectos moçárabes, ou seja, à língua falada pelos cristãos sob domínio muçulmano. Era língua autóctone a norte do rio Douro e língua de colonização a sul do mesmo. Com a proclamação de Portugal como um estado independente, a Galiza ficou confinada ao extremo noroeste da Península. Portugal e Galiza perderam a sua comunicação/ligação, com esta independência, o que viria a ser crucial em termos de língua. A Galiza por não ter conseguido albergar a capital, Braga, não passaria de uma variedade regional do castelhano. A versão centro-meridional do Galego (hoje Português) estabeleceu a sua capital em Lisboa em meados do século XIII, estabelecimento esse que teve um impacto irreversível em termos linguísticos. Sendo esta a capital, acabou em escassos anos, por se tornar o local de referência linguística, isto é, viria a ser considerada a variedade de prestigio, a normativa para todo o recém-formado estado português. Aqui começam os dois ramos a divergir, a evoluir em sentidos distintos, isto devido à falta de comunicação entre as duas regiões e com o estabelecimento de Lisboa como capital, a situação viria-se a acentuar. Isto porque, sendo a variedade de Lisboa considerada a norma, as variedades setentrionais de Portugal, não passariam de variedades regionais, com uma tendência a seguir a norma, de Lisboa. Focando as atenções em Lisboa, o Português setentrional começa um processo de normalização, tentando o mais possível aproximar-se da língua padrão que era a de Lisboa e, simultaneamente, diferenciando-se das variedades setentrionais da época (hoje Galego). Com a expansão marítima portuguesa, a língua portuguesa é também levada para territórios longínquos, esta variedade começa a ganhar prestigio, sendo que já no século XVI era uma "língua feita" com gramáticas e literatura de todos os géneros. Enquanto que a Galiza carecia de literatura ou gramáticas. A corte também não propiciou a evolução da língua galega, tendo uma influência assustadora na língua galega. Uma corte alheia à língua galega passa a ser a corte galega, levando o prestigio do castelhano juntamente com o seu prestigio individual. Isto leva a Galiza a ficar confinada a um pequeno espaço, entre duas línguas extremamente poderosas. A língua galega ia sendo penetrada de castelhanismos enquanto o Português ia-se diferenciando a uma velocidade gritante. Os galegos cada vez mais "tentavam apropriar-se com todas as suas forças daquele formidável instrumento de ascensão social e económica que o castelhano representava na Galiza" reservando o galego aos meios rurais. A confusão entre os dois idiomas inicia-se com a confusão entre as sibilantes surdas e sonoras que é considerado o momento em que o galaico português, finalmente, partiu-se em dois idiomas distintos: a língua portuguesa e a língua galega. Desde cedo a língua galega vem a cair tendo o seu início quando foi "arrebatado" da escrita notarial em 1480, data a partir da qual o castelhano viria a dominar quase totalmente o galego no que tocava a situações de formalidade. Na segunda metade do século XIX, com um galego bastante fragmentado, estigmatizado e visto como um meio de comunicação reservado ao meios rurais, nasce um movimento chamado o Ressurgimento (Rexurdimento em galego), tal como acontece na Catalunha. Este movimento visava a propagação e cultivo do idioma de modo a torna-lo uma língua de prestigio. O sucesso deste movimento foi tal que grandes escritores, estrangeiros e nativos da língua galega, seguiram as suas ideologias e proporcionaram ao galego momentos de ascensão. Houve um aumento significativo nas obras escritas em galego. Mais tarde, já no século XX, com a Guerra Civil Espanhola e com ditadura de Francisco Franco, a língua galega volta a sofrer perdas irreversíveis. Proibida por Francisco Franco, ironicamente natural da Galiza, tal como o catalão e as outras línguas do país, punida caso fosse falada, ensinada ou difundida. Desenvolveu-se num clima de clandestinidade o que originou a uma aquisição deficiente da língua por parte das gerações até ao final dos anos 70, quando o regime ditatorial caí e é reconhecida novamente a categoria de língua tanto ao Galego como ás outras línguas que se falavam em Espanha. O galego até hoje têm vindo a cair, a "perder terreno" face ao castelhano, embora os esforços para reavivar o gosto por esta língua, são cada vez mais o número de monolingues espanhóis na Galiza, ou seja, o Galego, embora não esteja em risco de extinção, está numa situação preocupante de diglossia face ao castelhano. Importa realçar a importância de algumas instituições e plataformas que lutam diariamente pela sobrevivência deste idioma, como é o caso da plataforma «Queremos Galego!» e da própria Real Academia Galega (RAG) que têm juntado todos os seus esforços, anualmente, para a difusão deste idioma que cada dia mais se perde face ao castelhano.

{{Pilar Vázquez Cuesta. "O que um falante de Português deve saber acerca do Galego". Edições Colibri, Lisboa 2002.}}

Substratos do galego

Escultura dedicada a uma falecida aristacrata galaico-romana chamada Apana, Celtica Supertamárica e do povoado de "Miobre". II d.C.

Os primeiros habitantes da Galiza originavam dos protoindo-europeus e, de forma semelhante aos indo-europeus, deixaram a sua marca na língua galega. As informações de geógrafos e historiadores greco-latinos, os restos arqueológicos e as similaridades linguísticas com outras zonas indicam que no noroeste peninsular coexistiram diferentes etnias desde o Paleolítico até o século V a.C. Desta maneira, podemos falar de dois tipos de substratos [7]:

Substratos protoindo-europeus

Cronologicamente, estão situados na Idade da Pedra, e formavam etnias distintas convivendo no noroeste da península Ibérica. Considerando a distribuição geográfica entre sons próprios da Galiza e de outros lugares, podem ser diferenciados em três grupos:

  • Euroafricano ou mediterrâneo (do Norte da África aos Alpes, passando pela península; situado cronologicamente no final do Paleolítico Superior), que nos deixou palavras como cosco, mata, quiroga e variantes (queiroga, queiruga, queiroa...), carqueixa, carrabouxo, carrasco...
  • Hispano-caucásico (do Atlántico ao Cáucaso, na Europa meridional; situado no terceiro milênio a.C.), com sons como coto, amorodo e variantes, sobaco, gorro ...
  • Tirrénico (no Mediterrâneo), dos quais vieram touza, morea, petouto, lastra, barro, cama, veiga, barcia, gándara...

Substratos indo-europeus

A partir do primeiro milênio antes de Cristo, espalham-se até a península povos indo-europeus que se sobrepõe às etnias anteriores. Considerando as peculiaridades linguísticas, adota-se a língua de dois grupos:

  • Línguas preceltas ou protoceltas. Espalharam-se na península, aproximadamente pelo ano de 800 a.C., povos do centro e norte de Europa conhecidos com os nomes de lígures, ambro-ilírios ou também como paraceltas ou protoceltas. Alguns dos restos que deixaram no galego são os topónimos com sufixo -asc- e -usc- (Viascón, Tarascón, Velasco, Ledusco...), junto con cabana, canastro, cabazo, cabaceira, páramo...
  • Línguas celtas. Houve duas emigrações de povos celtas, uma de celtas goidélicos no século VIII a.C. (um celta arcaico que originaria o irlandês, o escocês e o manês) e outra de celtas britânicos no século V a.C. (um celta que originaria o galês, o bretão e a língua de Cornualha). Foi especialmente a segunda onda que se impôs política e linguisticamente sobre a população autóctone, mantendo uma relativa unidade cultural até a chegada dos romanos.

O estrato latino

Mapa cronológico mostrando o desenvolvimento das línguas do sudoeste da Europa entre as quais o galego.

O Império Romano conseguiu anexar os povos galaicos logo no início do século I, quase 200 anos depois da primeira colônia romana na Hispânia. Esta tardia romanização do território da Galécia permitiu uma menor assimilação cultural e linguística, em comparação com o acontecido na maior parte parte da península ibérica. O latim foi desde então o idioma reservado para as relações da aristocracia galaica com os funcionários do império, motivando uma passageira situação de bilinguismo que conduziria à adoção do latim por parte das elites, especialmente com a oficialização do cristianismo (ano 391) e a dispersão da liturgia romana (oficializada em latim) entre a população. Contudo, a forte ruralização da Galécia e a escassa implantação de grandes cidades permitiu - como em outras zonas do império - às classes mais humildes (que compunham a maior parcela da população) conservar grande parte dos seus costumes e língua, até uma data indeterminada da Idade Média.

Uma das características mais interessantes do latim adotado na Galécia, foi o seu caráter altamente conservador, de jeito que se consagram muitas das formas mais antigas do latim.

O processo de romanização também se deu em outros lugares, o que explica que da língua utilizada daquela época, o latim vulgar, derivassem já na Idade Média as chamadas línguas românicas (o occitano, arpetano, castelhano, o catalão, o ásture-leonês, o romeno, o francês, o italiano etc.).

O galego-português formou-se a partir do século IX, na antiga província romana da Galécia,[nota 1] como resultado da assimilação do latim vulgar falado pelos conquistadores romanos a partir do século II d.C. Incorporou também léxico de origens pré-celta, celta, basca, germânica, provençal.

O galego esteve depois sujeito à influência do castelhano não somente léxico (incluindo arabismos, léxico ameríndia, e empréstimos linguísticos modernos), mas também certos traços fonéticos, assim como a ortografia oficial actual.

No seu momento teve certo uso como língua culta, fora dos reinos da Galiza e de Portugal, nos reinos vizinhos de Leão e Castela. Escrevendo em galego, por exemplo, o rei castelhano Afonso X o Sábio, as suas "Cantigas de Santa Maria". A sua importância foi tal que se considera a segunda literatura durante a Idade Média só depois do occitano.

Recentemente foi achado o documento mais antigo escrito dentro da actual Comunidade Autónoma que se conserva, o qual data de 1228; trata-se do Foro do bõ burgo do Castro Caldelas outorgado por Afonso IX em Abril de dito ano ao município de Allariz (Galiza, Espanha).

O galego-português, comum à Galiza e a Portugal, teve setecentos anos de existência oficial como língua culta e plena, mas as derrotas que os nobres galegos sofreram ao tomar partido pelos bandos perdedores nas guerras pelo poder em finais do século XIV e princípios do século XV provocou a assimilação da nobreza galega e a dominação castelhana, levando à opressão e ao desaparecimento público, oficial, literário e religioso da língua até finais do século XIX. São os chamados "Séculos Escuros". O português, por seu lado, durante este período gozou de protecção e desenvolvimento livre, graças ao facto de Portugal ter sido o único território peninsular que ficou fora do domínio linguístico do castelhano.

Cada 17 de Maio celebra-se o Dia das Letras Galegas dedicado a um escritor galego (escolhido pela Real Academia Galega). Este dia é usado pelos organismos oficiais para potenciarem o uso e o conhecimento da língua galega.

Normas

Ver artigo principal: Normativa oficial do galego
Falantes de galego como primeira língua conforme aos censos de população e habitação do Instituto Galego de Estatística (2001).

O padrão actual da língua galega foi definido pela Real Academia Galega, a qual afirma respeitar a ortografia do "Rexurdimento" (no século XIX) e ser mais próxima às formas cultas tradicionais do galego e ao mesmo tempo às falas populares; porém distancia-o do português padrão. Este padrão, oficializado pela Junta da Galiza, é utilizado maioritariamente no ensino e nos meios de comunicação galegos, assim como pela maioria dos escritores e intelectuais, querendo ser mais próxima às formas cultas tradicionais do galego e ao mesmo tempo às falas populares.

Contudo, há uma outra visão, chamada de reintegracionista, defendida por várias colectividades e movimentos sociais, que pretende reintegrar o galego com o português padrão. Fazem parte deste movimento uma pequena parte do professorado em universidades, alguns intelectuais, artistas e comunicadores sociais, além de alguns meios de comunicação. Uma parte significativa deste movimento escreve directamente em português de Portugal, adotando o Acordo Ortográfico de 1990, enquanto outra fá-lo na norma criada pela Associaçom Galega da Língua. O problema desta visão é a sua falta de implantação social.

Norma de 2003

A Real Academia Galega e o Instituto da Língua Galega admitiram, no Verão de 2003, umas mínimas modificações do padrão (por exemplo Galiza e Galicia, até e ata, posíbel e posible), visando um certo achegamento para as posturas reintegracionistas "de mínimos". Esta mudança ortográfica passou a chamar-se de "Normativa de concórdia".

Na elaboração da proposta participaram Departamentos de galego e português das três Universidades galegas, mas foi visto por parte dos grupos reintegracionistas como uma reforma excessivamente tímida e menor, sem a participação do chamado reintegracionismo "de máximos".

Uma parte da população acha que esta afasta-se da fala real, utilizando formas pouco habituais ou artificiais ou portuguesismos que deixaram de existir ou nunca existiram na língua oral há anos[carece de fontes?]. Houve críticas por oficializar formas próximas ao português ou ao galego medieval que já não são utilizadas (ou quase) na fala.

Mais de seiscentos artistas, activistas e intelectuais de diferentes origens e profissões assinaram um comunicado público contra esta norma.[carece de fontes?]

Uso oficial

Placa numa rua de Vigo.

Em relação à oficialidade, o galego é co-oficial na Galiza conjuntamente com a língua castelhana.

Na União Europeia, já foi aceito oralmente como sendo português, nomeadamente nas intervenções dos ex-eurodeputados galegos Camilo Nogueira e José Posada.[nota 2]

Questão da autonomia da língua

Desde um ponto de vista político, o galego é uma língua diferente do português. Assim o determinam as instituições com autoridade do estado espanhol com competências na elaboração na norma oficial de uso na Galiza, embora no passado tenha existido uma unidade. Também são desta opinião os partidos políticos espanhóis maioritários na Galiza (Partido Popular e PSOE), embora alguns setores do Bloco Nacionalista Galego e outros grupos políticos sem representação no Parlamento da Galiza, pretendam alterar esta situação.

No estudo da linguística, é comum que se levantem diferentes opiniões em relação à autonomia do galego. Para alguns, o galego é uma língua diferente do português. Na Galiza, nas universidades e centros de investigação linguística (os oficiais e mais importantes são a Real Academia Galega e o Instituto Galego da Língua), a tendência predominante é a de considerar o galego como uma língua independente. [carece de fontes?] Para outros, levando em conta a questão da inteligibilidade mútua, o galego é considerado uma variedade dialetal da língua portuguesa, opinião forte desde que, em 1970, Lindley Cintra apresentou a sua classificação para os dialetos galego-portugueses. Em Portugal, em várias universidades e centros de investigação linguística, os dialetos galegos podem ser estudados como parte dos dialetos do português europeu. Na Galiza, muitos linguistas são ativos no chamado movimento reintegracionista, que defende a inclusão política da língua galega no sistema lusófono. Ambos os lados são fortemente motivados por diferentes visões do que seria um dialeto e convicções nacionalistas.

Controvérsias parecidas levantam-se em relação a outras línguas da Europa, que, assim como o galego e o português, são tidas como pertencentes a um diassistema — como o occitano-catalão, asturiano-leonês-mirandês, albanês-kosovar, flamengo-holandês, checo-eslovaco, servo-croata, córnico (ou cornês)-bretão.

Há alguns autores galegos que publicam na versão reintegrada do galego em Portugal (Carlos Quiroga, João Guisan Seixas). Também há obras lusófonas editadas directamente na Galiza (Roberto Cordovani, Nélida Piñon)

Apesar das controvérsias, o português começa a ser reconhecido na Espanha como uma língua em expansão e o seu ensino disseminado. Começa a ser ensinado como segundo idioma estrangeiro no ensino primário em Castela e Leão e já foi aprovado como segunda língua estrangeira na Andaluzia e é ensinado na Estremadura.[8][9][10][11][12] Por outro lado na Galiza se verificam ainda diversos debates sobre a política do ensino da língua local.[13][14][15]

Falantes

O galego foi considerado a língua mais falada na Galiza segundo o relatório da Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritarias[16] Segundo este relatório de 2002, nas Astúrias o galego-asturiano era falado por 40 000 pessoas (4% da população total da Astúrias); havia em Leão 23 500 falantes de galego e em Zamora, 1 500 falantes; na Estremadura espanhola, uma variante do galego, a Fala da Estremadura, era falada por 5 000 pessoas.

Está a diminuir o número de pessoas que se expressa sempre em galego. Em 2003, 43% da população galega usava sempre o galego, comparado com o ano de 2008 em que apenas 30% se exprimem sempre em galego. Só um em cada três galegos fala sempre em galego. Verifica-se uma diminuição de 13% no número de falantes regulares.[17][18][19]

Principais diferenças entre o galego e o português

Na escrita, se o galego se grafar seguindo o Acordo Ortográfico, adotado formalmente pela Academia Galega da Língua Portuguesa, as diferenças são mínimas, existindo apenas algumas variações léxicas e sintáticas. A ortografia reintegrada também seria compreensível para um lusófono, mas na ortografia oficial promovida pela Real Academia Galega, mais próxima à do espanhol e empregue pelas administrações na Galiza, a compreensão fica dificultada.

  • Diferenças fonéticas do galego em relação aos dialectos portugueses setentrionais (Norte de Portugal) (às vezes por influência do castelhano):
    • Vocalismo átono de maneira ainda maior do que a dos dialectos brasileiros (e. g. "batata" pronuncia-se *bátátá)
    • Inexistência de vogais ou ditongos nasais (e. g. "irmã" diz-se "irmán" ou "irmá", enquanto "mão" diz-se *man ou *mao)
      • O artigo feminino uma e os seus derivados, que no galego-português medieval era grafado com ũa, nos dialectos galegos ocidentais é pronunciado com n velar, e nos orientais ficou simplesmente desnasalado ("ua", "algua"). Na ortografia reintegracionista da Associaçom Galega da Língua, é representado quer com umha, quer com ũa, mas na oficial, unha. (Vale notar que essa pronúncia também é encontrada em vários dialetos do Nordeste brasileiro.)
    • Ensurdecimento das sibilantes sonoras (e. g. "casa" diz-se como "caça" e "gente" diz-se *xente)
    • Fenómeno da gheada (apenas no dialecto galego ocidental): o "g" intervocálico é aspirado (e. g. *ghalegho)
  • Há diferenças nas flexões verbais, como o pouco uso da mesóclise pronominal, que, em geral, são percebidas como arcaísmos pelos restantes falantes de português.
  • A ortografia oficial é semelhante à do castelhano, empregando quase as mesmas regras, até na pontuação. Assim, o galego oficial utiliza ñ por nh, ll por lh, não usa ç mas z, só emprega o acento agudo, etc.

Semelhança entre português e galego

Para ilustrar a semelhança entre o galego e o português apresentam-se dois exemplos em português, nas duas variantes do galego e também em Castelhano.

Uma frase simples,

o cão do meu avô é parvo. (em português)
o cão do meu avô é tonto. (em português do Brasil)
o can do meu avó é parvo. (galego[20])
o cam do meu avô é parvo. (galego na ortografia proposta pela Associaçom Galega da Língua)
el perro de mi abuelo es tonto. (em castelhano)

O Pai Nosso,

  • Português (Portugal e Brasil):
Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal
Noso Pai que estás no ceo: santificado sexa o teu nome, veña a nós o teu reino e fágase a túa vontade aquí na terra coma no ceo. O noso pan de cada día dánolo hoxe; e perdóanos as nosas ofensas como tamén perdoamos nós a quen nos ten ofendido; e non nos deixes caer na tentación, mais líbranos do mal.
  • Galego com a ortografia da Associaçom Galega da Língua:
Nosso Pai que estás no Céu: santificado seja o Teu nome, venha a nós o Teu reino e seja feita a Tua vontade aqui na terra como nos Céus. O nosso pam de cada dia dá-no-lo hoje; e perdoa-nos as nossas ofensas como também perdoamos nós a quem nos tem ofendido; e nom nos deixes cair na tentaçom, mas livra-nos do mal.
  • Espanhol:
Padre nuestro que estás en los cielos, santificado sea tu Nombre, venga a nosotros tu reino y hágase tu voluntad en la tierra como en el cielo. Danos hoy nuestro pan de cada día y perdona nuestras ofensas como también nosotros perdonamos a los que nos ofenden; no nos dejes caer en tentación, y líbranos del mal.

Ver também

Notas

  1. A província romana da Galécia abrangia o território da Galiza actual, o norte de Portugal e territórios limítrofes a Leste
  2. Tal como se pode ver no excerto desta entrevista de Camilo Nogueira ao jornal português Correio da Manhã:
    «Camilo Nogueira: Falo português da Galiza, 18 de dezembro de 2002
    O deputado europeu Camilo Nogueira, eleito em 1999 pelo Bloco Nacionalista Galego, faz a maioria das suas intervenções, em Estrasburgo, na língua de Camões. Diz que o galego é português com sotaque e que, graças a esta feliz coincidência, tem a possibilidade de falar no Parlamento Europeu a sua língua mãe.
    CM – O eurodeputado Camilo Nogueira utiliza o português, na maioria das suas intervenções no Parlamento Europeu, com o intuito de promover o galego ou com a intenção de reforçar o português?
    Camilo Nogueira – Eu tenho o galego como língua da minha família e do meu país e pretendo que a principal língua da Galiza, mesmo em termos políticos e económicos, seja o galego. Nesse sentido, tenho a sorte de, ao contrário do que acontece com os catalães ou os bascos, a língua original da minha região ser uma língua universal e uma das oficiais do Parlamento Europeu, que é o português. Agora, respondendo à questão, eu acabo por fazer as duas coisas, porque promovendo o Português vou impondo o galego.
    (…)
    CM – Tratando-se de um eurodeputado eleito por Espanha, nunca lhe foi colocado qualquer problema por falar em português?
    Camilo Nogueira – Não, claro que não. Eu até já debati esta questão com José María Aznar, sobretudo quando a Espanha tinha a presidência da União Europeia e ele teve de pôr os auscultadores para compreender a minha intervenção. Eu disse-lhe que é legítimo que os galegos lutem pela sua língua de origem. De resto, devo dizer-lhe que, curiosamente, eu posso fazer as intervenções na minha língua no Parlamento Europeu, graças ao português, mas não o posso fazer no parlamento espanhol em Madrid, onde o castelhano é obrigatório. (…)»

Referências

Bibliografia

  • Cunha, Celso e Cintra, Lindley, «Os dialectos da língua portuguesa», in Nova grámática do português contemporâneo, 12.ª edição, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1996, ISBN 972-9230-00-5
  • Cintra, Luís Filipe Lindley, Estudos de Dialectologia Portuguesa, 2.ª edição, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1995, ISBN 972-562-327-4
  • Teyssier, Paul, História da língua portuguesa, 6.ª edição, Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora. 1994, ISBN 972-562-129-8

Ligações externas

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