Abraham Lincoln: diferenças entre revisões
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Revisão das 18h21min de 7 de agosto de 2013
Alexandre Vinicius | |
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Alexandre Vinicius 1863.jpg Daguerreótipo de Abraham Lincoln em 1863 | |
16.º Presidente dos Estados Unidos | |
Período | 4 de março de 1861 a 15 de abril de 1865 |
Vice-presidente | Hannibal Hamlin (1861–1865) Andrew Johnson (1865) |
Antecessor(a) | James Buchanan |
Sucessor(a) | Andrew Johnson |
Membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos pelo 7º distrito de Illinois | |
Período | 4 de março de 1847 a 4 de março de 1849 |
Antecessor(a) | John Henry |
Sucessor(a) | Thomas L. Harris |
Dados pessoais | |
Nascimento | 12 de fevereiro de 1809 Hodgenville, Kentucky, Estados Unidos |
Morte | 15 de abril de 1865 (56 anos) Washington, D.C., Estados Unidos |
Cônjuge | Mary Todd (1818–1882) |
Filhos(as) | Robert Todd Lincoln Edward Baker Lincoln William Wallace Lincoln Thomas Lincoln |
Partido | Whig (antes de 1854) Republicano (1854–1864) União Nacional (1864–1865) |
Profissão | Advogado Político |
Assinatura | |
Serviço militar | |
Serviço/ramo | Milícia de Illinois |
Anos de serviço | 1832 |
Graduação | Capitão |
Conflitos | Guerra de Black Hawk |
Abraham Lincoln ⓘ (Hodgenville, 12 de fevereiro de 1809 — Washington, 15 de abril de 1865) foi um político norte-americano. 16° presidente dos Estados Unidos, posto que ocupou de 4 de março de 1861 até seu assassinato em 15 de abril de 1865, Lincoln liderou o país de forma bem-sucedida durante sua maior crise interna, a Guerra Civil Americana, preservando a União e abolindo a escravidão, fortalecendo o governo nacional e modernizando a economia. Criado em uma família carente na fronteira oeste, Lincoln foi autodidata, se tornou um advogado, líder do Partido Whig, deputado estadual de Illinois durante os anos de 1830, e membro da Câmara dos Representantes por um mandato durante a década de 1840.
Após uma série de debates em 1858 que repercutiu em todo o país mostrando a sua oposição à escravidão, Lincoln perdeu uma disputa para o Senado a seu arquirrival Stephen A. Douglas. Lincoln, um moderado de um swing state (estado decisivo), garantiu a nomeação para a candidatura presidencial de 1860 pelo Partido Republicano. Com quase nenhum apoio do Sul do País, ele percorreu o Norte e foi eleito presidente. Sua eleição fez com que sete estados escravistas do sul declarassem cessão à União e formassem os Estados Confederados da América. A ruptura com os sulistas fez com que o partido de Lincoln obtivesse amplo controle do Congresso, mas nenhuma ação ou reconciliação foi feita. Em seu segundo discurso de posse, ele explicou que "ambas as partes depreciaram a guerra, mas um deles fazeria guerra ao invés de permitir a sobrevivência da Nação, e o outro aceitaria a guerra ao invés de deixar esta perecer, e veio a guerra."
Quando o Norte entusiasmente optou pela União nacional após o ataque confederado no Forte Sumter em 12 de abril de 1861, Lincoln concentrou os esforços militares e políticos na guerra. Seu objetivo neste momento era unir a nação. Como o Sul estava em rebelião, Lincoln exerceu sua autoridade para suspender habeas corpus, prender e deter temporariamente milhares de separatistas suspeitos sem julgamento. Lincoln evitou o reconhecimento do Reino Unido para com os Confederados, tendo habilmente lidado com o conflito diplomático do incidente Trent Affair no final de 1861. Seus esforços para a abolição da escravidão incluiu a assinatura da lei de Proclamação de Emancipação em 1863, encorajando os estados escravocratas de fronteira (border states) a tornarem a escravidão ilegal, e dando impulso ao Congresso para a aprovação da Décima Terceira Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que finalmente pôs fim a escravidão em dezembro de 1865. Lincoln supervisionou ostensivamente os esforços de guerra, especialmente na escolha de generais importantes, incluindo o comandante geral Ulysses S. Grant.[nota 1] Lincoln reuniu os líderes das maiores facções de seu partido em seu governo e pressionou-os a cooperarem. Sob a liderança de Lincoln, a União criou um bloqueio naval que fechou o comércio normal com o Sul, assumiu o controle dos border states no início da guerra, ganhou o controle das comunicações com canhoneiras nos sistemas fluviais do Sul, e tentou repetidamente capturar a capital confederada de Richmond (Virgínia). A cada general que não obteve sucesso, Lincoln os substituiu até que finalmente Grant obteve êxito em 1865.
Um político excepcionalmente astuto e profundamente envolvido com questões de poder em cada estado, Lincoln apoiou os War Democrats [nota 2] e conseguiu sua reeleição em 1864. Como líder de um facção moderada do Partido Republicano, Lincoln notou que suas políticas e personalidade haviam "explodido para todos os lados": os "Republicanos Radicais" [nota 3] exigiam um severo tratamento com o Sul, os War Democrats desejavam um maior comprometimento (os "Copperheads", democratas pacifistas, desprezavam os membros do seu partido que defendiam o conflito), e os secessionistas irreconciliáveis tramaram o seu assasinato.[3] Politicamente, Lincoln reagiu, colocando seus oponentes um contra o outro, e apelando para o povo americano com seu poder de oratória.[4] O seu Discurso de Gettysburg de 1863 tornou-se um dos discursos mais citados na história desta Nação, e foi um ícone de demonstração dos princípios de nacionalismo, republicanismo, igualdade, liberdade e democracia.[5] Ao fim da guerra, Lincoln teve uma visão moderada sobre a Reconstrução, buscando reunir a nação rapidamente através de uma política de reconciliação generosa em face da persistente amarga divisão. Seis dias depois de o general Robert E. Lee das forças Confederadas se render, Lincoln foi assassinado pelo ator e simpatizante confederado John Wilkes Booth, sendo o primeiro presidente dos Estados Unidos a ser assassinado e fazendo o país entrar em luto. Lincoln tem sido consistentemente considerado por estudiosos e pelo povo como um dos três maiores presidentes dos Estados Unidos (junto de George Washington e Franklin D. Roosevelt[6] pela opinião de estudiosos, e Ronald Reagan e Bill Clinton pela avaliação popular[7]).
Família e infância
Primeiros anos
Abraham Lincoln nasceu em 12 de fevereiro de 1809, o segundo filho de Thomas Lincoln e Nancy Lincoln (nome de solteira: Hanks) num quarto de uma cabana na Fazenda Sinking Spring no Condado de Hardin (Kentucky),[8] atual Condado de LaRue).[9] Ele descende de Samuel Lincoln, originário do condado de Norfolk na Inglaterra, este que partiu para Hingham no estado americano de Massachusetts no século XVII.[10] O avô paterno de Lincoln, que tinha o mesmo nome, Abraham, mudou-se da Virgínia para o Kentucky, onde ele foi emboscado e morto por um ataque indígena em 1786 na presença de seus filhos, incluindo Thomas que ficou paralisado.[11] A mãe de Lincoln, Nancy, nasceu no atual Condado de Mineral da Virgínia Ocidental e era filha de Lucy Hanks, posteriormente, elas foram viver no Kentucky. Nancy Hanks se casou com Thomas, que se tornou um respeitável cidadão. Ele comprou e vendeu várias fazendas, incluindo a Fazenda Knob Creek (residência de Lincoln de 1811 a 1816). A família participou de uma Igreja Batista que tinha normas morais e oposição a bebida alcoólica, dança e escravidão.[12] Thomas gozava de considerável status no Kentucky, onde ele participou de jurados, avaliava o valor de propriedades, participou de patrulhas de vigilância a escravos no país, e vigiava prisioneiros. No momento em que seu filho Abraham nasceu, Thomas possuía duas fazendas de 600 acres (240 hectares), diversos lotes na cidade, gado e cavalos, estando entre os homens mais ricos do condado. No entanto, em 1816, Thomas perdeu toda a sua terra em processos judiciais por causa de títulos de propriedade com erros.[13]
A família se mudou para o norte, atravessando o Rio Ohio em direção a um território não escravista no qual fez-se um novo capítulo de suas vidas no que era o então Condado de Perry (atual Condado de Spencer) no Indiana. Lincoln observou que esta mudança foi "particularmente devida a escravidão", mas principalmente devido às dificuldades com título de terra.[13] Em Indiana, Lincoln estava com nove anos quando sua mãe morreu em decorrência da ingestão de leite contaminado pela toxina da planta serpentária branca em 5 de outubro de 1818. A irmã mais velha, Sarah, ficou encarregada de cuidar dele até o ano seguinte, quando seu pai se casou novamente. Ela veio a falecer com vinte anos de idade ao dar à luz a um natimorto em 1828.[14]
A nova esposa de Thomas Lincoln era a viúva Sarah Bush Johnston, mãe de três crianças. Abraham se tornou muito próximo a sua madrasta e se referia a ela como "mãe".[15] Um pré-adolescente, não gostava de trabalhos difíceis associados com aquele estilo de vida do Velho Oeste. Alguns familiares, e na vizinhança, por um tempo o consideraram ocioso.[16][17] Com o amadurecimento na adolescência, ele voluntariamente assumiu as responsabilidades por todos os trabalhos esperados para um menino em um lar e se tornou um lenhador em seu trabalho construindo cercas. Ele alcançou reputação através de sua audácia e força corporal após uma luta muito competitiva de wrestling para o qual foi desafiado por um conhecido líder do grupo de desordeiros "os meninos do Bosque de Clary" ("the Clary's Grove boys").[18] Em sua juventude foi considerado um bom lutador, apesar de não se tratar de competições profissionais, o que seria mencionado em suas campanhas políticas por seus apoiantes e oponentes.[19] Lincoln concordou com a obrigação habitual de um filho dar ao seu pai todos os rendimentos de seu trabalho feito antes dos 21 anos,[20] e, mesmo nos anos seguintes, emprestou dinheiro para o pai.[21] Apesar disso, os dois se distanciaram, em parte por causa da ausência de educação paternal. Enquanto a educação formal do jovem consistiu em aproximadamente um ano de aula de vários professores itinerantes, foi essencialmente um autodidata e foi um ávido leitor tendo muitas vezes buscado novos livros no povoado. Ele leu e releu a Bíblia da Versão Autorizada do rei Jaime, as fábulas de Esopo, O Peregrino de Bunyan, Robinson Crusoe de Defoe, e a Autobiografia de Benjamin Franklin.[22][23]
Em 1830, temendo um surto de leite contaminado por uma toxina ao longo do Rio Ohio — doença que já havia provocado a morte da mãe de Lincoln — a família se estabeleceu em terras públicas no Condado de Macon, no estado não escravista de Illinois.[24] Em 1831, Thomas mudou a família para uma nova propriedade rural cedida pelo governo no Condado de Coles, no mesmo estado. Aos 22 anos de idade, com idade suficiente para tomar suas próprias decisões, o ambicioso Lincoln desceu à canoa o rio Sangamon, chegando a vila de New Salem (Condado de Sangamon).[25] Na primavera de 1831, fora contratado junto de amigos pelo empresário Denton Offutt para transportar mercadorias pelos rios Illinois e Mississippi, indo de New Salem à Nova Orleans. Ao chegar em Nova Orleans, testemunhou práticas da escravidão, e voltou para a casa.[26]
Casamento e filhos
O primeiro interesse romântico de Lincoln foi Ann Rutledge, a qual ele conheceu quando se mudou para Nova Salem; em 1835 tiveram um relacionamento informal. Ann veio a falecer aos 22 anos em 25 de agosto de 1835, provavelmente de febre tifóide.[27] No início da década de 1830, conheceu Mary Owens do estado de Kentucky quando ela estava visitando sua irmã. No final de 1836, Lincoln concordou em corresponder à Mary caso ela retornasse a Nova Salem. Mary voltou em novembro de 1836, e Lincoln a cortejou por um certo tempo, porém, ambos tinham dúvidas sobre a relação deles. Em 16 de agosto de 1837, Lincoln escreveu uma carta para Mary sugerindo que ele não iria culpá-la se ela terminasse o namoro. Ela nunca respondeu e pôs fim.[28]
Em dezembro de 1839, Lincoln conheceu Mary Todd em Springfield (Illinois),[29] vindo a noivarem um ano depois.[30] Mary Todd nasceu em uma família rica e escravista de Lexington (Kentucky).[31] O casamento estava agendado para 1 de janeiro de 1841 quando os dois romperam o noivado por iniciativa dele.[29][32] Posteriormente, eles se encontraram novamente em uma festa e se casaram em 4 de novembro de 1842, em Springfield, na mansão da irmã de Mary.[33] Enquanto se preparava para as núpcias e sentindo ansiedade, Lincoln, ao lhe perguntarem onde estava indo, respondeu: "Para o inferno, eu suponho".[34]
Em 1844, o casal comprou uma casa em Springfield, próximo ao escritório de advocacia de Lincoln. Mary Todd Lincoln cuidava do lar, muitas vezes com a ajuda de um parente ou empregada contratada.[35] Robert Todd Lincoln nasceu em 1843 e Edward Baker Lincoln (Eddie) em 1846. Lincoln "foi notavelmente apaixonado pelas crianças",[36] e o casal não era considerado rigoroso com seus filhos.[37] Edward morreu em 1 de fevereiro de 1850 em Springfield, provavelmente de tuberculose. "Willie" Lincoln nasceu em 21 de dezembro de 1850, e morreu em 20 de fevereiro de 1862. O quarto filho, Thomas "Tad" Lincoln, nasceu em 4 de abril de 1853, e morreu aos 18 anos em 16 de julho de 1871 causado possivelmente por tuberculose, problemas pulmonares,[38] pneumonia,[39] ou insuficiência cardíaca.[40][41] Robert foi o único a viver até a idade adulta e ter filhos. Seu último descendente, o neto Robert Todd Lincoln Beckwith, morreu em 1985.[42]
A morte dos filhos teve profundos efeitos nos pais. Abraham Lincoln sofria de "melancolia", uma condição que atualmente é conhecido como depressão clínica.[43] Mais tarde, Mary lutou contra o stress pela perda do marido e dos filhos, sofrendo de alucinações a partir de 1871; Robert Lincoln instaurou um processo alegando demência da mãe e consegue interná-la em um asilo em Batavia (Illinois) em 1875,[44] sendo libertada quatro meses depois com a ajuda da primeira advogada de Illinois, Myra Bradwell. Ela viveu quatro anos no município de Pau (França), onde sofreu uma lesão na espinha ao cair duma escada. Doente, volta para a casa da irmã e falece em 15 de julho de 1882.[45]
O sogro de Lincoln vivia em Lexington (Kentucky); este e outros da família Todd conviviam entre proprietários de escravos ou comerciantes de escravos. Lincoln era muito próximo dos Todds, e sua família ocasionalmente visitava a propriedade Todd em Lexington.[46] Lincoln era afetuoso, embora frequentemente ausente, esposo e pai de quatro filhos.
Início de carreira e serviço militar
Em 1832, aos 23 anos de idade, Lincoln e um sócio compraram uma pequena loja em New Salem (Illinois). Embora a economia estivesse crescendo na região, houve esforço na atividade econômica exercida, e Lincoln eventualmente vendeu sua parte. Naquele mês de março ele iniciou sua carreira política com a primeira campanha para a Assembleia Geral de Illinois (legislatura estadual). Ele alcançou popularidade local e poderia atrair uma considerável quantidade de pessoas como um contador de histórias em New Salem, embora não possuísse uma educação formal, amigos influentes e dinheiro, o que pode ter sido a causa de sua derrota na disputa política na qual defendeu melhorias na navegação no Rio Sangamon.[47]
Antes da eleição, Lincoln serviu como capitão duma milica de Illinois durante a Guerra de Black Hawk.[48] Ao retornar, continuou sua campanha para a eleição em 6 de agosto para a Assembleia Geral de Illinois. Com um metro e noventa e três centímetros (193 cm),[49] ele era alto e "forte o bastante para intimidar qualquer rival". Em seu primeiro discurso, ao ver um apoiante seu sendo atacado, Lincoln segurou o agressor pelo "pescoço e o assento das calças" e o jogou.[50] Lincoln terminou em oitava posição entre treze candidatos (os quatro primeiros foram eleitos) apesar de ter recebido 277 dos 300 votos no distrito eleitoral de New Salem.[51]
Lincoln serviu como agente do correio em New Salem e posteriormente como inspetor do condado. Sempre teve o hábito de realizar leituras. Lincoln decidiu se tornar advogado, e para isso iniciou estudos sobre legislação lendo o livro "Comentários sobre as Leis da Inglaterra" do jurista William Blackstone e outros livros, "mergulhando no assunto a sério" por dois anos. De seu método de ensino, Lincoln declarou: "Eu estudei sozinho".[52] Sua segunda campanha em 1834 o elegeu para a legislatura estadual pelo Partido Whig, tendo recebido apoio de muitos democratas.[53] Ao ser aprovado no exame de admissão para o exercício da advocacia em 1836,[54] se mudou para Springfield (Illinois), trabalhando junto com o colega John Todd Stuart, primo de sua esposa. Lincoln se tornou um ágil advogado com a reputação de ser um adversário formidável durante os interrogatórios e argumentos finais. De 1841 a 1844, Stephen T. Logan se tornou seu sócio, depois trabalhou com William Herndon, cujo acreditou ser "um jovem estudioso".[55] Lincoln foi membro da Câmara dos Representantes pelo Partido Whig em quatro mandatos consecutivos pelo Condado de Sangamon.[56]
Nas atividades legislativas de 1835 a 1836, Lincoln votou para expandir o sufrágio dos homens brancos, seja proprietário de terra ou não.[57] Tornou-se conhecido pela defesa da postura "free soil" (solo livre) em oposição tanto a escravidão quanto o abolicionismo, falando pela primeira vez sobre o tema em 1837, afirmou que "[A] instituição da escravidão está fundada na injustiça e na má política, mas a promulgação das doutrinas abolicionistas tende mais propriamente a aumentar do que diminuir tais males."[58] Acompanhou de perto Henry Clay no apoio do programa American Colonization Society para fazer com que a abolição prática da escravidão ajudasse os escravos libertos a se fixarem no país africano de Libéria.[59]
Congressista Lincoln
No início da década de 1830, Lincoln era um forte partidário Whig e proferiu aos seus colegas em 1861 para serem "um tradicional Whig, um discípulo de Henry Clay".[60] O partido, incluindo Lincoln, favoreceu a modernização econômica no setor bancário, tarifas protecionistas para financiar melhorias internas no avanço de ferrovias e urbanização.[61]
Em 1846, eleito para Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, serviu por um mandato de dois anos como sendo o único Whig na delegação do estado de Illinois, mostrou lealdade ao seu partido por participar em quase todas as votações e fazer discursos remetidos as ideias partidárias.[62] Em colaboração com o congressista abolicionista Joshua R. Giddings, Lincoln elaborou um projeto de lei para abolir a escravidão no Distrito de Columbia com a indenização para com os proprietários, captura dos escravos fugitivos e um plebiscito sobre a questão. No entanto, ele não deu seguimento a proposta ao passo que não obteve apoio suficiente de seus partidários Whigs.[63] Sobre políticas externas e militares, posicionou-se contra a Guerra Mexicano-Americana, atribuindo como o desejo do presidente James K. Polk (D) para a "glória militar, esse atrativo arco-íris, que se levanta em chuvas de sangue".[64] Lincoln apoiou o Wilmot Proviso, que, se aprovado, teria banido a escravidão nos novos territórios conquistados do México.[65]
Lincoln enfatizou sua oposição ao presidente Polk através de uma série de resoluções; a guerra havia iniciado com um massacre do México para com os soldados americanos em território disputado pelo México e os Estados Unidos; Polk insistiu que os soldados mexicanos tinham "invadido nosso território e derramado o sangue dos nossos concidadãos em nosso próprio solo".[66][67] O congressista exigia que Polk mostrasse o local exato no qual ocorreu o derramamento de sangue e que provasse que aquele território era americano.[67] O Congresso nunca aprovou essa resolução ou sequer debateu-a, os jornais nacionais o ignoraram, e o resultado foi uma consequente perda de apoio político em seu distrito.[68][69][70] Lincoln se arrependeu de algumas de suas declarações, especialmente o ataque aos poderes bélicos do presidente.[71]
Percebendo ser pouco provável que Henry Clay conseguisse ser candidato presidencial e se elegesse, Lincoln, que em 1846 tinha prometido a servir por apenas um único mandato na Câmara dos Representantes, apoiou a pré-candidatura do general Zachary Taylor no Partido Whig para a eleição presidencial de 1848.[72] Taylor venceu e Lincoln esperava ser nomeado para comandar o General Land Office,[nota 4] mas o lucrativo emprego foi para um rival de Illinois, Justin Butterfield, considerado pela administração como sendo um advogado altamente habilidoso, mas na visão de Lincoln, um "velho antiquado".[73] A administração ofereceu-lhe como recompensa de consolação a função de secretário ou governador do Território de Oregon, um território distante e extremamente Democrata, o que na prática representava efetivamente o fim de sua carreira política, de forma a qual recusou a proposta e se dedicou às funções de advocacia.[74]
Advogado interiorano
Após um período interrupto de seus exercícios de Direito quando congressista, Lincoln voltou a fazê-lo em Springfield, lindando com "todo o tipo de negócios que viria perante um advogado interiorano".[75] Como de hábito, Lincoln realizava dois circuitos por ano (num total de dezesseis anos), viagens que duravam cerca de dez semanas em cada circuito, tendo comparecido as sedes de condados na região central do estado quando as cortes do condado estavam em sessão.[76] De tal forma ele percorria o seu estado aceitando casos que lhe eram apresentados.[77] Lincoln tratou de muitos casos referentes a meios de transportes na expansão para o Oeste do país, particularmente nos conflitos decorrente das operações das barcaças sob as muitas novas pontes ferroviárias. Como um barqueiro, inicialmente defendeu tais interesses, mas posteriormente representou qualquer um que lhe contratasse.[78] Sua reputação aumentou, e compareceu diante da Suprema Corte dos Estados Unidos, discutindo sobre um caso envolvendo um barco que afundou após bater em uma ponte.[79] Em 1849, Lincoln patenteou um dispositivo de flutuação para a movimentação de barcos em águas rasas. A ideia nunca foi comercializada, mas ele foi o único presidente a obter uma patente.[80][81]
Em 1851, Lincoln representou a companhia ferroviária "Alton & Sangamon Railroad" em uma disputa com um de seus acionistas, James A. Barret, que tinha se negado a comprar ações da ferrovia como prometido, sob o argumento de que a empresa mudou as rotas de trens originalmente traçadas.[82][83] Lincoln persuadiu que a companhia de trens não estava através de seu alvará original comprometida na existência do compromisso firmado naquela época com Barret; o alvará estava retificado pelos interesses públicos mais recentes estipulados, superiores, numa rota menos dispendiosa, de forma que a corporação preservava os direitos de pagamentos requisitados para Barret. A decisão da Corte Suprema de Illinois foi citada por numerosas outras cortes na nação,[82] Lincoln apareceu antes em 175 casos, em 51 deles oferecendo conselhos, dos quais 31 foram decididos a seu favor.[84] De 1853 a 1860, outro notório cliente de Lincoln foi a "Illinois Central Railroad".[85]
O julgamento criminal mais notável do qual Lincoln participou ocorreu em 1858 quando defendeu William "Duff" Armstrong, réu acusado de assassinar James Preston Metzker.[86] A fama ao caso se dá pelo uso de um fato estabelecido por notificação judicial contrariando a credibilidade de uma testemunha ocular. Após uma testemunha afirmar que viu o crime sendo realizado sob a luz do luar, Lincoln apresentou o Farmers' Almanac (periódico estadunidense astronômico e meteorológico), mostrando que a lua estava a um ângulo baixo de forma que reduziu drasticamente a visibilidade. Baseado nesta evidência, Armstrong foi absolvido.[86] Lincoln raramente levantava objeções no tribunal, porém em um caso de 1859 ao defender um primo, Peachy Harrison, acusado de esfaquer uma vítima até a morte, o advogado protestou furiosamente a decisão do juiz por ter excluído evidências favoráveis ao seu cliente. O juiz, um democrata, poderia tê-lo prendido por desacato ao tribunal, mas reverteu sua decisão e permitiu as evidências que levaram a absolvição de Harrison.[86][87]
Mesmo que tivesse bons rendimentos, manteve seu "hábitos simples e modestos", cobrando pouco pelos seus serviços, uma vez que seus clientes não eram em sua maioria detentores de riquezas. Em 1850, diferentemente da elite política, ele resistiu à especulação de terras.[88] O preço dos honorários variavam entre 2,50 e 50 dólares, quando chegavam a altas instâncias, em tribunais federais e a Suprema Corte, esse valor podia chegar a até 100 dólares. Anualmente, seu escritório faturava cerca de 1 200 a 1 500 dólares.[89] Durante 25 anos de advocacia, Lincoln dedicou-se principalmente a questões relacionadas com propriedade. Em seu primeiro ano de trabalho, assumiu 91 casos, dois terços ligados a dívidas. De 1837 a 1861, recebeu 5 600 casos, sendo 194 criminais e 17 assassinatos notórios; as disputas de terras nas estradas de ferro no estado eram as mais movimentadas e lucrativas. Bem-humorado, tinha a habilidade para apontar contradições em depoimentos. O colega William Herndon afirmou que "seu raciocínio lógico, analógico e comparativo era certeiro e mortal".[89][90]
Políticas do Partido Republicano (1854-1860)
A escravidão e a "Casa Dividida"
Na década de 1850, a escravidão era legalmente aceita no sul dos Estados Unidos, mas tinha sido generalizadamente proibida nos estados do norte.[91] Lincoln tinha repúdio dessa prática que se expandia pelos novos territórios à Oeste.[92] Ele voltou para a política afim de se opor ao Ato de Kansas-Nebraska (1854) que permitia a expansão da escravidão que havia sido restringida pelo Compromisso do Missouri (1820). O senador sênior Stephen A. Douglas de Illinois inseriu o conceito de soberania popular numa proposta, a qual Lincoln se opôs, especificava que os colonizadores tinham o direito de determinar localmente se consentiriam com a escravidão no novo território, em vez de restringir a decisão para o Congresso Nacional.[93] Eric Foner (2010) diferencia os abolicionistas e radicais republicanos do Nordeste que viam a escravidão como um pecado, enquanto os conservadores republicanos pensavam que era maléfico por ferir as pessoas brancas e impedir o progresso. Foner argumenta que Lincoln era um moderado, opondo-se a escravidão primariamente por violar os princípios republicanos dos Pais Fundadores, especialmente a igualdade de todos os homens e democraticamente o próprio governo como expresso na Declaração de Independência.[94]
Em 16 de outubro de 1854, em seu discurso de Peoria, Lincoln declarou oposição a escravidão.[95] Falando em sotaque de Kentucky, com uma voz muito forte,[96] disse que o Ato de Kansas tinha "declarado indiferença, mas como eu posso pensar, um verdadeiro zelo secreto para a propagação da escravidão. Eu não posso, mas eu odeio isso. Eu odeio isso por causa de uma injustiça monstruosa da prória escravidão. Eu odeio isso porque priva o nosso exemplo republicano de ser a única influência no mundo ..."[97]
No final de 1854, Lincoln disputou uma vaga para o Senado federal pelo estado de Illinois pelo Partido Whig. Naquele tempo, os senadores eram eleitos pelo Legislativo estadual.[98] Após liderar as seis primeira rodadas de votação na Assembleia de Illinois, a sua força política começou a diminuir, e Lincoln instruiu seus partidários a votarem em Lyman Trumbull, que se elegeu, derrotando o seu oponente Joel Aldrich Matteson.[99] Os Whigs tinham sido irreparavelmente divididos pelo Ato de Kansas-Nebraska. Lincoln escreveu, "Eu acredito ser um Whig, mas os outros dizem que não há Whigs, e que eu sou um abolicionista, apesar de eu não fazer mais do que se opor a expansão da escravidão."[100] Baseando-se em remanescentes do velho Partido Whig, e em membros desiludidos dos partidos Solo Livre, Liberdade e Democrata, ele foi fundamental para forjar o molde do novo Partido Republicano.[101] Na Convenção Nacional Republicana de 1856, Lincoln obteve a segunda colocação para a nomeação do candidato a vice-presidente.[102]
Em 1857 e 1858, Douglas divergiu com o presidente James Buchanan, levando a uma disputa pelo controle do Partido Democrata. Alguns republicanos da parte Oeste da nação viram-se favoráveis a reeleição de Douglas para o Senado em 1858, desde que ele liderasse a oposição com a relação a segunda proposta de constituição estadual do Kansas (Lecompton Constitution), na qual consentia que o Kansas fosse um estado escravocrata.[103] Em março de 1857, a Suprema Corte emitiu a decisão para o Caso Dred Scott, o chefe de justiça Roger B. Taney concluiu que os negros não eram considerados cidadãos, e portanto não estavam protegidos pelos direitos constitucionais. Lincoln atacou a decisão por considerá-la o produto duma conspiração dos democratas.[104] Lincoln argumentou que os "autores da Declaração de Independência nunca pretenderam 'dizer que todos eram iguais em cor, tamanho, intelecto, desenvolvimentos morais ou capacidades sociais', mas eles 'consideravam todos os homens criados iguais, iguais em certos direitos intransferíveis, entre os quais estão a vida, a liberdade, e a busca pela felicidade'."[105]
Após a convenção estadual republicana nomeá-lo candidato ao Senado em 1858, Lincoln pronunciou o seu Discurso da Casa Dividida baseado no evangelho segundo Marcos, capítulo 3, versículo 25: "'Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer.' Eu acredito que este governo não pode suportar, permanentemente, ser metade escravo e metade livre. Eu não espero a dissolução da União, eu não espero ver a casa cair, mas espero que deixe de ser dividida. Terá que se tornar inteiramente algo uno, ou todo de outra forma."[106] O discurso invocou a criação de uma imagem do perigo da desunião causada pelo debate, e reagrupou os republicanos no Norte.[107] O cenário era de campanha eleitoral pela vaga da legislatura de Illinois, na qual deveria escolher-se entre Lincoln ou Douglas como senador dos Estados Unidos.[108]
Os debates Lincoln–Douglas e o discurso da Cooper Union
A campanha para o Senado destacou os sete debates entre Lincoln e Douglas em 1858, um dos debates políticos mais notórios na história estadunidense.[109] Os dois estavam em gritante contraste, tanto na aparência quanto politicamente. Lincoln advertiu que o "Poder dos Escravistas" ("Slave Power") estava ameaçando os valores do republicanismo e acusou Douglas de distorcer os valores dos Pais Fundadores que todos os homens são criados iguais, enquanto Douglas enfatizava sua Doutrina Freeport, na qual os colonizadores locais eram livres para escolher entre permitir ou não a escravidão, e atacou Lincoln por ter reunido os abolicionistas.[110] Os debates tiveram uma atmosfera de uma luta de boxe e atraiu multidões aos milhares. Lincoln afirmou que a teoria de soberania popular de Douglas era uma ameaça à moral da nação e que este representou uma conspiração para estender a escravidão para os estados livres. Seu oponente, por sua vez, declarou que tal estava desafiando a autoridade da Suprema Corte e a decisão do Caso Dred Scott.[111]
Embora os candidatos republicanos para o legislativo tenham obtido mais votos, os democratas conseguiram uma colocação melhor, com mais cadeiras, e a legislatura estadual reelegeu Douglas para o Senado. Apesar da amargura de sua derrota, tratou de articular assuntos que lhe dessem reputação nacional.[112] Em maio de 1859, Lincoln adquiriu o "Illinois Staats-Anzeiger", um jornal em língua alemã que era consideravelmente respeitado; a maioria dos 130 mil teuto-estadunidenses no estado votaram no Partido Democrata, mas havia apoio republicano o suficiente para que fosse mobilizado por um jornal de língua alemã.[113]
Em 27 de fevereiro de 1860, líderes nova-iorquinos do partido convidaram-o para dar um discurso na universidade de Cooper Union para um grupo de influentes republicanos. Lincoln expôs que os Pais Fundadores tinham pouco uso da soberania popular e tinham insistentemente procurado restringir a escravidão, insistindo que a conduta da fundação dos republicanos requeria a oposição à escravidão, e rejeitar qualquer "tentativa de algo intermediário entre o certo e o errado".[114] Apesar de sua aparente deselegância, tendo muitos na plateia o considerado esquisito ou até mesmo feio,[115] Lincoln demonstrou uma liderança intelectual capaz de colocá-lo nas fileiras do partido, indo de encontro com a disputa pela nomeação a candidato presidencial republicano. O jornalista Noah Brooks informou que "nenhum homem nunca antes causou tanta impressão em seu primeiro apelo para um público de Nova Iorque".[116][117] O historiador David Herbert Donald descreve seu discurso como uma "excelente ação política para um candidato desconhecido, que mostra-se um rival de um outro do próprio estado (William H. Seward), em um evento patrocinado por um segundo rival lealista (Salmon P. Chase), e apesar de não mencionar o seu nome durante o seu pronunciamento".[118] Em resposta de um questionamento sobre suas intenções presidenciais, Lincoln disse: "o gosto está um pouco em minha boca".[119]
A nomeação presidencial de 1860 e a campanha
A Convenção Estadual Republicana de Illinois de 9 a 10 de maio de 1860 foi realizada em Decatur.[120] Os partidários de Lincoln organizaram um grupo de campanha liderada por David Davis, Norman Judd, Leonard Swett, e Jesse DuBois, recebendo seu primeiro endosso à corrida pela Presidência.[121] Explorando a lenda adornada de seus tempos com seu pai na fronteira, ganhou de seus defensores o rótulo "The Rail Candidate", em alusão ao candidato dos trilhos de trem.[122] Em 18 de maio, a Convenção Nacional Republicana em Chicago, seus companheiros prometeram e manipularam a vitória na terceira votação, derrotando candidatos como William H. Seward e Salmon P. Chase. Um ex-democrata, Hannibal Hamlin de Maine, foi escolhido como vice-presidente numa expectativa de dar mais equilíbrio à chapa. Seu sucesso se deveu por sua reputação moderada na questão escravocata e pelo seu forte apoio aos programas "Whiggish"[nota 5] por melhorias internas e as tarifas protecionistas.[123] Na terceira votação, o estado da Pensilvânia colocou-o no topo. Os interesses da Pensilvânia pelo ferro foram garantidos pela proposta protecionista.[124] Os gestores da campanha de Lincoln focaram habilmente nesta delegação tão bem quanto em outras, seguindo um forte ditame do candidato para "não fazer contratos que me vinculem".[125]
A maioria dos republicanos concordaram com Lincoln que o Norte foi o lado prejudicado nos acontecimentos, o "Slave Power" obstruiu a aliança do governo federal com a descisão do Caso Dred Scott e o mandato do presidente James Buchanan. Ao longo dos anos de 1850, Lincoln duvidou da perspectiva de uma guerra civil, e seus seguidores rejeitaram a alegação de que sua eleição pudesse representar um estopim para esta secessão.[126] Enquanto isso, Stephen A. Douglas foi nomeado candidato democrata pelo Norte. Delegados de onze estados abandonaram a Convenção Nacional Democrata, em desacordo com a posição de soberania popular proposta por Douglas; e escolheram John C. Breckinridge como candidato para representá-los.[127]
Tal como Douglas e outros candidatos fizeram suas campanhas, Lincoln foi o único deles que não realizou discursos. Em vez disso, monitorou a campanha de perto e contou com o entusiasmo do Partido Republicano. O partido viajou a pé e conseguiu maioria no Norte, produziu uma abundância de pôsteres, panfletos, e editoriais jornalísticos. Havia milhares de oradores republicanos que se concentraram principalmente na plataforma partidária e em segundo na história de vida de Lincoln, enfatizando a pobreza financeira em que se encontrava na infância. O objetivo era demonstrar o poder superior do "trabalho livre", em que um menino comum vindo da agricultura poderia trabalhar de seu modo até alcançar o topo por seus próprios esforços.[128] A produção literária durante a campanha do Partido Republicano reduziu a força da oposição; um escritor do "Chicago Tribune" produziu um folheto com uma biografia detalhada do candidato, e vendeu de cem mil a duzentas mil cópias.[129]
Presidência
A eleição de 1860 e a secessão
Em 6 de novembro de 1860, Lincoln foi eleito o décimo sexto presidente dos Estados Unidos e o primeiro presidente pelo Partido Republicano; derrotando seus oponentes: o democrata Stephen A. Douglas, o democrata sulista John C. Breckinridge, e John Bell do recém-criado Partido União Constitucional. Tendo ganhado a eleição inteiramente com o apoio do Norte e Oeste, nenhum voto lhe foi depositado em dez de quinze estados escravocratas do Sul, e obteve maioria em apenas 2 de 996 condados sulistas.[130] Lincoln recebeu 1 866 452 votos, Douglas conseguiu 1 376 957 votos, Breckinridge com 849 781 votos e John Bell com 588 789 votos. O comparecimento eleitoral foi 82,2%, tendo Lincoln vencido nos estados livres do Norte, bem como na Califórnia e no Oregon. Douglas conquistou o Missouri e dividiu os votos de Nova Jersey com Lincoln.[131] Bell saiu vitorioso na Virgínia, no Tennessee, e Kentucky, sendo o restante dos estados do Sul vencidos por Breckinridge.[132] Embora tenha conseguido uma maioria simples no voto popular, o resultado do colégio eleitoral foi decisivo: Lincoln teve 180 e seus oponentes somados conseguiram 123 votos. Havia coligações políticas na qual os opositores do abolicionista se comprometeram em apoiar a mesma chapa de eleitores Nova Iorque, Nova Jersey e Rhode Island, mas mesmo que todos os seus oponentes se unissem, ainda assim o republicano teria sido eleito por uma maioria no Colégio Eleitoral.[133]
Sendo evidente a eleição de Lincoln que estava por vir, os secessionistas deixaram claro a intenção de sair da União antes que ele tomasse posse em março.[134] Em 20 de dezembro de 1860, a Carolina do Sul se tornou o primeiro estado a declarar a secessão; em 1 de fevereiro de 1861, Flórida, Mississippi, Alabama, Geórgia, Louisiana e Texas seguiram a separação.[135][136] Seis desses estados adotaram uma Constituição e declararam eles próprios serem uma nação soberana, os Estados Confederados da América.[135] Os estados do Sul mais ao norte e os estados da fronteiriços (Delaware, Maryland, Virgínia, Carolina do Norte, Tennessee, Kentucky, Missouri e Arkansas) inicialmente rejeitaram o apelo separatista.[137] O presidente James Buchanan e o prtesidente-eleito Lincoln recusaram-se a reconhecer os Confederados, declarando que isto era ilegal.[138] Os Confederados escolheram Jefferson Davis como seu presidente provisório em 9 de fevereiro de 1861.[139]
Houveram tentativas de um acordo. O Compromisso Crittenden extenderia a linha do Compromisso de Missouri de 1820, dividindo os territórios entre escravocratas e livres, contrariando a plataforma de solo-livre do Partido Republicano.[140] Lincoln rejeitou a ideia, afirmando, "Eu irei padecer de morte antes de consentir (...) com uma concessão ou acordo que veja isto como uma compra de privilegio para tomar posse deste governo na qual teremos um direito constitucional."[141] No entanto, apoiou taticamente a proposta de Emenda Corwin à Constituição, que aprovada pelo Congresso antes de Lincoln tomar posse e aguardava a ratificação pelos estados. A proposta de emenda deveria proteger a escravidão nos estados onde já existia e teria garantido que o Congresso não interferiria no assunto escravista sem o consentimento do Sul.[142][143] Algumas precedentes à guerra, Lincoln enviou uma carta para cada governador informando-os que o Congresso aprovou um conjunto de resoluções de emenda constitucional.[144] Lincoln estava aberto a possibilidade de uma convenção constitucional para fazer novas alterações.[145]
Na viagem de trem para a sua posse, Lincoln entrou em contato com multidões e várias legislaturas no Norte.[146] O presidente-eleito contornou uma possível tentativa de assassinato em Baltimore, descoberto por seu chefe de segurança, Allan Pinkerton. Em 23 de fevereiro de 1861, chegou disfarçado em Washington D.C., tendo sido colocado sob guarda militar.[147] Lincoln direcionou seu discurso de posse para o Sul, anunciando mais uma vez que não possuía intenção, ou inclinação, a abolir a escravidão nos estados do Sul:
A apreensão parece existir entre as pessoas dos estados sulistas, na qual a ascensão de uma administração republicana faz suas propriedades, e sua paz, e sua segurança pessoal estarem em perigo. Nunca houve qualquer motivo razoável para tal apreensão. De fato, a mais ampla evidência do contrário existe o tempo todo e foi aberto ao seu controle. Pode ser encontrado em quase todos os discursos publicados daquele que agora dirige a você. Eu faço citar um daqueles discursos em que declarei: "Eu não possuo nenhuma proposta, direta ou indiretamente, em interferir na instituição da escravidão nos estados em que existe. Acredito que não tenho o direito legal de fazê-lo, e eu não tenho nenhuma inclinação para fazê-lo."— Primeiro discurso de posse, 4 de março de 1861.[148]
O presidente terminou seu discurso com um apelo para o povo do Sul: "Nós não somos inimigos, somos amigos. Nós não deveríamos ser inimigos (...) Os acordes místicos da memória, que se estende de cada campo de batalha, e patriota, a cada coração vivo e lareira, em todo esse amplo terreno, ainda vai expandir o coro da União, quando novamente tocado, como certamente será, pelos melhores anjos da nossa natureza".[149] O fracasso da Conferência de Paz de 1861 sinalizou que o compromisso legislativo foi implausível. Em março de 1861, nenhum líder da insurreição propôs reunir União em quaisquer condições. Enquanto isso, Lincoln e quase todos os líderes republicanos concordaram que o desmantelamento da União não poderia ser tolerado.[150]
O início da guerra
O comandante do Fort Sumter (Carolina do Sul), o major Robert Anderson, enviou uma requisição de provisões à Washington, com o pedido tendo sido atendido por Lincoln. Os separatistas viram essa atitude como uma forma de o governo federal estar presente naquele local, portanto, um estopim para a guerra. Em 12 de abril de 1861, as foças confederadas dispararam contra as tropas da União no Fort Sumter, forçando-os a se renderem, e começando a guerra. O historiador Allan Nevins argumenta que a recente posse de Lincoln fez ocorrer três enganos: subestimou a gravidade da crise, exagerou o forte sentimento da União no Sul, e não percebeu os sulistas que se opuseram à separação e foram insistentemente contrários a qualquer invasão.[151] William Tecumseh Sherman dialogou com Lincoln durante a semana de posse e estava "tristemente desapontado" com o fracasso no qual "o país estava dormindo sobre um vulcão" enquanto o Sul estava se preparando para a guerra.[152] Donald conclui que "seus repetidos esforços em evitar um conflito nos meses entre a posse e o ataque do Fort Sumter pelos confederados mostrou que ele cumpriu a sua promessa de não ser o primeiro a derramar o sangue fraternal; porém ele também prometeu não entregar os fortes. A única proposta dessas posições contraditórias era para que os confederados disparassem o primeiro tiro, o que de fato ocorreu."[153]
Em 15 de abril, Lincoln apelou a todos os estados para enviarem destacamentos, totalizando 75 mil tropas para recapturar fortes, proteger Washington, e preservar a "União", que, em sua visão, ainda existiam intactas apesar dos acontecimentos nos estados separatistas. Este apelo forçou os estados a escolherem um dos lados. A Virgínia declarou secessão e foi recompensada com a capital confederada, apesar da posição da cidade de Richmond estar próxima às linhas de frente da União. Carolina do Norte, Tennessee, e Arkansas também votaram pela secessão durante os próximos dois meses. O sentimento separatista era forte no Missouri e Maryland, mas não prevaleceu; Kentucky tentou ser neutro.[154]
Em 19 de abril, simpatizantes confederados em Baltimore que controlavam a malha ferroviária atacaram tropas que viajavam para a capital. George William Brown, prefeito de Baltimore, a outros políticos de Maryland suspeitos foram detidos e presos, sem mandado e sendo suspenso o habeas corpus.[155] John Marryman, um líder dum grupo separatista em Maryland, requereu ao chefe de justiça Roger B. Taney o decreto de um habeas corpus, afirmando que sua prisão sem uma audiência era inconstitucional. Taney aceitou o pedido de habeas corpus decretando-o, mas Lincoln ignorou a decisão judicial. Em seguida e durante a guerra, Lincoln sofreu fortes críticas dos democratas antiguerra, chamados de Copperheads.[156]
Assumindo o comando da União em guerra
Após a queda do Forte Sumter, Lincoln notou a importância de tomar o imediato controle da guerra e fazer um plano para pôr fim à rebelião. Lincoln encontrou uma crise política e militar sem precedentes, e respondeu atuando como comandante em chefe, usando de poderes sem precedentes. Ampliado seus poderes bélicos, impôs um bloqueio à todos os portos marítimos confederados, desembolsou fundos antes da aprovação pelo Congresso, e após suspender o habeas corpus, prendeu milhares de suspeitos simpatizantes dos confederados. Apoiado pelo Congresso e o povo nortista, reforçou os laços de simpatizantes da União nos estados de fronteira.[157]
Lincoln concentrou os esforços bélicos que toamram lhe grande parte do tempo e a atenção. Desde o início ficou evidenciado que o apoio bipartidário seria essencial para obter-se a vitória, e qualquer compromisso incluiu facções de ambos os lados, tais como a nomeação de republicanos e democratas para posições de comando das Forças Armadas. Os Copperheads criticaram-o pela recusa a comprometer-se com a questão escravocrata; enquanto que os radicais republicanos reprovaram a lentidão do governo em realizar a abolição.[158] Em 6 de agosto de 1861, Lincoln assinou o "Confiscation Act" que autorizou processos judiciários a confiscar escravos livres usados pelas ações confederadas em guerra. Na prática a lei teve pouco efeito, mas sinalizou o apoio político para abolir a escravidão nos Estados Confederados.[159]
O Governo Lincoln (síntese)
A marcha dos acontecimentos acelerou-se no Sul durante os meses que antecederam a posse de Lincoln na Presidência. Vários líderes do Sul haviam ameaçado retirar seus estados da Federação caso Lincoln ganhasse as eleições. Quando ele tomou posse, em março de 1861, sete estados do Sul haviam-se retirado e mais quatro fizeram o mesmo depois. Esses estados formaram, então, os Estados Confederados da América. Apesar de ter intentado um esforço extraordinário de conciliação, a sua escolha eleitoral para aquele cargo provocou a eclosão da Guerra Civil Americana. Em 12 de abril, os confederados bombardeavam o forte Sumter. Lincoln enfrentou a crise com energia: decretou o bloqueio dos portos sulistas e aumentou o exército além dos limites impostos pela lei. Após perderem as primeiras batalhas, os nortistas acabaram por vencer a guerra, a qual durou quatro anos e deixou um saldo de 600 mil mortos. Apesar dos insucessos iniciais e da consequente impopularidade, Lincoln jamais se deixou abater. Para ele, os EUA representavam uma experiência da capacidade de um povo para se governar a si mesmo. Em 22 de Setembro de 1862 publicou a proclamação que concedia a liberdade aos escravos dos estados confederados. Aos olhos das outras nações, a libertação deu um novo sentido à guerra e abriu caminho para a abolição da escravatura em todo o país, em 1865. Em 1864, as vitórias dos nortistas possibilitaram a reeleição de Lincoln, cujo novo mandato teve início no ano seguinte.
Assassinato
John Wilkes Booth, um conhecido ator e espião Confederado de Maryland, formulara originalmente um plano de sequestrar Lincoln em troca da libertação de prisioneiros Confederados. Após presenciar um discurso em 11 de abril no qual Lincoln prometia direito de voto aos negros, um enfurecido Booth mudou de ideia, determinado agora a assassinar o presidente.[160]
Em 14 de abril de 1865, ao ficar sabendo que o presidente e a primeira-dama assistiriam a uma peça no Teatro Ford, ele deu continuidade a seus planos, combinando com cúmplices o assassinato simultâneo do vice-presidente Andrew Johnson e do secretário de estado William Henry Seward. Sem seu guarda-costas principal, Ward Hill Lamon, a quem ele teria relatado um sonho três dias antes que predizia sua morte, Lincoln deixou a Casa Branca para assistir à encenação da peça Our American Cousin no Ford, acompanhado em seu camarote pelo major Henry Rathbone e sua noiva Clara Harris.
Enquanto um segurança solitário vigiava as cercanias e Lincoln permanecia em seu camarote, Booth se esgueirou para dentro do cômodo e aguardou um momento particularmente engraçado durante a peça, esperando que os risos da plateia abafassem o barulho do tiro. No exato momento, Booth entrou no camarote e disparou a queima-roupa sua Deringer calibre .44 - tiro único contra a cabeça do Presidente. O major Rathbone lutou momentaneamente com Booth, mas foi subjugado ao sofrer um corte profundo de punhal no braço. O assassino então pulou ao palco e gritou Sic semper tyrannis! (latim: "Isso sempre acontece com os tiranos!") e escapou, apesar de ter quebrado a perna durante o salto.[161] O Presidente morreu no dia seguinte, dia 15 de abril de 1865, na Petersen House, para onde foi levado após o atentado, sendo o primeiro Presidente norte-americano assassinado durante o seu mandato.
Uma caçada humana de doze dias teve início, com Booth perseguido por agentes federais sob a direção do secretário de guerra Edwin M. Stanton. Ele foi finalmente encurralado e baleado em um celeiro na Virgínia, morrendo, em consequência dos ferimentos, pouco depois.[161]
Abraham Lincoln foi sepultado no Cemitério Oak Ridge, Springfield, Illinois nos Estados Unidos.[162]
Ver também
- Estado de Lincoln - nome recorrente em propostas de criação de novos estados nos Estados Unidos da América;
- Lincoln - filme norte-americano de 2012 com Daniel Day-Lewis e Tommy Lee Jones.
Notas
- ↑ O Commanding General (comandante geral) era o maior posto militar a nível nacional na época.
- ↑ A cúpula do oposicionista Partido Democrata defendia um acordo de paz entre a União e os Confederados. Os chamdos "Democratas Bélicos" (em tradução livre) eram os membros deste partido que não concordavam com este aspecto partidário. Postriormente, a união dos "Democratas Bélicos" com alguns "Republicanos" formou o Partido União Nacional.[1]
- ↑ Facção do Partido Republicano que defendia fortemente o fim da escravidão e um tratamento de igualdade para com os negros.[2]
- ↑ Agência governamental responsável pelas terras públicas do País. Em tradução livre, o cargo esperado por Lincoln era o de "Comissário do Gabinete de Terras Gerais".
- ↑ Referente ao Partido Whig.
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- ↑ a b Swanson, James L. (2009). Manhunt: The 12-Day Chase for Lincoln's Killer. [S.l.]: HarperCollins. ISBN 9780060518509
- ↑ Abraham Lincoln (em inglês) no Find a Grave [fonte confiável?]
Ligações externas
- «The Lincoln Institute». (em inglês)
- «Mr. Lincoln's White House». (em inglês)
- «Abraham Lincoln Research Site». (em inglês)
- «Abraham Lincoln Assassination». (em inglês)
- «Mr. Lincoln and Freedom». (em inglês)
- «Mr. Lincoln and Friends». (em inglês)
- «Mr. Lincoln and New York». (em inglês)
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