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Caso Richthofen: diferenças entre revisões

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Suzane Louise Von Richthofen ([[São Paulo (cidade)|São Paulo]], [[3 de novembro]] de [[1983]]) nasceu numa [[família]] de [[classe média alta]] da [[São Paulo (cidade)|capital]] de [[São Paulo]]. Suzane morava em um [[mansão|casarão]] em um [[bairro nobre]] da zona sul paulistana ([[Brooklin Velho|Brooklin]]).<ref>[http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL951-5605,00.html Suzane Von Richthofen presta depoimento no Ministério Público de Ribeirão Preto]</ref> Filha do [[engenheiro]] [[Manfred Albert von Richthofen]] e da [[psiquiatra]] [[Marísia von Richthofen]] e irmã de Andreas Albert von Richthofen. Seu pai, nascido em [[Erbach]] ([[Alemanha]]), emigrou para o [[Brasil]] após um convite de trabalho, recebido devido a sua capacitação como engenheiro.
Suzane Louise Von Richthofen ([[São Paulo (cidade)|São Paulo]], [[3 de novembro]] de [[1983]]) nasceu numa [[família]] de [[classe média alta]] da [[São Paulo (cidade)|capital]] de [[São Paulo]]. Suzane morava em um [[mansão|casarão]] em um [[bairro nobre]] da zona sul paulistana ([[Brooklin Velho|Brooklin]]).<ref>[http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL951-5605,00.html Suzane Von Richthofen presta depoimento no Ministério Público de Ribeirão Preto]</ref> Filha do [[engenheiro]] [[Manfred Albert von Richthofen]] e da [[psiquiatra]] [[Marísia von Richthofen]] e irmã de Andreas Albert von Richthofen. Seu pai, nascido em [[Erbach]] ([[Alemanha]]), emigrou para o [[Brasil]] após um convite de trabalho, recebido devido a sua capacitação como engenheiro.


Meiga, simpática e um pouco tímida, Suzane sempre foi popular entre os amigos. Louca por bichinhos de pelúcia, tinha predileção por um urso marrom. Também gostava de distribuir brinquedos do gênero. Para uma amiga, deu de presente uma caixa preta e amarela que imita um dado. Para outra, comprou uma almofada vermelha em forma de coração e a recheou com balas e bombons. Nas horas vagas, Suzane saía com as colegas para perambular em shopping centers nas vizinhanças. Olhava as vitrines e comprava roupas com a mesada que ganhava do pai, cerca de R$ 4 mil mensais. No auge do axé, curtia a música baiana. Na onda tecno, passou a gostar de música eletrônica. Como quase toda adolescente, copiava o figurino das amigas.<ref name="epocadez2002">http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG54308-5990,00-NO+RASTRO+DE+SUZANE.html</ref>
Meiga, simpática e um pouco tímida, Suzane sempre foi popular entre os amigos. Louca por bichinhos de pelúcia, tinha predileção por um urso marrom. Também gostava de distribuir brinquedos do gênero. Para uma amiga, deu de presente uma caixa preta e amarela que imita um dado. Para outra, comprou uma almofada vermelha em forma de coração e a recheou com balas e bombons. Nas horas vagas, Suzane saía com as colegas para perambular em shopping centers nas vizinhanças. Olhava as vitrines e comprava roupas com a mesada que ganhava do pai, cerca de R$ 4 mil mensais. No auge do axé, chegou a curtir o carnaval baiano mas a sua "onda" era música eletrônica. Frequentava festas de música tecno, onde conheceu o [[ecstasy]]. Na Europa, assistiu o show de suas bandas favoritas, [[Sash]] e [[Lasgo]]. Como quase toda adolescente, copiava o figurino das amigas.<ref name="epocadez2002">http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG54308-5990,00-NO+RASTRO+DE+SUZANE.html</ref>


No colégio, Suzane esteve entre os melhores alunos desde o pré-escolar. Foi alfabetizada aos 5 anos. 'Era muito carinhosa e vivaz', lembra Kátia Martinho, diretora do Colégio Criativa, o primeiro que a garota freqüentou. 'Demonstrava ter limites bem definidos. Não era birrenta e aceitava perfeitamente o 'não'.' No Humboldt, onde estudou da 1a série do ensino fundamental até o fim do ensino médio, tinha rotina regrada. O pai a deixava na porta da escola de manhã. Às 13h15 ela voltava para casa de perua escolar. Na 6a série, por desejo dos pais, passou para a turma B, a classe onde só se fala em alemão. A garota tirava as notas mais altas da turma, mas não era a mais certinha. 'Ela passava cola e matava mais aula que a gente. Ia ao shopping ou ficava no barzinho ao lado do colégio', lembra uma amiga. Dos 12 aos 16 anos, Suzane também esteve entre os melhores alunos do curso de caratê da academia Fight Gym, no bairro do Campo Belo. Chegou à faixa preta. Três vezes por semana, os pais iam levá-la e buscá-la. 'Jamais a vi perder o controle durante as aulas. Ela estava sempre tranqüila e disciplinada', conta o professor Luciano Basile. Na PUC, onde cursava o primeiro ano de Direito, era uma aluna alegre. 'Sentava no fundo da sala, raramente fazia intervenções e tirava boas notas', descreve a professora Daniela Libório. Poucos meses antes do assassinato, parecia ter boa relação com os pais.<ref name="epocadez2002"/>
No colégio, Suzane esteve entre os melhores alunos desde o pré-escolar. Foi alfabetizada aos 5 anos. 'Era muito carinhosa e vivaz', lembra Kátia Martinho, diretora do Colégio Criativa, o primeiro que a garota freqüentou. 'Demonstrava ter limites bem definidos. Não era birrenta e aceitava perfeitamente o 'não'.' No Humboldt, onde estudou da 1a série do ensino fundamental até o fim do ensino médio, tinha rotina regrada. O pai a deixava na porta da escola de manhã. Às 13h15 ela voltava para casa de perua escolar. Na 6a série, por desejo dos pais, passou para a turma B, a classe onde só se fala em alemão. A garota tirava as notas mais altas da turma, mas não era a mais certinha. 'Ela passava cola e matava mais aula que a gente. Ia ao shopping ou ficava no barzinho ao lado do colégio', lembra uma amiga. Dos 12 aos 16 anos, Suzane também esteve entre os melhores alunos do curso de caratê da academia Fight Gym, no bairro do Campo Belo. Chegou à faixa preta. Três vezes por semana, os pais iam levá-la e buscá-la. 'Jamais a vi perder o controle durante as aulas. Ela estava sempre tranqüila e disciplinada', conta o professor Luciano Basile. Na PUC, onde cursava o primeiro ano de Direito, era uma aluna alegre. 'Sentava no fundo da sala, raramente fazia intervenções e tirava boas notas', descreve a professora Daniela Libório. Poucos meses antes do assassinato, parecia ter boa relação com os pais.<ref name="epocadez2002"/>
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== Família von Richthofen ==
== Família von Richthofen ==


[[Manfred Albert von Richthofen]] e Marísia se conheceram na década de 70, quando ela cursava medicina e ele fazia engenharia na USP. Depois do casamento, foram estudar na Alemanha. Na volta, ele começou a trabalhar para empresas privadas até chegar à Dersa, a estatal que cuida de estradas em São Paulo. Quando voltou da Alemanha, Marísia, abriu um consultório de psiquiatria. Suzane nasceu em 3 de novembro 1983. Virou a alegria do casal. Quatro anos depois, em 26 de abril de 1987, veio o caçula, Andreas. Nas vizinhanças da casa onde a família morou por quase 15 anos, na Zona Sul de São Paulo, os quatro são lembrados com simpatia. 'Era a família Doriana, a família feliz', diz a psicóloga Luciane Mazzolenis, vizinha do casal, a quem Suzane chamava de tia. Os Richthofen se mudaram do sobrado - avaliado em R$ 400 mil - em 2000. Mas Manfred e os filhos iam com freqüência à casa, pegar correspondências e varrer as folhas do quintal. A vida pacata da família só começou a ruir diante dos conhecidos quando Daniel entrou em cena.<ref name="epocadez2002"/> Manfred era um alemão típico: não era uma pessoa expansiva, mas tinha muito bom humor, era muito inteligente e prezava pela educação dos filhos.<ref>http://www.estadao.com.br/arquivo/cidades/2002/not20021108p20949.htm</ref>
[[Manfred Albert von Richthofen]] e Marísia se conheceram na década de 70, quando ela cursava medicina e ele fazia engenharia na USP. Depois do casamento, foram estudar na Alemanha. Na volta, ele começou a trabalhar para empresas privadas até chegar à Dersa, a estatal que cuida de estradas em São Paulo. Quando voltou da Alemanha, Marísia, abriu um consultório de psiquiatria. Suzane nasceu em 3 de novembro 1983. Virou a alegria do casal. Quatro anos depois, em 26 de abril de 1987, veio o caçula, Andreas. Nas vizinhanças da casa onde a família morou por quase 15 anos, na Zona Sul de São Paulo, os quatro são lembrados com simpatia. 'Era a família Doriana, a família feliz', diz a psicóloga Luciane Mazzolenis, vizinha do casal, a quem Suzane chamava de tia. Os Richthofen se mudaram do sobrado - avaliado a época em R$ 400 mil (R$ 1 milhão de reais em valores atualizados a fevereiro de [[2013]]) - em 2000. Mas Manfred e os filhos iam com freqüência à casa, pegar correspondências e varrer as folhas do quintal. A vida pacata da família só começou a ruir diante dos conhecidos quando Daniel entrou em cena.<ref name="epocadez2002"/> Manfred era um alemão típico: não era uma pessoa expansiva, mas tinha muito bom humor, era muito inteligente e prezava pela educação dos filhos.<ref>http://www.estadao.com.br/arquivo/cidades/2002/not20021108p20949.htm</ref>


Sobre o [[parentesco]] do pai de Suzane com o lendário aviador alemão [[homônimo]], [[alcunha]]do de "[[Manfred von Richthofen|Barão Vermelho]]", ainda há versões conflitantes e nenhuma definitiva sobre a veracidade dos supostos vínculos familiares. O jornal alemão "Bild-Zeitung" publicou uma reportagem logo após o assassinato, na qual descendentes reconhecidos do aviador teriam negado que a família teuto-brasileira tivesse ligação com a sua. Todavia, ainda não foram apresentadas provas contundentes sobre nenhuma das duas versões, seja a que sustenta o parentesco, seja a que o nega.
Sobre o [[parentesco]] do pai de Suzane com o lendário aviador alemão [[homônimo]], [[alcunha]]do de "[[Manfred von Richthofen|Barão Vermelho]]", ainda há versões conflitantes e nenhuma definitiva sobre a veracidade dos supostos vínculos familiares. O jornal alemão "Bild-Zeitung" publicou uma reportagem logo após o assassinato, na qual descendentes reconhecidos do aviador teriam negado que a família teuto-brasileira tivesse ligação com a sua. Todavia, ainda não foram apresentadas provas contundentes sobre nenhuma das duas versões, seja a que sustenta o parentesco, seja a que o nega.
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Andreas era considerado tímido, um garoto caseiro, com poucos amigos. Passava a maior parte do tempo trancado no quarto vendo televisão ou no computador, era educado com os empregados da mansão e esperava a chegada de seu pai todos os dias, quando comentava sobre seu dia, afirma a ex-empregada Silândia Costa dos Santos.<ref name="epocaoirmao">http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG74375-6014,00-O+IRMAO.html</ref> Quando a família ia para o sítio, em [[São Roque]], interior de [[São Paulo]], Andreas e Manfred faziam objetos de marcenaria e cuidavam das plantas do jardim. Acostumado com o estilo europeu de educação dentro e fora de casa já que estudou por anos em um colégio para ascendentes de alemães, o garoto estudava dois idiomas e era faixa marrom de [[caratê]]. Andreas tem temperado reservado, como seu pai, segundo amigos da famí­lia. Recebia cerca de R$ 2 mil mensais de mesada dos pais e ao contrário de Suzane, guardava a maior parte do dinheiro.<ref>http://www.estadao.com.br/arquivo/nacional/2002/not20021109p54173.htm</ref><ref>http://www.estadao.com.br/arquivo/nacional/2002/not20021109p54174.htm</ref>
Andreas era considerado tímido, um garoto caseiro, com poucos amigos. Passava a maior parte do tempo trancado no quarto vendo televisão ou no computador, era educado com os empregados da mansão e esperava a chegada de seu pai todos os dias, quando comentava sobre seu dia, afirmou a ex-empregada Silândia Costa dos Santos.<ref name="epocaoirmao">http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG74375-6014,00-O+IRMAO.html</ref> Quando a família ia para o sítio, em [[São Roque]], interior de [[São Paulo]], Andreas e Manfred faziam objetos de marcenaria e cuidavam das plantas do jardim. Acostumado com o estilo europeu de educação dentro e fora de casa já que estudou por anos em um colégio para ascendentes de alemães, o garoto estudava dois idiomas e era faixa marrom de [[caratê]]. Andreas tem temperado reservado, como seu pai, segundo amigos da famí­lia. Recebia cerca de R$ 2 mil mensais de mesada dos pais e ao contrário de Suzane, guardava a maior parte do dinheiro.<ref>http://www.estadao.com.br/arquivo/nacional/2002/not20021109p54173.htm</ref><ref>http://www.estadao.com.br/arquivo/nacional/2002/not20021109p54174.htm</ref>
Suzane, além de irmã de sangue, era "irmã de alma" de Andreas. De acordo com os relatos, os dois sempre foram unidos, cúmplices e confidentes. "Um sempre protegeu o outro", afirma uma amiga de infância da garota. "Nunca vi os dois brigar. Eles conversavam muito e se davam bem", diz Silândia.<ref name="epocaoirmao"/>
Suzane, além de irmã de sangue, era "irmã de alma" de Andreas. De acordo com os relatos, os dois sempre foram unidos, cúmplices e confidentes. "Um sempre protegeu o outro", afirmou uma amiga de infância da garota. "Nunca vi os dois brigar. Eles conversavam muito e se davam bem", disse a ex-funcionária Silândia.<ref name="epocaoirmao"/>


== Crime ==
== Crime ==
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"Chegamos em casa, eu entrei e fui até o quarto dos meus pais. Eles estavam dormindo. Aí, eu desci, acendi a luz e falei que eles podiam ir. Fiquei sentada no sofá, com a mão no ouvido. Eu não queria mais que meus pais morressem. Mas aí eu percebi que não tinha mais o que fazer, que já era muito tarde", confessou Suzane no depoimento após ser detida.<ref name="ig1">http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/crimes/caso-suzane-von-richthofen/n1596994333920.html</ref>
"Chegamos em casa, eu entrei e fui até o quarto dos meus pais. Eles estavam dormindo. Aí, eu desci, acendi a luz e falei que eles podiam ir. Fiquei sentada no sofá, com a mão no ouvido. Eu não queria mais que meus pais morressem. Mas aí eu percebi que não tinha mais o que fazer, que já era muito tarde", confessou Suzane no depoimento após ser detida.<ref name="ig1">http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/crimes/caso-suzane-von-richthofen/n1596994333920.html</ref>


Não há certeza sobre a posição de Suzane na casa enquanto o crime ocorria e se, depois, ela viu os corpos dos pais. De acordo com a reconstituição do crime, ela ficou no térreo, onde aproveitou para roubar o dinheiro em espécie que havia na casa, guardado dentro de uma pasta de couro com código. Suzane abriu a maleta pois sabia o segredo, mas Daniel depois cortou a pasta com uma faca para forjar o roubo de [[R$]] 8.000 e [[US$]] 5.000.<ref name="ig1"/> Eles ainda abriram um cofre do casal, onde estavam jóias e um revólver, localizado no quarto. Os acusados espalharam as jóias pelo chão e deixaram o revólver, intacto, ao lado do corpo do engenheiro.<ref name="folha2"/> Os bastões ensanguentados foram lavados na piscina e tudo que foi usado no crime foi colocado dentro de sacos de lixo, tendo os três inclusive trocado de roupa.<ref name="ig1"/>
Não há certeza sobre a posição de Suzane na casa enquanto o crime ocorria e se, depois, ela viu os corpos dos pais. De acordo com a reconstituição do crime, ela ficou no térreo, onde aproveitou para roubar o dinheiro em espécie que havia na casa, guardado dentro de uma pasta de couro com código. Suzane abriu a maleta pois sabia o segredo, mas Daniel depois cortou a pasta com uma faca para forjar o roubo de [[R$]] 8.000, [[€]] 6.000 e [[US$]] 5.000 (um total de R$ 79 mil, em valores atualizados a fevereiro de 2013).<ref name="ig1"/> Eles ainda abriram um cofre do casal, onde estavam jóias e um revólver, localizado no quarto. Os acusados espalharam as jóias pelo chão e deixaram o revólver, intacto, ao lado do corpo do engenheiro.<ref name="folha2"/> Os bastões ensanguentados foram lavados na piscina e tudo que foi usado no crime foi colocado dentro de sacos de lixo, tendo os três inclusive trocado de roupa.<ref name="ig1"/>


O dinheiro roubado e algumas joias ficaram com Cristian, como pagamento por sua participação. Após o crime, ele foi deixado perto do apartamento onde morava com a avó, e o casal passou à terceira parte do plano: forjar o álibi. Suzane e Daniel foram para o motel Colonial na avenida Ricardo Jafet, na região do Ipiranga, zona sul. Ficaram na suíte presidencial, por qual pagaram cerca de R$ 380, pediram uma [[Coca-Cola]] e um lanche de presunto. Daniel curiosamente pediu uma nota fiscal, a primeira expedida pelo motel.<ref name="ig1"/> O casal ficou no local da 1h36 às 2h56, segundo a polícia.<ref name="ultimainstancia">http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/23354/noticias+ultimainstancia.shtml</ref>
O dinheiro roubado e algumas joias ficaram com Cristian, como pagamento por sua participação. Após o crime, ele foi deixado perto do apartamento onde morava com a avó, e o casal passou à terceira parte do plano: forjar o álibi. Suzane e Daniel foram para o motel Colonial na avenida Ricardo Jafet, na região do Ipiranga, zona sul. Ficaram na suíte presidencial, por qual pagaram cerca de R$ 380, pediram uma [[Coca-Cola]] e um lanche de presunto. Daniel curiosamente pediu uma nota fiscal, a primeira expedida pelo motel.<ref name="ig1"/> O casal ficou no local da 1h36 às 2h56, segundo a polícia.<ref name="ultimainstancia">http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/23354/noticias+ultimainstancia.shtml</ref>
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Em julho, o casal Richthofen e o garoto resolveram viajar durante todo o mês para [[Portugal]], [[Espanha]], [[Suíça]], [[Alemanha]] e [[Finlândia]]. Foi nesse período que Daniel "mudou-se" para a mansão de "mala e cuia". Dias felizes, piscina, cerveja, muita música, o famoso "sexo, drogas e rock'n'roll". Para tudo acabar na volta dos donos da casa, no fim daquele mês. Mesmo na Europa, Andreas continuou acobertando o relacionamento que a irmã e Daniel mantinham e, disse que não havia contado isso antes, era para que não pensassem mal de Daniel. “Ele é um cara maravilhoso, gosto dele como um irmão mais velho, mas sei que usar drogas é errado. Se meus pais soubessem que eu fumo maconha com a Suzy de vez em quando, cometeriam suicídio. Eu não acho que o Dani seria capaz de fazer algo de ruim com eles, ele ama a nossa família” disse Andreas.<ref name="QuintoMandamento"/>
Em julho, o casal Richthofen e o garoto resolveram viajar durante todo o mês para [[Portugal]], [[Espanha]], [[Suíça]], [[Alemanha]] e [[Finlândia]]. Foi nesse período que Daniel "mudou-se" para a mansão de "mala e cuia". Dias felizes, piscina, cerveja, muita música, o famoso "sexo, drogas e rock'n'roll". Para tudo acabar na volta dos donos da casa, no fim daquele mês. Mesmo na Europa, Andreas continuou acobertando o relacionamento que a irmã e Daniel mantinham e, disse que não havia contado isso antes, era para que não pensassem mal de Daniel. “Ele é um cara maravilhoso, gosto dele como um irmão mais velho, mas sei que usar drogas é errado. Se meus pais soubessem que eu fumo maconha com a Suzy de vez em quando, cometeriam suicídio. Eu não acho que o Dani seria capaz de fazer algo de ruim com eles, ele ama a nossa família” disse Andreas.<ref name="QuintoMandamento"/>

O Dr. Guanaes incentivava Andreas a contar mais detalhes do dia do crime. Perguntou novamente sobre quando chegaram em casa. Segundo o menino, foi entre 3h55 ou 4h. Durante o percurso, Suzane contou que gastara 300 reais no [[Motel Colonial]]. Também falou que, depois de deixar Andreas no Red Play, voltou para casa para pegar dinheiro para o motel (100 reais). Suzane disse que chegou em casa às 24h,
subiu e verificou que os pais estavam dormindo. Pegou o dinheiro e saiu, trancando a porta. Andreas relatou que, ao chegarem, viram luzes acesas e tudo muito bagunçado, além de a porta da frente destrancada
e a janela do escritório aberta. Reparou em vários papéis espalhados pelo chão, móveis com portas e gavetas abertas, uma pasta marrom com um corte junto ao fecho. Perto da pasta estavam as chaves-reserva da casa. Segundo o menino, a pasta era da mãe e tinha segredo. Era ali que ficavam guardadas as chaves-reserva, além de dinheiro e cheques recebidos por ela. Também reparou numa faca serrilhada, que era da cozinha. Robson e Guanaes estranharam alguns detalhes do depoimento de Andreas com o que Suzane havia falado aos policiais ao fazer o [[boletim de ocorrência]]. Para ver a pasta, teriam que ter entrado na casa.

Questionaram Andreas, que respondeu:

{{quote2|''
“A: Olhei rapidamente. A Suzane entrou, olhou melhor e me contou. A pasta não estava lá?”

“R: Você que tem que dizer se estava ou não!”

“A: Ela disse que sim.”

“G: Ela não deixou você subir por quê? Sabia de alguma coisa?”

“A: Eu não sei mais nada.”

Nesse momento, a expressão do rosto de Andreas era de susto e confusão. Só lembrava que naquela manhã, logo antes de tentar dormir na casa dos Cravinhos, a última frase da irmã fora: “Tomara que isso tudo não caia na cabeça do Dani...”. Depoimento terminado. Já eram 22h e todos estavam cansados. Robson perguntou a Andreas:

— Você quer um lanche do McDonald's?
— Quero só um sorvete.
— Tua mãe acabou de morrer e você quer tomar sorvete?
— Você me ofereceu, é só um sorvete.

Mesmo assim, a polícia insistiu que o garoto se alimentasse com um lanche, fritas, refrigerante e o desejado sorvete. Andreas aceitou as fritas com esforço, rejeitou o lanche e, finalmente, saboreou o sorvete. O objetivo da polícia com isso era cansar Andreas para que ele falasse algo a mais sobre a irmã. Para os policias, a partir desse momento o garoto já passou a desconfiar da irmã.
''|<ref name="QuintoMandamento"/>}}

O garoto norteou muito as investigações da Delegacia de Homicídios. Apesar de ter Daniel como irmão mais velho e adorar Suzane, jamais se furtou em responder com verdade a tudo que lhe foi perguntado. Não tinha respostas prontas; nenhum depoimento seu parecia preparado. Sendo assim, qualquer envolvimento de Andreas foi descartado e, para a polícia, Andreas seria a próxima vítima de um crime - até aquele momento não confirmado - praticado por Daniel Cravinhos e talvez, Suzane. A pedido do delegado, o tio de Andreas, Miguel Abdalla foi chamado. Foi pedido que Andreas fosse afastado da irmã e de seu cunhado até que as investigações terminassem, ficando aos cuidados de seu tio.<ref name="QuintoMandamento"/>


=== Acusação ===
=== Acusação ===

Revisão das 02h42min de 27 de março de 2013

Caso Richthofen
Local do crime Brooklin, São Paulo, SP
Vítimas Manfred von Richthofen, Marísia von Richthofen
Réu(s) Daniel Cravinhos, Christian Cravinhos, Suzane von Richthofen
Advogado de defesa Denivaldo Barni e Mauro Otávio Nacif (Suzane); Divaine Jabur e Geraldo Jabur (irmãos Cravinhos)
Promotor Roberto Tardelli
Juiz Alberto Anderson Filho
Local do julgamento Fórum Criminal da Barra Funda, São Paulo
Situação Suzane e Daniel cravinhos condenados a 39 anos e 6 meses de reclusão; Christian Cravinhos condenado a 38 anos e 6 meses de reclusão

O Caso Richthofen é um processo polêmico que chocou a opinião pública brasileira. Uma das rés, Suzane Louise von Richthofen, foi acusada de ter planejado a morte dos próprios pais, com o auxílio do então namorado Daniel Cravinhos e de seu irmão, Christian Cravinhos. O júri do caso entendeu que Suzane foi influenciada pelos irmãos, mas que poderia ter resistido e evitado o crime.

O interesse da população pelo caso foi tão grande que a rede TV Justiça cogitou transmitir o julgamento ao vivo. Emissoras de TV, rádios e fotógrafos chegaram até a ser autorizadas a captar e divulgar sons e imagens dos momentos iniciais e finais, mas o parecer definitivo negou a autorização. Cinco mil pessoas inscreveram-se para ocupar um dos oitenta lugares disponíveis na plateia, o que congestionou, durante um dia inteiro, a página do Tribunal de Justiça na internet. É dessas pessoas autorizadas que se conhece o que houve no julgamento.

Suzane Louise Von Richthofen

Suzane Louise von Richthofen
Ficheiro:Suzane von Richthofen.jpg

Ilustração de Suzane von Richthofen.
Nome Suzane Louise von Richthofen
Data de nascimento 3 de novembro de 1983 (40 anos)
Local de nascimento São Paulo, SP, Brasil
Nacionalidade(s) Brasil brasileira
Crime(s) Parricídio e matricídio
Pena 39 anos de prisão
Situação Presa desde 17 de julho de 2006 (17 anos).

Suzane Louise Von Richthofen (São Paulo, 3 de novembro de 1983) nasceu numa família de classe média alta da capital de São Paulo. Suzane morava em um casarão em um bairro nobre da zona sul paulistana (Brooklin).[1] Filha do engenheiro Manfred Albert von Richthofen e da psiquiatra Marísia von Richthofen e irmã de Andreas Albert von Richthofen. Seu pai, nascido em Erbach (Alemanha), emigrou para o Brasil após um convite de trabalho, recebido devido a sua capacitação como engenheiro.

Meiga, simpática e um pouco tímida, Suzane sempre foi popular entre os amigos. Louca por bichinhos de pelúcia, tinha predileção por um urso marrom. Também gostava de distribuir brinquedos do gênero. Para uma amiga, deu de presente uma caixa preta e amarela que imita um dado. Para outra, comprou uma almofada vermelha em forma de coração e a recheou com balas e bombons. Nas horas vagas, Suzane saía com as colegas para perambular em shopping centers nas vizinhanças. Olhava as vitrines e comprava roupas com a mesada que ganhava do pai, cerca de R$ 4 mil mensais. No auge do axé, chegou a curtir o carnaval baiano mas a sua "onda" era música eletrônica. Frequentava festas de música tecno, onde conheceu o ecstasy. Na Europa, assistiu o show de suas bandas favoritas, Sash e Lasgo. Como quase toda adolescente, copiava o figurino das amigas.[2]

No colégio, Suzane esteve entre os melhores alunos desde o pré-escolar. Foi alfabetizada aos 5 anos. 'Era muito carinhosa e vivaz', lembra Kátia Martinho, diretora do Colégio Criativa, o primeiro que a garota freqüentou. 'Demonstrava ter limites bem definidos. Não era birrenta e aceitava perfeitamente o 'não'.' No Humboldt, onde estudou da 1a série do ensino fundamental até o fim do ensino médio, tinha rotina regrada. O pai a deixava na porta da escola de manhã. Às 13h15 ela voltava para casa de perua escolar. Na 6a série, por desejo dos pais, passou para a turma B, a classe onde só se fala em alemão. A garota tirava as notas mais altas da turma, mas não era a mais certinha. 'Ela passava cola e matava mais aula que a gente. Ia ao shopping ou ficava no barzinho ao lado do colégio', lembra uma amiga. Dos 12 aos 16 anos, Suzane também esteve entre os melhores alunos do curso de caratê da academia Fight Gym, no bairro do Campo Belo. Chegou à faixa preta. Três vezes por semana, os pais iam levá-la e buscá-la. 'Jamais a vi perder o controle durante as aulas. Ela estava sempre tranqüila e disciplinada', conta o professor Luciano Basile. Na PUC, onde cursava o primeiro ano de Direito, era uma aluna alegre. 'Sentava no fundo da sala, raramente fazia intervenções e tirava boas notas', descreve a professora Daniela Libório. Poucos meses antes do assassinato, parecia ter boa relação com os pais.[2]

Quando Suzane completou 18 anos, em novembro de 2001, seu pai abriu uma conta de 30 milhões de Euros na Suíça, em seu nome. O dinheiro provavelmente era fruto de corrupção da DERSA, empresa estatal em que Manfred Von Richthofen era o engenheiro responsável pela construção do Rodoanel Mário Covas, de orçamento bilionário. A origem da conta foi investigada, mas como a Suíça é um paraíso fiscal e não foram encontradas provas contundentes de que o dinheiro tinha origem do Brasil, o processo foi arquivado. Como a conta está em seu nome, nada impede que Suzane tenha acesso ao dinheiro após cumprir sua pena.[3][4]

Relação com a Família Cravinhos

Em uma tarde de domingo de agosto de 1999, Manfred, Marísia, Suzane e Andreas foram dar um passeio no Parque do Ibirapuera, o maior de São Paulo. Conheceram Daniel, considerado um dos melhores na categoria control de acrobacia, modalidade em que o competidor fica no meio de um círculo controlando o avião por meio de dois cabos de aço. Andreas se interessou pelo esporte e pediu aos pais para fazer o curso. Daniel começou a dar aulas de aeromodelismo para Andreas. Em pouco tempo, os dois ficaram muito próximos. Daniel levava o menino para andar de bicicleta e para disputar corridas de autorama. Segundo conhecidos, Andreas ainda teria ajudado a irmã a se aproximar do rapaz. "Suzane achou Daniel bonitinho e mandou um bilhete por Andreas", disse uma amiga de infância de Suzane em depoimento.[5] Manfred e Marísia não se importaram quando Suzane começou a ter um namorico com o novo amigo da família. Acharam que era coisa passageira.[2]

Os relatos afirmam que Andreas ouvia os segredos da irmã e participava da vida dela com o namorado. O casal, segundo esses relatos, costumava patrocinar algumas travessuras de Andreas como adolescente. Escondido no porta-malas do carro - disse Andreas a interlocutores -, ele teria ido conhecer um motel com a irmã e o cunhado, onde fumaram maconha. Foi pelas mãos dos dois que Andreas experimentou maconha pela primeira vez, no Parque Villa Lobos. Ele era como um "irmão mais velho", afirmou Andreas a policiais que investigaram o caso. Cristian também era um amigo querido, disse ele nos depoimentos.[5]

Com o tempo, o namoro ficou sério demais. Manfred e Marísia ficaram preocupados. Para sobreviver, Daniel fazia de um a dois aviões por mês e os vendia por cerca de R$ 1.400. Também fazia manutenção e vendia peças para aficcionados. Suzane pedia dinheiro ao pai para emprestar ao namorado e o enchia de roupas e presentes. Daniel chegou a passar no vestibular para Direito na Unip. Mas cursou dois meses e trancou a faculdade. Seu irmão, Cristian, chegou a ser internado por dependência de cocaína e vivia às voltas com dívidas com traficantes. Também chegou a prestar serviços como informante da polícia. O casal Richthofen achava que o rapaz não fazia bem a sua filha.[2]

Amigos de Suzane e Daniel contam que os dois mudaram depois que o namoro adolescente tomou ares de coisa séria. Suzane perdeu aos 16 anos a virgindade com Daniel, na mesma época passaram a fumar maconha quase todos os dias. Experimentaram ecstasy. A última viagem que Suzane fez sem o namorado foi para a casa de praia de uma das melhores amigas, em Porto Seguro, na Bahia, no Réveillon de 2000. Depois disso, era difícil encontrá-la sem Daniel. Para ficar com o namorado, a garota deixou de ir à festa após a colação de grau no colégio, o que deixou seus pais profundamente irritados. Na faculdade, o contato do casal era tão estreito que nem as excursões escapavam. Daniel ficava ao lado da namorada mesmo em atividades escolares. Ele acompanhou Suzane com a turma quando visitaram o Fórum João Mendes Júnior, no centro da cidade, e a Assembléia Legislativa. 'Parecia que a vida de um era em função do outro. Ela só passeava, saía à noite ou viajava com ele', conta Beatriz Chagas, de 20 anos, colega de turma de Suzane na PUC. Companheiros de aeromodelismo dizem que Daniel também mudou. 'Às vezes ele abria mão dos treinos para ir buscá-la', diz o estudante de Direito e aeromodelista Ênio Tosta. Em seu quarto, na casa dos pais, Daniel colocou dois painéis com dezenas de fotos dele e de Suzane. Uma caricatura do casal também divide espaço com o aeromodelo que ele utilizava em competições. Sobre a cama, há um travesseiro estampado com uma foto de Suzane ao lado de seus bichinhos de pelúcia. Desde o início do namoro o casal aproveitava as tardes para ir ao motel Disco Verde de táxi. Mas, no final de 2001, Suzane começou a passar as noites com Daniel, às escondidas. Dizia aos pais que ia ficar na casa de amigas, estudando. 'Ela nos avisava e a gente encobria a mentira', lembra uma delas. Numa noite de abril, a estratégia deu errado. Marísia ligou para a melhor amiga de Suzane e descobriu que a filha não ia dormir lá. Exigiu explicações na manhã seguinte, quando a garota voltou para casa. Suzane contou que passou a noite em um motel. Marísia e Manfred resolveram proibir definitivamente o namoro.[2]

No dia das mães de 2002, os von Richthofen iriam almoçar em um restaurante de São Roque, em São Paulo. Suzane se recusou a ir, xingou o pai e apanhou pela primeira vez, aos 18 anos. Manfred deu um tapa em sua filha, que saiu de casa dizendo que não ia mais voltar. Mas voltou, prometeu aos pais que o romance tinha acabado, tirou a aliança de compromisso do dedo. Na verdade, o namoro passou a ser clandestino.[6]

Com a proibição, Suzane, que costumava passar tardes inteiras conversando com a mãe, afastou-se de vez dos pais. Brigava com a família a cada vez que chegava em casa com o namorado. 'Em julho, meus pais foram passar um mês fora. Aquele mês foi como um sonho', disse Suzane. Quando eles chegaram, Suzane sugeriu que lhe comprassem um apartamento ou flat para que ela pudesse morar com Daniel. Manfred recusou. Disse que a filha deveria se formar, trabalhar e - aí sim - morar com quem quisesse. A negativa incentivou o planejamento do assassinato.[2]

No início de setembro de 2002, o 12º Batalhão da Polícia Militar de São Paulo foi chamado para apartar uma briga numa casa em Campo Belo, bairro de classe média na Zona Sul de São Paulo. Os policiais chegaram ao lugar às 2 da manhã. Encontraram o engenheiro Manfred von Richthofen no portão, vestindo bermudas, camisa e chinelos. Transtornado, Manfred batia boca com o namorado da filha, Daniel Cravinhos, de 21 anos. A garota, Suzane, de 19 anos, tentava acalmá-los. Aos poucos, os ânimos esfriaram. Mas pai e namorado saíram da discussão remoendo pequenas ameaças. 'Qualquer dia desses ainda quebro esse moleque', disse Manfred a um dos policiais. Um pouco menos calmo, Daniel contou que o engenheiro ameaçava bater na filha se eles continuassem o namoro. 'Tenho vontade de pegar esse velho', afirmou. Era a terceira intervenção da polícia em brigas entre os dois. Em maio e junho, telefonemas anônimos já haviam pedido ajuda para confusões semelhantes. O motivo era sempre o mesmo: Suzane chegava tarde em casa e tentava entrar com Daniel. O pai impedia. E começava o bate-boca.[7]

No enterro de Manfred e Marísia, a aliança de compromisso já estava de volta no dedo de Suzane. O amor resistiu aos primeiros meses de prisão, mas em março de 2004,uma carta de Daniel dá o sinal de que o amor não era o mesmo: “Não sei por que você não fala mais com os meus pais e nem comigo, será que não confia mais em mim?”.[6]

Família von Richthofen

Manfred Albert von Richthofen e Marísia se conheceram na década de 70, quando ela cursava medicina e ele fazia engenharia na USP. Depois do casamento, foram estudar na Alemanha. Na volta, ele começou a trabalhar para empresas privadas até chegar à Dersa, a estatal que cuida de estradas em São Paulo. Quando voltou da Alemanha, Marísia, abriu um consultório de psiquiatria. Suzane nasceu em 3 de novembro 1983. Virou a alegria do casal. Quatro anos depois, em 26 de abril de 1987, veio o caçula, Andreas. Nas vizinhanças da casa onde a família morou por quase 15 anos, na Zona Sul de São Paulo, os quatro são lembrados com simpatia. 'Era a família Doriana, a família feliz', diz a psicóloga Luciane Mazzolenis, vizinha do casal, a quem Suzane chamava de tia. Os Richthofen se mudaram do sobrado - avaliado a época em R$ 400 mil (R$ 1 milhão de reais em valores atualizados a fevereiro de 2013) - em 2000. Mas Manfred e os filhos iam com freqüência à casa, pegar correspondências e varrer as folhas do quintal. A vida pacata da família só começou a ruir diante dos conhecidos quando Daniel entrou em cena.[2] Manfred era um alemão típico: não era uma pessoa expansiva, mas tinha muito bom humor, era muito inteligente e prezava pela educação dos filhos.[8]

Sobre o parentesco do pai de Suzane com o lendário aviador alemão homônimo, alcunhado de "Barão Vermelho", ainda há versões conflitantes e nenhuma definitiva sobre a veracidade dos supostos vínculos familiares. O jornal alemão "Bild-Zeitung" publicou uma reportagem logo após o assassinato, na qual descendentes reconhecidos do aviador teriam negado que a família teuto-brasileira tivesse ligação com a sua. Todavia, ainda não foram apresentadas provas contundentes sobre nenhuma das duas versões, seja a que sustenta o parentesco, seja a que o nega.

Marísia von Richthofen

Marísia Von Richthofen
Nascimento 29 de janeiro de 1952
José Bonifácio, SP
Morte 31 de outubro de 2002 (50 anos)
São Paulo, SP
Nacionalidade Brasil brasileira

Marísia Von Richthofen (nascida Marísia Silva Abdalla) nasceu e viveu durante 14 anos de sua vida em José Bonifácio, cidade localizada a 40 quilômetros de São José do Rio Preto. O avô de Marísia, Miguel Abdalla, mudou-se de Sorocaba para José Bonifácio em 1920 e foi um dos pioneiros no comércio local. Com Miguel Abdalla, mudaram-se para Bonifácio seus filhos, entre eles Salim Abdalla, que se casou na cidade com Lourdes Abdalla e teve dois filhos - Miguel Neto e Marísia. A psiquiatra estudou na cidade até 1966 e se mudou para São Paulo com seus avós. A notícia deixou seus parentes de Sorocaba e José Bonifácio chocados. Filha de descendentes de portugueses e líbaneses se formou na USP com seu irmão. Era considerada a mais extrovertida e popular da família Richthofen.[9]

Andreas Albert Von Richthofen

Andreas Albert Von Richthofen
Nascimento 26 de abril de 1987 (37 anos)
São Paulo, SP
Nacionalidade Brasil brasileira

Andreas era considerado tímido, um garoto caseiro, com poucos amigos. Passava a maior parte do tempo trancado no quarto vendo televisão ou no computador, era educado com os empregados da mansão e esperava a chegada de seu pai todos os dias, quando comentava sobre seu dia, afirmou a ex-empregada Silândia Costa dos Santos.[5] Quando a família ia para o sítio, em São Roque, interior de São Paulo, Andreas e Manfred faziam objetos de marcenaria e cuidavam das plantas do jardim. Acostumado com o estilo europeu de educação dentro e fora de casa já que estudou por anos em um colégio para ascendentes de alemães, o garoto estudava dois idiomas e era faixa marrom de caratê. Andreas tem temperado reservado, como seu pai, segundo amigos da famí­lia. Recebia cerca de R$ 2 mil mensais de mesada dos pais e ao contrário de Suzane, guardava a maior parte do dinheiro.[10][11] Suzane, além de irmã de sangue, era "irmã de alma" de Andreas. De acordo com os relatos, os dois sempre foram unidos, cúmplices e confidentes. "Um sempre protegeu o outro", afirmou uma amiga de infância da garota. "Nunca vi os dois brigar. Eles conversavam muito e se davam bem", disse a ex-funcionária Silândia.[5]

Crime

31 de Outubro

Suzane e os Cravinhos, dias antes do crime, fizeram um teste de barulho causado pelos disparos de uma arma de fogo e com isso descartaram a ideia de utilizar uma.

Na tarde de 31 de outubro de 2002, Suzane e Daniel Cravinhos repassaram pela última vez os planos do assassinato dos pais da moça. Conversaram com Cristian, que morava na casa da avó, e Cristian, ainda relutante, não deu a certeza de que participaria nos eventos que se seguiriam à noite. Daniel pediu que o irmão pensasse a respeito e,se resolvesse ajudá-los, que os esperasse em uma dada rua, próxima a um Cyber Café aonde levariam Andreas. Naquela, o irmão de Suzane, Andreas, na ocasião com 15 anos, foi tirado de casa. Foi levado pela garota e pelo namorado dela para um Cyber Café (Lan House), ele foi seduzido pela ideia de que no aniversário de namoro da irmã a comemoração do casal seria em um motel, e a dele seria na LAN House, e que Suzane iria convencer seus pais a deixar o irmão faltar a escola no próximo dia.[12]

Cristian já estava no cibercafé. Ele chegou ao local às 22h12 e saiu às 22h50, para que Andreas não o visse. Por volta das 23h20, Suzane e Daniel encontraram com Cristian perto do local. Os três seguiram para a mansão dos von Richthofen no Gol da estudante.[13] Segundo a polícia, eles fumaram maconha. Dias antes da fatídica noite, Suzane havia meticulosamente desligado o alarme e as câmeras de vigilância da casa, de modo que nenhuma imagem do trio chegando fosse capturada.[14]

Por volta da meia-noite, eles estacionaram o carro na garagem. Segundo a polícia, no carro já estavam as barras de ferro, ocas, que foram utilizadas no assassinato. Os rapazes vestiram blusas e meias-calças para evitar que caíssem pêlos pela casa, material que poderia ser usado pela polícia para provar o crime. Suzane subiu as escadas e acendeu a luz do corredor, para que os irmãos tivessem visão do quarto do casal. Marísia e Manfred dormiam. A estudante separou sacos de lixo e luvas cirúrgicas, que eram utilizadas pela mãe, psiquiatra.[13]

Os irmãos, armados com barras de ferro, entraram no quarto do casal. Daniel seguia em direção ao engenheiro Manfred e Cristian, em direção a Marísia. Eles foram golpeados na cabeça.[13] Manfred faleceu na hora, Marísia acordou e tentou se defender com as mãos e por isso teve 3 dedos fraturados. Cristian disse à polícia que bateu em Marísia por cinco vezes, colocou uma toalha em sua boca para que a mãe de Suzane parasse de implorar para que os supostos "assassinos" não atacassem seus filhos, que, para ela, estavam dormindo. Por fim, ele amarrou um saco de lixo em sua cabeça. Depois, ela foi estrangulada, pois não parava de emitir um "som estranho". A dupla chegou a retirar as luvas e lavar as mãos. Uma jarra foi deixada no quarto.[13]

"Chegamos em casa, eu entrei e fui até o quarto dos meus pais. Eles estavam dormindo. Aí, eu desci, acendi a luz e falei que eles podiam ir. Fiquei sentada no sofá, com a mão no ouvido. Eu não queria mais que meus pais morressem. Mas aí eu percebi que não tinha mais o que fazer, que já era muito tarde", confessou Suzane no depoimento após ser detida.[15]

Não há certeza sobre a posição de Suzane na casa enquanto o crime ocorria e se, depois, ela viu os corpos dos pais. De acordo com a reconstituição do crime, ela ficou no térreo, onde aproveitou para roubar o dinheiro em espécie que havia na casa, guardado dentro de uma pasta de couro com código. Suzane abriu a maleta pois sabia o segredo, mas Daniel depois cortou a pasta com uma faca para forjar o roubo de R$ 8.000, 6.000 e US$ 5.000 (um total de R$ 79 mil, em valores atualizados a fevereiro de 2013).[15] Eles ainda abriram um cofre do casal, onde estavam jóias e um revólver, localizado no quarto. Os acusados espalharam as jóias pelo chão e deixaram o revólver, intacto, ao lado do corpo do engenheiro.[13] Os bastões ensanguentados foram lavados na piscina e tudo que foi usado no crime foi colocado dentro de sacos de lixo, tendo os três inclusive trocado de roupa.[15]

O dinheiro roubado e algumas joias ficaram com Cristian, como pagamento por sua participação. Após o crime, ele foi deixado perto do apartamento onde morava com a avó, e o casal passou à terceira parte do plano: forjar o álibi. Suzane e Daniel foram para o motel Colonial na avenida Ricardo Jafet, na região do Ipiranga, zona sul. Ficaram na suíte presidencial, por qual pagaram cerca de R$ 380, pediram uma Coca-Cola e um lanche de presunto. Daniel curiosamente pediu uma nota fiscal, a primeira expedida pelo motel.[15] O casal ficou no local da 1h36 às 2h56, segundo a polícia.[16]

Ao deixar o motel, a dupla passou no cibercafé para pegar Andreas. Eles foram até a casa do namorado da estudante e disseram ao adolescente que ele poderia andar em uma mobilete de Daniel. Pouco depois, conforme o plano original, começou a segunda etapa da simulação. Por volta das 4h, Suzane e Andreas retornaram para casa. Eles chegaram à mansão. Suzane disse ter "estranhado" o fato de as portas estarem abertas. Andreas entrou na biblioteca e gritou para os pais, enquanto isso, Suzane orando, correu para o cozinha e pegou uma faca. Entregou a faca ao irmão e ordenou que o garoto esperasse do lado de fora da mansão. A estudante ligou para o namorado e depois, junto de Andreas deu vários telefonemas para dentro da casa, esperando que seus pais atendessem.[13]

Às 4h09, Suzane contactou a polícia. Disse que estava em frente à casa da namorada, que suspeitava de um assalto no lugar e pediu a presença de uma viatura.[16] Alexandre Paulino Boto foi o primeiro policial ao chegar ao local. Em seu depoimento durante o julgamento do trio, classificou o assassinato como um “crime de amadores”. “O crime era um procedimento de amadores. Largaram as jóias, celulares, deixaram uma arma no quarto do casal. Se alguém quer roubar, furtar, não deixaria isso no local”, afirmou o policial, em 2006. “Um ladrão não deixaria a arma no chão." Boto disse ter estranhado o comportamento de Suzane, que lhe perguntou quais seriam os procedimentos que a polícia iria seguir. “Eu estranhei a pergunta e a atitude impassível diante da morte dos pais”, afirmou. Em seguida, ela perguntou como estavam os pais. “Quando eu disse que estavam bem, ela ficou espantada. ‘Como?’, perguntou.” O policial também estranhou as perguntas de Daniel, que chegou ao local pouco depois. "Você sabe se levaram alguma coisa de dentro da casa? Parece que a família guardava todo o dinheiro em uma caixinha." Em seguida, Daniel falou os valores exatos das quantias guardadas.[15]

Enquanto um policial permaneceu com Suzane e Andreas do lado de fora da mansão, Boto e outro policial entraram na residência, com cuidado, pois ainda havia a possibilidade de se encontrar um suposto ladrão. No andar de baixo, a biblioteca estava totalmente revirada, a sala e a cozinha estavam em ordem. Uma escada levava ao andar superior. Os PMs subiram e verificaram o que parecia ser um quarto feminino, com o closet revirado e bichos de pelúcia jogados ao chão. O quarto seguinte era tipicamente masculino, com um aeromodelo pendurado no teto, tudo organizado; 3 travesseiros cobertos por um lençol. O próximo quarto era de casal, um homem estava morto na cama próximo a uma arma; a hipótese de suicídio foi logo descartada, quando Boto encontrou um corpo feminino de baixo dos lençóis.[17]

Temendo a reação dos jovens, os policiais acionaram uma viatura de Resgate. Nessa altura da noite, por volta das 4h30, Daniel já estava no local, abraçado com Suzane e Andreas. Boto pediu que Daniel contasse aos filhos do casal que seus pais haviam sido assassinados. Daniel abraçou os dois, abaixaram a cabeça, cochicharam. Andreas se afastou do grupo, aparentemente em estado de choque. Suzane, se aproximou de Boto e perguntou “O que eu faço agora?”.[17]

Por volta das 5h, já era possível ouvir o som de sirenes se aproximando. O pai de Daniel, Astrogildo Cravinhos chegou ao local um pouco depois e se encarregou de falar com os repórteres de várias redes de Televisão, enquanto Suzane e Andreas eram encaminhados à delegacia. O relógio marcava 6h e o comportamento do casal logo chamou a atenção de todos na delegacia. Durante a espera para serem atendidos, Suzane tirava um cochilo encostada nos ombros de Daniel. Andreas ficou ali sentado, encolhido e visivelmente abalado, enquanto a irmã trocava carícias com o namorado. Entre as frases enquanto faziam o Boletim de Ocorrência, eram trocados beijos e carícias entre o casal. Suzane disse ao delegado titular Dr. Enjolras Rello de Araújo, “Eu gostaria que vocês matassem e torturassem esses caras que mataram meus pais” e sorriu para Daniel.[17]

Primeiras Investigações

Como o caso já era um grande mistério, se tratava de vítimas de certa importância social e já havia chamado a atenção da imprensa naquela madrugada, houve uma união de várias equipes de investigação do Palácio da Polícia Civil, em São Paulo. Como era a equipe de plantão naquela madrugada, a equipe H-Sul atendeu ao chamado do 27- DP. A Dra. Renata Helena da Silva Ponte foi ao local do crime juntamente com os investigadores Alexandre Chaim, Marcos, Marcelo, Valter e a perícia, além de acionar o titular, Dr. Ricardo Guanaes, e toda a sua equipe. Quando o chefe dos investigadores da H-Sul, Robson Feitosa, chegou ao local, encontrou seu pessoal e alguns jornalistas. Logo depois, chegou o Sr. Astrogildo Cravinhos, pai do namorado de Suzane von Richthofen. Robson, que tem por hábito filmar os trabalhos de sua equipe para seu arquivo particular, conversou com o perito Salada. Resolveram que fariam uma imagem global e, depois, uma específica, para então estudar melhor o caso. Robson subiu as escadas, filmou os quartos, depois, o andar térreo e, finalmente, a área externa da casa. Ao conversar com o perito Salgueiro, que fazia o exame pericial da área externa, trocou impressões de como os muros eram altos, e a casa, bem protegida. Nenhuma marca nos muros indicava que a entrada do(s) assassino(s) tivesse sido dessa maneira. Robson logo pediu que seu pessoal trouxesse para dentro o Sr. Astrogildo. Queria ouvir o que ele tinha a dizer, na companhia da Dra. Renata e do chefe de investigações da Equipe C-Sul, Sérgio de Oliveira Pereira, o Serjão. Foi impressionante perceber quantos detalhes sobre a família Von Richthofen eram conhecidos por aquele senhor. Ele declarou que jamais imaginou um crime como aquele, contra um homem com tanto dinheiro. Contou que era hábito do casal deixar sempre por volta de 8.000 reais numa caixinha, no quartinho da frente (biblioteca). O marceneiro que havia feito os móveis da churrasqueira também lhe havia confidenciado que o Sr. Manfred era "extremamente chato, detalhista demais, e mandava refazer tudo o que não aprovava completamente". O investigador experiente "deu uma de bobo" e continuou conversando, "dando corda" para a testemunha. O Sr. Astrogildo contou que seu filho Daniel namorava Suzane havia bastante tempo e tinha viajado muitas vezes para a chácara da família Von Richthofen em São Roque, que a mãe dava muitas ordens aos garotos e os repreendia demais, e que o pai era mais flexível. Também disse que nunca soube de nenhuma briga do casal de namorados com os pais da menina. Astrogildo também falou de seu outro filho, Cristian, que era investigador da polícia, do Grupo de Operações Especiais (GOE). Robson perguntou mais detalhes sobre o cargo de Cristian, e o pai esclareceu que na verdade não era investigador, ele só "colaborava" com um delegado do GOE. “De vez em quando ele anda na viatura com eles, eu até repreendi ele para não ficar andando mais com esse pessoal... Chegava em casa com a viatura na porta...”.[17]

Mais tarde, Robson descobriu que Cristian era, na verdade, "ganso" (informante) do GOE. “Se ele fosse realmente investigador, o próprio Cristian ou alguém do GOE teria aparecido no DHPP para se inteirar dos autos. Afinal, os pais da namorada do irmão de Cristian tinham sido assassinados! Mas ninguém nunca apareceu, nem que fosse para coletar informações sobre o caso”, disse Robson ao policial Salada. Enquanto a Dra. Renata e Serjão continuavam a conversa com Astrogildo, Robson se concentrou em sua filmagem. Uma das coisas que logo chamou a sua atenção foi o fato de não terem sido encontrados nenhum pano de chão, rodo ou vassoura na casa inteira. Isso seria discutido mais tarde, pois foi um dos fatos sem explicação em toda a investigação. Os outros investigadores estavam espalhados pela rua, conversando com vizinhos. Era preciso saber se tinham ouvido algum barulho, o que achavam do crime, o que sabiam da família.[17]

Segundo uma vizinha da mansão, a impressão geral era de que os Von Richthofen eram muito discretos, mas simpáticos. Ela já havia visto viaturas da Polícia Militar na porta da casa deles e se sentiu ameaçada, quando, em Julho daquele ano, avistou um jovem casal que havia saído da casa andando descalços em volta do quarteirão e fumando maconha, era a filha do casal Von Richthofen e um rapaz que ela não conhecia. Disse que tentou conversar com os pais da garota por diversas vezes, até que conseguiu encontrar com a empregada enquanto ela saía da mansão, mas a funcionária disse que Manfred, Marísia e Andreas estavam de férias na Europa. Para a Equipe H-Sul, várias incongruências chamaram a atenção logo no início dos trabalhos. Durante toda a perícia, a delegada Dra. Renata esteve no local, enquanto o delegado Dr. Guanaes interrogava a família e comunicava-se por telefone com os peritos.[17]

Enquanto isso, durante seu primeiro interrogatório, Suzane informou que havia uma mala na biblioteca que estava cortada. Salada já tinha visto a mala, mas não o corte, porque estava deitada sobre o rasgo, e 80 quando mexesse nela durante a perícia saberia que estava cortada. Portanto, Suzane verificou muito bem o escritório antes de chamar a polícia, fato que não passou despercebido. Pois ela havia dito ao PM Alexandre Boto que não tinha entrado na casa, mas havia. O corte na mala foi feito por faca de lâmina lisa, mas na prateleira do escritório foi encontrada apenas uma faca de lâmina serrilhada. O criminoso teria trazido a faca, já sabendo que precisaria dela, ou havia guardado a faca depois do uso, o que soou muito estranho aos policiais. A hora aproximada do crime que os peritos informaram para o delegado também não batia com o depoimento da filha, que dizia ter passado em casa por volta da meia-noite e visto os pais dormindo, "até roncando". Essa diferença de horários por si só já levantava dúvidas no depoimento dela. Além disso, o Delegado Guanaes discutia com seus colegas, “que ladrão deixaria uma arma de fogo nova no local do crime?”. Todos os policiais consideraram o fato muito improvável, quase infantil.[17]

Da Equipe C-Sul, no local, acompanharam a perícia e as investigações preliminares a delegada Dra. Cíntia P. C. M. Tucunduva Gomes e os investigadores Sérgio, Wendel, Leandro, Francisco, Santana, Mareei, David e Luciano, que conversaram com os vizinhos, vigia da rua etc. Como se tratava de investigação mais abrangente, a 1ª Delegacia da Capital também enviou seu chefe de investigadores, Carlos Eduardo Montez, O Ado, e mais três homens. No local do crime, faziam parte da equipe da Dra. Cíntia três papiloscopistas, que recolheram impressões digitais da arma, das janelas, dos interruptores e até de papéis e documentos. Para as digitais em papel, foi utilizado um líquido cor-de-rosa, a nihidrina, que as evidencia. Cada detalhe, para ela, poderia esconder uma verdade ou esclarecer uma mentira. De cara, achou estranho que o saco de lixo colocado na cabeça de Marísia fosse igual àqueles usados na casa. Assim que viu o saco, olhou todos os cestinhos de lixo da casa, mas não encontrou nada. Os sacos de lixo do mesmo tipo, guardados na despensa, estavam fechados, sem uso. Quem colocou o saco de lixo na cabeça da vítima deixou o resto do pacote sobre a cama, e não havia na casa nenhum pacote aberto para uso. Outra coisa que logo chamou a atenção dela foi a jarra amarela no criado mudo de Marísia. “Já viu alguém levar uma jarra de água para o quarto sem um copo? Ia beber água durante a noite como?” dizia ela. Além disso, os corpos do casal estavam bastante molhados. Se a jarra tivesse sido utilizada pelo assassino para trazer água na hora do crime e lavar os corpos, isso teria de ter sido feito por alguém que soubesse onde a jarra estava guardada, alguém da convivência da casa. Não fosse assim, a cozinha deveria estar com todas as portas dos armário abertas, o que não ocorria. A Dra. Cíntia fez muitas outras observações relevantes que ficariam guardadas em sua memória no decorrer da investigação: a casa era estranha, não tinha espelhos, exceto os dos banheiros. Tudo estava muito em ordem, o que não é comum em latrocínios. Também existia a dúvida de como os assassinos teriam entrado, se não havia sinal de arrombamento nas portas da casa, os muros da mansão tinham mais de 3 metros de altura, nenhum vizinho teve sua casa usada como passagem e os portões estavam trancados. Outro fato intrigante era a Blazer do casal. Na garagem estava tudo aberto, o controle do portão estava no carro, “então por que o ladrão não carregou a Blazer com o produto do roubo e levou o carro?” indagou a delegada. Nenhum eletrodoméstico ou equipamento eletrônico havia sumido. Várias hipóteses começaram a se formar na cabeça da delegada.[17]

Para todos os envolvidos na investigação do assassinato do casal Von Richthofen, desde o início aquele "latrocínio" parecia uma encenação, e os trabalhos se concentraram nas pessoas mais próximas da casa: filhos, empregada, colegas de emprego de Manfred, na Dersa e pacientes de Marísia. Do local do crime, a Delegada Renata também continuava a passar todas as informações que obtinha por telefone para O Dr. Alvim, num trabalho realmente de colaboração entre as equipes H-Sul e C-Sul. De imediato, a Dra. Cíntia pediu que os investigadores Mareei e David fossem buscar Suzane, Andreas e Daniel na Equipe H-Sul e os levasse para a C-Sul, onde o delegado Dr. Alvim Spinola de Castro os ouviria.[17]

O Dr. Ricardo Guanaes, delegado titular da Equipe H-Sul, foi pessoalmente à casa da família Cravinhos buscar Suzane, Andreas e Daniel, que haviam sido dispensados após o boletimde ocorrência lavrado no 27º DP. Os três jovens foram levados ao DHPP e assim encaminhados: Andreas seria ouvido na Equipe H-Sul, Suzane, na Equipe C-Sul e Daniel aguardaria na equipe A-Sul. Era importante que os 3 fossem separados e ouvidos, sem que um soubesse o que o outro dizia. Só dessa maneira seria possível averiguar se havia discrepância nos depoimentos.[17]

Depoimento de Andreas

Andreas entrou nas dependências da Equipe H-Sul sem nunca antes ter pisado numa delegacia de Homicídios. Apesar da aridez do local, composto de mesas simples, computadores e policiais armados em todas as partes, o garoto não parecia assustado. Pelo contrário. Comportou-se como adulto, depondo de forma controlada, com a cabeça concentrada em tudo o que acontecia ao seu redor. Sentou-se na sala, acompanhado pela advogada Dra. Wanda Aparecida Garcia La Selva, constituída pela Dersa para ajudar o filho de Manfred no depoimento, e começou a relatar o que sabia para a escrivã Aparecida. Parecia uma história comum, sem nenhuma informação relevante para o caso. Andreas, naquele dia trágico, estava cabisbaixo e muito amedrontado. Pensava em cada pergunta para respondê-la, como naturalmente faz aquele que não traz respostas prontas. Não definia os horários fora de rotina com exatidão e seu depoimento soava real.[17]

Segundo ele, acordou às 6h40 e se arrumou para ir à escola. Às 6h55 saiu com o pai, como fazia todo dia. Assistiu às aulas no Colégio Vértice até as 12h45. Suzane foi buscá-lo, como sempre fazia. Chegaram em casa por volta das 13h. Almoçaram com a mãe, como nos dias normais. O pai não almoçava em casa. Às 13h55 saiu com a irmã para ir ao inglês. A aula terminou às 15h. Daniel e Suzane foram buscá-lo e juntos foram ao Shopping Ibirapuera comprar o presente de Suzane, que faria aniversário no dia 3 de novembro. Gastaram R$ 3 mil reais em roupas e acessórios das grifes Gucci e Versace (que foram usadas por Suzane um dia depois, no enterro de seus pais). Chegaram em casa por volta das 16h50. Às 17h, Suzane saiu. Ela havia avisado a mãe que iria até a faculdade onde estudava Direito participar de monitoria. Às 18h, a mãe chegou em casa, e às 18h40 ou 18h50 chegou o pai. Os pais jantaram às 20h. Andreas não jantou porque já havia comido um lanchedo Habbibs . Foi ver TV em seu quarto — assistiu ao desenho Os Simpsons. Por volta das 21h, o pai veio lhe dar um beijo de boa-noite, enquanto ele tomava banho. Às 22h, foi a vez de a mãe despedir-se dele. Foi a última vez que viu os dois. Às 22h30, ajeitou as almofadas de sua cama embaixo dos lençóis, para fazer parecer que estava dormindo. Conforme o combinado no dia anterior, iria ao Red Play escondido dos pais, que, rigorosos, nunca deixariam que saísse à noite para jogar nos computadores de um cybercafé. Foi para o escritório e fez uma ligação para o celular de Suzane, que o passou para Daniel. Disse: “Estou pronto, pode vir me buscar”. Daniel veio buscá-lo sozinho. Disse que ele e sua irmã iriam a um motel, como presente de aniversário para Suzane, mas não disse o nome do local escolhido por eles. Chegando ao cybercafé Red Play, cumprimentou todos os funcionários estavam e foi para o computador. Depois de cinco minutos, o casal foi embora. Combinaram que viriam apanhá-lo às 3h. Às 2h50 ligou para a irmã, que estava saindo do motel para buscá-lo. Juntos, levaram Daniel até sua casa, conversaram um pouco e foram embora. Suzane e Andreas chegaram em casa por volta de 3h55 ou 4h.[17]

Andreas contou ao delegado que sua casa tinha alarme, o qual estava desligado naquela noite. Mesmo assim, se acionado um dos botões de pânico espalhados pela casa, a empresa de segurança receberia o sinal. Segundo o menino, ao chegarem viram luzes acesas e tudo muito bagunçado, além da porta da frente destrancada e a janela da biblioteca aberta. Andreas declarou que chamou pelos pais e teve muito medo de ser agredido por alguém que ainda estivesse na casa. Também estava assustado demais e esqueceu de apertar o botão de pânico da biblioteca, que acionaria a empresa de segurança. Por fim, foi impedido por Suzane de subir as escadas. Saiu com a irmã pela porta da frente. Dali mesmo ela usou o celular para telefonar para Daniel, que os orientou a sair da casa e esperá-lo, logo após isso, chamaram a polícia pelo 190. Segundo Andreas, Suzane também discou o número de casa, mas ninguém atendeu o telefone.[17]

Ao ler o depoimento do menino, delegado e investigador chefe se entreolharam. Várias lacunas na história precisavam ser preenchidas. Definitivamente, o menino estava falando o mínimo necessário, e nada disse sobre a história da família e suas relações. O Dr. Guanaes resolveu mudar de estratégia. Encaminhou o filho das vítimas e sua advogada para sua sala, mais confortável e menos opressora que a sala em que ele tinha sido interrogado, com uma escrivã relatando em linguagem policial os fatos daquele dia. Robson acompanhou-os e sentou-sese no sofá de couro ao lado da mesa. O delegado sentou-se em sua cadeira, o menino à sua frente. Novamente, pediu que ele contasse seu dia. Outra vez o menino foi lacónico, somente respondendo às perguntas que foram feitas. Delegado e policial sabiam que a história estava por demais incompleta. Começaram então a esclarecer Andreas dos riscos que corria ao omitir algum fato:

Andreas passou as costas da mão na testa, enxugando o suor que encharcava seus cabelos. Secou-as na calça de moletom, respirou fundo. Perguntou por Suzane e pediu uma água. Meio perdido, amedrontado e muito constrangido, acrescentou em seu depoimento o fato de que fumava maconha. Ele usava o entorpecente havia mais ou menos sete meses, a irmã e o cunhado ofereceram-lhe e ele aceitou, mas não sabia se Daniel e Suzane consumiam a droga antes disso. No dia anterior, logo depois de almoçarem com a mãe, ele e Suzane tinham ido até o quintal fumar um "baseado" atrás da caixa-d'água do casarão. Muitas vezes era ali que se escondiam para obter o prazer proibido. Outras vezes saía de carro com a irmã e o cunhado e fumavam enquanto davam voltas pelo bairro.[17]

O menino, já cansado, resolveu falar do assunto familiar que sempre o afligia: a relação de Suzane e Daniel, a revolta dos pais com o namoro dos dois, as mentiras, os encontros escondidos, a cobertura que dava a eles, o peso de ser o único da família Von Richthofen a saber que o namoro continuava. Mas era melhor contar tudo. Naquela madrugada, Suzane e Daniel tinham pedido que protegesse o amigo, porque se a polícia soubesse de tudo ele seria o maior suspeito. Suzane implorou: “Andreas, tomara que isso tudo não caia na cabeça do Dani. Ele ficou trinta dias aqui em casa e deixou digital pra todo lado, em tudo quanto é canto da casa. Não fala nada dele para a polícia.” Daniel também tinha conversado com ele: “A polícia vai ficar no meu pé por causa da treta que eu tive com teus pais e também porque eu fiquei morando um mês na tua casa, deixei um monte de impressões digitais.”[17]

Somente Andreas sabia que, quando Suzane dizia que estava indo para o monitoramento na PUC, estava na verdade indo para a casa dos Cravinhos. Ali, seu namoro era "permitido e abençoado".[17]

Em julho, o casal Richthofen e o garoto resolveram viajar durante todo o mês para Portugal, Espanha, Suíça, Alemanha e Finlândia. Foi nesse período que Daniel "mudou-se" para a mansão de "mala e cuia". Dias felizes, piscina, cerveja, muita música, o famoso "sexo, drogas e rock'n'roll". Para tudo acabar na volta dos donos da casa, no fim daquele mês. Mesmo na Europa, Andreas continuou acobertando o relacionamento que a irmã e Daniel mantinham e, disse que não havia contado isso antes, era para que não pensassem mal de Daniel. “Ele é um cara maravilhoso, gosto dele como um irmão mais velho, mas sei que usar drogas é errado. Se meus pais soubessem que eu fumo maconha com a Suzy de vez em quando, cometeriam suicídio. Eu não acho que o Dani seria capaz de fazer algo de ruim com eles, ele ama a nossa família” disse Andreas.[17]

O Dr. Guanaes incentivava Andreas a contar mais detalhes do dia do crime. Perguntou novamente sobre quando chegaram em casa. Segundo o menino, foi entre 3h55 ou 4h. Durante o percurso, Suzane contou que gastara 300 reais no Motel Colonial. Também falou que, depois de deixar Andreas no Red Play, voltou para casa para pegar dinheiro para o motel (100 reais). Suzane disse que chegou em casa às 24h, subiu e verificou que os pais estavam dormindo. Pegou o dinheiro e saiu, trancando a porta. Andreas relatou que, ao chegarem, viram luzes acesas e tudo muito bagunçado, além de a porta da frente destrancada e a janela do escritório aberta. Reparou em vários papéis espalhados pelo chão, móveis com portas e gavetas abertas, uma pasta marrom com um corte junto ao fecho. Perto da pasta estavam as chaves-reserva da casa. Segundo o menino, a pasta era da mãe e tinha segredo. Era ali que ficavam guardadas as chaves-reserva, além de dinheiro e cheques recebidos por ela. Também reparou numa faca serrilhada, que era da cozinha. Robson e Guanaes estranharam alguns detalhes do depoimento de Andreas com o que Suzane havia falado aos policiais ao fazer o boletim de ocorrência. Para ver a pasta, teriam que ter entrado na casa.

Questionaram Andreas, que respondeu:

O garoto norteou muito as investigações da Delegacia de Homicídios. Apesar de ter Daniel como irmão mais velho e adorar Suzane, jamais se furtou em responder com verdade a tudo que lhe foi perguntado. Não tinha respostas prontas; nenhum depoimento seu parecia preparado. Sendo assim, qualquer envolvimento de Andreas foi descartado e, para a polícia, Andreas seria a próxima vítima de um crime - até aquele momento não confirmado - praticado por Daniel Cravinhos e talvez, Suzane. A pedido do delegado, o tio de Andreas, Miguel Abdalla foi chamado. Foi pedido que Andreas fosse afastado da irmã e de seu cunhado até que as investigações terminassem, ficando aos cuidados de seu tio.[17]

Acusação

O promotor Roberto Tardelli espera que Suzane von Richthofen e os irmãos Daniel e Christian Cravinhos peguem 50 anos de prisão cada um.[18]

Suzane, seu namorado Daniel e o irmão dele, Christian Cravinhos, confessaram ter matado os pais dela, a "golpes de pau", na casa em que a família vivia e foram denunciados pelo Ministério Público por crime de duplo homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima; e fraude processual, por terem alterado a cena do crime.

De acordo com o promotor, não há como o juiz arbitrar a sentença de 60 anos porque Suzane era menor de 21 quando cometeu o crime. Os três são réus confessos e colaboraram para o andamento do processo.

Uma considerável vitória da promotoria foi impedir o desmembramento do processo, fazendo com que Suzane e os irmãos Cravinhos fossem julgados juntos. Além disso, segundo o promotor, venceria nesta segunda o período de prisão domiciliar, mesmo que o ministro Nilson Naves, do Superior Tribunal de Justiça, não tenha estabelecido um prazo.

Atuou como 'assistente da acusação', em nome de Miguel Abdalla, que era irmão de Marísia, o advogado criminalista Alberto Zacharias Toron, que foi o último a falar pela promotoria. Ele reforçou a linha de acusação do promotor Roberto Tardelli e insistiu na participação dos três, com responsabilidades idênticas no crime.[19]

Defesa

O advogado Mauro Otávio Nacif defende que sua cliente sofreu uma "coação moral irresistível", ou seja, de que ela foi pressionada pelo namorado para participar do crime, sob pena de perdê-lo. O namorado teria ganhado muita importância na vida da ré depois de ela ter perdido a virgindade com ele, aos 16 anos.

O Dr. Mauro diz que a questão da virgindade era um tabu na casa de Suzane, que recebeu uma educação rígida graças à ascendência alemã e cuja mãe se casou virgem. Ela estaria tão envolvida com o namorado que, na opção entre Daniel e os pais, ela optou pelo namorado.

Para o advogado, Daniel "escravizava" Suzane e foi o responsável por seu envolvimento com drogas como maconha — que consumia frequentemente — e ecstasy. Ele diz que Daniel não queria usar preservativos e obrigava Suzane a tomar injeções mensais de anticoncepcionais, que a desagradavam profundamente.

Entrevista polêmica do Fantástico

O Fantástico, programa dominical da Rede Globo passou nove meses conversando com Denivaldo Barni (o advogado-tutor de Suzane) para conseguir uma entrevista exclusiva.

Neste período, houve uma conversa telefônica e dois encontros com Suzane, sem câmeras.

No início de abril de 2006, o advogado confirmou a realização da entrevista, pedindo que nesta reportagem não fossem exibidas cenas de arquivo.

A gravação seria feita em duas etapas: a primeira em 5 de abril de 2006 no apartamento de Barni, no bairro do Morumbi, São Paulo.

Na tarde de 5 de abril, o Fantástico encontrou uma jovem de 22 anos que fala e se veste como uma criança. Na camiseta, estampa da Minnie. Nos pés, pantufas de coelho. A franja cobre os olhos o tempo inteiro. Ela começa a entrevista mostrando fotos de amigos e da família.

Percebe-se ao longo da entrevista que quando questionada sobre o que sente pelo ex-namorado, Suzana olha para Barni: "Muito ódio. Muito, muito, muito. Demais. Ele destruiu a minha família, ele destruiu tudo, tudo, tudo o que eu tinha de mais precioso ele tirou de mim. O que eu tinha de mais precioso…"

Logo no começo da gravação, a câmera registra uma conversa ao pé de ouvido entre Barni e Suzane. O microfone, que já estava ligado, capta o diálogo. Ele orienta Suzane a chorar na entrevista. "Fala que eu não vejo. Chora…".

"Interpretação" no Fantástico

O programa televisivo explorou a ideia de que a entrevista de Suzane fosse uma farsa da Defesa para fazer com que ela fosse vista de uma outra forma pela opinião pública: como uma menina meiga (usando pantufas), imatura, infantilizada e altamente influenciável, o que a teria motivado a fazer o que fez.

Baseada na ideia de que Suzane solta poderia influenciar ou até mesmo atrapalhar o julgamento, ela foi presa novamente, no dia seguinte à exibição da entrevista.

Por outro lado, Barni defende que pediu que sua cliente chorasse para que ela sensibilizasse o irmão Andreas. Segundo Barni, Suzane luta para receber a herança dos pais, mas seu irmão é contra, tendo acionado a Justiça numa "Ação de Exclusão" de Suzane como herdeira - facultada pela legislação brasileira contra aqueles que atentaram contra a vida dos eventuais legadores.

Primeiro julgamento

O julgamento dos três réus foi marcado para o dia 5 de junho de 2006 no 1º Tribunal do Júri de São Paulo.

A imprensa não obteve permissão de filmar, mas cerca de 80 pessoas foram sorteadas (numa lista de 3 mil inscritos) para acompanhar o julgamento.

Suzane von Richthofen chegou ao fórum por volta das 11h30. Os irmãos Cravinhos chegaram um pouco mais cedo, uma hora antes. O julgamento estava previsto para começar às 13h.

Estratégia da Defesa no julgamento

Os advogados dos irmãos Cravinhos, Geraldo e Divaine Jabur — alegando que não conseguiram se encontrar com seus clientes para melhor preparar a defesa — não compareceram ao júri.

Com a ausência dos advogados dos Cravinhos, o julgamento dos irmãos foi cancelado.

Na sequência, após os advogados de Suzane se retirarem do plenário, — depois de uma discussão com o juiz quanto ao fato de uma testemunha imprescindível não ter comparecido; o júri dela também foi adiado.

Segundo julgamento

Com o intuito de evitar novo adiamento, o juiz do caso tomou algumas precauções, como autorizar encontro entre os irmãos Cravinhos e um de seus advogados no fim de junho de 2006, e nomear um defensor público (e até um substituto para este último) para defender os irmãos, caso seus advogados novamente faltem. Possíveis manobras da defesa de Suzane não eram esperadas, já que ela não tinha mais o benefício de prisão domiciliar.

Um novo julgamento foi marcado para segunda-feira, 17 de julho de 2006. A sentença foi proferida na madrugada de sábado, 22 de julho, às 02 a.m.

Primeiro dia

Segunda-feira, 17 de Julho de 2006.

No primeiro dia de julgamento, surgiram polêmicas e novas versões para os fatos. Os três acusados depuseram:

Depoimento de Suzane von Richthofen

Em seu depoimento, Suzane afirma que não tinha conhecimento do plano para matar seus pais, concebido e executado única e exclusivamente pelos irmãos Cravinhos. Ela também diz que estava "muito maconhada" quando o crime ocorreu, que conduziu os irmãos para a casa sem saber que seus pais iriam ser assassinados, e que só se deu conta do ocorrido ao chegar em casa com seu irmão Andreas. Afirma ainda que Daniel era excessivamente ciumento. Fez menção a uma vez em que ela fez uma viagem à Alemanha e foi obrigada a gastar muito com cartões telefônicos, apenas para manter contato com o namorado. Quando Suzane voltou, Daniel disse a ela que não poderia ficar longe dele por tanto tempo e que tinha tentado se matar por causa da ausência de sua namorada.Suzane declarou ter presenteado Daniel com presentes caros custeados com o dinheiro dos pais. Segundo ela, Suzane presenteava Daniel com DVDs, TVs e bens caros. 'Ele sempre estava com dinheiro na carteira. Mas era sempre o meu dinheiro', declarou a filha das vítimas do assassinato.Suzane ainda declarou que no clube de aeromodelismo onde ela e seu irmão Andreas conheceram Daniel, ela ficou sendo conhecida como "a galinha dos ovos de ouro da família Cravinhos".

Outro ponto de conflito é a perda de sua virgindade: enquanto ela afirma tê-la perdido com Daniel Cravinhos, Daniel diz que ela a perdeu com seu namorado anterior. Segundo o jornal Folha de São Paulo, esta discussão é relevante porque desta forma pode cair por terra a principal tese da defesa de Suzane, a de que Daniel exercia um fascínio irresistível sobre isso.

Depoimento de Christian Cravinhos

Christian, por sua vez, também apresentou novas informações: segundo ele, apenas seu irmão Daniel teria matado Manfred e Marísia. Christian teria assumido esta responsabilidade por achar que, desta forma, Daniel passaria menos tempo preso. O réu também insiste que Daniel e Suzane estavam convencidos a cometer o crime, apesar de suas tentativas de dissuadi-los; de acordo com ele, Suzane teria dito: "Quero matar meus pais hoje". Segundo a promotoria, Christian pode perder o benefício da redução da pena por ter mudado a versão dos fatos.

Depoimento de Daniel Cravinhos

Daniel afirma, entre outros, que a mentora do crime foi Suzane von Richthofen. De acordo com ele, era de conhecimento geral o péssimo relacionamento entre sua ex-namorada e seus pais. Daniel sustenta que Suzane sofria agressões físicas e verbais, além de abusos sexuais (fato que Suzane nega: ela classifica sua família como "normal, do bem"). Por isso e pela herança, Daniel afirma que Suzane estaria convencida a matar seus pais. Ele também afirmou ter sido "usado" pela ex-namorada para dar cabo de seu plano.

Conclusões

A defesa dos irmãos Cravinhos acusou Suzane de "mentirosa" e pediu uma acareação entre os três acusados, pedido acatado pelo juiz Alberto Anderson Filho. Esta acareação poderia esclarecer pontos cruciais, como quem foi o mentor e qual o real papel de Suzane no crime – há controvérsias, por exemplo, se ela teria ou não visto o corpo dos pais.

Segundo dia

Terça-feira, 18 de Julho de 2006.

A parte principal do segundo dia de julgamento foi o depoimento de Andreas, irmão de Suzane.

Depoimento de Andreas von Richthofen

A primeira pessoa a ser ouvida, Andreas Albert von Richthofen, afirmou que nem ele e nem a irmã foram vítimas de abusos ou maus tratos por parte dos pais, ao contrário do que disse Daniel Cravinhos. O rapaz classificou a relação de Suzane com Manfred e Marísia como normal, sem conflitos excepcionais. Ele também disse ter sofrido "chantagem emocional" para que escrevesse um bilhete dizendo que perdoava a irmã, e que na verdade não a perdoou, afirmou não acreditar em seu arrependimento e nem em sua intenção de desistir da herança, e disse que ele e Suzane foram influenciados por Daniel Cravinhos a usar maconha. Andreas também admitiu se sentir ameaçado pela irmã: "Dizem por aí que ela é psicopata. Eu não sei, mas de uma pessoa assim a gente pode esperar qualquer coisa".Andreas revelou ainda que não consegue fazer uso do dinheiro porque Suzane está complicando o processo.Outra mentira de Suzane teria sido sobre a arma usada no crime. Em seu depoimento, ela disse que a arma era do irmão, o que Andreas nega. Ele disse apenas que Suzane pediu que ele jogasse o objeto fora.

Depoimento da delegada Cíntia Tucunduva

A convite do Ministério Público, foi ouvida também a delegada de polícia Cíntia Tucunduva Gomes. Ela desmontou a versão apresentada no dia anterior pelos irmãos Cravinhos de que apenas Daniel teria golpeado as vítimas: para ela, as agressões foram simultâneas pois seria impossível que um dos dois tivesse sido atacado sem que o outro esboçasse reação. Gomes também ressaltou a frieza de Suzane, que se portou de modo desapaixonado desde o princípio – após confessar o crime, Suzane teria penteado os cabelos e perguntado ao então namorado se estava bonita, antes de ser fotografada e fichada no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).

Outros depoimentos

Foram ouvidos ainda: Fábio de Oliveira (agente penitenciário) e Hélio Artesi (pai de uma ex-namorada de Christian), que atestaram o bom comportamento dos irmãos Cravinhos; Ivone Wagner, que testemunhou que Suzane tratava mal sua mãe; e o policial militar Alexandre Boto, que "estranhou" a atitude de Suzane ao chegar à casa dos von Richthofen para verificar o que havia ocorrido.

Terceiro dia

Quarta-feira, 19 de Julho de 2006.

Os advogados de Suzane tentaram manobra para incluir novos documentos nos autos do processo: leia a seção relativa à Herança.

Depoimento de Nadja Cravinhos

A mãe dos réus Christian e Daniel Cravinhos, Nadja Cravinhos de Paula, prestou um depoimento carregado de emoção. Ela ressaltou o arrependimento e profunda vergonha iminente que os filhos estariam sentindo, apesar de pedir aos jurados punição para todos: "Cada um tem que pagar pelo que fez, e não pelo que não fez." Afirmou que perdoou a todos, que os pais de Suzane eram agressivos quando bebiam e que de fato abusavam sexualmente da garota, que Andreas era influenciado em demasia por Suzane, e que Christian não tem mais problemas com drogas (pois teria largado há dez anos).

Reforçando a linha de defesa montada pelo advogado dos filhos, Nadja declarou que Suzane não perdeu a virgindade com Daniel e que Manfred e Marísia bebiam muito e "eram extremamente agressivos" entre eles e com os filhos.

Nadja disse que, quando Suzane tinha que ir para o sítio com os pais, entrava em pânico. "Não sei se ela se fazia de vítima, fazendo dele (Daniel) um instrumento", contou a mãe dos Cravinhos.

Christian e Daniel choraram bastante durante o depoimento.

Segundo depoimento de Christian Cravinhos

Horas depois, Christian - acredita-se que influenciado pelo depoimento da mãe - mudou seu próprio depoimento, confessando ter golpeado Marísia von Richthofen até a morte. Ele atribuiu a concepção do plano a Suzane: ela os teria convencido a participar do crime alegando que, com os pais, "não tinha vida", e que Manfred a teria tentado estuprar quando ela tinha 13 anos. Entretanto, manteve as declarações de que teria batido a porta do carro e pisado com mais força, na tentativa de acordar o casal e lhes dar alguma chance de reação. Disse também que, mortos Manfred e Marísia, Suzane o teria acalmado, dizendo: "Você não me tirou nada. Você me deu uma nova vida". Ao final do depoimento, Christian chorava muito e foi abraçado pelo pai. O julgamento foi suspenso por alguns minutos, e os jurados retirados do plenário.

Depoimento de Fernanda Kitahara

Depôs também Fernanda Kitahara, ex-colega de faculdade de Suzane. Ela confirmou que Suzane e Andreas usavam maconha, e que a droga era comprada por Daniel. Disse que sabia de desentendimentos entre Suzane e os pais, ressaltando um caráter controlador por parte deles: "Ela tinha horário pra voltar pra casa, saindo comigo ou com o namorado" - com isso Suzane teria, por várias vezes, mentido aos pais para encontrar Daniel. Também disse que Suzane era, em sala de aula, quieta e sem amigos, graças ao ciúme exacerbado de Daniel, e contou que Suzane lhe disse que o namorado era perseguido pelo espírito de um amigo, o "Nego" ou "Negão". Este afirmava que a acusada teria de escolher entre os pais e o namorado.

Quarto dia

Quinta-feira, 20 de Julho de 2006.

O quarto dia começou com a exibição das imagens da perícia realizada no corpo de Marísia. A perita Jane Belucci fez uso de fotografias para esclarecer a dinâmica dos eventos, e a natureza das fotos, tais como a do rosto desfigurado de Manfred, causou desconforto geral. O laudo do IML (Instituto Médico Legal) concluiu que a mãe da ré morreu por traumatismo crânio-encefálico, causado por "instrumento contundente", com vários golpes. De acordo com a análise, a mãe de Suzane teve uma morte agônica, se mantendo viva por algum tempo.Enquanto essas imagens eram mostradas os réus Suzane, Daniel e Christian permaneceram de costas para o telão, sem em nenhum momento olhar para fotos.

O dia foi reservado ainda para a leitura de depoimentos das testemunhas (ainda na fase processual do caso) e para a exibição da reconstituição do filme e de uma série de reportagens acerca do crime, além dos depoimentos dos acusados.

Daniel e Christian choraram copiosamente durante a exibição de suas encenações, e pediram para serem retirados do plenário. Suzane não foi vista chorando, apesar das declarações em contrário de seus advogados, e também abandonou o plenário — para o promotor Roberto Tardelli, entretanto, arrependimento e desespero não diminuem a pena. Os réus divergiram sobre quem ficou responsável por desarrumar a biblioteca da casa na simulação de roubo, e sobre o momento em que pegam uma garrafa de água para jogar nas cabeças das vítimas.

Também foram lidas cartas de amor trocadas por Suzane e Daniel. Enquanto o rapaz se emocionou a ponto de ser retirado do plenário, Suzane demonstrou constrangimento e desconforto (especialmente nos trechos em que ela chama Daniel de "meu maridinho" e outros apelidos similares, que arrancaram risos do público), mantendo sua cadeira afastada das dos irmãos.

Conclusões

Para o promotor Tardelli,[20] o comportamento dos réus ressalta a "frieza" de Suzane e o "descontrole emocional" de Daniel — a combinação perfeita para se cometer um crime como este, em que lógica e coragem eram necessários. A promotoria disse que iria tentar provar que o crime foi inteiramente planejado, que nenhum dos acusados foi induzido. Para isto eles pretendem lembrar, entre outros, que logo após o crime Daniel e Suzane protagonizavam cenas de amor na delegacia, enquanto Christian foi a um churrasco, viajou e comprou uma moto.

Quinto dia

Sexta-feira, 21 de julho de 2006.

No último dia, foram realizados os debates entre acusação e defesa e, após a decisão do Ministério Público de se abrir mão do tempo reservado para réplica, os jurados se reuniram para decidir o futuro dos réus.

Defesa dos irmãos Cravinhos

A advogada Gislaine Jabur tentou convencer os jurados a derrubar as qualificadoras colocadas pelo Ministério Público contra Christian e Daniel: ela alegou que Christian não pode ser acusado de duplo homicídio, já que ele matou apenas Marísia; disse que não houve motivo torpe, já que ele não tinha rancor das vítimas; alegou, por fim, que não houve motivo cruel (o laudo do IML – Instituto Médico Legal – atesta que Marísia morreu por traumatismo craniano, e não pela toalha colocada em sua boca). Quanto a Daniel, Gislaine lembrou que, desde a reconstituição do crime, o réu afirmou ter tentado acordar Manfred após tê-lo golpeado, sacudindo seu braço e passando uma toalha por seu rosto. Os advogados também argumentaram que as acusações de fraude e furto não procedem, já que Christian teria ficado com o dinheiro e as joias a pedido de Suzane.

Além disso, o outro advogado dos Cravinhos, Geraldo Jabur, arrancou risos da plateia ao comparar Suzane com personagens de telenovelas da Rede Globo, como Bia Falcão, Safira (da novela Belíssima) e Leona (da novela Cobras e Lagartos).

Ministério Público

Os promotores Roberto Tardelli e Nadir de Campos Júnior pedem ao júri a condenação dos réus. A promotoria acusou a defesa de Suzane de preconceito social, quando esta afirmou que a "menina milionária", que vivia alheia à realidade num mundo de conforto material, e que não tinha motivos para cometer um crime, foi facilmente convencida por Daniel a fazê-lo já que ele, vindo de uma família mais humilde e tendo um histórico de criminalidade e uso de drogas, tinha maior propensão a cometer um crime.

Ao ser acusado pelo promotor de justiça Nadir de Campos Júnior, Daniel Cravinhos teve uma crise de choro e foi abraçado pelo irmão e também réu, Christian Cravinhos. Ambos foram retirados do plenário. Suzane, por sua vez, permaneceu no plenário de cabeça baixa, sem esboçar reação.

Reunião dos jurados

Os quatro homens e três mulheres que compuseram o júri se reuniram por volta das 22h, no fórum da Barra Funda (zona oeste de São Paulo). Eles responderam a um questionário em que julgavam se cada um dos réus era culpado em 12 itens. As respostas possíveis eram sim e não. No caso dos irmãos Cravinhos, as questões são, entre outras, se houve motivo torpe, se o meio usado foi cruel, se houve possibilidade de defesa das vítimas, e se há atenuantes. No caso de Suzane, em seis perguntas os jurados devem decidir se ela agiu ou não sob coação dos irmãos Cravinhos.

Com base nos questionários, o juiz Alberto Anderson Filho, presidente do 1° Tribunal do Júri, estabeleceu e divulgou a sentença.

Sentença

O Tribunal do Júri condenou Suzane Richthofen e Daniel Cravinhos a 39 anos de reclusão, mais seis meses de detenção, pelo assassinato do engenheiro Manfred e da psiquiatra Marísia von Richthofen, mortos a pauladas no dia 31 de outubro de 2002, na residência deles, no bairro nobre do Brooklin, em São Paulo. A pena-base foi de 16 anos, mais 4 pelos agravantes, para cada uma das mortes. Ambos tiveram sua pena reduzida em um ano; Suzane por ser à época menor de 21 anos, e Daniel, graças à confissão. Já Christian Cravinhos foi condenado a 38 anos de reclusão, mais seis meses de detenção. Sua pena-base foi de 15 anos, mais 4 pelos agravantes, também para cada uma das mortes. Ele também teve sua pena reduzida em um ano por ter confessado o crime. Mesmo condenados a quase 40 anos, a lei brasileira só permite que um condenado fique preso por no máximo 30 anos.

A sentença só foi anunciada às 2h da madrugada do dia 22 de julho de 2006, pelo juiz Alberto Anderson Filho, que presidiu o julgamento iniciado no começo da semana, no dia 17, no Fórum Criminal da Barra Funda, na capital paulista.

Suzane cumpriu pena em Rio Claro-SP (depois, em agosto de 2006, por motivos de segurança, foi transferida para a Penitenciária Feminina de Ribeirão Preto-SP), enquanto os irmãos Cravinhos foram levados para a penitenciária de segurança máxima de Tremembé-SP.

Os condenados ainda podem recorrer, mas não poderão aguardar em liberdade. Também não poderão ser submetidos a novo júri, pois as penas foram inferiores a 20 anos por homicídio praticado.

O advogado de defesa de Suzane Richthofen, Mauro Otávio Nacif, disse que saía "muito triste" do Tribunal e que não iria recorrer do resultado, mas que tentará reduzir a pena da cliente. O advogado declarou ainda que Suzane, depois de cumprir a pena, "quer morar na Europa e ser diplomata".

Progressão da pena

Discute-se a progressão da pena (de regime fechado a semi-aberto e aberto) para Suzane von Richthofen e os irmãos Cravinhos devido à recente interpretação do Supremo Tribunal Federal em caso de controle de constitucionalidade concentrado que considerou inconstitucional a emenda que proibia a progressão da pena para condenados por crimes hediondos. Se receberem o benefício da progressão da pena eles poderão deixar de cumprir a pena em regime fechado após dois quintos da pena. Todos concordam que, antes de mais nada, uma eventual decisão favorável aos condenados depende de bom comportamento durante o periódo de reclusão.

Herança

A herança dos von Richthofen está avaliada em mais de 11 milhões de reais[22]. Quando Suzane completou 18 anos, em novembro de 2001, seu pai abriu uma conta de 30 milhões de Euros na Suíça, em seu nome. O dinheiro provavelmente era fruto de corrupção da DERSA, empresa em que Manfred Von Richthofen era o engenheiro responsável pela construção do Rodoanel Mário Covas, de orçamento bilionário. Como a conta está em seu nome, nada impede que Suzane tenha acesso ao dinheiro após cumprir sua pena.[23][24] Há controvérsias sobre o interesse dos réus no espólio, e se este os teria motivado a cometer o crime, além dos boatos que falam que isso tudo foi por causa da mãe que os proibiam de namorar. A opinião pública tende a considerar que o crime foi cometido por motivação financeira, tanto de Suzane quanto dos irmãos Cravinhos.

Segundo seu advogado Mauro Nacif, Suzane não está interessada em receber a herança: "Ela abriu mão de tudo desde o inicío. Disse que não queria nada, com a condição de que o irmão não movesse um processo de exclusão de herança contra ela. Queria evitar uma atitude 'feia' dele, mas não conseguiu o acordo. Mesmo assim, porque gosta muito do Andreas, quer administrar a herança". A acusação refuta esta tese, sustentando que esta é uma tentativa de se humanizar a figura de Suzane, tida pela opinião pública como fria, calculista e cruel. É importante ressaltar que esta tese é contrária à apresentada três anos atrás, quando Suzane e os irmãos Cravinhos confessaram que um dos motivos para se assassinar o casal seria o interesse no espólio dos von Richthofen.

Na quarta-feira, 19 de julho de 2006, os advogados de Suzane tentaram incluir no processo documento que pede a exclusão da moça do inventário referente aos bens deixados por seus pais – avaliados em 11 milhões de reais – em favor do irmão caçula. O pedido foi negado pelo juiz Alberto Anderson Filho. Na interpretação do promotor Roberto Tardelli, "a ação não traz nenhum efeito para esse julgamento, porque não está juntada nos autos. Além disso, a renúncia é a um ato unilateral. Não precisa de processo judicial. Também não impede o andamento da ação para deserdar Suzane, movida por Andreas". Os advogados de Suzane tentaram esta manobra após o depoimento no dia 18 de julho de Andreas von Richthofen, em que ele afirmou que Suzane requere na Justiça uma pensão mensal no valor de aproximadamente sete salários mínimos e o direito de morar no apartamento antes ocupado pela avó. Além disso, Suzane teria causado intenso desconforto à Andreas, ao requerer na Justiça a contagem de copos, talheres e cadeiras da casa, entre outros objetos, para a confecção do inventário.

Repercussão

Após o caso dos von Richthofen vir a público, o deputado federal Paulo Baltazar (PSB-RJ) elaborou projeto de lei que impede que condenados por crimes contra familiares tenham acesso ao espólio da(s) vítima(s). O projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em abril de 2006, e segue agora para aprovação no Senado. Na mesma oportunidade, também foi aprovado o Projeto de Lei 141/03, do mesmo autor, que tramitava em conjunto, e que exclui da herança quem matar ou tentar matar o cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente.

Suposto assédio sexual praticado por Promotor de Justiça

Em Setembro de 2010, o promotor de justiça Eliseu Berardo foi acusado por Suzane de assédio sexual, e recebeu, por parte da Corregedoria do Ministério Público de São Paulo, como punição, uma suspensão de 22 dias sem direito a receber salário.[25][26] No entanto, segundo a corregedoria, a punição foi motivada pelo acúmulo de diversos fatores.[26] O promotor negou veementemente todas as acusações.[26]

Referências

  1. Suzane Von Richthofen presta depoimento no Ministério Público de Ribeirão Preto
  2. a b c d e f g http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG54308-5990,00-NO+RASTRO+DE+SUZANE.html
  3. http://www.istoe.com.br/reportagens/3535_FELIZ+ANIVERSARIO+SUZANE+
  4. http://www.redetv.com.br/atardeesua/video/299885/promotor-faz-revelacoes-exclusivas-sobre-o-caso-richthofen.html
  5. a b c d http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG74375-6014,00-O+IRMAO.html
  6. a b http://noticias.r7.com/sao-paulo/em-carta-richthofen-diz-a-daniel-cravinhos-que-eles-vao-sair-dessa-27102012
  7. http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR54308-5990,00.html
  8. http://www.estadao.com.br/arquivo/cidades/2002/not20021108p20949.htm
  9. http://www.diarioweb.com.br/editorial/corpo_noticia.asp?IdCategoria=62&IdNoticia=24274&IdGrupo=1
  10. http://www.estadao.com.br/arquivo/nacional/2002/not20021109p54173.htm
  11. http://www.estadao.com.br/arquivo/nacional/2002/not20021109p54174.htm
  12. http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u84892.shtml
  13. a b c d e f http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u62515.shtml
  14. http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u62003.shtml
  15. a b c d e http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/crimes/caso-suzane-von-richthofen/n1596994333920.html
  16. a b http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/23354/noticias+ultimainstancia.shtml
  17. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u CASOY, Ilana. O Quinto Mandamento. Editora Arx, ISBN 8575812289
  18. MAGALHÃES, Vagner. Suzane e Cravinhos poderão ter novo julgamento. 20 de julho de 2006, 21h35 Atualizada às 01h01
  19. D'AGOSTINO, Rosanne. Íntegra da fala do assistente de acusação, Alberto Toron, no júri de Suzane. São Paulo (SP): Última Instância, 21 de julho de 2006
  20. D'AGOSTINO, Rosanne. Íntegra da fala do promotor Tardelli no último dia de júri do caso Richthofen São Paulo (SP): Última Instância, 21 de julho de 2006
  21. http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/23354/noticias+ultimainstancia.shtml
  22. «Herança deixada pelo casal Richthofen vale R$ 11 milhões». Globo.com. Consultado em 14 de fevereiro de 2011 
  23. http://www.istoe.com.br/reportagens/3535_FELIZ+ANIVERSARIO+SUZANE+
  24. http://www.redetv.com.br/atardeesua/video/299885/promotor-faz-revelacoes-exclusivas-sobre-o-caso-richthofen.html
  25. sítio veja.abril (16 de Outubro de 2011). «Para escritor, caso Richthofen foi trama rodriguiana». Consultado em 20 de Setembro de 2012 
  26. a b c sítio fantastico.globo.com (26 de Setembro de 2010). «Promotor é suspenso por suposto assédio a Suzane Richthofen». Consultado em 20 de Setembro de 2012 

Ligações externas