Centro Histórico do Recife

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Centro Histórico do Recife
Centro Histórico do Recife
Capela-mor da Basílica do Carmo, uma das obras-primas do barroco brasileiro.
Tipo
  • centro histórico
Geografia
País Brasil
Cidade Recife, Pernambuco
 Brasil
Coordenadas 8° 03' 18" S 34° 52' 53" O

O Centro Histórico do Recife é uma área de ocupação antiga localizada no centro da cidade do Recife, capital do estado brasileiro de Pernambuco. Existe ainda um Centro Histórico Expandido: a chamada "Zona Norte", que corresponde precisamente ao noroeste do município. No centro histórico recifense está o Marco Zero, ponto onde surgiu o povoado da "Ribeira de Mar dos Arrecifes dos Navios". Representa, em conjunto com os sítios históricos de Olinda, Igarassu e dos Guararapes, um dos principais roteiros de arte barroca do Brasil, sendo alguns dos seus templos os mais antigos de diferentes ordens religiosas no país.[1][2]

Mais antiga entre as capitais estaduais brasileiras, o Recife surgiu em 1537 nos arredores do maior porto exportador do Brasil Colônia durante o ciclo da cana-de-açúcar. Contudo, só veio conhecer desenvolvimento significativo após a invasão holandesa de 1630, quanto tornou-se sede da colônia de Nova Holanda, sobrepujando então a vila que o originou, Olinda — destruída pelos batavos.[3][2][4]

O Recife é o único dos cinco patrimônios barrocos do país que não possui o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Em que pese o fato — atribuído à demolição e descaracterização da maior parte do seu centro histórico —, a capital pernambucana possui exemplares de arquitetura religiosa de excepcional importância, tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Uma vez que não foi sede colonial portuguesa, o Recife teve seus templos barrocos construídos às expensas de abastados comerciantes e senhores de engenho locais.[5][2]

Igrejas e conventos[editar | editar código-fonte]

No Centro Histórico do Recife estão situados edifícios religiosos como a Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento de Santo Antônio, a Concatedral de São Pedro dos Clérigos, a Basílica e Convento de Nossa Senhora do Carmo, a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, o Convento e Igreja de Santo Antônio, a Capela Dourada, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, a Igreja Madre de Deus, a Capela de Nossa Senhora da Conceição da Congregação Mariana, a Igreja do Divino Espírito Santo, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, a Igreja de São Gonçalo, a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, a Capela da Jaqueira, a Igreja de São José do Ribamar, a Igreja de Nossa Senhora do Terço, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a Igreja de Nossa Senhora do Livramento dos Homens Pardos, a Igreja Matriz da Boa Vista, a Basílica da Penha, a Basílica do Sagrado Coração de Jesus, dentre muitos.[2]

Palácios[editar | editar código-fonte]

Há importantes edifícios históricos utilizados pela administração pública (direta e indireta) e por entidades filantrópicas, como os neoclássicos Teatro de Santa Isabel, Mercado de São José, Casa da Cultura, Hospital Pedro II, Hospital Ulysses Pernambucano, Palácio da Soledade, Palácio Joaquim Nabuco e Ginásio Pernambucano, e os ecléticos Palácio do Campo das Princesas, Palácio da Justiça, Quartel do Derby e Faculdade de Direito do Recife, entre outros.[2]

O Teatro de Santa Isabel, projetado pelo engenheiro fourierista francês Louis Léger Vauthier, foi inaugurado em 1850, e é um dos poucos exemplares do genuíno neoclassicismo erguidos no país na primeira metade do século XIX. Vauthier chegou às terras brasileiras em 1840, uma época de mudanças no Recife, que pretendia alterar suas feições portuguesas de cidade recém-saída da época colonial. Pernambuco decidiu então construir um teatro na sua capital. Como não havia profissionais qualificados no Brasil, a província promoveu a vinda de engenheiros, matemáticos, técnicos e operários europeus.[6]

Centro Histórico do Recife[editar | editar código-fonte]

Em bairros como o Recife Antigo, Santo Antônio, Santo Amaro, São José e Boa Vista estão algumas das principais construções históricas da capital pernambucana. Muitas delas abrigam espaços culturais, além de empresas de tecnologia do Porto Digital, polo de desenvolvimento de softwares. Um dos edifícios mais importantes é a Sinagoga Kahal Zur Israel, primeira sinagoga do continente americano.[7][8]

Foi no bairro do Recife, onde fica o porto homônimo, que o povoado da "Ribeira de Mar dos Arrecifes dos Navios" surgiu. A pequena ilha é cercada pelo Oceano Atlântico a leste e pela foz dos rios Beberibe e Capibaribe a oeste, e ligada ao resto da cidade por quatro pontes: Limoeiro, Buarque de Macedo, Maurício de Nassau e 12 de setembro (antiga Ponte Giratória).[1]

Centro Histórico Expandido[editar | editar código-fonte]

A capital pernambucana possui um Centro Histórico Expandido. É a Zona Norte da cidade, uma região nobre a noroeste do Marco Zero do município. Trata-se de uma área de povoação muito antiga, da qual fazem parte bairros tradicionais como Graças, Casa Forte, Jaqueira, Poço da Panela, Apipucos, Parnamirim, Tamarineira, Casa Amarela, Espinheiro, Aflitos, Derby e Madalena, alguns deles ocupados desde o século XVI.[1][9][10]

Mansões antigas[editar | editar código-fonte]

No Recife, cidade com o mais opulento conjunto de palacetes e solares do Brasil, a aristocracia pernambucana possuía casarões ajardinados já na primeira metade do século XIX, em áreas próximas ao rio Capibaribe. Nessas casas encontravam-se sofás, cadeiras medalhão, credências, canapés, cômodas, guarda-louças, camas, aparadores, confeccionadas em jacarandá e outras madeiras nobres, por marceneiros famosos como o francês Julião Béranger e seu filho pernambucano Francisco Manuel, responsável pelo estilo Béranger; seguindo-se de Remígio Kneip e Guilherme Spieler, grandes nomes da marcenaria pernambucana do século XIX. Algumas mansões recifenses possuem características arquitetônicas únicas no país.[11]

Na Rua Benfica no bairro da Madalena, conhecida como a "rua dos palacetes", há importantes casarões como o Solar dos Amorim (número 150), o Solar da Viscondessa do Livramento (número 198), o Palacete de Frederika von Söhsten (número 251), o Palacete Sarraceno (número 286), o Palacete de José Ângelo Batista (número 352), o Solar do Benfica (número 505), o Palacete de Manoel Borba (número 715) e o Sobrado da Madalena (número 1150).[12][13] Outros logradouros que se destacam pelo número de casas ajardinadas são: a Avenida Rui Barbosa — antiga Estrada dos Manguinhos — no bairro das Graças, onde estão localizados palacetes como o Solar Tavares da Silva (número 36), o Palacete do Visconde de Loyo (número 409), o Casarão de Othon Lynch Bezerra de Mello (número 471), o Palacete de veraneio do Barão de Beberibe (número 960), a Mansão Henry Gibson (número 1229) e o Solar do Barão Rodrigues Mendes (número 1596), além dos casarões em seu entorno como o Palacete de Alarico Bezerra Cavalcanti (Rua Joaquim Nabuco, 200); a Avenida Conselheiro Rosa e Silva no bairro dos Aflitos, onde estão situados, dentre outros, o Casarão Costa Azevedo (número 707); a Avenida Dezessete de Agosto no bairro de Casa Forte, onde estão localizados palacetes como o Casarão Latache Pimentel (número 1893) e o Solar Francisco Ribeiro Pinto Guimarães (número 2187); e a Estrada do Arraial no bairro de Casa Amarela, onde há casas como o Palacete de Roberto Brito Bezerra de Mello (número 3139), o Chalé Trindade Peretti (número 3259) e o Casarão de Cid Sampaio (Praça do Monteiro, 2665).[14][15] O bairro da Boa Vista abriga casas como o Solar do Pombal (Avenida Visconde de Suassuna, 393) e o Palacete Oscar Amorim (Avenida Lima Cavalcante, 9). E há ainda, em pontos mais afastados, antigas casas-grandes de engenhos de açúcar, tanto no município quanto nos arredores (área metropolitana), como a Casa-Museu Magdalena e Gilberto Freyre (Engenho Dois Irmãos — bairro de Apipucos), a Casa de Ferro Família Brennand (Engenho São João — bairro da Várzea), a Casa de Maria Amazonas MacDowell (Engenho Camaragibe), o Casarão dos Lundgren (Engenho Paulista) e o Solar Souza Leão (Engenho Moreno).[16][17]

Outras construções[editar | editar código-fonte]

Na Zona Norte da capital pernambucana, além de edifícios históricos importantes, a exemplo da Casa Provincial de Apipucos dos Irmãos Maristas, há algumas áreas públicas tombadas pelo IPHAN como a Praça de Casa Forte (primeiro jardim público concebido pelo renomado paisagista Roberto Burle Marx), a Praça Euclides da Cunha e a Praça do Derby.[18]

Demolição e descaracterização do patrimônio histórico[editar | editar código-fonte]

A maior parte dos edifícios coloniais do Recife foi demolida e descaracteriza, e quase todo o antigo traçado urbano recifense perdeu-se com as obras de modernização empreendidas na cidade. Entretanto, ocorrem agressões ao patrimônio histórico desde o período colonial. Casos emblemáticos são o do imponente Palácio de Friburgo, sede da colônia de Nova Holanda construída por Maurício de Nassau e demolida entre os anos de 1774 e 1787 tendo por justificativa os danos sofridos durante a Insurreição Pernambucana, e o do Palácio da Boa Vista, que era o local de repouso e lazer do Governador do Brasil Holandês.[19]

Mas foi a partir dos primeiros anos do século XX que a destruição do centro histórico tomou maiores proporções. O Largo do Pelourinho do Recife (Largo do Corpo Santo) e diversos outros conjuntos coloniais foram completamente demolidos. Ainda na primeira metade do século XX, foram construídas avenidas como a Guararapes e a Conde da Boa Vista, que exigiram muitas demolições, a exemplo da Capela Anglicana do Recife. Na década de 1970 ocorreu a maior e mais vasta ação demolidora sofrida pela cidade: a abertura da Avenida Dantas Barreto (1971-1973), quando centenas de sobrados coloniais foram eliminados e, para permitir a conclusão da obra, o então presidente Emílio Garrastazu Médici destombou a Igreja dos Martírios — que era protegida pelo IPHAN —, permitindo a sua destruição.[20][21][22][23]

Palácio de Friburgo, demolido entre os anos de 1774 e 1787
Largo do Pelourinho do Recife, conjunto destruído em 1913
Forte de Madame Bruyne, um dos muitos fortes demolidos no Recife
Antiga Rua dos Judeus, 1855
Antiga Rua do Crespo, 1858
Porto do Recife, 1865
Rua Larga do Rosário, c. 1880
Pátio do Livramento, c. 1880
Ponte da Boa Vista, c. 1880
Pátio do Carmo no século XIX. O logradouro sofreu grande descaracterização com as demolições para a abertura da Avenida Dantas Barreto
Antiga Rua da Cadeia. Os sobrados foram demolidos no início do século XX para a construção da Avenida Marquês de Olinda
Antiga Praça do Conde d'Eu, atual Maciel Pinheiro, em 1875.
Ponte 7 de Setembro, demolida no início do século XX
Arco da Conceição, demolido no início do século XX assim como o Arco de Santo Antônio. Ficavam nas cabeceiras da Ponte Maurício de Nassau
Marco Zero do Recife, década de 1940
Rua da Imperatriz Tereza Cristina, 1940
Fachadas descaracterizadas na Rua do Bom Jesus
A foto revela uma prática comum na cidade: os sobrados que desabam são transformados em casarões (com um pavimento)

Panorama do Recife com feições coloniais[editar | editar código-fonte]

O Centro Histórico do Recife em 1855, por Friedrich Hagedorn

Pontos importantes[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c «Perfil dos bairros». Prefeitura do Recife. Consultado em 5 de março de 2017 
  2. a b c d e «Recife (PE)». IPHAN. Consultado em 5 de março de 2017 
  3. Luiz Geraldo Silva. «A Faina, a Festa e o Rito. Uma etnografia histórica sobre as gentes do mar (sécs XVII ao XIX)». Google Books. p. 122. Consultado em 5 de março de 2017 
  4. Carlos Eugênio Marcondes de Moura, John Hemming. «Ouro Vermelho:A Conquista dos Índios Brasileiros». Google Books. p. 135. Consultado em 5 de março de 2017 
  5. «Arquiteto espanhol expõe desenhos de monumentos barrocos no Recife». G1. Consultado em 5 de março de 2017 
  6. «Teatro de Santa Isabel: 165 anos de história». Teatrosantaisabel.com.br. Consultado em 5 de março de 2017 
  7. «Recife também tem Muro das Lamentações». Estadão. Consultado em 6 de março de 2017 
  8. «Maior parque tecnológico do país, Recife vira a 'Índia brasileira'». Folha de S.Paulo. Consultado em 6 de março de 2017 
  9. «Casa Forte (Bairro, Recife)». Fundaj. Consultado em 7 de março de 2017 
  10. «Poço da Panela (Bairro, Recife)». Fundaj. Consultado em 7 de março de 2017 
  11. «Arquiteto lança livro sobre palacetes e solares do Recife do século XIX». Jornal do Commercio. Consultado em 24 de abril de 2020 
  12. Jornal do Commercio. «Benfica, a rua dos palacetes no Recife». Consultado em 10 de abril de 2019 
  13. Diario de Pernambuco. «Os palacetes da Benfica do século XIX serviam de casa de veraneio». Consultado em 10 de abril de 2019 
  14. «Museu do Estado de Pernambuco». Governo de Pernambuco. Consultado em 7 de março de 2017 
  15. «Museu da Abolição». MuseudaAbolição.Museus.gov.br. Consultado em 7 de março de 2017 
  16. «Casa-grande e Museu Gilberto Freyre». Casa Vogue. Consultado em 7 de março de 2017 
  17. «Museus - Recife, Olinda e interior de Pernambuco». Pernambuco.com. Consultado em 7 de março de 2017 
  18. «Jardins e praças projetados por Burle Marx em Recife são tombados». Portal Brasil. Consultado em 7 de março de 2017 
  19. «Palácio de Friburgo, Recife, PE». Fundaj. Consultado em 8 de março de 2017 
  20. «Histórico do bairro do Recife». Prefeitura do Recife. Consultado em 8 de março de 2017 
  21. «No século XVII, prédio foi principal local de culto calvinista no Recife». Jornal do Commercio. Consultado em 8 de março de 2017 
  22. «Avenida Guararapes». CAU/PE. Consultado em 8 de março de 2017 
  23. «A construção da Av. Dantas Barreto e a lógica modernizante na cidade do Recife». Anais Anpuh. Consultado em 8 de março de 2017 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]