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Notas Semanais

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Folhetim Notas Semanaes no rodapé da primeira página do jornal O Cruzeiro de 9/6/1878

Notas Semanais foi um folhetim-crônica de assuntos gerais que o escritor Machado de Assis publicou no jornal O Cruzeiro (que nada tem a ver com a posterior revista O Cruzeiro), de 2 de junho a 1 de setembro de 1878, sob o pseudônimo Eleazar, totalizando 14 textos, "uma das mais fascinantes de todas as séries que ele escreveu para os periódicos ao longo de sua carreira – ao mesmo tempo, uma das mais difíceis de entender e das mais cruciais para a compreensão de sua trajetória literária"[1]. Machado de Assis encontrava-se no ponto de virada entre sua chamada fase romântica, que culminou com o romance Iaiá Garcia, e a fase realista, iniciada com a aparição das Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicadas originalmente como folhetim de março a dezembro de 1880.

Todas as quatorze crônicas da série foram incluídas no quarto volume das Crônicas das Obras completas da Editora W.M. Jackson, de 1937, e republicadas em edição da Unicamp de 2008, com organização, introdução e notas explicativas de John Gledson e Lúcia Granja.[2]

"Nas crônicas é possível reconhecer em Machado de Assis um escritor engajado com as questões de seu tempo, contradizendo as críticas que recebeu de seus contemporâneos (Sílvio Romero, por exemplo) e de críticos posteriores de sua obra (como Lima Barreto, Mário de Andrade, entre outros), de que era um autor alheio aos problemas sociais, culturais e políticos do país."[3]

Trechos de crônicas

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Sobre o espírito de tolerância:

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A primeira vez que assisti a uma sessão do parlamento era bem criança. Recordo-me que ao ver um orador oposicionista, após meia hora de um discurso acerbo, inclinar-se sobre a cadeira do ministro, e rirem ambos, senti uma espécie de desencanto. Esfreguei os olhos; não lhes podia dar crédito. Era tão diferente a noção que eu tinha dos hábitos parlamentares! A reação veio, e então compreendi que a mais bela coisa das lutas partidárias é justamente a estima das pessoas, de envolta com as dissensões de princípios, espécie de tolerância que não conhecem ainda povoações rústicas.[4]

Povo musical (com pitadas de nonsense):

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Um povo musical como é o nosso, pode chegar a substituir a prosa pela solfa, sem prejuízo do pensamento, e até com algum encanto. Quem sabe se os nossos netos, candidatos a um lugar na câmara, não serão compelidos a dar dois dedos de flauta aos eleitores? A zabumba, simples metáfora quando não figura nos batalhões, receberá o seu alvará de capacidade. Os instrumentos serão o distintivo dos partidos no parlamento; a uns a clarineta, que é áspera, impertinente e fanhosa; a outros a flauta e a guitarra. O apito passará a ser o cetro presidencial; o aparte terá um forte substituto no assobio. Quanto aos oradores, haverá a escala inteira, desde a harpa eólia até o realejo napolitano.[5]

Melhor notícia do que essa é a de ter sido aprovada, na Bahia, uma senhora que fez exame de dentista. Registro o acontecimento, com o mesmo prazer com que tomo nota de outros análogos; vai-se acabando a tradição, que excluía o belo sexo do exercício de funções, até agora unicamente masculinas. É um característico do século: a mulher está perdendo a superstição do homem. Tomou-lhe o pulso; compreendeu que se ele fez a guerra de Troia, e se serviu quatorze anos a Labão, foi unicamente por causa dela; e desde que o reconheceu, subjugou-o.[6]

Referências

  1. Machado de Assis, Notas Semanais, organização, introdução e notas de John Gledson e Lúcia Granja, Editora Unicamp, 2008, Introdução.
  2. Ubiratan Machado, Dicionário de Machado de Assis, Imprensa Oficial do Governo do Estado de São Paulo, 2a edição, 2021, verbete "Notas Semanais".
  3. Renata William Santos do Vale. «ASPECTOS DA NACIONALIDADE BRASILEIRA NAS NOTAS SEMANAIS DE MACHADO DE ASSIS». Consultado em 27 de janeiro de 2022 
  4. “Notas Semanais”, O Cruzeiro, 9/6/1878, parte IV
  5. Notas Semanais”, O Cruzeiro, 9/6/1878, parte VI
  6. “Notas Semanais”, O Cruzeiro, 30/6/1878, parte V