Câncer cervical

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O câncer cervical (português brasileiro) ou cancro cervical (português europeu) ou do colo do útero é um tipo de câncer que ocorre no colo do útero (cérvice uterino). Está estreitamente relacionado com o vírus HPV.

Sinais e sintomas

Os primeiros estágios do câncer do colo do útero podem ser completamente livres de sintomas.[1][2] O sangramento vaginal, sangramento de contato (uma das formas mais comuns de sangramento após a relação sexual) ou, raramente, uma massa vaginal podem ser indicativos da presença de doença maligna. Além disso, dor moderada durante a relação sexual e corrimento vaginal também podem ser sintomas do câncer do colo do útero. Na doença já avançada, pode haver metástases para o abdome, pulmões e outros órgãos.

Os sintomas do câncer do colo do útero avançado incluem: perda do apetite, emagrecimento, fadiga, dor pélvica, dor lombar, dores e inchaço nas pernas, sangramento vaginal de grande volume, fraturas e, mais raramente, perda de urina e fezes pela vagina.[3] Sangramento após ducha vaginal ou após o exame ginecológico é um sintoma comum do câncer do colo do útero.[4]

Causas

Na maioria dos casos, as células infectadas pelo vírus HPV se curam espontaneamente. Em alguns casos, contudo, o vírus continua a se espalhar e pode produzir um câncer invasivo.
O colo do útero em relação à parte superior da vagina e a porção posterior do útero, mostrando a diferença do epitélio que recobre as estruturas internas.

A infecção por alguns tipos de HPV é o maior fator de risco para o câncer do colo do útero, seguida do tabagismo.[5] Outros fatores de risco incluem o vírus da imunodeficiência humana (HIV).[5] Entretanto, nem todas as causas de câncer do colo do útero são conhecidas e vários outros fatores podem estar implicados no desenvolvimento deste câncer.[6]

Papiloma vírus humano

Os tipos 16 e 18 do papiloma vírus humano (HPV) causam 75% dos cânceres do colo do útero em todo o mundo, enquanto os tipos 31 e 45 são a causa de mais 10% dos casos.[7]

Mulheres com múltiplos parceiros sexuais (ou que tenham relações sexuais com homens que têm ou tiveram muitos outros parceiros) estão em maior risco de desenvolver o câncer.[8][9]

Dos 150-200 tipos de HPV conhecidos,[10][11] 15 foram classificados como tipos de alto risco (16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68, 73 e 82), três como provável alto risco (26, 53 e 66) e 12 como de baixo risco (6, 11, 40, 42, 43, 44, 54, 61, 70, 72, 81 e CP6108).[12]

As verrugas genitais, que são uma forma de tumor benigno das células epiteliais, são causadas por vários tipos de HPV. Entretanto, estes sorotipos geralmente não estão relacionados ao câncer do colo do útero. É comum haver a infecção por múltiplos tipos ao mesmo tempo, incluindo aqueles que podem causar o câncer e os que provocam verrugas.

Acredita-se que a infecção pelo HPV seja uma condição necessária para o desenvolvimento do câncer do colo do útero.[13]

Tabagismo

O hábito de fumar, tanto o tabagismo ativo como passivo, aumenta o risco de desenvolver o câncer do colo do útero. Entre as mulheres infectadas pelo HPV, as fumantes atuais ou ex-fumantes têm uma incidência de câncer invasivo cerca de duas a três vezes maior. O tabagismo passivo também está associado ao aumento do risco, mas em uma menor proporção.[14]

Contraceptivos orais

O uso prolongado de contraceptivos orais está associado ao aumento do risco de câncer do colo do útero. Mulheres que utilizaram contraceptivos orais por 5 a 9 anos apresentaram uma incidência três vezes maior de desenvolver o câncer invasivo, enquanto aquelas que fizeram uso por 10 anos ou mais tiveram um risco cerca de quatro vezes maior.[14]

Múltiplas gestações

Ter uma história de muitas gestações também está associado ao aumento do risco de câncer do colo do útero. Entre as mulheres infectadas com HPV, aquelas que tiveram sete ou mais gestações concluídas apresentaram um risco quase quatro vezes maior de desenvolver o câncer quando comparadas com mulheres que nunca engravidaram e duas a três vezes maior em relação às mulheres que tiveram apenas uma ou duas gestações concluídas.[14]

Diagnóstico

Câncer do colo do útero visto em imagem de ressonância magnética da pelve em T2, posição sagital.

Biópsia

O exame citológico do colo do útero (Papanicolau) pode ser usado como teste de rastreio, mas pode apresentar resultado falso negativo em mais de 50% dos casos de câncer do colo do útero.[15][16] A confirmação do diagnóstico de câncer do colo do útero ou de lesões pré-malignas requer uma biópsia do colo. Esta é geralmente realizada através da colposcopia, uma inspeção visual aumentada do colo do útero, na qual é aplicada solução de ácido acético que evidencia células anormais na superfície do colo.[1] A impressão colposcópica, a estimativa da gravidade da lesão baseada na inspeção visual do colo, também é parte do diagnóstico.

Procedimentos diagnósticos e terapêuticos adicionais incluem a exérese da zona de transformação (EZT) e a conização, nas quais a camada interna do colo do útero é removida para ser examinada pelo patologista. Estes procedimentos são realizados se a biópsia confirmar neoplasia intraepitelial cervical grave.

Este grande carcinoma escamoso (na parte inferior da imagem) obliterou o colo e invadiu o segmento inferior do útero. O útero também apresenta um leiomioma arredondado em sua parte superior.

Frequentemente, antes da biópsia, o médico solicita exames de imagem para descartar outras causas para os sintomas da paciente. Algumas modalidades de imagem incluem a ultrassonografia, a tomografia computadorizada e a ressonância nuclear magnética, que têm sido usadas na busca por outras doenças, para identificar extensão do tumor e seu efeito sobre estruturas adjacentes. Tipicamente, o tumor se apresenta como uma massa heterogênea no colo.[17]

Lesões pré-malignas

Aspecto histopatológico (coloração H&E) do carcinoma in situ (também classificado como NIC III), estágio 0: a arquitetura normal do epitélio escamoso estratificado é substituída por células irregulares que se estendem ao longo de toda a sua espessura. Epitélio colunar normal também é visto.

Neoplasia intraepitelial cervical, uma lesão com potencial precursor do câncer do colo do útero, é diagnosticada com frequência na biópsia do colo, examinada por um patologista. A nomenclatura neoplasia intraepitelial cervical é utilizada para alterações displásicas pré-malignas.

O nome e a classificação histológica das lesões precursoras do carcinoma do colo do útero foram muito modificadas ao longo do século 20. A classificação da Organização Mundial da Saúde[18][19] era baseada na descrição das lesões, classificando-as em displasia leve, moderada e grave ou carcinoma in situ (CIS). O termo neoplasia intraepitelial cervical (NIC) foi desenvolvido para enfatizar a gama de anormalidades dessas lesões e para ajudar a padronizar o tratamento.[19] Classifica-se a displasia leve como NIC I, displasia moderada como NIC II e displasia grave e carcinoma in situ como NIC III. Mais recentemente, NIC II e NIC III foram combinadas em NIC II/III. Estes são os resultados que devem ser relatados pelo patologista que analisar a biópsia.

Este sistema não deve ser confundido com o Bethesda que serve para os resultados do exame citológico. As classificações do sistema Bethesda são: lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL), lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL) e outras. Um resultado LSIL deve corresponder a um NIC I e um HSIL a um NIC II ou III,[19] porém, tratam-se de resultados de exames diferentes e os achados do exame citológico podem não corresponder aos da análise histológica.

Subtipos de câncer

Os subtipos histológicos do carcinoma invasivo do colo do útero são:[20][21]

Embora o carcinoma de células escamosas seja o tipo mais comum, a incidência do adenocarcinoma do colo do útero tem aumentado nas últimas décadas.[1]

Outros tipos de malignidade diferentes do carcinoma que podem ocorrer no colo do útero são o melanoma e o linfoma.

Estadiamento

O câncer do colo do útero é estadiado a partir do sistema estabelecido pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), que se baseia mais no exame clínico do que nos achados cirúrgicos. Apenas os testes a seguir podem ser usados no estadiamento da doença, quando se utiliza o sistema FIGO: palpação, inspeção, colposcopia, curetagem endocervical, histeroscopia, cistoscopia, proctoscopia, urografia intravenosa, conização e radiografia do tórax e do esqueleto.

Tratamento

O tratamento geralmente é por cirurgia, radioterapia e quimioterapia, e depende das condições do paciente, do tipo de tumor e da sua procedência.

Prevenção

A prevenção pode ser feita através da vacina contra o HPV em pessoas que ainda não tiveram contato com o vírus HPV.

Através do exame de Papanicolau é possível realizar a monitorização das mulheres.

Referências

  1. a b c Kumar V, Abbas AK, Fausto N, Mitchell RN (2007). Robbins Basic Pathology 8th ed. [S.l.]: Saunders Elsevier. pp. 718–721. ISBN 978-1-4160-2973-1 
  2. Canavan TP, Doshi NR (2000). «Cervical cancer». Am Fam Physician. 61 (5): 1369–76. PMID 10735343 
  3. Nanda, Rita (9 de junho de 2006). «Cervical cancer». MedlinePlus Medical Encyclopedia. National Institutes of Health. Consultado em 2 de dezembro de 2007 
  4. «Cervical Cancer Prevention and Early Detection». Cancer 
  5. a b Gadducci A, Barsotti C, Cosio S, Domenici L, Riccardo Genazzani A (2011). «Smoking habit, immune suppression, oral contraceptive use, and hormone replacement therapy use and cervical carcinogenesis: A review of the literature». Gynecological Endocrinology. 27 (8): 597–604. PMID 21438669. doi:10.3109/09513590.2011.558953 
  6. Stuart Campbell; Ash Monga (2006). Gynaecology by Ten Teachers 18 ed. [S.l.]: Hodder Education. ISBN 0-340-81662-7 
  7. Dillman, edited by Robert K. Oldham, Robert O. (2009). Principles of cancer biotherapy 5th ed. Dordrecht: Springer. p. 149. ISBN 9789048122899 
  8. «What Causes Cancer of the Cervix?». American Cancer Society. 30 de novembro de 2006. Consultado em 2 de dezembro de 2007. Cópia arquivada em 13 de outubro de 2007 
  9. Marrazzo JM, Koutsky LA, Kiviat NB, Kuypers JM, Stine K (2001). «Papanicolaou test screening and prevalence of genital human papillomavirus among women who have sex with women». Am J Public Health. 91 (6): 947–52. PMC 1446473Acessível livremente. PMID 11392939. doi:10.2105/AJPH.91.6.947 
  10. «HPV Type-Detect». Medical Diagnostic Laboratories. 30 de outubro de 2007. Consultado em 2 de dezembro de 2007. Cópia arquivada em 27 de setembro de 2007 
  11. Gottlieb, Nicole (24 de abril de 2002). «A Primer on HPV». Benchmarks. National Cancer Institute. Consultado em 2 de dezembro de 2007 
  12. Muñoz N, Bosch FX, de Sanjosé S, Herrero R, Castellsagué X, Shah KV, Snijders PJ, Meijer CJ (2003). «Epidemiologic classification of human papillomavirus types associated with cervical cancer». N. Engl. J. Med. 348 (6): 518–27. PMID 12571259. doi:10.1056/NEJMoa021641 
  13. Snijders PJ, Steenbergen RD, Heideman DA, Meijer CJ (2006). «HPV-mediated cervical carcinogenesis: concepts and clinical implications». J. Pathol. 208 (2): 152–64. PMID 16362994. doi:10.1002/path.1866 
  14. a b c National Institutes of Health, National Cancer Institute: PDQ® Cervical Cancer Prevention. Bethesda, MD: National Cancer Institute. Acessado em 20/05/2015.
  15. Cecil Medicine: Expert Consult Premium Edition . ISBN 1437736084, 9781437736083. Page 1317.
  16. Berek and Hacker's Gynecologic Oncology. ISBN 0781795125, 9780781795128. Page 342
  17. H. K. Pannu, F. M. Corl & E. K. Fishman (September–October 2001). «CT evaluation of cervical cancer: spectrum of disease». Radiographics. 21 (5): 1155–1168. PMID 11553823. doi:10.1148/radiographics.21.5.g01se311155  Verifique data em: |data= (ajuda)
  18. a b «Cancer Research UK website». Consultado em 3 de janeiro de 2009 
  19. a b c DeMay, M (2007). Practical principles of cytopathology. Revised edition. Chicago, IL: American Society for Clinical Pathology Press. ISBN 978-0-89189-549-7 
  20. Garcia A Hamid O, El-Khoueiry A (6 de julho de 2006). «Cervical Cancer». eMedicine. WebMD. Consultado em 2 de dezembro de 2007 
  21. Dolinsky, Christopher (17 de julho de 2006). «Cervical Cancer: The Basics». OncoLink. Abramson Cancer Center of the University of Pennsylvania. Consultado em 2 de dezembro de 2007 

Ligações externas

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