Shito-ryu

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Shito-ryu



Símbolo da família Mabuni[a]
Grafia
Outros nomes Hanko-ryu
Kanji 糸東流
Hiragana しとりゅ
Rōmaji Shitō-ryū
Informações gerais
Escopo Preservação das técnicas tradicionais do caratê
Origem
Fundador Kenwa Mabuni
Influência
Antecedente(s) Shuri-te, Naha-te, Tomari-te, Shorin-ryu, Shorei-ryu
Representação
Sítio oficial Shitokai  

Shito-ryu (em japonês: 糸東流, Shitō-ryū) é um estilo de caratê, criado (oficialmente) em 1931 por Kenwa Mabuni, que sintetizou os estilos tradicionais, Tomari-te, Shuri-te e Naha-te, no escopo de preservar as técnicas ensinadas à época pelos renomados mestras Anko Itosu, do estilo de Shuri ou Shorin-ryu, e Kanryo Higaonna, do Naha-te ou Shorei-ryu, manutenindo aquelas formas e variações dos kata por estes últimos ensinadas, no que resultou no maior repertório dos estilos de caratê.[1] Ainda nesse fito, a denominação da linhagem foi dada em homenagem aos dois mestres, pois o repertório técnico do sistema orbita em torno dos sistemas desse dois grandes mestres de caratê, que representavam também as vertentes principais da arte marcial.

O estilo é um dos quatro oficialmente reconhecidos pela Federação Mundial de Caratê. Outro memento importante da linhagem é o fato de formar outros grandes mestres, os quais acabaram por instituir suas próprias entidades, com características próprias mas sempre conectadas à vertente principal, como as escolas Motobu-ha Shito-ryu e Hayashi-ha Shito-ryu.[2]

História

O mestre Kenwa Mabuni, nascido na cidade de Shuri, na ilha principal do arquipélago/distrito de Oquinaua, era membro da tradicional aristocrática local, descendente de uma famosa família denominada Shikozu (de casta de Samurais).[1]

Porque a compleição corporal era débil, aos 13 anos, Mabuni começou a treinar Shuri-te em sua cidade natal, sob a tutela do lendário mestre Anko Itosu, com quem passou vários anos, aprendendo diversos katas e outras técnicas.[3]

Entrementes, por intermédio de um de seus melhores amigos, o reconhecido mestre Chojun Miyagi, fundador do estilo Goju-ryu, apresentou Mabuni a outro grande expoente das artes marciais daquele período chamado Kanryo Higaonna, com quem começou a aprender outro sistema, o Naha-te.

Embora Mabuni estivesse a treinar a mesma arte marcial, de Okinawa, foi submetido a duas concepções bem diferentes: o te ensinado por Anko Itosu compunha-se de técnicas velozes, fortes e poderosas, com deslocamentos lineares, longos e angulosos; por sua vez, a arte de Higaonna possuia métodos baseados em movimentos circulares, fortalecimento do corpo e combates a curta distância, com prevalência de golpes manuais. Não se dando por satisfeito, Mabuni foi estudar outras formas com outros mestres, como seu amigo Miyagi e Seisho Aragaki, Tawada Shimboku, Sueyoshi Jino e Wu Xianhui (um mestre chinês conhecido em Oquinaua como Go-Genki).

Kenwa Mabuni

O mestre Mabuni reuniu muitos conhecimentos sobre kihons e katas e suas aplicações — o bunkai —, tornando-se lendário por isto e, já por volta de 1920, era considerado como a maior autoridade na prática e na história dos katas do te, pelo que seria muito solicitado como professor por seus contemporâneos.

Nesse meio-tempo, somando esforços com Gishin Funakoshi (de quem era amigo próximo e com ele trocava conhecimentos), no fito de divulgar e popularizar sua arte marcial no restante do Japão, o mestre Mabuni empreendeu viagens para Tóquio entre os anos de 1917 e 1928 e, no ano seguinte, fixou residência em Osaca.

Segundo o próprio mestre dizia, não existia um estilo próprio dele, Mabuni, o que ele ensinava eram os estilos Shuri-te e Naha-te puros, conforme havia aprendido com seus dois principais mestres. Todavia, em 1931, por requisição do instituto Butoku-kai (órgão sob a tutela do Ministério da Eduação Japonês, que tinha a incumbência de registrar e regulamentar as artes marciais japonesas), que demandava um nome para ser registrado, Mabuni teve sua forma reconhecida como Mabuni-ryu, nome usado por seus discípulos, especialmente em Osaca.

Por volta de 1933, Kenwa Mabuni estabeleceu um método teórico baseado na combinação/fusão dos ensinamentos de seus mestres, resultando ao longo dos anos em um estilo próprio, que foi a priori chamado de Hanko-ryu (estilo metade duro), mas logo cambiou-se para Shito-ryu, em reverência a seus dois principais instrutores. E, em 1938, foi publicado o livro Kobokenpo Karate-do Nyumon (Introdução ao Caratedô), quando pela primeira vez aparece oficialmente o nome Shito-ryu.

Depois do falecimento de Kenwa Mabuni, Kennei Mabuni, filho mais velho do fundador, assumiu a liderança do estilo.[4] Depois, seu segundo filho, Kenzo Mabuni, em atendimento à solicitação de sua mãe, depois de um afastamento de dois anos, assumiu a entidade fundada por seu pai — Nippon Karate-do Kai, localizada na casa da família, em Osaca —, tornando-se o segundo a dirigi-la e herdeiro directo do mestre Mabuni.[5]

Todavia, muitos outros foram ensinados diretamente por Kenwa Mabuni ou por seus discípulos diretos, como Teruo Hayashi, Shogo Kuniba, Chuzo Kotaka, Tanka Toji, Fumio Demura, Shigeru Kimura, Shiraishi Tsunetaka, Yoshiaki Tsujikawa, Kazuo Kokubo, Ken Sakio, Jun-Ichi Inoue, Toshiyuki Imanishi, Yoshijaru Yoshida e Tokyo Hisatomi, entre outros, que criaram instituições próprias, ensinado o estilo conforme suas visões.

A sede central da Nippon Karate-do Kai ficava no distrito de Kansai, em Osaca. Porém, devido aos esforços de Manzo Iwata, foi estabelecida uma filial no leste, em sua própria casa, localizada no distrito de Kanto, em Tóquio.

Em novembro de 1960, a matriz de Kansai foi restabelecida por Kennei Mabuni. Enquanto Manzo Iwata foi nomeado Presidente da filial de Kanto. Depois, em abril de 1964, foi realizado o First All Japan Shito-ryu Championship, pois até então todos os eventos, seminários e torneios haviam sido feitos separadamente e, em outubro do mesmo ano, foi criado um órgão para administrar o caratê no Japão, a Federação Japonesa de Caratedô (em inglês: Japan Karate Federation - JKF), formalmente conhecida como Federação de Todo o Japão das Organizações de Caratedô (em inglês: Federation of All Japan Karate-do Organizations - FAJKO).

Em 1973, as filiais da Nippon Karate-do Kai foram unificadas, passando a chamar-se Nippon Karate-do Shito-kai. Com a unificação, a esta organização iniciou sua divulgação internacional, mestres foram enviados à Ásia, América Latina, Estados Unidos, Cuba, México e Europa.

Representantes oficiais dos diferentes países reuniram-se na cidade do México, em novembro de 1990, para discutir o desenvolvimento do caratê no mundo e a criação da Federação Mundial do Caratedô Shito-ryu (em inglês: World Shito-ryu Karate-do Federation- WSKF). A mesma pauta voltou a ser discutida durante o primeiro Campeonato Pan-Americano de Caratedô Shito-kai. Finalmente, em 19 de março de 1993, com o surgimento de vários grupos por todo o mundo, durante o congresso de Osaca foi criada a entidade, com Manzo Iwata como presidente.

Oficialmente, o primeiro Campeonato Mundial de karate Do Shito-ryu foi realizado no Nippon Budokan em Tóquio, juntamente com a continuação do congresso de Osaca, evento que contou com a participação de 28 países.

Embora tenham surgido algumas ramificações, após a morte de Kenwa Mabuni, o estilo permanece único e faz parte dos anais da história das artes marciais japonesas.

Características

O Sensei Mabuni dedicou-se a preservar exatamente a forma e a essência das técnicas tradicionais, ensinando-os exatamente como lhe foram ministrados, de modo a consolidar os três grandes estilos, Shuri-te, Naha-te e Tomari-te, em um único sistema detalhado, resultando na combinação das características dos estilos mais suaves e linear Shuri-te e Tomari-te, de Anko Itosu, com o estilo duro-circular do Naha-te, de Kanryo Higaonna. Porém, Kenwa Mabuni não se contentou em mesclar as correntes, também sistematizou o treinamento de maneira racional e científica, construíndo uma verdadeira e original sínteses, posto que lastreada de forma fiel nos de diversos mestres.

O estilo é o sistema mais extenso de caratê que existe, que se distingue dos demais pelo grande número de katas, pela suavidade e versatilidade das técnicas de combate e pela inclusão de técnicas de solo (ne waza) e do uso de armas (kobudo).

Desde os Shuri-te e Tomari-te foram herdadas as técnicas lineares baseado no estilo externo proveniente do norte da China que tem como principais características à velocidade, a agilidade, a explosão, as técnicas em linha reta, os chutes altos e as posições naturais. Em verdade, à época da formação do estilo, o mestre Itosu ensinava um já previamente condensado dos dois estilos, que se convencinou chamar de Shorin-ryu.

Do Naha-te, de Kanryo Higaonna, o estilo herdou o paradigma de técnicas suaves e circulares, baseado no estilo “interno” proveniente do sul da China que tem como principais características a força concentrada, a busca pelo combate a curta distância, as técnicas circulares, chutes baixos, as posições estáveis e a respiração abdominal (Ibuki).

As posições de treinamento em kihons buscam ser naturais, nem muito baixas, nem muito altas, existindo pouca diferença entre o treinamento e a aplicação real. Pero as posturas mais baixas foram completamente preservadas, segundo o intuito do fundador, de modo exato.

As diversas posições são utilizadas em todas as direções, sempre coordenando simultaneamente técnica, corpo e quadril. A forma de fechar o punho é o mesmo utilizado pelas outras escolas de caratê, porém o hikite é feito na “metade do corpo”. E a força das técnicas concentra-se no baixo ventre (tanden), onde reside o centro de gravidade.

Denominação

O termo Shito-ryu provém das iniciais dos nomes dos dois principais mestres de Mabuni, Anko Itosu (安恒糸洲?) e Kanryo Higaonna (寛量東恩納?): o ideograma 糸representa a sílaba "ito" do nome "Itosu", podendo ser lido como "shi"; o ideograma 東 representa a sílaba "higa" do nome "Higaonna", com pronúncia alternativa de "to"; quando lidos desta forma os caracteres, em on'yomi, soam "shi"-"to".

O ideograma ryu (?) literalmente significa "corrente" ou "fluxo", pero na cércea das artes marciais referem-se a uma escola original. Desta feita, embora não tenha um significado literal, Shito-ryu pode ser traduzido como "estilo dos mestres Itosu e Higaonna".[6]

Kihon

As defesas são geralmente trabalhadas em um ângulo de 45°, utilizando técnicas tanto com as mãos abertas como com os punhos fechados, sempre percorrendo a menor trajetória possível e o menor gasto de energia, agrupando-se-as em cinco conceitos fundamentais, chamadas pelo mestre de GoHō no Uke (五 法 の 受け) eller Uke no go Gensoku (受け の 五 原則), que são:[7]

  • Rakka (落花? flor cadente): quando o fito for conter um ataque fora do eixo central, deve-se bloqueá-lo com toda a força, usando de potência tal que se fosse desferido o golpe contra uma árvore florida, esta perderia todas as flores;
  • Kusshin (屈伸? torção): o controlo de um movimento deve ser feito com o movimento do corpo, tendo por espeque as articulações dos joelhos, isto é, o tronco permanece ereto, quando em postura fixa, e a força e o equlíbrio originam-se na articulação das pernas, resultando no mínimo uso de energia própria. Controlo do centro de gravidade;
  • Ryusui (流水 ryū-sui?, água fluente): tal como a água se molda a qualquer recipiente que a contenha, assim deve ser a postura ante o oponente, ou seja, perante a força usa-se a suavidade, ou em vez de bloquear o lanho, deve-se interceptá-lo e conduzi-lo para onde se quer. O ki exterior é recebido pelo inteior;
  • Ten'i (転移? transição): antes de ser atingido por qualquer golpe, melhor é não ser atingido, fazendo-se movimentação constante e coerente. Mas não se trata de simples esquiva;
  • Hangeki (反撃?): contra-ataque utilizado como defesa, ikken hissatsu.

Outro conceito muito importante praticado no estilo é o Tenshin happo (deslocamento nas oito direções).

A despeito de o caratê ter sempre enfatizado as técnicas traumáticas (ate e atemi waza, são praticadas técnicas de controle do oponente (gyaku waza), projeções (nage waza), estrangulamentos (shime waza), torções (kansetsu waza) e submissões (katame waza), preservadas nos katas, principalmente.

Os ataques avançando são geralmente em linha reta e as técnicas sejam de perna, punho ou um simples deslocamento são executadas em grande velocidade. Os chutes são executados nos níveis: gedan (nível baixo), chudan (nível médio) de uma forma principal, embora nos treinamentos também sejam trabalhados a nível Jodan (nível alto) e inclusive com Tobi (salto), sem restrição alguma.

Também é uma característica complementar do estilo o estudo e prática do Ryukyu Kobudo (arte marcial antiga de Oquinaua).

Kata

O repertório dos kata é virtualmente o maior de todos os estilos modernos da arte marcial, haja vista o conhecimento pessoal do mestre Mabuni, que era tido por enciclopédico, e por contribuições incorporadas ao longo do tempo pelos herdeiros da linhagem e por alunos que se tornaram mestres de relevo.[8] Trabalha-se nos bunkai e kumite sempre buscando o controle do adversário durante todo o processo técnico e com o desenvolvimento baseado na harmonia e na continuidade do movimento.

Atualmente, se forem consideradas as diferentes linhagens, existem mais de setenta formas, embora apenas 52 delas sejam oficialmente reconhecidas pela Federação Mundial de Shito-ryu, pois as demais variações foram acrescidas por seus discípulos ao sistema. Os katas do estilo possuem uma beleza plástica extraordinária devido à grande combinação que o permeia.

Segundo a linhagem, ou origem, do kata, pode-se agrupar da seguinte forma:

Chatan Yara
Kushanku
Kosaku Matsumora
Bassai, Rohai;
Sokon Matsumura
Bassai, Seisan, Rohai
Kenei Mabuni
Shinsei ni
Chojun Miyagi
Tensho
Chotoku Kyan
Ananko
Seisho Aragaki
Unshu, Sochin, Niseishi
Go-genki
Nipaipo, Papuren (Paipuren, Happoren), Hakucho (Haffa)
Kenko Nakaima[c]
Pachu, Heiku, Annan, Paiku

Ramificações

Após a morte de Kenwa Mabuni, em 1952, o estilo permaneceu vivo por intermédio de seus discípulos. Contudo, é necessário mencionar que houve uma dispersão de seus principais discípulos, gerando uma fragmentação no estilo e ocasionando o surgimento de diversas associações. Algumas das principais ramificações do estilo Shito-ryu são:

Notas

[a] ^ O a família Mabuni possuiu um escudo (Mon) particular, cuja exegese traduz a harmonia (Wa) e inspira a ideia de duas pessoas que se encontram frente a frente unidas para manter a paz. A data de criação do símbolo é desconhecida, porém é possível afirmar que já existia a varias gerações antes de ser adotado por Kenwa Mabuni como símbolo oficial do estilo Shito-ryu.
[b] ^ Os kata da série Juni No Kata também são conhecidos como kihon kata (Ichi, Ni, San & Yon) ou ainda como Dai (Ichi, Ni, San & Yon) Dosa.
[c] ^ Os kata Annan, Heiku, Pachu e Paiku não eram ensinados por Kenwa Mabuni, sendo acrescentados ao estilo por discípulos.

Referências

  1. a b «Shito-Ryu History» (em inglês). Consultado em 29.dez.2010  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  2. «The WKF Shitei Kata Are Finally Removed (+ Historical Bonus Material!) - KARATEbyJesse» (em inglês). Consultado em 03.jan.2013  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  3. «AMAZING shito ryu karate martial arts HISTORY» (em inglês). Consultado em 29.dez.2010  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  4. «JKF糸東会» (em inglês). Acesso em 29.dez.2010. 
  5. (em inglês) http://www.seitoshitoryu.com/soke.php. Consultado em 29.dez.2010  Parâmetro desconhecido |tiutlo= ignorado (ajuda); Verifique data em: |acessodata= (ajuda); Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  6. «karateBCN» (em espanhol). Consultado em 29.dez.2010  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  7. Shitoryu Cyber Academy (ed.). «Uke No Go Gensoku». Consultado em 11.dez. 2011  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  8. «Karatedo». Consultado em 29.dez.2010  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)

Ver também

Ícone de esboço Este artigo sobre caratê é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.