Sermão da Montanha

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O Sermão da Montanha é um discurso de Jesus Cristo que pode ser lido no Evangelho de Mateus (Caps. 5-7) e no Evangelho de Lucas (Fragmentado ao longo do livro). Nestes discursos, Jesus Cristo profere lições de conduta e moral, ditando os princípios[1] que normatizam e orientam a verdadeira vida cristã, uma vida que conduz a humanidade ao Reino de Deus e que põe em prática a vontade de Deus, que leva à verdadeira libertação do homem. Estes discursos podem ser considerados por isso como um resumo dos ensinamentos de Jesus a respeito do Reino de Deus, do acesso ao Reino e da transformação que esse Reino produz.

John Stott, teólogo e escritor, diz que a essência do Sermão da Montanha foi o apelo de Cristo aos seus seguidores para serem diferentes de todos os demais. "Não sejam iguais a eles", disse Jesus (Mt 6.8). O reino que Cristo proclamou deve ser uma contracultura, exibindo todo um conjunto de valores e padrões distintos. Desse modo, ele fala de justiça, influência, piedade, confiança e ambição, e conclui com um desafio radical para que se escolha o caminho dele.[2]

Além de importantes princípios ético-morais, pode-se notar grandes revelações, pois aquilo que muitas vezes é tido por ruim, por desagradável, diante de Deus é o que realmente vai levar muitos à verdadeira felicidade. Esta passagem forma um paradoxo, contrariando a ideia de muitos e mais uma vez mostrando que "…'Deus não vê como o homem vê, o homem vê a aparência, mas Deus sonda o coração" (I Samuel 16.7). .

No Sermão da Montanha o evangelista Mateus está a apresentar Jesus Cristo como o novo Moisés, daí o discurso ser proferido numa montanha (talvez, apenas uma colina), pois Moisés tinha recebido os 10 Mandamentos no monte Sinai. Entretanto, Jesus afirmou que não veio para abolir a Lei ou os Profetas,[3] mas sim cumprir na sua íntegra (Mt 5.17).

Partes e ensinamentos importantes do Sermão

Introdução narrativa

Na introdução narrativa, o evangelista descreve que Jesus, vendo aquelas multidões, subiu à montanha e sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele, e é aí que Ele começou a pregar o seu famoso sermão ao ar livre (Mt 5.1-2).

As Bem-aventuranças

As Bem-aventuranças [4] são o anúncio da verdadeira felicidade, porque proclamam a verdadeira e plena libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino de Deus através da palavra e acção de Jesus, que tornam a justiça divina presente no mundo. A verdadeira justiça para aqueles que são inúteis, pobres ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. As Bem-aventuranças revelam também o carácter das pessoas que pertencem ao Reino de Deus, exortando as pessoas a seguir este carácter exemplar.

Resumindo e usando as palavras do Catecismo da Igreja Católica (CIC), as bem-aventuranças nos ensinam o fim último ao qual Deus nos chama: o Reino de Deus, a visão de Deus, a participação na natureza divina, a vida eterna, a filiação divina, o repouso em Deus (CIC, n. 1726). não devemos reclamar e sim cuidar

Sal da terra, luz do mundo

Ver artigos principais: Luz do Mundo e Mateus 5:13

Jesus, através das metáforas de Sal e de Luz, revela a enorme força do testemunho e a importante função dos discípulos, especialmente dos pregadores, que é sobretudo preservar e proteger a humanidade contra as influências malignas da corrupção e da maldade (a função do Sal) e ajudar a humanidade a conhecer, através da sua e seu bom exemplo iluminadores, o caminho da salvação (a função da Luz).

Reinterpretação da Lei de Deus

Ver artigo principal: Jesus explicando a Lei

Jesus revaloriza e reinterpreta, por vezes de forma antitética, a Lei de Deus na sua íntegra, particularmente dos 10 Mandamentos, tendo por objetivo levá-los à perfeição (Mateus 5:48):

O Sermão da Montanha (1890), pintura de Carl Heinrich Bloch.

Ofereça a outra face

Ver artigos principais: Ame seus inimigos e Ofereça a outra face

Pai-Nosso e perdão

Ver artigo principal: Discurso sobre a ostentação

Jesus, a seguir à reinterpretação da Lei de Deus, começa a condenar a ostentação na prática de 3 obras fundamentais do Judaísmo, que são a esmola, o jejum e a oração. Ele não pretende condenar a observância fiel e honesta destas obras boas e o bom exemplo que estas acções produzem, mas somente o vão desejo de ostentar em frente de outras pessoas. Ele alerta para o fato de, se a finalidade das pessoas que praticam estas obras é ostentar, eles já foram recompensados na Terra por outros homens que as elogiaram.

Durante o seu discurso sobre a oração, Jesus deu aos homens uma célebre oração, o Pai-Nosso,[7] que se trata de um modelo para ensiná-los como orar corretamente.

Jesus afirma também que se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará (Mt 6, 14-15).

Também sobre a oração, Ele exorta por fim aos seus discípulos que deviam sempre ter confiança na oração e particularmente em Deus, porque vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem durante a oração.

Materialismo e Providência divina

Jesus, condenando indiretamente o materialismo, exorta os seus discípulos para não preocupar demasiado com os seus bens e as suas necessidades materiais, mas sim, preocupar-se mais e em primeiro lugar em guardar tesouros no céu, para preparar o acesso ao Reino de Deus. Sobre a riqueza, Jesus alerta os seus discípulos para o fato de ser impossível servir ao mesmo tempo a Deus e à riqueza. E, relativamente às necessidades materiais dos homens e às suas preocupações cotidianas, Jesus apela para a confiança na Providência divina, afirmando que vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso [8] e que o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado (Mt 6, 19-34).

Julgar os outros

Ver artigo principal: O Cisco e a Trave

Neste sermão, Jesus condena também aqueles que julgam os outros, mas não sabem julgar-se a si próprio, não conseguindo reconhecer os seus próprios erros.

Regra de ouro

O verdadeiro discípulo e as suas dificuldades

Jesus alerta para as dificuldades que os seus discípulos, que pretendem ser os verdadeiros filhos de Deus, irão encontrar no caminho estreito e apertado que conduz à vida eterna e ao Reino de Deus (o chamado caminho da vida).

Jesus também alerta os homens para o fato de só reconhecerem que Ele é o Senhor não é suficiente para eles serem salvos e reconhecidos como os seus verdadeiros discípulos, mas sim, necessitando também de fazer verdadeiramente a vontade de Deus.

Os falsos profetas

Ver artigo principal: Discurso sobre os falsos profetas

Jesus aconselhou os seus discípulos a acautelarem dos falsos profetas, que, apesar de parecerem ovelhas, são na verdade uns lobos arrebatadores e maus que têm por finalidade desorientar as pessoas e levá-las à perdição.

Edificar sobre a rocha

Ver artigo principal: A Casa Edificada na Rocha

Jesus, concluindo o seu sermão, exorta por fim aos seus discípulos para, depois de escutar as suas palavras e ensinamentos, pô-los verdadeiramente em prática, para serem semelhantes a um homem prudente que edificou sua casa sobre a rocha. A rocha é resistente a todas as tempestades, por isso, ela é uma excelente base ou fundamento para sustentar a casa, assemelhando-se à Palavra de Deus, que serve como fundamento e sustenta todas as pessoas que põe-na em prática, protegendo-as e ajudando-as a ultrapassar todos os obstáculos e dificuldades que elas poderão encontrar nas suas vidas.

Fim narrativo

No fim narrativo, o evangelista São Mateus descreve que a multidão que foi ouvir o sermão "ficou impressionada com a sua doutrina" porque Jesus "a ensinava como quem tinha autoridade e não como os escribas" (Mateus 7:28–29).

Interpretação segundo a Igreja Católica

A Igreja Católica divide os ensinamentos deste sermão (e também doutros discursos de Jesus) em duas categorias: os preceitos ou ensinamentos gerais, que todos devem seguir para obter a salvação e a definitiva libertação (ou seja, atingir a santidade), e os conselhos específicos ou conselhos evangélicos. A obediência a estes últimos conselhos é necessário só para aqueles que querem ser perfeitos, tal como Deus Pai, que é também perfeito (Mt 5, 48). Mas, mesmo que não seja obrigatório, Jesus encoraja e exorta os seus discípulos a serem perfeitos, e não só salvos.

Esta teoria foi iniciada por Santo Agostinho e desenvolvida na sua plenitude por São Tomás de Aquino, embora uma versão semelhante mas muito mais antiga foi já anunciada no famoso Didaquê, capítulo 6, versículo 2: Pois, se puderes portar todo o jugo do Senhor, serás perfeito; se não puderes, faze o que puderes para seres salvo (Did 6, 2).

Interpretação segundo a Filosofia Perene

Segundo a Filosofia Perene, o Sermão da Montanha é o texto que melhor exprime o cerne da mensagem do Novo Testamento. É uma síntese perfeita de toda a tradição cristã. Se a Bíblia for lida por inteiro, do Livro do Gênesis ao Apocalipse, dificilmente se encontrará algo que supere a sabedoria do Sermão. Ele concentra o maior número de doutrinas e conselhos espirituais perenes e universais de toda a Bíblia. Fonte de instruções espirituais e morais, o Sermão da Montanha é considerado pelo filósofo perenialista alemão Frithjof Schuon como a quintessência mesma da religião. A perspectiva “universalista” da Philosophia Perennis encara o Sermão como vinculado à dimensão esotérica da tradição cristã.[11]

Notas

  1. «O Sermão da Montanha». estudobiblico.org. Consultado em 18 outubro 2014 
  2. Stott, John (1921). A Bíblia toda, o ano todo. [S.l.: s.n.] ISBN 978-85-7779-017-3 
  3. A Lei e os Profetas são os ensinamentos do Antigo Testamento e, em sentido mais lato, todos os ensinamentos de Deus revelados no período vetero-testamentário.
  4. As Bem-aventurançasencontram-se também, em versão sensivelmente diferente, no Evangelho de São Lucas, que afirma que Jesus proclamou as Bem-Aventuranças na margem de um lago
  5. Calcado significa mais ou menos pisado.
  6. antes que desapareça um jota, um traço da lei: isto significa que Jesus respeitará a Lei de Deus na sua integridade, sem tirar nada.
  7. O Pai-Nosso encontra-se também, embora num contexto diferente, no Evangelho de São Lucas
  8. de tudo isso: dos bens materiais (ex: comida, vestuário, habitação, etc.)
  9. Ou ainda Não julgueis, para não serdes julgados.
  10. Os frutos são os comportamentos das pessoas.
  11. Cf. Mateus Soares de Azevedo, "O Sermão da Montanha segundo a Filosofia Perene". In: Revista Interações (V. 7, N. 11, Jan/jun 2012). Faculdade Católica de Uberlândia, 2012. http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/6189/5715

Referências

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