Movimento ex-gay

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O movimento ex-gay é um termo utilizado por pessoas e/ou organizações que propõem ser possível eliminar os desejos homossexuais e desenvolver desejos heterossexuais em pessoas que estão em conflito em relação a sua atração pelo mesmo sexo ou que tentam se abster de praticar relações com indivíduos do mesmo sexo. O termo também é usado para descrever pessoas que eram consideradas como homossexuais ou bissexuais, mas que já não consideram essa a sua identidade atual. Quando o termo foi introduzido na literatura profissional, em 1980, E. Mansell Pattison definiu como descrever uma pessoa que "passou por uma mudança de base na orientação sexual."[1]

Recursos[editar | editar código-fonte]

Terapias de conversão para pessoas que desejam mudar de orientação sexual tem sido associada ao movimento.[2]

Algumas pessoas dizem que não são mais gays desde que se tornaram cristãos, sem ir à terapia de reorientação sexual. Eles enfatizam a importância do amor para os gays, mas acreditam que têm o direito de compartilhar suas histórias de ex-gays.[3][4]

História[editar | editar código-fonte]

A primeira organização ex-gay, Love In Action, foi fundada em 1973 nos Estados Unidos.[5]Em 1976, seus membros fundaram a Exodus International, uma organização cristã evangélica nos Estados Unidos e em vários países ao redor do mundo.[6]Também nos Estados Unidos, outras associações independentes, como Evergreeen International foi fundada para Mórmons, Homossexuais Anônimos, Pessoas Podem Mudar.[7] A organização católica Courage International foi fundada em 1980. [8]

Outro exemplo é a Associação Nacional de Pesquisa e Terapia da Homossexualidade (NARTH - sigla em inglês), uma organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos que se define como uma "organização científica profissional que oferece esperança para aqueles que lutam com uma homossexualidade indesejada." A associação oferece terapia de reorientação sexual e outros procedimentos que se propõem a mudar a orientação sexual de indivíduos homossexuais que não estão satisfeitos com a sua condição.[9] Segundo seu website, a NARTH defende os direitos das pessoas com atração homossexual indesejada de receber atendimento psicológico eficaz, bem como o direito de profissionais em oferecer esse atendimento.[9] A entidade não se considera uma organização antigay. Também não se considera religiosa,[10] apesar de NARTH frequentemente fazer parcerias com grupos religiosos. O People Can Change (Pessoas Podem Mudar) é outro grupo que diz fornecer material de apoio àqueles que estão insatisfeitos com os desejos por pessoas do mesmo sexo.[11]

Nos Estados Unidos, um dos exemplos mais citados é o de Michael Glatze, um dos fundadores da revista Young Gay America, que afirma ter mudado a sua orientação sexual.[12] Segundo uma declaração de Glatze, sua transformação se deu através de sua conversão ao cristianismo.[13]

No Brasil, alguns movimentos pára-eclesiásticos, ou seja, criados para servirem às igrejas, mas geralmente sem bandeira denominacional, também têm promovido a ideia de que a homossexualidade é uma característica mutável. Alguns exemplos são o Exodus, o Grupo de Amigos (GA), o Ministério Deus se Importa, o Movimento Pela Sexualidade Sadia (MOSES), entre outros grupos brasileiros que propõem ser possível reverter o comportamento homossexual.[14]

Críticas[editar | editar código-fonte]

Muitas organizações de saúde mental afirmam que ser homossexual ou bissexual é compatível com uma saúde mental e um ajustamento social completamente normais.[15] Devido a isso, as principais organizações de saúde mental profissional não incentivam que as pessoas tentem alterar a sua orientação sexual de homossexual para heterossexual e avisam que a tentativa de fazer isso pode ser prejudicial.[16][17] Durante audiências sobre a Lei de Defesa do Matrimônio em 23 de fevereiro de 2011, o procurador-geral dos Estados Unidos escreveu ao presidente da Câmara dos Representantes indicando que há um crescente consenso científico de que a orientação sexual é uma característica imutável.[18]

Em 2012, o presidente da Exodus International, a maior organização de ex-gays, disse que não havia tratamento para a homossexualidade e que a terapia de reorientação oferecia apenas falsas esperanças e poderia ser prejudicial.[19] [20]Dissolveu-se em 19 de junho 2013 após o voto unânime dos membros de seu conselho de administração, por meio de um comunicado que anunciou o fim de suas atividades e se desculpou pelos danos que causou ao longo de 37 anos à LGBT pessoas. [21]

No Brasil, Sergio Viula, um dos fundadores do Movimento Pela Sexualidade Sadia (MOSES), grupo brasileiro que propõe ser possível reverter o comportamento homossexual, e ex-pastor batista, concedeu uma entrevista à revista Época afirmando que os movimentos que prometem uma reversão da orientação sexual de uma pessoa são falsos e que tais tratamentos não funcionam. Depois de romper com o MOSES, Viula divorciou-se da esposa e assumiu a sua homossexualidade.[14]

Outro exemplo de oposição dentro dos próprios grupos de ex-gay aconteceu em 2007, quando o co-fundador, Michael Bussee, e outros ex-líderes da organização de ex-gays Exodus Internacional, grupo cristão que promove reversões de homossexuais (ver acima), emitiram um pedido de desculpas público e formal por seu trabalho como líderes ex-gays e os danos que causaram aos que tentaram ajudar.[22] Em 2010, Busse afirmou: "Eu nunca vi um de nossos membros ou outros líderes da Exodus se tornarem heterossexuais, então no fundo eu sabia que não era verdade." Wayne Besen, um americano que também foi um dos líderes da Exodus por cerca de oito anos, saiu da entidade, tornou-se um militante na luta contra tratamentos de reversão sexual, assumiu a sua homossexualidade e casou-de com um homem, sendo um dos mais proeminentes exemplos atuais de ex-ex-gay.[23][24]

Entre a comunidade científica há um consenso cada vez maior de que orientação sexual humana é uma característica que não pode ser alterada[18] e de que a homossexualidade e a bissexualidade são atributos normais e saudáveis, assim como a heterossexualidade.[15]

Terapia de reorientação sexual[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Terapia de reorientação sexual

Algumas entidades ex-gay, como a Exodus International recomendam aos seus membros que se comprometam em esforços de mudança da orientação sexual através da terapia de conversão.[25] No entanto, a Exodus adverte contra conselheiros que dizem ao paciente que ele "pode eliminar definitivamente todas as atrações pelo mesmo gênero ou que pode adquirir definitivamente atrações heteroeróticas."[26] A Evergreen International não defende qualquer forma específica de terapia[27] e adverte que "a terapia provavelmente não será uma cura no sentido de apagar todos os sentimentos homossexuais."[28]

Muitas organizações de saúde mental adotaram declarações políticas advertindo profissionais e o público sobre os perigos de tratamentos que se propõem a mudar a orientação sexual de um indivíduo. Estas incluem a Associação Americana de Psiquiatria,[29] Associação Americana de Psicologia,[15] Associação Nacional dos Trabalhadores Sociais dos Estados Unidos,[30] Associação Americana de Aconselhamento, o Royal College of Psychiatrists,[31] Sociedade Australiana de Psicologia[32] e o Conselho Federal de Psicologia do Brasil.[33][34] A Associação Americana de Psicologia e o Royal College of Psychiatrists expressaram que as posições defendidas por grupos como a NARTH não são apoiadas pela ciência e criam um ambiente no qual o preconceito e a discriminação podem florescer.[35][31][34]

O terapeuta e professor de psicologia clínica da Universidade de Basileia, na Suíça, Udo Rauchfleisch, afirma que a verdadeira orientação sexual da pessoa, com seus sentimentos entrelaçados, com suas fantasias eróticas e sexuais, assim como com suas preferências sociais, não permitem modificação.[36]

Controvérsias em relação a adolescentes[editar | editar código-fonte]

Um aspecto controverso do movimento ex-gay tem sido o foco de algumas dessas organizações em adolescentes, incluindo ocasiões onde os jovens foram obrigados a comparecer a campos ex-gay por seus pais. Um relatório de 2006 publicado pelo Grupo de Trabalho Nacional Gay descreveu evidências de que algumas organizações ex-gay e grupos de terapia de conversão estavam, na época, cada vez mais com focados em crianças.[37]

A organização ex-gay Love in Action esteve envolvida em uma polêmica em torno de um adolescente. Em julho de 2005, o The New York Times publicou uma reportagem especial sobre Zachary Stark, um garoto de 16 anos de idade cujos pais o forçaram a participar de um acampamento de ex-gay mantido pela entidade.[38] Em julho de 2005, Stark foi internado no campo. Uma investigação do local pelo Departamento de Serviços Infantis do Tennessee não revelou sinais de abuso infantil.[39]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Throckmorton, Warren; Pattison, M. L. (2002). «Initial empirical and clinical findings concerning the change process for ex-gays». Associação Americana de Psicologia. Professional Psychology: Research and Practice. 33 (3): 242–248. doi:10.1037/0735-7028.33.3.242. Consultado em 23 de maio de 2011. Arquivado do original em 4 de maio de 2008 
  2. Abbie E. Goldberg, The SAGE Encyclopedia of LGBTQ Studies, SAGE Publications, USA, 2016, p. 385
  3. Chandelis R. Duster, Pulse survivor and others gather to celebrate 'freedom' from being gay, nbcnews.com, USA, 5 de maio de 2018
  4. Brandon Showalter, Ex-LGBT men, women to share stories of transformation at 2nd Freedom March in Washington, DC, christianpost.com, USA, 22 de maio de 2019
  5. Abbie E. Goldberg, The SAGE Encyclopedia of LGBTQ Studies, SAGE Publications, USA, 2016, p. 384
  6. Jeffrey S. Siker, Homosexuality and Religion: An Encyclopedia, Greenwood Publishing Group, USA, 2007, p. 122
  7. Paul A. Djupe, Laura R. Olson, Encyclopedia of American Religion and Politics, Infobase Publishing, USA, 2014, p. 206
  8. Paul A. Djupe, Laura R. Olson, Encyclopedia of American Religion and Politics, Infobase Publishing, USA, 2014, p. 207
  9. a b Missão da NARTH
  10. Equívocos sobre a NARTH
  11. Testemunhos do Grupo People Can Change
  12. Interview with Michael Glatze (PDF), consultado em 23 de setembro de 2008 
  13. Ex-Gay defende o relacionamento com o Deus
  14. a b Gisela Anauate. Revista Época, ed. «Libertando-se do armário - Sergio Viula, um dos criadores do grupo que defende a "cura" da homossexualidade, se assume como gay e diz que tratamento é uma farsa». Consultado em 31 de maio de 2011 
  15. a b c Associação Americana de Psicologia: Resolution on Appropriate Affirmative Responses to Sexual Orientation Distress and Change Efforts (em inglês)
  16. «Just the Facts about Sexual Orientation & Youth». American Psychological Association. Consultado em 2 de abril de 2011 
  17. Statement of the American Psychological Association
  18. a b Carta do procurador-geral dos Estados Unidos ao presidente da Câmara de Representantes dos EUA, RE: DOMA, 23 de fevereiro de 2011 "Em segundo lugar, enquanto a orientação sexual não carrega nenhuma distinção visível, um crescente consenso científico aceita que a orientação sexual é um característica que é imutável."
  19. Rift Forms in Movement as Belief in Gay ‘Cure’ Is Renounced, The New York Times, USA, 6 de julho de 2012
  20. Paulo Lopes (2 de julho de 2012). Paulo Lopes, ed. «Grupo cristão internacional anuncia ter desistido da 'cura' de gay». Consultado em 5 de janeiro de 2012 
  21. Ian Lovett, After 37 Years of Trying to Change People’s Sexual Orientation, Group Is to Disband, The New York Times, USA, 21 de junho de 2013
  22. Artigo do Channel 7 News, "Former leaders of ex-gay ministry apologize for 'bringing harm' and causing shame", 28 de junho de 2007, author unknown, retrieved from http://www3.whdh.com/news/articles/national/BO55979/ Arquivado em 29 de julho de 2012, no Wayback Machine. on January 07, 2008
  23. Cooperman, Alan (21 de outubro de 2002). «Ads Renew Ex-gay Debate». The Washington Post 
  24. Wayne Besen.com (ed.). «About Wayne». Consultado em 14 de janeiro de 2012 
  25. Exodus International Policy Statements Arquivado em 28 de setembro de 2007, no Wayback Machine., Exodus International. Acessado em 4 de julho de 2007.
  26. January 11, 2010 (11 de janeiro de 2010). «How to Find the Right Counselor for You – Exodus International». Exodusinternational.org. Consultado em 13 de novembro de 2011. Arquivado do original em 28 de outubro de 2011 
  27. Evergreen Myths Arquivado em 24 de julho de 2012, no Wayback Machine. The Bottom Line: Evergreen does not advocate any particular form of therapy."
  28. «Therapy-Evergreen International-Helping Latter-Day Saints overcome same-sex attraction (homosexuality)». Evergreeninternational.org. Consultado em 13 de novembro de 2011. Arquivado do original em 24 de julho de 2012 
  29. Jason Cianciotto and Sean Cahill (2006). Youth in the crosshairs: the third wave of ex-gay activism Arquivado em 17 de outubro de 2017, no Wayback Machine.. New York: National Gay and Lesbian Task Force Policy Institute.
  30. «Expert affidavit of Gregory M. Herek, Ph.D.» (PDF). Consultado em 17 de janeiro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 16 de novembro de 2011 
  31. a b BBC Brasil. «Terapeutas oferecem 'tratamento' para gays, diz estudo». Consultado em 2 de dezembro de 2010 
  32. Australian Psychological Society: Sexual orientation and homosexuality
  33. Conselho Federal de Psicologia (22 de março de 1999). «RESOLUÇÃO CFP N° 001/99» (PDF). Consultado em 16 de janeiro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 23 de maio de 2012 
  34. a b Correio Braziliense. «Há 20 anos, a OMS tirou a homossexualidade da relação de doenças mentais: Uma conquista celebrada por organizações sociais de todo o planeta». Consultado em 7 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 30 de julho de 2012 
  35. «Statement of the American Psychological Association» (PDF). Consultado em 24 de agosto de 2010 
  36. Prof. Dr. Udo Rauchfleisch. «Ist eine sexuelle Orientierung «heilbar»?». Consultado em 31 de maio de 2011 
  37. Cianciotto, J.; Cahill, S. (2006). «Youth in the crosshairs: the third wave of ex-gay activism» (PDF). National Gay and Lesbian Task Force. Consultado em 29 de agosto de 2007. Arquivado do original (PDF) em 17 de outubro de 2017 
  38. Williams, Alex (17 de julho de 2005). «Gay Teenager Stirs a Storm». New York Times. Consultado em 6 de outubro de 2007 
  39. Palazzolo, Rose (28 de junho de 2005). «Ex-Gay Camp Investigation Called Off – ABC News». Abcnews.go.com. Consultado em 13 de novembro de 2011