Cabo Delgado (província)

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Cabo Delgado
Província de Moçambique Moçambique

Dados gerais
Capital Pemba
Município(s) Balama, Chiúre, Ibo, Mocímboa da Praia, Montepuez, Mueda e Pemba.
Características geográficas
Área 82 625 km²
População 2 333 278 hab. (2017)
Densidade 28,2 hab./km²

Província de Cabo Delgado em Moçambique
Dados adicionais
Código postal 32xx[1]
Prefixo telefónico +258 272
Sítio Portal do Governo da Província de Cabo Delgado
Projecto África  • Portal de Moçambique

A província de Cabo Delgado é uma subdivisão de Moçambique localizada no extremo nordeste do país. A sua capital é a cidade de Pemba, localizada a cerca de 2 600 km norte de Maputo, a capital do país. A província tem uma área de 82 625  km² e tinha, em 2017, uma população de 2 333 278 habitantes. Está dividida em 17 distritos e possui, desde 2022, sete municípios.

Localização[editar | editar código-fonte]

A província de Cabo Delgado está situada na região norte de Moçambique, fazendo fronteira, a norte com a Tanzânia, da qual está separada pelo rio Rovuma, a oeste com a província do Niassa e com a província de Nampula a sul, na outra margem do rio Lúrio. A este o limite é o Oceano Índico.

Demografia[editar | editar código-fonte]

População[editar | editar código-fonte]

De acordo com os resultados preliminares do Censo de 2017, a província tem 2 333 278 habitantes em uma área de 82 625km², e, portanto, uma densidade populacional de 28,2 habitantes por km². Quando ao género, 51,5% da população era do sexo feminino e 48,5% do sexo masculino.[2]

O valor de 2017 representa um aumento de 699 116 habitantes ou 42,8% em relação aos 1 634 162 residentes registados no censo de 2007.[3]

População da província de Cabo Delgado[2][3]
1980 1997 2007 2017
900 704 1 287 814 1 634 162 2 333 278

História[editar | editar código-fonte]

A província tem o nome do Cabo Delgado, um promontório situado na fronteira entre Moçambique e a Tanzânia, no ponto mais setentrional de Moçambique. Entre 1890 e 1929, o território da atual província foi administrado, juntamente com o território da atual província de Niassa, pela Companhia do Niassa.[4]

Mapa da província

Guerra colonial[editar | editar código-fonte]

Em 25 de setembro de 1964, guerrilheiros da FRELIMO chegaram da Tanzânia e, com a ajuda de alguns habitantes da região, atacaram um posto administrativo português, em Cabo Delgado. Esse ataque marcou o início da Guerra Colonial Portuguesa, a luta armada entre as autoridades coloniais da então África Oriental Portuguesa e o movimento independentista. Cabo Delgado foi o foco da Operação Nó Górdio, cujo objetivo era desmantelar as bases da guerrilha na região.

A província foi formada a partir do que fora o distrito de Cabo Delgado, no período colonial[5]

Ataques do Daesh[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Insurgência em Cabo Delgado

A província de Cabo Delgado contém o maior e mais rico projeto de gás natural liquefeito da África. Operado pela empresa francesa Total, estima-se que tenha um valor de USD 60 bilhões com investimentos de vários países. A população local reclama que viu pouco dessa riqueza ou investimento passar para a comunidade, o que teria motivado o início da insurgência - mais tarde "internacionalizada", ao ganhar apoio do Daesh (Estado Islâmico).[6]

Desde outubro de 2017, bandos wahhabitas armados, ligados ao Daesh, têm atacado a região de Cabo Delgado,[7][8] cometendo decapitações em massa.[9] Em agosto de 2020, tomaram a cidade portuária de Mocímboa da Praia.[10][11] O grupo, por vezes, autointitula-se al-Shabaab (em árabe, 'os jovens' ou 'os rapazes') embora não tenha ligações conhecidas com o grupo somali al-Shabaab, que é afiliado a al-Qaeda, enquanto o grupo de Cabo Delgado é ligado ao rival Estado Islâmico (EI). Eles adotaram o título de Província da África Central do Estado Islâmico (ISCAP), o que também é enganoso, já que Moçambique não faz parte da África Central.[11][9][6]

Em março de 2021, o Departamento de Estado dos EUA designou o grupo Ahlu Sunna Wal Jammah (ASWJ) - que opera em Cabo Delgado com a participação de "combatentes estrangeiros" da Tanzânia - como uma franquia do EI e acrescentou-o à sua lista de organizações terroristas estrangeiras. Em março de 2021, o International Crisis Group relatou que, embora o EI tivesse contato com os extremistas de Moçambique e dado algum apoio financeiro a eles, provavelmente não exercia autoridade de comando e controle sobre o grupo.[12][13]

As Forças Armadas de Moçambique têm combatido os extremistas, sem muito sucesso.[13] Mais de 700 000 civis foram deslocados em razão dos ataques.[14] Em setembro de 2020, insurgentes do EI ocuparam a Ilha Vamizi, no Oceano Índico.[15] Mais de cinquenta pessoas foram decapitadas na província, em abril de 2020, e um número semelhante, em novembro de 2020.[16] Em março de 2021, a ONG Save the Children relatou que os militantes wahhabitas também estavam decapitando crianças.[17]

Governo[editar | editar código-fonte]

Administradores provinciais[editar | editar código-fonte]

Até 2020 a província era dirigida por um governador provincial nomeado pelo Presidente da República. No seguimento da revisão constitucional de 2018 e da nova legislação sobre descentralização de 2018 e 2019, o governador provincial passou a ser eleito pelo voto popular, e o governo central passou a ser representado pelo Secretário de Estado na província, que é nomeado e empossado pelo Presidente da República.[18]

Governadores nomeados[editar | editar código-fonte]

  • (1975-1980) Raimundo Pachinuapa[19]
  • (1980-1983) Armando Panguene[20]
  • (1983-1986) Alberto Joaquim Chipande[21]
  • (1986-1987) João Baptista Cosme[22]
  • (1987-1995) António Simbine[23]
  • (1995-1997) Jorge Muanahumo[24]
  • (1997-2005) José Pacheco[25]
  • (2005-2007) Lázaro Mathe[26]
  • (2007-2014) Eliseu Joaquim Machava[27]
  • (2014-2015) Abdul Razak[28]
  • (2015-2017) Celmira Da Silva[29]
  • (2017-2020) Júlio José Parruque[30][31]

Governadores eleitos[editar | editar código-fonte]

Secretários de estado[editar | editar código-fonte]

  • (2020-2021) Armindo Ngunga[33]
  • (2021-) António Njanje Taimo Supeia[34]

Subdivisões da província[editar | editar código-fonte]

Distritos[editar | editar código-fonte]

Cabo Delgado está dividida em 17 distritos, os 16 distritos já existentes quando foi realizado o censo de 2007,[35] mais o distrito de Pemba, estabelecido em 2013 para administrar as competências do governo central, e que coincide territorialmente com o município do mesmo nome. Na mesma data, o distrito de Pemba-Metuge passou a ser designado como distrito de Metuge:[36]

Municípios[editar | editar código-fonte]

Esta província possui sete municípios:[37][38][39]

De notar que a vila de Mueda se tornou município em 2008, de Chiúre em 2013 e as de Balama e Ibo em 2022.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Código Postal nos Correios de Moçambique Acesso 2011 outubro 4
  2. a b «DIVULGAÇÃO OS RESULTADOS PRELIMINARES IV RGPH 2017». Instituto Nacional de Estatística. 29 de dezembro de 2017. Consultado em 31 de dezembro de 2017 
  3. a b «Indicadores Sócio Demográficos Província de Cabo Delgado 2007» (PDF). Instituto Nacional de Estatística. 2012. Consultado em 7 de janeiro de 2018 
  4. Medeiros, Eduardo da Conceição , História de Cabo Delgado e do Niassa (c. 1836-1929). Maputo: Central Impressora, 1997, p. 139.
  5. Decreto-lei nº 6/75 de 18 de Janeiro.
  6. a b Mozambique: Why IS is so hard to defeat in Mozambique. Por By Frank Gardner. BBC, 31 de março de 2021
  7. Eric Morier-Genoud, The jihadi insurgency in Mozambique: origins, nature and beginning, Journal of Eastern African Studies, Vol. 14, número 3, pp. 396-412 (julho de 2020).
  8. David M. Matsinhe & Estacio Valoi, The genesis of insurgency in northern Mozambique, ISS Southern Africa Report, Vol. 2019, No. 27.
  9. a b Max Bearak, com/world/2021/03/31/mozambique-palma-attack-insurgency/ As militants overrun Mozambique oil town, fears rise of 'humanitarian catastrophe', Washington Post, 31 de Março de 2021.
  10. «Armed groups attack Mozambique town closest to gas projects: sources». Reuters. 24 de março de 2021 
  11. a b Andrew Meldrum, Rebels leave beheaded bodies in streets of Mozambique town. Associated Press, 29 de março de 2021.
  12. Understanding the New U.S. Terrorism Designations in Africa, International Crisis Group, 18 de março de 2021.
  13. a b Cabo Delgado: "É melhor aceitar ajuda agora do que perder a guerra". DW, 23 de abril de 2021.
  14. «'Jihadists behead' Mozambique villagers». BBC News. 29 de maio de 2018. Cópia arquivada em 13 de junho de 2018 }
  15. «ISIS take over luxury islands popular among A-list celebrities». News.com.au. 18 de setembro de 2020 
  16. «Militant Islamists 'behead more than 50' in Mozambique». Yahoo. 26 de agosto de 2018. Cópia arquivada em 10 de novembro de 2020 
  17. «Mozambique insurgency: Militants beheading children, aid agency reports». BBC News. 16 de março de 2021 
  18. «A REFORMA CONSTITUCIONAL E DA LEGISLAÇÃO ELEITORAL AUTÁRQUICA EM MOÇAMBIQUE - 2018 - Brochura Informativa» (PDF). EISA. Setembro de 2018. Consultado em 23 de novembro de 2022 
  19. «Documentos da Conferência Nacional do Departamento de Informação e Propaganda da Frelimo». D.I.P da Frelimo. 1975. p. 21. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  20. «Decreto Presidencial n.º 28/80 de 3 de Abril, Boletim da República, I Série, número 14, 1º Suplemento». Imprensa Nacional de Moçambique. 3 de abril de 1980. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  21. «Decreto Presidencial n.º 20/83 de 28 de Maio, Boletim da República, I Série, número 21, 2º Suplemento». Imprensa Nacional de Moçambique. 28 de maio de 1983. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  22. «Decreto Presidencial n.º 50/86 de 24 de Abril, Boletim da República, I Série, número 17, Suplemento». Imprensa Nacional de Moçambique. 24 de abril de 1986. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  23. «Decreto Presidencial n.º 34/87 de 25 de Março, Boletim da República, I Série, número 12, Suplemento». Imprensa Nacional de Moçambique. 25 de março de 1987. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  24. «Despacho Presidencial n.º 19/95 de 21 de Abril, Boletim da República, I Série, número 16, 2º Suplemento». Imprensa Nacional de Moçambique. 21 de abril de 1995. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  25. «Despacho Presidencial n.º 17/97 de 23 de Setembro, Boletim da República, I Série, número 38, Suplemento». Imprensa Nacional de Moçambique. 23 de setembro de 1997. Consultado em 2 de fevereiro de 2023 
  26. «Decreto Presidencial n.º 88/2005 de 11 de Fevereiro, Boletim da República, I Série, número 6, Suplemento». Imprensa Nacional de Moçambique. 11 de fevereiro de 2005. Consultado em 30 de janeiro de 2023 
  27. «Decreto Presidencial n.º 67/2007 de 24 de Outubro, Boletim da República, I Série, número 43, Suplemento nº3». Imprensa Nacional de Moçambique. 24 de outubro de 2007. Consultado em 30 de janeiro de 2023 
  28. «Decreto Presidencial n.º 24/2014 de 14 de Março, Boletim da República, I Série, número 22, Suplemento nº2». Imprensa Nacional de Moçambique. 14 de março de 2014. Consultado em 30 de janeiro de 2023 
  29. «Novos Governadores provinciais nomeados por Filipe Nyusi». 19 de janeiro de 2015. Consultado em 2 de janeiro de 2016 
  30. «PR exonera ministros e nomeia novo governador para Cabo Delgado». 23 de novembro de 2017. Consultado em 23 de novembro de 2017 
  31. «Presidente da República exonera governadores provinciais». O País. 14 de janeiro de 2020. Consultado em 21 de março de 2023 
  32. «Governadores provinciais apresentados à população». Notícias. 26 de janeiro de 2020. Consultado em 23 de novembro de 2022 
  33. «Secretários de Estado tomam posse em Maputo». O País. 24 de janeiro de 2020. Consultado em 26 de maio de 2021 
  34. «"A esperança de todo um povo repousa em Cabo Delgado"». DW, Deutsche Welle. 11 de junho de 2021. Consultado em 23 de novembro de 2022 
  35. Instituto Nacional de Estatística Acesso 2011 outubro 5
  36. Lei nº 26/2013, publicada no Boletim da República nº 101, I Série, de 18 de Dezembro de 2013, pág. 1059-1061 (3)
  37. "Resolução n.º 7/87, de 25 de Abril publicado no Boletim da República (BR), I Série, Nº 16 de 1987" in Estudo "Desenvolvimento Municipal em Moçambique: As Lições da Primeira Década". pp. 24 e 25. Banco Mundial. Maio 2009. Acesso 2011 outubro 5
  38. «Moçambique tem dez novas autarquias». A Verdade. 23 de maio de 2013. Consultado em 20 de julho de 2023 
  39. «AR Aprova Lei Que Cria Novas Autarquias Locais». Assembleia da República. 14 de Dezembro de 2022. Consultado em 20 de julho de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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