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Carneiro-selvagem

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 Nota: Se procura pelo carneiro da espécie Ovis dalli, veja Carneiro-de-dall.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaCarneiro-selvagem
Ocorrência: PleistocenoRecente
0,7–0 Ma
Macho
Macho
Fêmea
Fêmea
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Artiodactyla
Família: Bovidae
Subfamília: Antilopinae
Tribo: Caprini
Gênero: Ovis
Espécie: O. canadensis
Nome binomial
Ovis canadensis
Shaw, 1804
Distribuição geográfica
Distribuição do carneiro-selvagem
Distribuição do carneiro-selvagem
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O carneiro-selvagem (Ovis canadensis)[2] é uma espécie de mamífero caprino que, ao lado do carneiro-de-dall (Ovis dalli), é uma das duas espécies de carneiros selvagens nativas da América do Norte. É referido ainda pelo nome em inglês bighorn, devido aos grandes chifres curvos característicos dos machos da espécie. É uma espécie considerada pouco preocupante pela IUCN,[1] porém duas populações são consideradas em perigo de extinção: o carneiro-selvagem-de-sierra-nevada (O. c. sierrae) e o carneiro-selvagem-peninsular, considerada uma população distinta dentro da subespécie de carneiro-selvagem-do-deserto (O. c. nelsoni).

Evolução

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Carneiros selvagens cruzaram a Ponte Terrestre de Bering, uma porção de terra firme que conectava a Eurásia à América, onde atualmente se encontra o Estreito de Bering, durante o Pleistoceno, há cerca de 750000 anos. Subsequentemente, espalharam-se pelo oeste da América do Norte atingindo, como limite máximo ao sul, a Baja California e o noroeste do México.[3] A divergência de seu ancestral asiático mais próximo, o carneiro-das-neves (O. nivicola) ocorreu há cerca de 600000 anos.[4] Na América do Norte, os carneiros selvagens divergiram em duas espécies: o carneiro-de-dall (O. dalli), que distribui-se pelo Alasca e noroeste do Canadá, e o carneiro-selvagem (O. canadensis) que habita desde o sul do Canadá até o México. Entretanto, o status destas espécies tem sido questionado dado que hibridizações ocorreram entre elas em sua história evolucionária recente.[5]

Taxonomia

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A espécie Ovis canadensis foi descrita pela primeira vez pelo zoólogo britânico George Kearsley Shaw em 1804.[2]

Ainda há muitas divergências acerca das subdivisões de Ovis canadensis, com referências citando seis[6][7] ou até sete[3] subespécies; porém, atualmente três subespécies são mais amplamente reconhecidas:[8]

Por muito tempo, a taxonomia do carneiro-selvagem foi baseada nos estudos morfológicos de Cowan (1940), que incluía sete subespécies:[3]

Entretanto, desde o fim do século XX, estudos usando material genético demonstraram que a divisão em sete subespécies não era correta. Inicialmente, Wehausen & Ramey (1993)[9] propuseram que cremnobates era sinônimo de nelsoni, pois não eram morfometricamente distintos e não existiam barreiras biogeográficas convincentes que sugeriam isolamento genético. Ramey (1995)[10], com base em dados morfológicos e de DNA mitocondrial, concluiu que, provavelmente, todas as populações de carneiro-selvagem-do-deserto (nelsoni, mexicana, cremnobates e weemsi) deveriam ser reconhecidas como uma única subespécie politípica. Wehausen & Ramey (2000)[11] concluíram que audoboni e as populações de californiana mais ao norte eram sinônimos de canadensis, enquanto populações de californiana mais ao sul eram sinônimos de nelsoni. Como a única população de californiana restante era de apenas 100 indivíduos restritos ao centro e ao sul da Sierra Nevada, posteriormente, a nomenclatura foi mudada de californiana para sierrae[12]. Dessa forma, as sete subespécies foram reduzidas para apenas três (canadensis, nelsoni e sierrae).

Posteriormente, um estudo filogenético mais abrangente (Buchalski et al., 2010), revelou dois clados altamente divergentes, concordantes com sierrae e canadensis, sugerindo que essas subespécies divergiram do carneiro-selvagem-do-deserto entre 315000 e 94000 anos atrás, e um terceiro clado, do carneiro-selvagem-do-deserto, que compreendia vários haplogrupos de divergência mais recentes, concordantes com as supostas subespécies nelsoni, mexicana e cremnobates. Entretanto, o estudo concluiu que essas subespécies do deserto representam linhagens antigas e, portanto, devem ser gerenciadas como táxons distintos para preservar a biodiversidade ao máximo, apesar de reconhecer que são necessárias análises genéticas adicionais.[8]

Mitologia

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O bighorn era o animal mais admirado pelo povo Apsaalooka, ou Crow, e hoje em dia a Cordilheira do Montes Bighorn é considerado o centro das terras tribais dos Apsaalooka. No livro da Área Nacional de Recreação do Canyon Bighorn, o contador de histórias, o Velho Coiote conta uma lenda relacionada aos bighorn. Um homem possuído por espíritos do mal tenta matar um jovem, empurrando-o para baixo penhasco, mas a vítima salva-se quando fica presa nas árvores. Resgatado por carneiros selvagens, o homem tomou o nome de líder deles, Metal Grande. Os outros carneiros concederam-lhe o poder, a sabedoria, os olhos afiados, o descalço certo, a audição apurada, a força grande e um coração forte. Metal Grande retornou para seu povo com a mensagem de que o povo Apsaalooka irá sobreviver por muito tempo no rio que corre fora das montanhas conhecido como rio Bighorn.

Características

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Ovis canadensis

Bighorn são chamados assim pelos chifres carregados pelos machos, grandes e curvados (bighorn, do inglês "big horn"). As ovelhas têm também chifres, mas são curtos e com somente uma ligeira curvatura. Variam na coloração do marrom claro ao cinzento ou preto, marrom chocolate, com as costas e um forro brancos na parte traseira de todos os quatro pés. Fêmeas do Carneiro das Montanhas Rochosas pesam até 90 kg, e machos ocasionalmente excedem os 135 kg. Em contraste, as fêmeas do carneiro-da-sierra-nevada pesam cerca de de 63 kg com os machos pesando por volta de 90 kg. Os chifres dos machos podem pesar até 14 kg, mais que o resto dos ossos juntos do corpo do macho [13].

Os bighorn alimentam-se de gramíneas e plantas arbustivas, particularmente no outono e no inverno, e buscam em reservas naturais de sal. São bem adaptados a escalar o terreno íngreme onde procuram proteção contra predadores tais como coiotes, águias e pumas. Vivem em rebanhos grandes, mas porque não têm a hierarquia do muflão, não podem ser domesticados. Esse é porque os bighorns não seguem automaticamente um único líder, assim como os ancestrais asiáticos da ovelha doméstica faziam.

Antes da estação do acasalamento, os carneiros tentam estabelecer uma hierarquia de dominância que determina o acesso às ovelhas para a cópula. Realiza-se durante o período pré-acasalamento a maioria das características batidas de chifre, que ocorre entre os machos, embora este comportamento possa ocorrer em uma quantidade limitada durante todo o ano .[14]. Os chifres dos machos podem pesar mais de 18 kg, e frequentemente exibem estragos pelas batidas repetitivas. As fêmeas possuem uma gestação de 6 meses. Em climas temperados, o pico do acasalamento ocorre em novembro, com os cordeiros nascendo em maio.

Os bighorn são altamente suscetíveis a determinadas doenças carregadas por carneiros domésticos tais como sarna e pneumonia; somando-se as mortes que ocorrem em consequência dos acidentes que envolvem deslizamentos de pedras e quedas de penhascos (são riscos enfrentados por viver no terreno íngreme).

Um grupo de carneiros.

Os bighorns são considerados bons indicadores da saúde da terra porque a espécie é sensível a muitos problemas ambientais humano-induzidos. Além de seu valor estético, ele são considerados animais desejáveis por caçadores.

Bighorn na cultura

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O carneiro-das-montanhas-rochosas é o mamífero-símbolo da província de Alberta (Canadá) e do estado do Colorado (Estados Unidos).

Referências

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  1. a b Festa-Bianchet, M. (3 de dezembro de 2019). «Ovis canadensis (Bighorn Sheep)». The IUCN Red List of Threatened Species (em inglês). doi:10.2305/iucn.uk.2020-2.rlts.t15735a22146699.en. Consultado em 14 de novembro de 2025 
  2. a b «Ovis canadensis • Bighorn Sheep». www.mammaldiversity.org. Consultado em 14 de novembro de 2025 
  3. a b c Cowan, Ian McTaggart (novembro de 1940). «Distribution and Variation in the Native Sheep of North America». American Midland Naturalist (em inglês) (3). 505 páginas. doi:10.2307/2420858. Consultado em 13 de novembro de 2025 
  4. Ramey, R. R. II (1993). «Evolutionary genetics and systematics of North American mountain sheep». Cornell University, Ithaca, NY (Tese de Ph.D.) (em inglês) 
  5. Loehr, J.; Worley, K.; Grapputo, A.; Carey, J.; Veitch, A.; Coltman, D. W. (1 de março de 2006). «Evidence for cryptic glacial refugia from North American mountain sheep mitochondrial DNA». Journal of Evolutionary Biology (em inglês) (2): 419–430. ISSN 1010-061X. doi:10.1111/j.1420-9101.2005.01027.x. Consultado em 13 de novembro de 2025 
  6. «Ovis canadensis». Mammal Species of the World. Consultado em 14 de novembro de 2025 
  7. «Ovis canadensis Shaw, 1804 (T#15181)». hesperomys.com. Consultado em 14 de novembro de 2025 
  8. a b Buchalski, Michael R.; Sacks, Benjamin N.; Gille, Daphne A.; Penedo, Maria Cecilia T.; Ernest, Holly B.; Morrison, Scott A.; Boyce, Walter M. (9 de junho de 2016). «Phylogeographic and population genetic structure of bighorn sheep ( Ovis canadensis ) in North American deserts». Journal of Mammalogy (em inglês) (3): 823–838. ISSN 0022-2372. doi:10.1093/jmammal/gyw011. Consultado em 13 de novembro de 2025 
  9. Wehausen, J. D.; Ramey II, R. R. (1993). «A morphometric reevaluation of the Peninsular bighorn subspecies». Desert Bighorn Council Transactions (em inglês). 37: 1–10 
  10. Ii, R. R. Ramey (agosto de 1995). «Mitochondrial DNA variation, population structure, and evolution of mountain sheep in the south‐western United States and Mexico». Molecular Ecology (em inglês) (4): 429–440. ISSN 0962-1083. doi:10.1111/j.1365-294X.1995.tb00236.x. Consultado em 13 de novembro de 2025 
  11. Wehausen, John D.; Ramey, Rob Roy (fevereiro de 2000). «Cranial morphometric and evolutionary relationships in the norther range of Ovis canadensis». Journal of Mammalogy (em inglês) (1): 145–161. ISSN 0022-2372. doi:10.1644/1545-1542(2000)081<0145:CMAERI>2.0.CO;2. Consultado em 13 de novembro de 2025 
  12. Wehausen, J. D., V. C. Bleich, and R. R. Ramey, II (2005). «Correct nomenclature for Sierra Nevada bighorn sheep». California Fish and Game. 91 (3): 216-218 
  13. «Ovis canadensis». Animal Diversity Web. University of Michigan Museum of Zoology 
  14. Valdez, R.; P. R. Krausman (1999). Mountain Sheep of North America. [S.l.]: The University of Arizona Press, Tucson 

Ligações externas

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