Comentários da Semana

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Coluna "Comentários da Semana" inaugural, de Machado de Assis, no jornal Diário do Rio de Janeiro de 12/10/1861 (seta)

Comentários da Semana foi uma crônica de assuntos gerais que o escritor Machado de Assis publicou na seção Comunicado do jornal Diário do Rio de Janeiro, de 12 de outubro de 1861 a 5 de maio de 1862. Até 11/12/1861, utilizou o pseudônimo Gil, e dali por diante, as iniciais M.A.[1] Foi a primeira coluna de crônicas de atualidades (política, cultura, variedades) escrita por Machado de Assis, que durante praticamente toda a carreira contribuiu com esse tipo de texto para a imprensa brasileira, às vezes ocupando o chamado "folhetim", no rodapé da primeira página do jornal.

As vinte crônicas da série foram reunidas pela primeira vez num único livro em 2008 por Lúcia Granja e Jefferson Cano.[2] Na Introdução do livro, escrevem os organizadores: “Não será necessário demonstrarmos aqui a importância de editar essas primeiras crônicas; a envergadura de seu autor já é razão suficiente para a edição de todos os seus textos. Mas, caso fosse necessário justificar, não seria difícil, e cremos, nosso leitor concordará com isso ao surpreender-se com a pena afiada, ousada e precisa do jovem Machado, traçando linhas de um vivo interesse histórico e retórico.”[3]

Trechos de crônicas[editar | editar código-fonte]

Dizem que somos colônia da Inglaterra; não sei se somos, mas é preciso provar que não. (10/11/1861)

Eu quisera uma nação, onde a organização política e administrativa parasse nas mãos do sexo amável, onde, desde a chave dos poderes até o último lugar de amanuense, tudo fosse ocupado por essa formosa metade da humanidade. O sistema político seria eletivo. A beleza e o espírito seriam as qualidades requeridas para os altos cargos do Estado, e aos homens competiria exclusivamente o direito de votar. (21/11/1861)

O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco. A sátira de Swift nas suas engenhosas viagens cabe-nos perfeitamente. No que respeita à política nada temos a invejar ao reino de Liliput. (29/12/1861)

Devo despedir-me dos leitores até para o ano. O de 1861 está a retirar-se, e o de 1862 bate à porta. Como todo ano novo, este antolha-se rico de esperanças, com uma cornucópia inesgotável de felicidades. Como todo o ano velho, o de 1861 desaparece coberto de maldições. (29/12/1861)

Causa tédio ver como se caluniam os caracteres, como se deturpam as opiniões, como se invertem as ideias a favor de interesses transitórios e materiais, e da exclusão de toda a opinião que não comunga com a dominante. (22/2/1862)

[O] nosso movimento literário é dos mais insignificantes possíveis. Poucos livros se publicam e ainda menos se leem. Aprecia-se muito a leitura superficial e palhenta, do mal travado e bem acidentado romance, mas não passa daí o pecúlio literário do povo. (24/3/1862)

Referências

  1. Ubiratan Machado, Dicionário de Machado de Assis, Imprensa Oficial do Governo do Estado de São Paulo, 2a edição, 2021, verbete "Comentários da Semana".
  2. Machado de Assis, Comentários da Semana, organização, introdução e notas de Lúcia Granja e Jefferson Cano, Editora Unicamp, 2008. Nas Obras completas da Editora W.M. Jackson de 1937 faltavam quatro crônicas e uma quinta havia sido deslocada para o volume de Crítica Literária.
  3. Idem.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]