Linguagem inclusiva

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Linguagem inclusiva é um estilo de linguagem que evita expressões que implicam ideias que são sexistas, racistas ou de outra forma tendenciosas, preconceituosas ou discriminatórias a grupos específicos de pessoas, percebidas por seus proponentes; e, em vez disso, usam uma linguagem destinada a evitar ofensas, opressões e cumprir os ideais de igualitarismo, inclusão social e equidade.[1][2]

Seus defensores argumentam que a linguagem é frequentemente usada para perpetuar e espalhar o preconceito e que criar intenção em torno do uso de linguagem inclusiva pode ajudar a criar organizações e sociedades mais produtivas, seguras e lucrativas.[3] O termo "politicamente correto" às vezes é usado para se referir a essa prática, seja como uma descrição imparcial ou neutra por apoiadores, por comentaristas em geral, ou com conotações negativas por seus oponentes.[4] O uso de terminologia neutra em termos de gênero tem sido controverso em idiomas em que "toda a gramática tem gênero", como espanhol, francês, italiano, português e alemão; e algumas áreas proibiram seu uso.[5]

A linguagem inclusiva é geralmente adotada seguindo um guia linguístico que lista palavras e expressões que não devem ser usadas e as substitui. Guias linguísticos são usados por muitas organizações, especialmente sem fins lucrativos.[6]

A Defensoria Pública do Estado da Bahia publicou em 2021 no Dia da Consciência Negra uma cartilha de orientação sobre palavras e termos que consideram racistas.[7] Mas há discordâncias, incluindo por colunistas da Folha de S.Paulo.[8][9]

Exemplos[editar | editar código-fonte]

Justificativa para a mudança de linguagem sugerida Expressão a ser evitada Substituição proposta
Para evitar o sexismo implícito, binarismo ou a heteronormatividade com linguagem neutra de gênero
Para evitar o sexismo em qualquer implicação de que as mulheres devam seguir papéis de gênero "tradicionais", sejam de alguma forma desiguais aos homens, sejam valorizadas principalmente como esposas ou objetos sexuais, ou que o trabalho não remunerado das mulheres é menos importante do que o trabalho remunerado[15]
Para evitar terminologia que não é empoderadora, tem conotações negativas, ou está sujeita a um eufemismo em relação a
Evitar estereótipos negativos de grupos étnicos
Evitar o racismo estrutural, o colonialismo e a intolerância religiosa, seja abertamente ou por associação histórica
  • Lista proibida
  • Humor ácido
  • Mercado clandestino
  • Mesa de cabeceira[7]
Evitar o tamanhismo, gordofobia e o body shaming
  • "Curvilínea", "corpo gordo" ou simplesmente falar "de todos os tamanhos"[37]
  • Mau-olhado
Evitar insultos direcionados à dignidade humana, enfatizando a humanidade dos indivíduos em vez de rótulos de grupo
Para evitar o racismo implícito, imperialismo ou colonialismo usando nomes indígenas em vez de nomes usados pelos colonizadores
Evitar ofensas a não-cristãos e não-crentes (ver controvérsias do Natal)
  • Desejar a estranhos (cuja religião é desconhecida) "Feliz Natal"
  • Numeração de anos com a.C./d.C. significando "antes de Cristo" e "o ano do Senhor" (Anno Domini)
Evitar a transfobia implícita, o determinismo biológico e o generismo binário
Assumir uma posição sexo-positiva e evitar o slut-shaming ou obscurantismo Prostituta, garota ou garoto de programa[50] Profissional do sexo ou trabalhador sexual[51]
Evitar associação entre posse de animais e posse de pessoas (escravidão) em geral, antropocentrismo, especismo ou carnismo
Evitar o estigma que promove a discriminação contra as pessoas com HIV/AIDS Limpo HIV negativo[54][55]
O movimento de neurodiversidade, incluindo o movimento de direitos dos autistas, quer evitar a psicofobia e o estigma do autismo, vendo várias condições neurológicas não como doenças a serem curadas, mas diferenças a serem abraçadas, como canhotos ou homossexualidade
  • "pessoa que sofre de autismo", "pessoa portadora de autismo"
  • "saudável" ou "normal"
Evitar a discriminação contra assexuais e a amatonormatividade

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Da linguagem não discriminatória». www.dn.pt. 3 de outubro de 2020. Consultado em 2 de julho de 2023 
  2. «Linguagem inclusiva — Manual de Comunicação». Senado Federal. Consultado em 3 de julho de 2023 
  3. «Inclusive Language Guide: Definition & Examples» (em inglês). Rider University. Consultado em 6 de janeiro de 2021. Cópia arquivada em 23 de novembro de 2020 
  4. Boyd, Krys (17 de fevereiro de 2015). «The Limits Of Political Correctness (panel discussion)». Think (Podcast) (em inglês). KERA (FM). Consultado em 30 de maio de 2022 
  5. Lankes, Ana (20 de julho de 2022). «In Argentina, One of the World's First Bans on Gender-Neutral Language». The New York Times. Consultado em 25 de abril de 2023 
  6. Packer, George. «The Moral Case Against Equity Language». The Atlantic 
  7. a b c «Dicionário de expressões (anti) racistas» (PDF). Defensoria Pública do Estado da Bahia. 20 de novembro de 2021. Consultado em 30 de julho de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 19 de janeiro de 2023 
  8. Araújo Pereira, Ricardo (4 de dezembro de 2021). «Opinião: Abolir termos sem verificar etimologia é enforcar os dicionários à cautela». Folha de S.Paulo. Consultado em 30 de julho de 2023. Cópia arquivada em 20 de dezembro de 2022 
  9. Narloch, Leandro (3 de junho de 2022). «Opinião: Por que a Amazon ainda insiste que o termo criado-mudo é racista?». Folha de S.Paulo. Consultado em 30 de julho de 2023. Cópia arquivada em 23 de março de 2023 
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