Dialeto caipira: diferenças entre revisões
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O '''dialeto caipira''' é um [[dialeto]] da [[língua portuguesa]] falado no [[interior de São Paulo|interior do estado de São Paulo]], leste do [[Mato Grosso do Sul]], sul de [[Minas Gerais]], sul de [[Goiás]]<ref>{{Citar livro|sobrenome=Ribeiro|nome=José H|título=Música Caipira: da roça ao rodeio|editora=34|local=São Paulo|ano=1999|isbn=85-7326-157-9}}</ref> e norte do [[Paraná]], no [[Brasil]]. Sua delimitação e caraterização datam de 1920, com a obra de [[Amadeu Amaral]], ''O Dialeto Caipira''.<ref>{{ref|Bagno1|Bagno (2011), p. 245}}</ref> |
O '''dialeto caipira''' é um [[dialeto]] da [[língua portuguesa]] falado no [[interior de São Paulo|interior do estado de São Paulo]], leste do [[Mato Grosso do Sul]], sul de [[Minas Gerais]], sul de [[Goiás]]<ref>{{Citar livro|sobrenome=Ribeiro|nome=José H|título=Música Caipira: da roça ao rodeio|editora=34|local=São Paulo|ano=1999|isbn=85-7326-157-9}}</ref> e norte do [[Paraná]], no [[Brasil]]. Sua delimitação e caraterização datam de 1920, com a obra de [[Amadeu Amaral]], ''O Dialeto Caipira''.<ref>{{ref|Bagno1|Bagno (2011), p. 245}}</ref> |
Revisão das 19h27min de 3 de junho de 2014
ISAAC
O dialeto caipira é um dialeto da língua portuguesa falado no interior do estado de São Paulo, leste do Mato Grosso do Sul, sul de Minas Gerais, sul de Goiás[1] e norte do Paraná, no Brasil. Sua delimitação e caraterização datam de 1920, com a obra de Amadeu Amaral, O Dialeto Caipira.[2]
Influências
A língua tupi, que era a língua habitual dos bandeirantes que ocuparam as regiões onde se fala atualmente o dialeto caipira, não apresentava alguns sons habitais da língua portuguesa, como os representados pelas letras f, l e r (de "rato", por exemplo)[3]. Isso influenciou o atual dialeto caipira brasileiro. Por exemplo: o dialeto caipira se caracteriza pelo r gutural (como em "porta", "carta") e pela substituição do dígrafo "lh" por "i", como em "palha", "milho", que se leem "paia", "mio". Nos dois casos, ocorreu uma adaptação da fonética portuguesa à fonética tupi[4]. Outro ponto em comum entre a língua tupi e o dialeto caipira é ausência de diferenciação entre singular e plural: abá, em tupi, pode significar tanto "homem" quanto "homens"[5] e o dialeto caipira usa tanto "a casa" quanto "as casa".
Características
Fonéticas
Desde a obra de Amaral, a fonética caipira é marcada por cinco principais traços distintivos:[6]
- O "R" caipira: O fonema /r/, em fim de sílaba ou em posição intervocálica, assume as características formas aproximante alveolar [ɹ], retroflexo [ɻ]. [7][8][9]
- A rotacização do "L": a permutação, em fim de sílaba, da aproximante lateral [l] pelo fonema /r/ (mil > mir, enxoval > enxovar, claro > craro, etc.). Esse traço não é exclusivo do dialeto caipira, mas se faz presente de forma gradual ao longo de todo o país, sendo menos comum na linguagem culta. Trata-se de um fenômeno que já vinha ocorrendo na passagem do latim para o português (ex: clavu > cravo).[10]
- A iotização do "LH": [ʎ] (<Falhou> [faˈjo]; <Mulher> [muˈjɛ]; <Alho> [ˈaju]; <Velho> [vɛˈju]; <Olhei> [oˈjej], etc.). Da mesma forma que a rotacização do L, esse traço existe ao longo do país todo, sendo mais uma marca social do que regional.[11]
- A apócope da consoante /r/ na terminação dos verbos no infinitivo[12] (<Brincar> [bɾĩˈka]; <Olhar> [oˈja]; <Comer> [koˈme]; <Chorar>: [ʃoˈɾa]; etc.).
- A transformação de proparoxítonas em paroxítonas: A apócope ou síncope em palavras proparoxítonas e a aférese em muitas palavras.
Morfossintáticas
Algumas características morfossintáticas difundidas por todo o falar brasileiro são, popularmente, vistas como características do dialeto caipira, como:
- a concordância de número marcada apenas no artigo[13] (<as mulheres> [az muˈjɛ], <os homens> [u ˈzomi], <as coisas> [as ˈkojzɐ], <os primos> [us ˈpɾimu] etc.)
- a nasalização do /d/ na terminação do gerúndio (nas outras terminações em ←ndo> não sofrem esse fenômeno)[14]:(<Falando> [faˈlɐ̃nu]; <Quando> [ˈkwɐ̃du]; <Dormindo> [duɹˈmĩnu]; <Lindo> [ˈlĩdu]; <Correndo> [koˈhẽnu]; <Segundo> [siˈɡũdu]; <Pondo> [ˈpõnu]; <Mundo> [ˈmũdu])
Variações
O dialeto caipira pode ser dividido em cinco subdialetos:[carece de fontes]
- O primeiro, falado na região sul do estado de São Paulo (regiões do Vale do Ribeira, Sorocaba, Itapetininga e Itapeva), caracteriza-se pela marcação do "e" gráfico sempre pronunciado como fônico. Assim, palavras como "quente" e "dente" possuem o "e" átono pronunciado como /e/ e não como /i/, comum no português padrão do Brasil. Essa é também uma característica do português falado na região de Santa Catarina, Paraná e no Rio Grande do Sul.[carece de fontes]
- O segundo subdialeto é das regiões do Médio Tietê (Campinas, Piracicaba, Capivari, Porto Feliz, Itu, Santa Bárbara d'Oeste, Americana, Limeira, Rio Claro, São Carlos, Araraquara e Jaú). Caracteriza-se pelos erres retroflexos inclusive em início de sílaba (como em caro, parada) e em dígrafos (frente, crente). Caracteriza-se também pela não-palatalização dos grupos "di" e "ti" fônicos.[carece de fontes]
- O terceiro subdialeto compreende as regiões norte, nordeste e noroeste (Ribeirão Preto, Franca, São José do Rio Preto) e oeste (Araçatuba, Presidente Prudente, Bauru, Marília, Lins) do estado de São Paulo, região sudoeste de Minas Gerais (São Sebastião do Paraíso, Cássia (Minas Gerais), Passos (Minas Gerais)), além de parte do estado do Paraná e de Mato Grosso do Sul. Caracteriza-se pelos erres retroflexos só em corda vocálica (final de sílabas), tais como em "porta", "certo", "aberto" e palatização dos grupos "di" e "ti" fônicos.[carece de fontes]
- Um quarto subdialeto compreende a região Mesorregião do Vale do Paraíba Paulista (Taubaté, Guaratinguetá) e Litoral Norte (São Paulo). Caracterizando-se pelos erres retroflexos só em corda vocálica (final de sílabas), tais como em "porta", "certo", "aberto" e com ausência de palatização dos grupos "di" e "ti" fônicos.[carece de fontes]
- O quinto grupo corresponde ao Triângulo Mineiro e a maior parte do estado de Goiás. Compreende um subfalar com pronúncia tais como o grupo três e com ritmo típico do dialeto mineiro, com elevação do tom nas sílabas tônicas, e erres retroflexos só em coda vocálica (final de sílabas), tais como em "porta", "certo", "aberto" além da palatização dos grupos "di" e "ti" fônicos. O Sul de Minas Gerais e parte da Região Sul do estado do Rio de Janeiro possuem esta mesma variação de sotaque caipira.[carece de fontes]
Ver também
- Dialetos paulistas
- Língua geral paulista
- Idiomas minoritários
- Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística
Referências
- ↑ Ribeiro, José H (1999). Música Caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: 34. ISBN 85-7326-157-9
- ↑ Bagno (2011), p. 245
- ↑ Navarro (2005), p. 13-17
- ↑ http://tupi.fflch.usp.br/node/16
- ↑ Navarro (2005), p. 27
- ↑ Castro (2006), p. 20
- ↑ Ferraz, Irineu da Silva (2005). «Características Fonético-Acústicas do /r/ Retroflexo do Português Brasileiro: Dados de Informantes de Pato Branco (PR).» (PDF). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Paraná (UFPR) Pág. 19-21
- ↑ Leite, Cândida Mara Britto (2010). «O /r/ em posição de coda silábica na capital do interior paulista: uma abordagem sociolinguística». Sínteses Pág. 111 (pág. 2 do PDF em anexo)
- ↑ Castro (2006), pp. 81-85
- ↑ Castro (2006), pp. 85-89
- ↑ Castro (2006), pp. 94-96
- ↑ Bagno (2001), p. 328
- ↑ Bagno (2011), p. 705
- ↑ Ferreira, Jesuelem Salvani; Tenani, Luciani (2009). «A redução do gerúndio à luz da fonologia Lexical» (PDF). Estudos Linguísticos. 38 (1): 63-64 (pag. 5 e 6 do pdf em anexo).
- ↑ Bagno, Marcos (2011). Gramática Pedagógica do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola. ISBN 9788579340376
- ↑ Castro, Vandersí Sant'ana (2006). A Resistência de Traços do Dialeto Caipira: Estudo com Base em Atlas Lingüísticos Regionais Brasileiros. Campinas: Unicamp (tese de doutoramento)
- Navarro, Eduardo de Almeida (2005). Método Moderno de Tupi Antigo 3a ed. rev. e aperfeiçoada ed. São Paulo: Global. ISBN 8526010581