Confederalismo democrático: diferenças entre revisões
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'''Confederalismo democrático''' ({{lang-ku|''Demokratik Konfederalizm''}}; |
'''Confederalismo democrático'''{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}} ({{lang-ku|''Demokratik Konfederalizm''}}; também conhecido como '''Comunalismo curdo''' ou '''Apoismo''', este derivado do apelido de seu fundador {{nota de rodapé|Seguidores de Öcalan e membros do PKK são conhecidos por seu nome diminuto como ''Apocu'' (Apoitas), e seu movimento é conhecido como ''Apoculuk'' (Apoismo).{{sfn|Mango|2005|p=32}}}}) é um conceito político-social teorizado pelo [[Ativista política|ativista]] [[Turquia|turco]] de origem [[Curdos|curda]] [[Abdullah Öcalan]] de um sistema de auto-organização democrática em forma de [[confederação]] baseado em princípios do [[ecologismo]], do [[feminismo]], da [[democracia direta]], do [[Multiculturalismo|pluralismo cultural]], do [[cooperativismo]], da [[Defesa pessoal|autodefesa]], da [[autogestão]] e do [[autonomismo]].{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}{{sfn|Öcalan|2008|pp=1–46}}{{sfn|Dirik|2016}} Sistematizado por Öcalan feitos na prisão a partir de seus estudos sobre [[Ecologia social (teoria filosófica)|ecologia social]], [[Municipalismo Libertário|municipalismo libertário]], [[Médio Oriente|historia do Oriente Médio]], [[nacionalismo]] e [[Teoria Geral do Estado|teoria geral do Estado]], o conceito é apresentado como a solução política para a [[História do Curdistão|questão curda]], bem como de outros problemas fundamentais em países da região profundamente enraizados à [[Classe social|sociedade de classes]], e a possibilidade concreta da libertação e da democratização para os povos em todo o mundo.{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Öcalan|2008|pp=1–46}}{{sfn|Dirik|2016}} |
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Embora em sua origem a luta do [[Partido dos Trabalhadores do Curdistão]] (''Partiya Karkerên Kurdistanê'', PKK) tenha sido guiada pela perspectiva de criação de um Estado nacional curdo a partir de um viés [[Marxismo-leninismo|marxista-leninista]], Öcalan desiludiu-se com o modelo de [[estado-nação]] e o [[socialismo estatal]], percebendo equívocos nessa ideologia a respeito da libertação nacional e social dos povos. |
Embora em sua origem a luta do [[Partido dos Trabalhadores do Curdistão]] (''Partiya Karkerên Kurdistanê'', PKK) tenha sido guiada pela perspectiva de criação de um Estado nacional curdo a partir de um viés [[Marxismo-leninismo|marxista-leninista]], Öcalan desiludiu-se com o modelo de [[estado-nação]] e o [[socialismo estatal]], percebendo equívocos nessa ideologia a respeito da libertação nacional e social dos povos.{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}{{sfn|Öcalan|2005}}{{sfn|Bookchin|2018}} Influenciado por ideias de [[Filosofia ocidental|pensadores ocidentais]] como o sociólogo [[Immanuel Wallerstein]] e, principalmente, o [[Anarquismo|anarquista]] e [[Ecologia social (teoria filosófica)|ecologista social libertário]] [[Murray Bookchin]] - em especial pelos conceitos sobre [[Ecologia social (teoria filosófica)|ecologia social]] e [[Comunalismo (política)|municipalismo libertário]] deste autor{{sfn|Bookchin|2018}}{{sfn|Shilton|2019}}{{sfn|Enzinna|2015}} -, Öcalan reformulou profundamente os objetivos políticos do movimento de libertação curdo, abandonando o velho projeto [[Socialismo estatal|socialista estatista e centralizador]] por uma radical e renovada proposta de [[socialismo democrático]]-[[Socialismo libertário|libertário]] que não almeja mais a construção de um [[Lista de Estados soberanos|estado nacional independente]] da [[Turquia]] (e que agregasse territórios de maioria populacional curdas do [[Irão]], do [[Iraque]] e da [[Síria]]), mas do estabelecimento de uma entidade autônoma, democrática e descentralizada a partir das ideias do chamado ''confederalismo democrático''.{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}{{sfn|Öcalan|2008|pp=1–46}}{{sfn|Dirik|2016}} |
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Refutando tanto o [[autoritarismo]] e o [[Burocracia|burocracismo]] do socialismo estatal quando a predação do [[capitalismo]], sistema visto por Öcalan como maior responsável pela [[Desigualdade social|desigualdades socioeconômicas]], pelo [[sexismo]] e pela destruição [[Meio ambiente|ambiental]] no mundo, |
Refutando tanto o [[autoritarismo]] e o [[Burocracia|burocracismo]] do socialismo estatal quando a predação do [[capitalismo]], sistema visto por Öcalan como maior responsável pela [[Desigualdade social|desigualdades socioeconômicas]], pelo [[sexismo]] e pela destruição [[Meio ambiente|ambiental]] no mundo,{{sfn|Öcalan|2008|pp=1–46}}{{sfn|Dirik|2016}}{{sfn|White|2015|pp=126–149}} o ''confederalismo democrático'' defende um "tipo de organização ou administração pode ser chamado de administração política não estatal ou democracia sem Estado",{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}} que proporcionaria os marcos para a organização autônoma de "toda comunidade, grupo confessional, coletivo específico de gênero e/ou grupo étnico minoritário, entre outros".{{sfn|Öcalan|2008|pp=1–46}} É um modelo de [[democracia direta]] construído sobre a autogestão de comunidades locais e a organização em conselhos abertos, conselhos de município, parlamentos locais e congressos gerais, onde os próprios cidadãos são os atores desse autogoverno, permitindo a indivíduos e comunidades exercerem influência real sobre seu ambiente e suas atividades em comum.{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Öcalan|2008|pp=1–46}}{{sfn|Öcalan|2005}} Inspirado no feminismo curdo nas fileiras do PKK, o ''confederalismo democrático'' estabelece a [[Igualdade de género|igualdade de gênero]] como um dos seus pilares centrais.{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}{{sfn|Dirik|2016}} Vendo o [[sexismo]] socialmente arraigado como "um produto ideológico do estado nacional e do poder" não "menos perigoso que o capitalismo, defende uma nova visão de sociedade a fim de desmontar as relações institucionais e psicológicas de poder estabelecidas atualmente nas [[Capitalismo|sociedades capitalistas]] e de assegurar às mulheres um papel vital e igual ao dos homens em todos os níveis da organização e tomada de decisão.{{sfn|Bookchin|2018}}{{sfn|Shilton|2019}} Outros princípios chaves do ''confederalismo democrático'' são o [[ambientalismo]], a [[Defesa pessoal|autodefesa]], o [[multiculturalismo]] (religioso, político, étnico e cultural), as [[Liberdades civis|liberdades individuais]] (como as [[Liberdade de expressão|de expressão]] ou de escolha), e uma [[economia]] do tipo compartilhada, onde o controle dos recursos econômicos não do Estado, mas da sociedade.{{sfn|Malik|2019}}{{sfn|Biehl|2012}} Ainda que se apresente como um modelo oposto ao estado nacional, o confederalismo democrático acredita na possibilidade, sob circunstâncias específicas, de coexistência pacífica entre ambos, desde que não haja intervenção em assuntos centrais da autogestão nem tentativas de [[Assimilação cultural|assimilação social]].{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}Ademais, embora tenha sido teorizada inicialmente como uma nova base social e ideológica para o movimento de libertação curdo, o ''confederalismo democrático'' apresenta-se como um conceito teórico [[Multiculturalismo|multiétnico]] e [[internacionalista]].{{sfn|Öcalan|2008|pp=1–46}}{{sfn|Bookchin|2018}} |
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As linhas gerais do ''confederalismo democrático'' foram apresentadas em março de 2005, através de uma declaração "ao povo curdo e à [[comunidade internacional]]" |
As linhas gerais do ''confederalismo democrático'' foram apresentadas em março de 2005, através de uma declaração "ao povo curdo e à [[comunidade internacional]]"{{sfn|Öcalan|2005}} e, nos anos posteriores, o conceito foi melhor aprofundado em outras publicações, como em um livro de título homônino e nos quatro volumes do ''"Manifesto da Civilização Democrática''".{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}} Pouco depois de divulgado, a declaração foi imediatamente adotada pelo PKK, que organizou assembleias clandestinas na [[Turquia]], na [[Síria]] e no [[Iraque]], das quais resultou a criação da [[Confederação dos Povos do Curdistão|União das Comunidades do Curdistão]] (''Koma Civakên Kurdistan'', KCK), a organização política comprometida com a implementação do programa político. A chance de implementar o sistema de auto-organização democrática veio durante a [[Guerra Civil Síria|Guerra Civil da Síria]],{{sfn|Enzinna|2015}}{{sfn|White|2015|pp=126–149}}{{sfn|Pluto|2016}} quando o [[Partido de União Democrática]] (''Partiya Yekîtiya Demokrat'', PYD) declarou a autonomia de três cantões de [[Curdistão sírio|Rojava]] (também conhecido como Curdistão sírio).{{sfn|Malik|2019}}{{sfn|Krajeski|2019}}{{sfn|Marcus|2020}} |
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== História == |
== História == |
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=== Antecedentes === |
=== Antecedentes === |
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⚫ | Formado na [[década de 1970]] sob o contexto de [[Polaridade nas relações internacionais|bipolaridade geopolítica]] da [[Guerra Fria]], o [[Partido dos Trabalhadores do Curdistão]] (PKK) foi inspirado inicialmente por [[Descolonização|movimentos de libertação nacional]] em todo o planeta,{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Weissheimer|2013}}{{sfn|Nadai|Tavares|2018}} muitos dos quais influenciados por ideais [[Marxismo-leninismo|marxistas-leninistas]] e do [[nacionalismo de esquerda]].{{sfn|Buzetto|2004}} Com o passar dos anos, contudo, o PKK foi distanciando-se dessas ideologias, por considerar que a questão curda não era um mero problema de [[etnicidade]] e [[nacionalidade]]{{nota de rodapé|Em seu livro "Em defesa do povo" (publicado em alemão em 2010), Öcalan escreveu que "o desenvolvimento da autoridade e da hierarquia mesmo antes do surgimento da sociedade de classes é um ponto de virada significativo na história", acrescentando que "nenhuma lei da natureza exige que as sociedades naturais se transformem em sociedades hierárquicas baseadas no estado" e avaliando que seria um grande erro "a crença marxista de que a sociedade de classes é uma inevitabilidade."}} resolvido pela tomada revolucionária do poder estatal ou pela constituição de um [[Lista de Estados soberanos|estado nacional independente]].{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}{{sfn|Öcalan|2005}}{{sfn|Bookchin|2018}} Tornando-se um grande crítico da própria ideia de [[Estado-nação|estado nacional]] e mesmo da libertação nacional e social pela perspectiva marxista-leninista, Abdullah Öcalan, líder do PKK, iniciou na [[década de 1990]] uma transição substancial do movimento de libertação curdo, em busca de uma forma de [[socialismo]] muito diferente do [[Socialismo estatal|sistema estatista e centralizador]] associado à [[União Soviética|antiga superpotência soviética]].{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}{{sfn|Bookchin|2018}}{{sfn|Shilton|2019}} |
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Formado na [[década de 1970]] sob o contexto de [[Polaridade nas relações internacionais|bipolaridade geopolítica]] da [[Guerra Fria]], o [[Partido dos Trabalhadores do Curdistão]] (PKK) foi inspirado inicialmente por [[Descolonização|movimentos de libertação nacional]] em todo o planeta,<ref name="Ocalan-Confederalismo-Democrático" /><ref name="BrF-2018">{{cite web|author1=Igor De Nadai|author2=Joana Tavares|title="Eles queriam matar todo mundo": ativista explica conflito na Síria e a questão curda|url=https://www.brasildefato.com.br/2018/04/05/eles-queriam-matar-todos-ativista-explica-conflito-na-siria-e-a-questao-curda/|date=2018-04-05|publisher=Brasil de Fato}}</ref><ref name="OuP-2013">{{cite web|title= |
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Esse processo de rompimento consolidou-se após a caputra e prisão de Öcalan pelos [[Serviço de inteligência|serviços de inteligência]] da [[Turquia]] em 1999. Embora seja mantido em regime de isolamento na ilha-prisão de İmralı, Öcalan aproveitou seu tempo não apenas para preparar sua estratégia legal de defesa no decorrer do processo jurídico do turco que havia o [[Pena de morte|condenado à morte]], como também de elaborar suas propostas sobre a questão curda e sobre sua solução política. |
Esse processo de rompimento consolidou-se após a caputra e prisão de Öcalan pelos [[Serviço de inteligência|serviços de inteligência]] da [[Turquia]] em 1999. Embora seja mantido em regime de isolamento na ilha-prisão de İmralı, Öcalan aproveitou seu tempo não apenas para preparar sua estratégia legal de defesa no decorrer do processo jurídico do turco que havia o [[Pena de morte|condenado à morte]], como também de elaborar suas propostas sobre a questão curda e sobre sua solução política.{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}} Tendo acesso a centenas de livros, incluindo [[Língua turca|traduções turcas]] de numerosos textos históricos e filosóficos do [[Filosofia ocidental|pensamento ocidental]], seu plano inicialmente era encontrar fundamentos teóricos nessas obras para legitimar as ações revolucionárias passadas do PKK e discutir a [[Rebelião curda na Turquia (1978–presente)|conflito entre turcos e curdos no século XX]] dentro uma análise abrangente do desenvolvimento do [[estado-nação]] ao longo da [[História]].{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}{{sfn|Bookchin|2018}}{{sfn|Shilton|2019}} Dessa forma, Öcalan iniciou seus estudos a partir da [[mitologia suméria]] e das origens das [[Neolítico|culturas neolíticas]], bem como da história das primeiras [[Cidade-Estado|cidades-estados]].{{sfn|Bookchin|2018}} Mas foram as leituras de pensadores como [[Friedrich Nietzsche]] (que Öcalan chama de "profeta"), [[Fernand Braudel]], [[Immanuel Wallerstein]], [[Maria Mies]], [[Michel Foucault]], e particularmente [[Murray Bookchin]], que o levaram a ruptura definitiva com a perspectiva socialista de víes marxista-leninista e desenvolve uma nova proposta de [[socialismo democrático]] chamada de ''confederalismo democrático''.{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}{{sfn|Dirik|2016}}{{sfn|Bookchin|2018}}{{sfn|Shilton|2019}} |
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A condenação do [[Tribunal Europeu dos Direitos Humanos]] à Turquia por “tratamentos desumanos” e “processo injusto” no caso de Öcalan, e o consequente pedido dessa corte da [[União Europeia]] por um novo julgamento para o líder curdo, |
A condenação do [[Tribunal Europeu dos Direitos Humanos]] à Turquia por “tratamentos desumanos” e “processo injusto” no caso de Öcalan, e o consequente pedido dessa corte da [[União Europeia]] por um novo julgamento para o líder curdo,{{sfn|OPúblico|2003}}{{sfn|BBCNews|2003}} foi a oportunidade para Öcalan dar uma visibilidade internacional a sua nova proposta política.{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}} Em 20 de março de 2005, data do Ano Novo Curdo, Öcalan divulgou a ''"Declaração do Confederalismo Democrático no Curdistão"'',{{sfn|Öcalan|2005}} onde lançava a bases teóricas iniciais do ''confederalismo democrático''. Posteriormente, este foi melhor desenvolvido e apresentado em obras como ''"Confederalismo Democrático"'' e ''"Manifesto da Civilização Democrática''" (esta última em quatro volumes).{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}} |
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{{Citação2|O Confederalismo Democrático do Curdistão não é um sistema estatal, mas sim um sistema democrático das pessoas sem um Estado. Com as mulheres e a juventude na vanguarda, é um sistema no qual todos os setores da sociedade desenvolverão organizações democráticas próprias. É uma política exercida pelos cidadãos livres confederados, iguais na escolha de seus representantes regionais. Está fundado na sua própria força e habilidade. O seu poder deriva das pessoas e em todas as áreas, incluindo-se aí a economia, buscará a autossuficiência.|Abdullah Öcalan|Declaração ao Povo Curdo e à Comunidade Internacional, março de 2005 |
{{Citação2|O Confederalismo Democrático do Curdistão não é um sistema estatal, mas sim um sistema democrático das pessoas sem um Estado. Com as mulheres e a juventude na vanguarda, é um sistema no qual todos os setores da sociedade desenvolverão organizações democráticas próprias. É uma política exercida pelos cidadãos livres confederados, iguais na escolha de seus representantes regionais. Está fundado na sua própria força e habilidade. O seu poder deriva das pessoas e em todas as áreas, incluindo-se aí a economia, buscará a autossuficiência.|Abdullah Öcalan|Declaração ao Povo Curdo e à Comunidade Internacional, março de 2005{{sfn|Öcalan|2005}}}} |
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=== Conceito === |
=== Conceito === |
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Caracterizados por necessidades do movimento curdo espalhadas por Turquia, Síria, Irã e Iraque, os estudos de Öcalan que resultaram no ''confederalismo democrático'' abordaram diversos aspectos da sociedade curda nos campos da [[antropologia]], da [[linguística]], da [[política internacional]], do [[direito internacional]] e da [[Feminismo|abordagem feminista]] chamada [[jineologia]], esta especialmente inspiradas na luta de mulheres do próprio movimento curdo, como [[Sakine Cansiz]]. |
Caracterizados por necessidades do movimento curdo espalhadas por Turquia, Síria, Irã e Iraque, os estudos de Öcalan que resultaram no ''confederalismo democrático'' abordaram diversos aspectos da sociedade curda nos campos da [[antropologia]], da [[linguística]], da [[política internacional]], do [[direito internacional]] e da [[Feminismo|abordagem feminista]] chamada [[jineologia]], esta especialmente inspiradas na luta de mulheres do próprio movimento curdo, como [[Sakine Cansiz]].{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}{{sfn|Dirik|2016}}{{sfn|Bookchin|2018}}{{sfn|White|2015|pp=126–149}} Sua maior inspiração teórica foram as ideias de [[Ecologia social (teoria filosófica)|ecologia social]] e [[Municipalismo Libertário|municipalismo libertário]] do pensador estadunidense [[Murray Bookchin]].{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Bookchin|2018}} Em suas obras, Bookchin defende que a submissão e a destruição da natureza são a continuação da submissão de outros seres humanos ao capitalismo. Estabelecendo uma conexão entre a crise ambiental e a sociedade capitalista, o filósofo americano observa que a estrutura social da humanidade precisa ser repensada e transformada de uma sociedade capitalista destrutiva para uma sociedade social ecológica que mantenha um equilíbrio entre suas partes e onde suas comunidades possam organizar suas vidas de forma independente a partir de um ente municipal-confederativo.{{sfn|Bookchin|2006}}{{sfn|Bookchin|2007}}{{sfn|Stokols|2018|pp=33}} |
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Profundamente admirado por essas concepções de Bookchin, Öcalan desenvolveu uma visão crítica ao nacionalismo e ao estado-nação que o fez interpretar o [[Autodeterminação (direito humano)|direito dos povos à autodeterminação]] como ''"a base para o estabelecimento de uma democracia de base, sem necessidade de buscar novas fronteiras políticas"''. |
Profundamente admirado por essas concepções de Bookchin, Öcalan desenvolveu uma visão crítica ao nacionalismo e ao estado-nação que o fez interpretar o [[Autodeterminação (direito humano)|direito dos povos à autodeterminação]] como ''"a base para o estabelecimento de uma democracia de base, sem necessidade de buscar novas fronteiras políticas"''.{{sfn|Bookchin|2018}} A partir disso, o líder curdo defende que a solução política para o povo curdo não passe pela fundação de um novo estado nacional, mas da constituição de um sistema democrática, descentralizado e autônomo de auto-organização em forma de [[confederação]].{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Öcalan|2016b|pp=114–132}}{{sfn|Öcalan|2008|pp=1–46}}{{sfn|Dirik|2016}} |
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{{Citação2|A solução que eu ofereço à sociedade turca é simples. Nós reivindicamos uma nação democrática. Nós não fazemos oposição à unidade do Estado e da República. Nós aceitamos a república, sua estrutura unitária e seu caráter laico. Nós cremos, entretanto, que esta república deve ser redefinida com o objetivo de formar um estado democrático, um estado que respeite os direitos dos diferentes povos e culturas existentes em seu território. Sob esta base, os curdos devem ser livres para se organizar de tal maneira que sua língua e cultura possam ser exprimidas e que eles possam desenvolver-se nos planos econômico e ecológico. Esta nova realidade permitiria a curdos, turcos e membros de outras culturas uma convivência sob a proteção de uma “Nação Democrática Turca”. Isto somente seria possível, no entanto, através de uma constituição democrática e de um quadro legal avançado que garantiria o respeito às culturas minoritárias. Nossa visão de uma nação democrática não é definida por bandeiras ou fronteiras. Nossa visão de uma nação democrática é inspirada pelo modelo democrático e não por um modelo baseado em estruturas estatais e em origens étnicas.|Abdullah Öcalan|Guerra e paz no Curdistão, 2008 |
{{Citação2|A solução que eu ofereço à sociedade turca é simples. Nós reivindicamos uma nação democrática. Nós não fazemos oposição à unidade do Estado e da República. Nós aceitamos a república, sua estrutura unitária e seu caráter laico. Nós cremos, entretanto, que esta república deve ser redefinida com o objetivo de formar um estado democrático, um estado que respeite os direitos dos diferentes povos e culturas existentes em seu território. Sob esta base, os curdos devem ser livres para se organizar de tal maneira que sua língua e cultura possam ser exprimidas e que eles possam desenvolver-se nos planos econômico e ecológico. Esta nova realidade permitiria a curdos, turcos e membros de outras culturas uma convivência sob a proteção de uma “Nação Democrática Turca”. Isto somente seria possível, no entanto, através de uma constituição democrática e de um quadro legal avançado que garantiria o respeito às culturas minoritárias. Nossa visão de uma nação democrática não é definida por bandeiras ou fronteiras. Nossa visão de uma nação democrática é inspirada pelo modelo democrático e não por um modelo baseado em estruturas estatais e em origens étnicas.|Abdullah Öcalan|Guerra e paz no Curdistão, 2008{{sfn|Öcalan|2008|pp=1–46}}}} |
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Os principais fundamentos do ''confederalismo democrático'' podem ser resumidos em: |
Os principais fundamentos do ''confederalismo democrático'' podem ser resumidos em:{{sfn|Öcalan|2016a|pp=1–49}}{{sfn|Öcalan|2008|pp=1–46}} |
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* A abordagem filosófica, política e ideológica do movimento de libertação curdo encontra sua expressão mais adequada no chamado [[socialismo democrático]]. |
* A abordagem filosófica, política e ideológica do movimento de libertação curdo encontra sua expressão mais adequada no chamado [[socialismo democrático]]. |
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=== Implementação === |
=== Implementação === |
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O movimento de libertação curdo começou a formar assembleias clandestinas imediatamente na [[Turquia]], na [[Síria]] e no [[Iraque]], que resultaram em 2007 na criação da União das Comunidades do Curdistão (''Koma Civakên Curdistão'', KCK), a organização política comprometida com a implementação da ideologia do confederalismo democrático. |
O movimento de libertação curdo começou a formar assembleias clandestinas imediatamente na [[Turquia]], na [[Síria]] e no [[Iraque]], que resultaram em 2007 na criação da União das Comunidades do Curdistão (''Koma Civakên Curdistão'', KCK), a organização política comprometida com a implementação da ideologia do confederalismo democrático.{{sfn|Öcalan|2005}} Além de reunir o PKK, o KCK também reúne todos os partidos políticos confederalistas democráticos do Curdistão, como o [[Partido de União Democrática]] (''Partiya Yekîtiya Demokrat'', PYD), [[Partido da Vida Livre do Curdistão]] (''Partiya Jiyana Azad a Kurdistanê'', PJAK) e [[Partido da Solução Democrática do Curdistão]] (''Partî Çareserî Dîmukratî Kurdistan'', PÇDK). |
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Foi durante a [[Guerra Civil Síria|Guerra Civil na Síria]] que surgiu a oportunidade de implementar a nova doutrina política de Ocalan, quando o PYD declarou a autonomia de três cantões de [[Curdistão sírio|Rojava]], região que compreende partes do norte e nordeste do território sírio. |
Foi durante a [[Guerra Civil Síria|Guerra Civil na Síria]] que surgiu a oportunidade de implementar a nova doutrina política de Ocalan, quando o PYD declarou a autonomia de três cantões de [[Curdistão sírio|Rojava]], região que compreende partes do norte e nordeste do território sírio.{{sfn|Enzinna|2015}}{{sfn|Shilton|2019}}{{sfn|White|2015|pp=126–149}} Criando uma entidade política oposta ao estado-nação capitalista, Rojava experimentou uma experiência de sociedade democrática, descentralizada e não hierárquica, baseada em ideias [[Feminismo|feministas]], [[Ecologismo|ecológicos]], [[Multiculturalismo|multiculturais]], de economia compartilhada, e da política participativa e de construção consensual.{{sfn|Malik|2019}}{{sfn|Pluto|2016}}{{sfn|Krajeski|2019}}{{sfn|Marcus|2020}} |
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Criando uma entidade política oposta ao estado-nação capitalista, Rojava experimentou uma experiência de sociedade democrática, descentralizada e não hierárquica, baseada em ideias [[Feminismo|feministas]], [[Ecologismo|ecológicos]], [[Multiculturalismo|multiculturais]], [[Cooperativismo|cooperativista]], e da política participativa e de construção consensual.<ref name="rojava-pluto" /><ref name="guardian-malik" /><ref name="nyt-krajeski" /><ref name="nyt-marcus" /> |
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== Ver também == |
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* [[Socialismo libertário]] |
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{{Notas}} |
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==Referências== |
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===Bibliografia=== |
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*{{Cite book|last=Öcalan|first=Abdullah|translator=Coletivo Libertário de Apoio a Rojava|title=Confederalismo democrático|url=http://ocalanbooks.com/downloads/PT-BR-confederalismo_democratico_2016.pdf|format=PDF|location=Rio de Janeiro|publisher=Rizoma|publication-date=2016|page=49|isbn=978-85-5700-045-2|access-date=2020-07-06|language=pt-br|ref=CITEREFÖcalan2016a}} |
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*{{Cite book|last=Öcalan|first=Abdullah|translator=International Initiative Freedom for Abdullah Ocalan – Peace in Kurdistan|title=Guerra e paz no Curdistão: Perspectivas para uma solução política da questão curda|url=http://www.freedom-for-ocalan.com/linguas/hintergrund/schriften/Ocalan-Guerra-e-paz-no-Curdistao.pdf|format=PDF|location=Köln|publisher=Mesopotamien|publication-date=2008|page=46|isbn=978-3941012677|access-date=2020-07-06|language=pt-br|ref=CITEREFÖcalan2008}} |
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*{{cite web|last=Öcalan|first=Abdullah|url=http://www.freemedialibrary.com/index.php/Declaration_of_Democratic_Confederalism_in_Kurdistan |title=Declaration of Democratic Confederalism in Kurdistan|date=2005-03-20|access-date=2020-07-06|archive-url=https://web.archive.org/web/20160929163726/http://www.freemedialibrary.com/index.php/Declaration_of_Democratic_Confederalism_in_Kurdistan|archive-date=2016-09-29|language=en|ref=CITEREFÖcalan2005}} |
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*{{cite book|last=Öcalan|first=Abdullah|translator1=Bülend Karadağ|translator2=Daniel de Oliveira Cunha|editor1-last=|editor1-first=|title=In: Cadernos CERU|chapter-url=http://www.revistas.usp.br/ceru/article/view/117472/115226|location=São Paulo|publisher=Revistas da USP|publication-date=2016-07-07|pages=114–132|chapter=Confederalismo democrático|volume=26|number=2|access-date=2020-07-06|language=pt-br|ref=CITEREFÖcalan2016b}} |
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*{{cite book|author=Diversos autores|editor1-last=Dirik|editor1-first=Dilar|title=A Revolução Ignorada. Liberação da Mulher, Democracia Direta e Pluralismo Radical no Oriente Médio|chapter-url=https://books.google.com/books?id=sM5SDwAAQBAJ&pg=PT45&lpg=PT45|location=São Paulo|publisher=Autonomia Literária|publication-date=2016|page=200|chapter=Capítulo 2: do marxismo-leninismo ao Confederalismo Democrático|isbn=978-8569536079|language=pt-br|ref=CITEREFDirik2016}} |
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Revisão das 19h27min de 6 de julho de 2020
Confederalismo democrático[1][2] (em curdo: Demokratik Konfederalizm; também conhecido como Comunalismo curdo ou Apoismo, este derivado do apelido de seu fundador [nota 1]) é um conceito político-social teorizado pelo ativista turco de origem curda Abdullah Öcalan de um sistema de auto-organização democrática em forma de confederação baseado em princípios do ecologismo, do feminismo, da democracia direta, do pluralismo cultural, do cooperativismo, da autodefesa, da autogestão e do autonomismo.[1][2][4][5] Sistematizado por Öcalan feitos na prisão a partir de seus estudos sobre ecologia social, municipalismo libertário, historia do Oriente Médio, nacionalismo e teoria geral do Estado, o conceito é apresentado como a solução política para a questão curda, bem como de outros problemas fundamentais em países da região profundamente enraizados à sociedade de classes, e a possibilidade concreta da libertação e da democratização para os povos em todo o mundo.[1][4][5]
Embora em sua origem a luta do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (Partiya Karkerên Kurdistanê, PKK) tenha sido guiada pela perspectiva de criação de um Estado nacional curdo a partir de um viés marxista-leninista, Öcalan desiludiu-se com o modelo de estado-nação e o socialismo estatal, percebendo equívocos nessa ideologia a respeito da libertação nacional e social dos povos.[2][6][7] Influenciado por ideias de pensadores ocidentais como o sociólogo Immanuel Wallerstein e, principalmente, o anarquista e ecologista social libertário Murray Bookchin - em especial pelos conceitos sobre ecologia social e municipalismo libertário deste autor[7][8][9] -, Öcalan reformulou profundamente os objetivos políticos do movimento de libertação curdo, abandonando o velho projeto socialista estatista e centralizador por uma radical e renovada proposta de socialismo democrático-libertário que não almeja mais a construção de um estado nacional independente da Turquia (e que agregasse territórios de maioria populacional curdas do Irão, do Iraque e da Síria), mas do estabelecimento de uma entidade autônoma, democrática e descentralizada a partir das ideias do chamado confederalismo democrático.[1][2][4][5]
Refutando tanto o autoritarismo e o burocracismo do socialismo estatal quando a predação do capitalismo, sistema visto por Öcalan como maior responsável pela desigualdades socioeconômicas, pelo sexismo e pela destruição ambiental no mundo,[4][5][10] o confederalismo democrático defende um "tipo de organização ou administração pode ser chamado de administração política não estatal ou democracia sem Estado",[1][2] que proporcionaria os marcos para a organização autônoma de "toda comunidade, grupo confessional, coletivo específico de gênero e/ou grupo étnico minoritário, entre outros".[4] É um modelo de democracia direta construído sobre a autogestão de comunidades locais e a organização em conselhos abertos, conselhos de município, parlamentos locais e congressos gerais, onde os próprios cidadãos são os atores desse autogoverno, permitindo a indivíduos e comunidades exercerem influência real sobre seu ambiente e suas atividades em comum.[1][4][6] Inspirado no feminismo curdo nas fileiras do PKK, o confederalismo democrático estabelece a igualdade de gênero como um dos seus pilares centrais.[1][2][5] Vendo o sexismo socialmente arraigado como "um produto ideológico do estado nacional e do poder" não "menos perigoso que o capitalismo, defende uma nova visão de sociedade a fim de desmontar as relações institucionais e psicológicas de poder estabelecidas atualmente nas sociedades capitalistas e de assegurar às mulheres um papel vital e igual ao dos homens em todos os níveis da organização e tomada de decisão.[7][8] Outros princípios chaves do confederalismo democrático são o ambientalismo, a autodefesa, o multiculturalismo (religioso, político, étnico e cultural), as liberdades individuais (como as de expressão ou de escolha), e uma economia do tipo compartilhada, onde o controle dos recursos econômicos não do Estado, mas da sociedade.[11][12] Ainda que se apresente como um modelo oposto ao estado nacional, o confederalismo democrático acredita na possibilidade, sob circunstâncias específicas, de coexistência pacífica entre ambos, desde que não haja intervenção em assuntos centrais da autogestão nem tentativas de assimilação social.[2]Ademais, embora tenha sido teorizada inicialmente como uma nova base social e ideológica para o movimento de libertação curdo, o confederalismo democrático apresenta-se como um conceito teórico multiétnico e internacionalista.[4][7]
As linhas gerais do confederalismo democrático foram apresentadas em março de 2005, através de uma declaração "ao povo curdo e à comunidade internacional"[6] e, nos anos posteriores, o conceito foi melhor aprofundado em outras publicações, como em um livro de título homônino e nos quatro volumes do "Manifesto da Civilização Democrática".[2] Pouco depois de divulgado, a declaração foi imediatamente adotada pelo PKK, que organizou assembleias clandestinas na Turquia, na Síria e no Iraque, das quais resultou a criação da União das Comunidades do Curdistão (Koma Civakên Kurdistan, KCK), a organização política comprometida com a implementação do programa político. A chance de implementar o sistema de auto-organização democrática veio durante a Guerra Civil da Síria,[9][10][13] quando o Partido de União Democrática (Partiya Yekîtiya Demokrat, PYD) declarou a autonomia de três cantões de Rojava (também conhecido como Curdistão sírio).[11][14][15]
História
Antecedentes
Formado na década de 1970 sob o contexto de bipolaridade geopolítica da Guerra Fria, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) foi inspirado inicialmente por movimentos de libertação nacional em todo o planeta,[1][16][17] muitos dos quais influenciados por ideais marxistas-leninistas e do nacionalismo de esquerda.[18] Com o passar dos anos, contudo, o PKK foi distanciando-se dessas ideologias, por considerar que a questão curda não era um mero problema de etnicidade e nacionalidade[nota 2] resolvido pela tomada revolucionária do poder estatal ou pela constituição de um estado nacional independente.[2][6][7] Tornando-se um grande crítico da própria ideia de estado nacional e mesmo da libertação nacional e social pela perspectiva marxista-leninista, Abdullah Öcalan, líder do PKK, iniciou na década de 1990 uma transição substancial do movimento de libertação curdo, em busca de uma forma de socialismo muito diferente do sistema estatista e centralizador associado à antiga superpotência soviética.[2][7][8]
Esse processo de rompimento consolidou-se após a caputra e prisão de Öcalan pelos serviços de inteligência da Turquia em 1999. Embora seja mantido em regime de isolamento na ilha-prisão de İmralı, Öcalan aproveitou seu tempo não apenas para preparar sua estratégia legal de defesa no decorrer do processo jurídico do turco que havia o condenado à morte, como também de elaborar suas propostas sobre a questão curda e sobre sua solução política.[2] Tendo acesso a centenas de livros, incluindo traduções turcas de numerosos textos históricos e filosóficos do pensamento ocidental, seu plano inicialmente era encontrar fundamentos teóricos nessas obras para legitimar as ações revolucionárias passadas do PKK e discutir a conflito entre turcos e curdos no século XX dentro uma análise abrangente do desenvolvimento do estado-nação ao longo da História.[2][7][8] Dessa forma, Öcalan iniciou seus estudos a partir da mitologia suméria e das origens das culturas neolíticas, bem como da história das primeiras cidades-estados.[7] Mas foram as leituras de pensadores como Friedrich Nietzsche (que Öcalan chama de "profeta"), Fernand Braudel, Immanuel Wallerstein, Maria Mies, Michel Foucault, e particularmente Murray Bookchin, que o levaram a ruptura definitiva com a perspectiva socialista de víes marxista-leninista e desenvolve uma nova proposta de socialismo democrático chamada de confederalismo democrático.[2][5][7][8]
A condenação do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos à Turquia por “tratamentos desumanos” e “processo injusto” no caso de Öcalan, e o consequente pedido dessa corte da União Europeia por um novo julgamento para o líder curdo,[19][20] foi a oportunidade para Öcalan dar uma visibilidade internacional a sua nova proposta política.[2] Em 20 de março de 2005, data do Ano Novo Curdo, Öcalan divulgou a "Declaração do Confederalismo Democrático no Curdistão",[6] onde lançava a bases teóricas iniciais do confederalismo democrático. Posteriormente, este foi melhor desenvolvido e apresentado em obras como "Confederalismo Democrático" e "Manifesto da Civilização Democrática" (esta última em quatro volumes).[2]
“ | O Confederalismo Democrático do Curdistão não é um sistema estatal, mas sim um sistema democrático das pessoas sem um Estado. Com as mulheres e a juventude na vanguarda, é um sistema no qual todos os setores da sociedade desenvolverão organizações democráticas próprias. É uma política exercida pelos cidadãos livres confederados, iguais na escolha de seus representantes regionais. Está fundado na sua própria força e habilidade. O seu poder deriva das pessoas e em todas as áreas, incluindo-se aí a economia, buscará a autossuficiência. | ” |
— Abdullah Öcalan, Declaração ao Povo Curdo e à Comunidade Internacional, março de 2005[6].
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Conceito
Caracterizados por necessidades do movimento curdo espalhadas por Turquia, Síria, Irã e Iraque, os estudos de Öcalan que resultaram no confederalismo democrático abordaram diversos aspectos da sociedade curda nos campos da antropologia, da linguística, da política internacional, do direito internacional e da abordagem feminista chamada jineologia, esta especialmente inspiradas na luta de mulheres do próprio movimento curdo, como Sakine Cansiz.[2][5][7][10] Sua maior inspiração teórica foram as ideias de ecologia social e municipalismo libertário do pensador estadunidense Murray Bookchin.[1][7] Em suas obras, Bookchin defende que a submissão e a destruição da natureza são a continuação da submissão de outros seres humanos ao capitalismo. Estabelecendo uma conexão entre a crise ambiental e a sociedade capitalista, o filósofo americano observa que a estrutura social da humanidade precisa ser repensada e transformada de uma sociedade capitalista destrutiva para uma sociedade social ecológica que mantenha um equilíbrio entre suas partes e onde suas comunidades possam organizar suas vidas de forma independente a partir de um ente municipal-confederativo.[21][22][23]
Profundamente admirado por essas concepções de Bookchin, Öcalan desenvolveu uma visão crítica ao nacionalismo e ao estado-nação que o fez interpretar o direito dos povos à autodeterminação como "a base para o estabelecimento de uma democracia de base, sem necessidade de buscar novas fronteiras políticas".[7] A partir disso, o líder curdo defende que a solução política para o povo curdo não passe pela fundação de um novo estado nacional, mas da constituição de um sistema democrática, descentralizado e autônomo de auto-organização em forma de confederação.[1][2][4][5]
“ | A solução que eu ofereço à sociedade turca é simples. Nós reivindicamos uma nação democrática. Nós não fazemos oposição à unidade do Estado e da República. Nós aceitamos a república, sua estrutura unitária e seu caráter laico. Nós cremos, entretanto, que esta república deve ser redefinida com o objetivo de formar um estado democrático, um estado que respeite os direitos dos diferentes povos e culturas existentes em seu território. Sob esta base, os curdos devem ser livres para se organizar de tal maneira que sua língua e cultura possam ser exprimidas e que eles possam desenvolver-se nos planos econômico e ecológico. Esta nova realidade permitiria a curdos, turcos e membros de outras culturas uma convivência sob a proteção de uma “Nação Democrática Turca”. Isto somente seria possível, no entanto, através de uma constituição democrática e de um quadro legal avançado que garantiria o respeito às culturas minoritárias. Nossa visão de uma nação democrática não é definida por bandeiras ou fronteiras. Nossa visão de uma nação democrática é inspirada pelo modelo democrático e não por um modelo baseado em estruturas estatais e em origens étnicas. | ” |
— Abdullah Öcalan, Guerra e paz no Curdistão, 2008[4].
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Os principais fundamentos do confederalismo democrático podem ser resumidos em:[1][4]
- A abordagem filosófica, política e ideológica do movimento de libertação curdo encontra sua expressão mais adequada no chamado socialismo democrático.
- O movimento curdo não visa a criação de um novo estado-nação curdo a partir do direito de autodeterminação de povos, mas considera esse direito como a base para o estabelecimento de democracias populares sem a necessidade de novas fronteiras políticas.
- O movimento curdo procura para o Curdistão um sistema de auto-organização democrática em forma de confederação que proporcionaria os marcos dentro dos quais toda comunidade, todo grupo confessional, coletivo específico de gênero e/ou grupo étnico minoritário, entre outros, poderia organizar-se de maneira autônoma.
- O processo de democratização no Curdistão abrange um amplo projeto social visando a soberania econômica, social e política de todas as partes da sociedade, bem como a criação de órgãos e instituições necessárias e a elaboração de instrumentos que garantam e possibilitam à sociedade um autogoverno e um controle democrático.
- A população deve estar diretamente envolvida em cada processo decisório da sociedade de um autogoverno deste gênero. Este modelo é construído sobre a autogestão de comunidades locais e é organizado em conselhos abertos, conselhos municipais, parlamentos locais e gerais.
- A autogestão confederal não apresenta restrições, podendo até atravessar fronteiras para assim criar estruturas democráticas multinacionais federais em toda região de assentamentos curdos na Turquia, na Síria, no Iraque e no Irã, sem que isto signifique um questionamento das fronteiras políticas já existentes.
- A paz no Curdistão está intimamente ligada à democracia no Oriente Médio, portanto a solução para a questão curda deve ser tentada em conjunto com um processo de democratização de todos os países que exercem seu poder sobre o Curdistão de maneira hegemônica.
- Coexisitr com o estado nacional não significa aceitar a estrutura estatal clássica e sua concepção despótica do poder.
- O estado nacional deve se sujeitar a mudanças democráticas que resultem em uma instituição política mais modesta, que funcione como uma autoridade social que mantenha apenas funções no campo da segurança interna e no provisão de serviços sociais.
- O direito à educação na língua materna deve ser garantido, e se não for desenvolvido pelo estado, que este não impeça esforços civis de criar instituições especializadas no ensino da língua e cultura curdas.
- O sistema de saúde deve ser garantido tanto pelo estado quanto pela sociedade civil.
- Os direitos soberanos relacionados ao estado seriam limitados para permitir uma implementação mais adequada de valores básicos como liberdade e igualdade.
- A liberdade e os direitos da mulher devem constituir uma parte estratégica da luta pela liberdade e democracia no Curdistão.
- A proteção do meio ambiente deve ser levada em consideração seriamente durante o processo de mudança social.
- A política democrática somente existirá a partir de partidos políticos democráticos cujos interesses vão além da simples execução de ordens ditadas pelo estado.
- A liberdade individual de expressão e de decisão é imperativa.
- O livre acesso à informação é não apenas um direito individual, mas uma questão social essencial.
- A política depende da existência de meios de comunicação independentes cuja comunicação com o publico seja marcada pelo equilíbrio democrático.
- Riquezas econômicas não são propriedade do estado, mas da sociedade.
- Uma economia próxima à população deve ser baseada na implementação de uma política econômica alternativa que não vise unicamente o lucro, mas sim uma distribuição justa dos recursos econômicos e a satisfação das necessidades básicas naturais para todos.
- Um Curdistão livre somente é concebível como um Curdistão democrático.
Implementação
O movimento de libertação curdo começou a formar assembleias clandestinas imediatamente na Turquia, na Síria e no Iraque, que resultaram em 2007 na criação da União das Comunidades do Curdistão (Koma Civakên Curdistão, KCK), a organização política comprometida com a implementação da ideologia do confederalismo democrático.[6] Além de reunir o PKK, o KCK também reúne todos os partidos políticos confederalistas democráticos do Curdistão, como o Partido de União Democrática (Partiya Yekîtiya Demokrat, PYD), Partido da Vida Livre do Curdistão (Partiya Jiyana Azad a Kurdistanê, PJAK) e Partido da Solução Democrática do Curdistão (Partî Çareserî Dîmukratî Kurdistan, PÇDK).
Foi durante a Guerra Civil na Síria que surgiu a oportunidade de implementar a nova doutrina política de Ocalan, quando o PYD declarou a autonomia de três cantões de Rojava, região que compreende partes do norte e nordeste do território sírio.[9][8][10] Criando uma entidade política oposta ao estado-nação capitalista, Rojava experimentou uma experiência de sociedade democrática, descentralizada e não hierárquica, baseada em ideias feministas, ecológicos, multiculturais, de economia compartilhada, e da política participativa e de construção consensual.[11][13][14][15]
Ver também
Notas
- ↑ Seguidores de Öcalan e membros do PKK são conhecidos por seu nome diminuto como Apocu (Apoitas), e seu movimento é conhecido como Apoculuk (Apoismo).[3]
- ↑ Em seu livro "Em defesa do povo" (publicado em alemão em 2010), Öcalan escreveu que "o desenvolvimento da autoridade e da hierarquia mesmo antes do surgimento da sociedade de classes é um ponto de virada significativo na história", acrescentando que "nenhuma lei da natureza exige que as sociedades naturais se transformem em sociedades hierárquicas baseadas no estado" e avaliando que seria um grande erro "a crença marxista de que a sociedade de classes é uma inevitabilidade."
Referências
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- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q Öcalan 2016b, pp. 114–132.
- ↑ Mango 2005, p. 32.
- ↑ a b c d e f g h i j Öcalan 2008, pp. 1–46.
- ↑ a b c d e f g h Dirik 2016.
- ↑ a b c d e f g Öcalan 2005.
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- ↑ a b c d e f Shilton 2019.
- ↑ a b c Enzinna 2015.
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- ↑ Bookchin 2006.
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Ligações externas
- PDF do Manifesto do Confederalismo Democrático (em inglês)