Cimeira de Madrid de 2022

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Cimeira de Madrid de 2022
2022 Madrid Summit
Cimeira de Madrid de 2022
Tipo Reunião de cúpula
Anfitrião Espanha
Sede Madrid
Data 28–30 de junho de 2022
Participantes Estados-membros da OTAN
Site Página oficial
Principais tópicos
Guerra Russo-Ucraniana
Mundo pós-pandêmico
Cronologia
Bélgica Bruxelas 2022
Lituânia Vilnius 2023

A Cimeira de Madrid de 2022 (português europeu) ou Cúpula de Madri de 2022 (português brasileiro), também referida como 35ª Cimeira da NATO (português europeu) ou 35ª Reunião de Cúpula da OTAN (português brasileiro), foi uma reunião dos chefes de governo dos Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte realizada em Madrid, Espanha de 28 a 30 de junho de 2022.[1] Segundo encontro multilateral presencial do grupo após a pandemia de COVID-19, a cimeira teve como temais centrais a corrente Invasão russa da Ucrânia, as possíveis adesões de Suécia e Finlândia à aliança de defesa e o aprimoramento das relações comerciais e diplomáticas de cada um dos países com a China.[2][3][4]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Em 8 de outubro de 2021, após uma reunião com o Secretário-gera da OTAN Jens Stoltenberg, o Presidente do Governo espanhol Pedro Sánchez anunciou a realização de uma cimeira ordinária da organização em Madrid em 2022, ano que marca também o 40.º aniversário da entrada da Espanha na organização.[5] Em 29 de março de 2022, poucos meses antes da realização do evento, a OTAN divulgou oficialmente o logotipo da cúpula que combina o logotipo oficial da organização às cores e símbolos presentes no brasão de armas espanhol.[6][7] A reunião foi agendada para alguns meses após a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, sendo esta a segunda vez em que a Espanha sedia este evento; a anterior foi em 1997.[6]

Contexto[editar | editar código-fonte]

Guerra Russo-Ucraniana[editar | editar código-fonte]

A Invasão russa da Ucrânia é um cenário de guerra em larga escala ainda em andamento que teve início em 24 de fevereiro de 2022 e faz parte do contexto da Guerra Russo-Ucraniana que começou em 2014. É o maior ataque militar em solo europeu desde a Guerra Civil Iugoslava, gerando milhares de mortes bem como a maior crise de refugiados no continente desde a Segunda Guerra Mundial, com mais de seis milhões de ucranianos tendo de deixar seu país e oito milhões de refugiados internos.

A invasão foi precedida por uma gradual ocupação militar russa das fronteiras da Ucrânia desde meados de 2021. Durante esse período de tensão diplomática, o Presidente da Rússia Vladimir Putin criticou a recente Expansão da OTAN e autoridades russas negaram repetidamente, de meados de novembro de 2021 até 20 de fevereiro de 2022, que a Rússia tinha planos de invadir o país vizinho. No entanto, no dia seguinte, a Rússia reconheceu a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk - dois Estados autoproclamados na região de Donbass, no leste da Ucrânia - e enviou suas tropas para esses territórios. No dia seguinte, o Conselho da Federação Russa autorizou por unanimidade o uso de força militar além das fronteiras russas.

Em 24 de fevereiro, Putin anunciou uma "operação militar especial" nos territórios de Donetsk e Lugansk; mísseis começaram a atingir vários locais na Ucrânia, incluindo a capital Kiev e postos fronteiriços com a Bielorrússia. Entre 18 e 19 de abril - antes da retirada russa da ofensiva central na Ucrânia -, ambas as partes confirmaram que a "segunda fase" do conflito havia se iniciado, como uma "batalha por Donbass".

Cimeira[editar | editar código-fonte]

Após os dois dias de preparação para a cimeira em meados de junho de 2022, Jens Stoltenberg relatou que as principais áreas a serem abordadas na reunião seriam "dissuasão e defesa fortalecidas; apoio à Ucrânia e outros aliados em risco; um novo Conceito Estratégico da OTAN, melhor compartilhamento de responsabilidades e recursos, e processos históricos de adesão da Finlândia e da Suécia".[8]

Local e segurança[editar | editar código-fonte]

A sede da Instituição de Feiras de Madrid abrigou a Cimeira da OTAN.

A cúpula foi realizada nos pavilhões 9 e 10 da Instituição de Feiras de Madrid (IFEMA).[9] O plano de segurança incluía ainda o deslocamento de 25.000 policiais para a cidade.[9] A Parada do Orgulho LGBT de Madri (conhecida localmente como Fiestas del Orgullo) foi adiada uma semana devido à cúpula.[9] Os Ministérios do Interior e das Relações Exteriores espanhóis alocaram cerca de 37 milhões de euros sem licitação pública para o reforço da segurança da cimeira, incluindo a aquisição de 6.000 carregadores de taser.[10]

Conceito Estratégico 2022[editar | editar código-fonte]

O conceito estratégico da OTAN, um plano de metas de 10 anos que elenca os desafios de segurança da aliança no cenário global em evolução e delineia as tarefas políticas e militares da organização, foi adotado na cúpula, substituindo assim o conceito estratégico adotado anteriormente na Cimeira de Lisboa de 2010.[11][12][13] O documento de 2010 faz menção à "paz na zona euro-atlântica" e "a escassa ameaça de um ataque convencional ao território da OTAN", o que demonstra o descompasso do conceito mediante às relações geopolíticas da década seguinte.[14] O Presidente da Lituânia Gitanas Nausėda defendeu que o novo conceito estratégico da organização considerasse a Rússia uma "ameaça a longo prazo para toda a área euro-atlântica".[15] Os Estados Unidos, por sua vez, defenderam uma postura mais "contundente" com relação à China.[16]

De acordo com o conceito estratégico aprovado antes da cimeira, a Rússia deixou de ser um "parceiro estratégico" passando ser definida como "ameaça mais significativa e direta à segurança dos Aliados e à paz e estabilidade na área euro-atlântica".[17] Da mesma forma, a China foi descrita no documento como um "desafio aos interesses, segurança e valores" dos Aliados.[17]

Negociações com a União Europeia[editar | editar código-fonte]

Em 29 de junho, os líderes dos Estados-membros da União Europeia e da OTAN participaram de um jantar oficial oferecido pelo Presidente do Governo da Espanha Pedro Sánchez, em Madri. Durante o evento, o Taoiseach irlandês Micheál Martin reuniu-se bilateralmente com o Primeiro-ministro norueguês Jonas Gahr Støre, a Primeira-ministra islandesa Katrín Jakobsdóttir e o Chanceler da Áustria Karl Nehammer, o último dos quais também reuniu-se com o Presidente da Turquia Recep Tayyip Erdoğan.[18][19]

Adesão de Finlândia e Suécia[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Expansão da OTAN
O Presidente da Finlândia Sauli Niinistö junto a Ursula von der Leyen e Charles Michel, da União Europeia, durante a Cimeira de Madrid de 2022.

Diante à invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 e uma subsequente tendência da opinião pública na Finlândia e na Suécia contrária ao governo russo, ambos os governos passaram a negociar uma possível adesão à OTAN.[20][21] Em 12 de maio, Sauli Niinistö e Sanna Marin (Presidente e Primeiro-ministro da Finlândia, respectivamente) emitiram uma declaração conjunta de que o país "deve se candidatar à adesão à OTAN sem demora".[22] Em 16 de maio, a Primeira-ministra sueca Magdalena Andersson anunciou a candidatura de seu país à adesão.[23] Ambos os países apresentaram oficialmente seus pedidos de adesão à OTAN em 18 de maio, mas com a perspectiva iminente de um boicote da Turquia às negociações devido às supostas relações finlandesas com as Unidades de Proteção Popular, que o governo turco considera uma dissidência do Partido dos Trabalhadores do Curdistão.[24][25]

Em 28 de junho, o primeiro dia da Cimeira da OTAN, a delegação turca retirou sua oposição aos pedidos de adesão da Finlândia e da Suécia e assinou um memorando triparte abordando as preocupações do governo turco em relação ao fornecimento de armas ao conflito curdo-turco.[26] Como parte do acordo, a Finlândia e a Suécia apoiariam a participação da Turquia no projeto de Mobilidade Militar da Cooperação Estruturada Permanente (PESCO).[27] A Finlândia e a Suécia também reconheceram o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) como "uma organização terrorista".[28] Em 29 de junho, a OTAN formalizou o convite os dois países para se juntarem à organização.[29] Em 30 de junho, o Presidente turco Recep Tayyip Erdoğan afirmou que a Suécia havia feito uma "promessa" de extraditar "73 terroristas" para a Turquia. O primeiro-ministro sueco recusou-se a negar a alegação da Turquia de que a Suécia havia prometido deportar refugiados políticos e opositores procurados pelo governo de Erdoğan.[30]

Participantes[editar | editar código-fonte]

Convidados[editar | editar código-fonte]

Notas

Referências

  1. EFE (10 de agosto de 2021). «Madrid albergará la cumbre de la OTAN los días 29 y 30 de junio de 2022». El Mundo 
  2. Guerrero, Catalina (14 de fevereiro de 2022). «España ante una cumbre de la OTAN en Madrid cuyo perfil cambia por Rusia». Swissinfo 
  3. «La OTAN acogerá a Suecia y Finlandia "con los brazos abiertos" y "rápido" si piden entrar». El Español. 22 de abril de 2022 
  4. Alfonso, Miguel Ángelo (18 de janeiro de 2022). «Así será la cumbre de la OTAN de Madrid». El Comercio 
  5. «Joint press point by NATO Secretary General Jens Stoltenberg and the Prime Minister of Spain, Pedro Sánchez». Organização do Tratado do Atlântico Norte. 8 de outubro de 2021 
  6. a b «Así es el logo elegido por la OTAN para la Cumbre de junio en Madrid». Republica. 29 de março de 2022 
  7. «El logotipo de la Cumbre de la OTAN en Madrid lanza un guiño al lema británico de la II Guerra Mundial». El Debate. 29 de março de 2022 
  8. «NATO Defence Ministers lay the ground for the Madrid Summit». NATO News. 16 de junho de 2022 
  9. a b c Durán, Luis (12 de abril de 2022). «La cumbre de la OTAN blinda Madrid: 25.000 policías, plan de seguridad aéreo, cortes de tráfico y carriles exclusivos a Ifema para las delegaciones diplomáticas». El Mundo 
  10. Moreno, Ana (25 de abril de 2022). «Marlaska y Albares adjudican 'a dedo' 37 millones para la cumbre de la OTAN en Madrid y comprar armas que garanticen su seguridad». 20 Minutos 
  11. «Deputy Secretary General discusses NATO's evolving role in global stability». NATO News. 28 de março de 2022 
  12. Caracuel Raya, María Angustias (9 de abril de 2022). «Madrid NATO Summit. Towards a more pragmatic and decisive Strategic Concept» (PDF). Revista Española de Defensa 
  13. «NATO 2022 Strategic Concept». OTAN. 2022 
  14. Brzozowski, Alexandra (26 de junho de 2022). «Global Europe Brief: NATO mulls massive defence overhaul». EURACTIV 
  15. Nausėda, Gitana (23 de junho de 2022). «Lithuanian President Gitanas Nauseda: Now is the time to make NATO even stronger». The Washington Post 
  16. «U.S. confident Nato's strategy document will be "strong" on China, official says». Reuters. 26 de junho de 2022 
  17. a b Herszenhorn, David M. (29 de junho de 2022). «NATO leaders brand Russia a 'direct threat' in new strategy blueprint». Politico 
  18. «Taoiseach Micheál Martin to attend EuroAtlantic dinner in Madrid». Taoiseach. 28 de junho de 2022 
  19. «Nehammer denkt weiter nicht an NATO-Betritt Österreichs». Puls24. 28 de junho de 2022 
  20. «Finland to clarify next steps on possible NATO entry within weeks». Reuters. 7 de abril de 2022 
  21. Jozwiak, Richard (14 de abril de 2022). «Finland And Sweden's Steady March Toward NATO». RadioFreeEurope 
  22. «Joint statement by the President of the Republic and Prime Minister of Finland on Finland's NATO membership». Presidência da República da Finlândia. 12 de maio de 2022 
  23. «Sweden announces it will apply for NATO membership». Radio Sweden. 16 de maio de 2022 
  24. Milne, Richard (18 de maio de 2022). «Erdoğan blocks Nato accession talks with Sweden and Finland». Financial Times 
  25. Servet, Gunerigok (19 de maio de 2022). «Turkiye says its security concerns should be met as Sweden, Finland seek NATO entry». AA News 
  26. «Turkey clears way for Finland, Sweden to join NATO - Stoltenberg». Reuters. 28 de junho de 2022 
  27. Brzozowski, Alexandra (28 de junho de 2022). «Turkey drops resistance to Sweden and Finland joining NATO». EURACTIV 
  28. Hivert, Anne-Françoise (29 de junho de 2022). «NATO deal with Sweden and Finland: Ankara celebrates 'national victory,' worries mount in Stockholm». Le Monde 
  29. Erlanger, Steven; Shear, Michael D. (29 de junho de 2022). «NATO formally invites Finland and Sweden to join the alliance». The New York Times 
  30. «Sweden refuses to deny deportations to Turkey as part of NATO deal». The Local. 3 de julho de 2022 

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