Luta de classes: diferenças entre revisões

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A '''luta de classes''' refere-se a um fenômeno social de tensão ou antagonismo que existe entre pessoas de diferentes [[classe social|classes sociais]] devido aos competitivos interesses socioeconômicos e desejos dessas pessoas diante da lógica do [[modo de produção]] [[Capitalismo|capitalista]], dando forma a um conflito que se expressa nos campos [[econômico]], [[ideológico]] e [[política|político]].
A '''luta de classes''' refere-se a um fenômeno social de tensão ou antagonismo que existe entre pessoas de diferentes [[classe social|classes sociais]] devido aos competitivos interesses socioeconômicos e desejos dessas pessoas diante da lógica do [[modo de produção]] [[Capitalismo|capitalista]], dando forma a um conflito que se expressa nos campos [[econômico]], [[ideológico]] e [[política|político]].
== Origens ==
== Origens ==
{{Mais informações|História do comunismo|História do socialismo}}
Segundo pensadores como [[David Ricardo]], [[Pierre-Joseph Proudhon]], [[Karl Marx]] e [[Mikhail Bakunin]], a ''luta de classes'' seria a força motriz por trás das grandes revoluções na história, fornecendo a alavanca para radicais mudanças sociais. Esse conflito teria começado com a criação da [[propriedade privada]] dos [[meios de produção]]. A partir daí, a sociedade passou a ser dividida entre ''proprietários'' ([[burguesia]]) e ''trabalhadores'' ([[proletariado]]), ou seja, possuidores dos meios de produção e possuidores unicamente de sua força de trabalho. Na sociedade capitalista, a burguesia retêm a mercadoria produzida pelo proletariado, e o produtor dessa mercadoria recebe um salário que é pago de acordo com a qualificação profissional dele.
Segundo pensadores como [[David Ricardo]], [[Pierre-Joseph Proudhon]], [[Karl Marx]] e [[Mikhail Bakunin]], a ''luta de classes'' seria a força motriz por trás das grandes revoluções na história, fornecendo a alavanca para radicais mudanças sociais. Esse conflito teria começado com a criação da [[propriedade privada]] dos [[meios de produção]]. A partir daí, a sociedade passou a ser dividida entre ''proprietários'' ([[burguesia]]) e ''trabalhadores'' ([[proletariado]]), ou seja, possuidores dos meios de produção e possuidores unicamente de sua força de trabalho. Na sociedade capitalista, a burguesia retêm a mercadoria produzida pelo proletariado, e o produtor dessa mercadoria recebe um [[salário]] que é pago de acordo com a [[qualificação profissional]] dele.


{{Citação2
{{Quote|"''Muito antes de mim, historiadores burgueses haviam descrito o desenvolvimento histórico dessa luta entre as classes, assim como economistas burgueses haviam descrito sua anatomia econômica. Minha própria contribuição foi mostrar que a existência das classes está simplesmente ligada a determinadas fases históricas do desenvolvimento da produção; que a luta de classes conduz necessariamente à [[ditadura do proletariado]]; que esta ditadura, em si, não constitui mais que uma transição para a abolição de todas as classes e a uma [[sociedade sem classes]]''".|[[Karl Marx]] - correspondência para [[Joseph Weydemeyer]] (5 de março de 1852).<ref> [http://marx.libcom.org/works/1852/letters/52_03_05.htm Correspondência de Marx para Joseph Weydemeyer] em 5 de março de 1852 em Karl Marx & Frederick Engels, ''Collected Works Vol. 39'' (International Publishers: New York, 1983) paginas 62–65.</ref>
|quotetext=''Muito antes de mim, ''[[historiador]]es'' burgueses haviam descrito o desenvolvimento histórico dessa luta entre as classes, assim como economistas burgueses haviam descrito sua anatomia econômica. Minha própria contribuição foi mostrar que a existência das classes está simplesmente ligada a determinadas fases históricas do desenvolvimento da produção; que a luta de classes conduz necessariamente à ''[[ditadura do proletariado]];'' que esta ditadura, em si, não constitui mais que uma transição para a abolição de todas as classes e a uma'' [[sociedade sem classes]].
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[[Imagem:Pyramid of Capitalist System.jpg|thumb|esquerda|x360px|[[Ilustração]] "[[Pirâmide do Sistema Capitalista]]" no jornal ''[[Industrial Worker]]'', [[1911]], do ''[[Industrial Workers of the World]].'' Publicação que defende o [[sindicalismo]] e [[anticapitalismo]]. Inspirado num folheto do ''Union of Russian Socialists'' divulgado em 1900 e 1901.]]
Outra característica importante do capitalismo é o conceito criado por Karl Marx da [[mais-valia]]. A mais-valia consiste basicamente dessa porcentagem a mais que os capitalistas retiram da classe do proletariado. O acréscimo dessa porcentagem pode ser atingida, por exemplo, aumentando o tempo de trabalho dos operários e mantendo o salário. A luta de classes, segundo Karl Marx, só acabará com o fim do capitalismo e com o fim das classes sociais. O socialismo, que seria como uma fase de transição do capitalismo para o [[comunismo]], foi implementado em diversos países no seculo XX, a maioria porém reverteu novamente para o capitalismo ou para um [[socialismo de mercado|sistema econômico misto]].<ref>[http://www.nodo50.org/cubasigloXXI/congreso06/conf3_zhonquiao.pdf Market Economy and Socialist Road]'' Duan Zhongqiao</ref> A proposta mais radical é abolição do Estado e sua reorganização descentralizada em moldes [[federativos]] [[anarquistas]]. Embora essa última seja criticada por criar "mini-Estados" sem um poder central colocando o fim do poder estatal como uma utopia.{{Carece de fontes|data=junho de 2017}}


Outra característica importante do [[capitalismo]] é o conceito criado por Karl Marx da [[mais-valia]]. A mais-valia consiste basicamente dessa porcentagem a mais que os capitalistas retiram da classe do proletariado. O acréscimo dessa porcentagem pode ser atingida, por exemplo, aumentando o tempo de [[trabalho (economia)|trabalho]] dos operários e mantendo o [[salário]]. A luta de classes, segundo Karl Marx, só acabará com o fim do capitalismo e com o fim das classes sociais. O socialismo, que seria como uma fase de transição do capitalismo para o [[comunismo]], foi implementado em diversos países no [[século XX]], a maioria porém reverteu novamente para o capitalismo ou para um [[socialismo de mercado|sistema econômico misto]].<ref>[http://www.nodo50.org/cubasigloXXI/congreso06/conf3_zhonquiao.pdf Market Economy and Socialist Road]'' Duan Zhongqiao</ref> A proposta mais radical é abolição do Estado e sua reorganização descentralizada em moldes [[Federalismo libertário|federativos]] [[anarquistas]]. Embora essa última seja criticada por criar "[[microestado]]s" sem um poder central colocando o fim do poder estatal como uma [[utopia]].{{Carece de fontes|data=junho de 2017}}
Apesar de uma parte da história da humanidade, segundo Karl Marx, ter sido a história da luta de classes, a sociedade original, segundo ele, não possuía divisões sociais. Ainda segundo Marx, as primeiras sociedades indígenas das Américas não possuíam estratificação social, sendo o cacique e o pajé apenas figuras simbólicas. Isso se deveria ao fato de que, nesse estágio das forças produtivas sociais, não havia praticamente excedente. Todos os membros da sociedade eram por isso obrigados a participar do processo produtivo, de modo que era impossível a formação de uma hierarquia que diferenciasse as pessoas dessa sociedade. Uma das primeiras formas de hierarquização dos membros foi a divisão homem/mulher, quando os homens começaram a explorar as mulheres. A luta de classes origina-se, então, no momento em que a sociedade passa a ser composta de diferentes castas.

Apesar de uma parte da [[história da humanidade]], segundo Karl Marx, ter sido a história da luta de classes, a sociedade original, segundo ele, não possuía divisões sociais. Ainda segundo Marx, as primeiras [[Sociedade Indígena|sociedades indígenas]] das [[Américas]] não possuíam [[estratificação social]], sendo o [[cacique]] e o [[pajé]] apenas figuras simbólicas. Isso se deveria ao fato de que, nesse estágio das forças produtivas sociais, não havia praticamente [[Excedente econômico|excedente]]. Todos os membros da sociedade eram por isso obrigados a participar do processo produtivo, de modo que era impossível a formação de uma hierarquia que diferenciasse as pessoas dessa sociedade. Uma das primeiras formas de hierarquização dos membros foi a divisão [[homem]]/[[mulher]], quando os homens começaram a explorar as mulheres. A luta de classes origina-se, então, no momento em que a sociedade passa a ser composta de diferentes [[casta]]s.


Essa divisão dos membros em classes foi possibilitada quando as forças produtivas atingiram um certo nível de produtividade, onde o excedente já promovia maior segurança à sociedade em relação às suas necessidades. Mas, apesar de garantir uma proteção em tempos escassos, por exemplo, o excedente abriu a possibilidade do jogo político. O controle sobre o excedente se desenvolve em conjunto com a formação de uma minoria que ganha assim poder sobre todos outros membros da sociedade. Dessa maneira origina-se uma diferenciação quanto à tarefa social de cada membro. Entre as diversas classes que podem se formar, estão sempre presente as classes dos senhores (não-trabalhadores) e a classe trabalhadora.
Essa divisão dos membros em classes foi possibilitada quando as forças produtivas atingiram um certo nível de produtividade, onde o excedente já promovia maior segurança à sociedade em relação às suas necessidades. Mas, apesar de garantir uma proteção em tempos escassos, por exemplo, o excedente abriu a possibilidade do jogo político. O controle sobre o excedente se desenvolve em conjunto com a formação de uma minoria que ganha assim poder sobre todos outros membros da sociedade. Dessa maneira origina-se uma diferenciação quanto à tarefa social de cada membro. Entre as diversas classes que podem se formar, estão sempre presente as classes dos senhores (não-trabalhadores) e a classe trabalhadora.


Com o desenvolvimento das forças produtivas, a classe dominante (diferente para cada período histórico) é posta em questão. As classes de baixo reconhecem que a regência da classe exploradora torna-se desnecessária para a continuação do desenvolvimento técnico, enquanto esta tenta, por meios oficiais, manter seu poder. Nessas épocas de desacordo entre as relações sociais de produção vigentes e o patamar técnico dos meios de produção, a probabilidade de uma revolução tende a ser maior. A antiga classe exploradora é, assim, deposta, e uma nova entra em seu lugar. Dessa maneira, a história da sociedade humana é a história de classes dominantes, uma após a outra.
Com o desenvolvimento das forças produtivas, a [[classe dominante]] (diferente para cada período histórico) é posta em questão. As [[Classe baixa|classes de baixo]] reconhecem que a [[regência (governo)|regência]] da [[Exploração (socioeconomia)|classe exploradora]] torna-se desnecessária para a continuação do desenvolvimento técnico, enquanto esta tenta, por meios oficiais, manter seu poder. Nessas épocas de desacordo entre as relações sociais de produção vigentes e o patamar técnico dos meios de produção, a probabilidade de uma revolução tende a ser maior. A antiga classe exploradora é, assim, deposta, e uma nova entra em seu lugar. Dessa maneira, a história da sociedade humana é a história de classes dominantes, uma após a outra.

== Críticas ==

{{Mais informações|Anticomunismo|Críticas ao marxismo}}

Essas críticas podem ser divididas em dois pontos de vista gerais: aqueles que questionam a própria existência das classes sociais como tais e, consequentemente, qualquer conflito central entre a sociedade e aqueles que rejeitam a função da luta de classes como um fator determinante ("motor") da [[história]].

Assim, por exemplo, [[Ludwig von Mises]] questiona o conceito de classes, pelo menos no sentido da linha que vai de [[Rosseau]] a Marx, como baseado ou definido por fatores econômicos, afirmando que o fator determinante na oposição percebida é o fator político-ideológico, que teria criado tal oposição.

{{Citação2
|quotetext=''Se você quiser aplicar o termo "luta" aos esforços que as pessoas fazem no ''[[mercado]],'' para garantir o melhor ''[[preço]]'' possível em certas condições, a ''[[economia]]'' é um teatro de luta permanente de todos contra todos, e não um luta de classes. O que tem sido capaz de agrupar os trabalhadores para fins de ação comum, contra a classe burguesa, é a teoria da oposição insuperável dos interesses de classe. O que fez uma realidade da luta de classes é a consciência de classe criada pela ideologia marxista. É a ideia que criou a classe e não a classe que criou a ideia.''<ref>''Socialismo: Análisis Economico y Sociologico.'' Autor: Ludwig von Mises. págs. 347-348, 3ª Edição, [https://austrianlibrary.files.wordpress.com/2013/02/socialismo-de-ludwig-von-mises.pdf '''Link''' (Austrian Library)], {{es}}. Adicionado em 08/11/2017.</ref>
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}}

Por outro lado, [[Karl Popper]] estima que conceitos como "luta de classes" têm uma função interpretativa da história (''ver: [[Historiografia#A_historiografia_como_meta-hist.C3.B3ria|Historiografia como meta-história]] em Historiografia''). Como tal, eles são perfeitamente "irrefutáveis". Mas é fácil cair no erro "[[historicista]]" quando são usados ​​como teorias ou fatores preditivos do [[Análise macro-histórica|desenvolvimento futuro de eventos]]. Em outras palavras, Popper faz a distinção entre os elementos que nos permitem - de forma mais ou menos semelhante à que as teorias cumprem na [[ciência]] - para interpretar os eventos de algum ponto de vista que nos interessa (sendo o [[método científico]] empregado na eliminação de [[falácia]]s e [[preconceito]]s) e [[teorias científicas]]. Tais fatores interpretativos têm, em sua opinião, uma diferença essencial com as teorias da ciência: não são [[Falseabilidade|falseáveis]] ​​ou [[Refutação|refutáveis]] ​​e, portanto, não se pode dizer que constitua uma explicação científica da história (no sentido de mostrar ou descobrir as leis naturais que determinam o funcionamento do desenvolvimento humano ou social), mas sim seriam um foco histórico ou narrativo de um determinado ponto de vista.<ref>''The Poverty of Historicism.'' Autor: Karl Popper. Beacon Press, 1957, Capítulo 31: ''Situational Logic in History. Historical Interpretation:'' pág. 150, {{en}} Adicionado em 08/11/2017.</ref>

=== Críticas ideológicas ===

O conceito de luta de classes foi criticado no final do [[século XIX]] de vários ângulos teóricos, girando em torno da noção de luta.

==== Divisão da sociedade ====

O conceito de luta de classes foi criticado por dividir artificialmente a [[sociedade]] em dois campos hostis, além de defender o [[ódio]] e a [[violência]] de classe. Esta é a censura tradicionalmente abordada pela [[direita (política)|direita]] [[conservador]]a ou [[liberal]]. Os conservadores geralmente defendem o conceito de "[[colaboração de classes]]" que, de acordo com os defensores do conceito de luta de classes, é apenas "a [[exploração (socioeconomia)|exploração]] de uma classe por outra". [[Pitirim Sorokin]] discorda da teoria marxista, que responsabiliza a luta de classes como determinante dos rumos da [[história humana]], afirmando que: "''a cooperação entre as classes sociais, é um fenômeno ainda mais universal do que o antagonismo entre elas.''"<ref>SOROKIN, Pitirim. ''Contemporary Sociological Theories: Through the First Quarter of the Twentieth Century.'' Harper & Row, 1964, pág. 541, {{en}} Adicionado em 08/11/2017.</ref>

A [[Doutrina Social da Igreja]] também condena a luta de classes. Em sua famosa [[encíclica]] ''[[Rerum Novarum]]'', o [[Papa Leão XIII]] reconheceu a existência de duas classes:<ref name="Doctrine Sociale de l’Eglise">Journées Annuelles sur la Gouvernance en Afrique - [http://jaga.afrique-gouvernance.net/_docs/cours_sur_la_doctrine_sociale_de_l__glise.pdf ''Doctrine Sociale de l’Eglise'' (''synthèse du cours de Baudoin Roger à l’Ecole Cathédrale en 2004'').] {{fr}} Acessado em 08/11/2017.</ref>

{{Citação2
|quotetext=''A violência das convulsões sociais dividiu o corpo social em duas classes e cavou entre eles um imenso abismo. Por um lado, uma facção, toda poderosa por sua riqueza. Mestra absoluta da ''[[indústria]]'' e do ''[[comércio]],'' ela desvia o curso da riqueza e, de fato, reúne todas as fontes. Está em suas mãos mais de uma jurisdição da administração pública. Por outro lado, uma multidão destituída e fraca, a alma ulcerada, sempre pronta para a desordem.''
|personquoted=
|cinza=s
}}

Mas ele recusa a ideia de "luta" entre as duas.

No entanto, as conciliações do conceito de luta de classes e ideais cristãos foram tentadas, particularmente através da [[teologia da libertação]], desenvolvida nos anos 60 e 70 na [[América Latina]]. O [[Papa João Paulo II]], no entanto, defendeu a manutenção da doutrina social oficial da Igreja, declarando, por exemplo, em [[2002]], sobre a ocupação da terra no [[Brasil]]: "''para alcançar a justiça social, é necessário tornar-se além da simples aplicação de esquemas ideológicos decorrentes da luta de classes, por exemplo, a ocupação da terra, que já condenei durante minha jornada pastoral de 1991.''"<ref>[http://www.alterinfos.org/spip.php?article1402 Alterinfos] - ''BRÉSIL - L’évêque Tomás Balduíno, président de la CPT, et le MST réagissent aux déclarations du pape conter l’occupation des terres''. Dial, 1 de Dezembro de 2002, {{fr}} Acessado em 08/11/2017.</ref>. A doutrina social da Igreja é, portanto, opôs à luta de classes a ideia de uma "associação de classes": "''o trabalho de um e o capital do outro devem ser associados um ao outro, uma vez que um não pode fazer nada sem a ajuda do outro''" diz a encíclica (''[[Quadragesimo anno]]'' §58).<ref name="Doctrine Sociale de l’Eglise"/> A aplicação desta ideia pode ser encontrada na promoção do [[corporativismo]] [[cristão]] ou da associação [[capital (economia)|capital]]-[[trabalho (economia)|trabalho]] defendida pelo [[gaullismo]].

==== Luta de classes contra nação ====

Os nacionalistas acrescentam que o conceito de luta de classes enfraquece a ideia [[nação]], dando prioridade a uma divisão social e econômica que abole o conceito de fronteira nacional. A luta de classes, de acordo com [[Karl Marx]], imediatamente se refere a um quadro internacional, sendo o [[Manifesto Comunista]] publicado durante a [[Revoluções de 1848|onda das revoluções europeias de 1848]]. Assim, o [[nacionalismo]] vê na luta de classes um adversário que, ao mesmo tempo, divide a nação e a transcende criando solidariedade internacional. A oposição à luta de classes ([[colaboração de classes]]) foi um tema importante na [[Propaganda nazista|propaganda de regimes]] e partidos [[fascista]]s e [[nazista]]s nas décadas de 1920 a 1940.

==== A questão de outras lutas políticas ====

O [[caso Dreyfus]] foi o grande caso da consciência do [[socialismo]] francês sobre o vínculo entre a luta política (neste caso, a defesa da [[justiça]] e dos [[direitos humanos]]) e a prioridade doutrinal absoluta dada à luta de classes. Alguns socialistas hesitaram antes de se comprometer com o [[capitão]] [[Alfred Dreyfus]] ([[oficial (militar)|oficial]] e [[burguês]]), julgando que, no caso de uma questão interna da [[burguesia]], um engajamento traria a luta de classes. Outros socialistas, como [[Rosa Luxemburgo]] ou Jean Jaures ("''certamente, podemos, sem contradizer nossos princípios e sem falhar a luta de classes, ouvir o choro da nossa piedade, podemos na luta revolucionária manter as entranhas humanas''"),<ref>[http://archive.wikiwix.com/cache/?url=http%3A%2F%2Fcentenaire.parti-socialiste.fr%2Farticle.php3%253Fid_article%3D333.html Wikiwix] - ''L'AFFAIRE DREYFUS (1898).'' Ecrits et discours: Jean Jaurès, {{fr}} Acessado em 08/11/2017.</ref> sentiram que a defesa de Dreyfus era compatível com a luta de classes.

Na sequência de [[Maio de 1968]], alguns revolucionários criticaram os partidos [[marxista]]s ligados à luta de classes por terem dificuldades em integrar as "novas lutas": [[feminismo]], [[regionalismo]], [[antirracismo]], [[ecologia]], etc.

==== A questão da participação no poder e no reformismo ====

O conceito de luta de classes também é criticado por socialistas [[reformista]]s ansiosos por realizar reformas sociais à frente do "[[Estado Burguês]]". Este conceito, teoricamente, proíbe a colaboração dos ministros socialistas num governo burguês. Na [[França]], isto levou o partido socialista [[Secção Francesa da Internacional Operária|SFIO]] recusar a participação no governo após a vitória do [[Cartel des Gauches]] em [[1924]] e do [[Bloc des gauches]] em [[1932]]. Para resolver esta dificuldade doutrinária, o líder do SFIO, [[Leon Blum]] desenvolveu desde o do congresso do SFIO de [[Janeiro]] de [[1926]], a distinção entre o "exercício do poder" (que pode tolerar um certo grau de colaboração de classe, com o ''[[Parti républicain, radical et radical-socialiste]]'' em particular) e "conquista do poder" (resultante da luta de classes).<ref>[https://archive.is/o1CU Archive.is] - ''Léon Blum, critique littéraire au début du XXe siècle s'engage dans tous les combats de son temps. Visionnaire du Congrès de Tours, celui resta "garder la vieille maison" a marqué l'histoire du Parti socialiste pendant trente ans.'' {{fr}} Acessado em 08/11/2017.</ref>

==== Crítica liberal ====

Os defensores do [[liberalismo econômico]] desafiam a concepção marxista da luta de classes. Eles podem negar, ou elaborar uma [[tipologia]] diferente, ou reduzir o seu alcance para o conflito sobre a distribuição do produto nacional (como [[Raymond Aron]]). Por outro lado, [[Karl Popper]] escreveu que Marx estava correto "''ao argumentar que a luta de classes e a união dos trabalhadores seriam os principais agentes''" da transformação do [[capitalismo]].<ref>''L'societé ouverte et ses ennemis: Hegel et Marx. Tome 2.'' Autor: Karl Popper. Éds. du Seuil, 1979, pág. 127, {{fr}} ISBN 9782020051491 Adocionado em 08/11/2017.</ref>

=== Críticas sociológicas ===

Outro grande eixo de crítica do conceito de luta de classes reside na validade da definição das próprias classes sociais.

O estudo das populações está cada vez mais refinado em resposta à crescente diversificação de situações e comportamentos socioeconômicos (noção de [[segmentação (ciências humanas)|segmentação]] da população).

==== A questão da homogeneidade das classes sociais ====

Alguns críticos questionaram, em particular, a homogeneidade de interesses e comportamentos existentes numa mesma [[classe social]]. Para esses críticos, a noção de luta de classes é "simplista" <ref>''A Political Philosophy.'' Autor: [[Roger Scruton]]. A&C Black, 2006, pág 148, {{en}} ISBN 9780826480361 Adicionado em 08/11/2017.</ref> e, a divisão da sociedade entre trabalhadores e capitalistas não corresponde à realidade. Neste, as pessoas com as mesmas funções estão em competição e, portanto, têm alguns interesses conflitantes. Assim, observamos tensões [[protecionista]]s, que visam proteger empresas locais e, portanto, trabalhadores contra outros trabalhadores, chefes contra outros chefes; tensões durante [[greve]]s entre [[grevista]]s e não-grevistas; tensões entre aqueles que estão integrados no sistema e [[Lumpemproletariado|aqueles que estão marginalizados]] ([[teoria insider-outsider]]). Segundo [[Pitirim Sorokin]], "''qualquer [[Grupo (sociologia)|grupo social]] organizado é sempre um [[Estratificação social|corpo social estratificado]]. Não existe qualquer grupo social permanente que seja 'plano' e no qual todos os membros são iguais.''"<ref>Sorokin, Pitirim. ''Social mobility.'' Harper & Brothers, 1927, pág. 12, {{en}} Adicionado em 08/11/2017.</ref>

==== A questão das classes médias ====

Outras críticas baseiam-se no surgimento na segunda metade do [[século XX]] de uma grande [[classe média]] e o declínio quantitativo da classe trabalhadora - na [[França]] em torno de 1970 - lançou um desafio sociológico-histórico para conceito de luta de classes. Para alguns, essas [[Evolucionismo social|evoluções sociológicas]] invalidam o conceito de luta de classes, que deve ser substituído por outros modos de ação política (por exemplo, o reformismo sob a ação do Estado) ou outra forma de luta.

Para outros, o conceito de luta de classes permanece válido. A ideia da classe média foi levada em consideração por [[Karl Marx]], que sentiu que esta estava destinado a equiparar-se ao [[proletariado]]. No século XX, o economista [[Paul Boccara]] coloca a existência de uma nova "classe salarial".<ref>[http://www.economie-politique.org/30429 Economie-Politique.org] - ''Défis identitaires de classe des salariés . Des divisions et rapprochements affectant les travailleurs et la classe ouvrière à la montée de l’identité de l’ensemble salarial.'' Paul Boccara, 31 de Julho de 2003, {{fr}} Acessado em 08/11/2017.</ref>


== Ver também ==
== Ver também ==
* [[Agência (sociologia)]]
* [[Análise de classe]]
* [[Conservadorismo social]]
* [[Consciência de classe]]
* [[Escravidão do salário]]
* [[Escravidão do salário]]
* [[Internacionalismo]]
* [[Livre associação (comunismo e anarquismo)]]
* [[O Ópio dos Intelectuais]]
* [[O Ópio dos Intelectuais]]
* [[Revolução mundial]]
* [[Sociedade sem classes]]
* [[Sociedade sem classes]]
* [[Teoria da revolução permanente]]


{{Referências|col=2}}
{{Referências}}[[Karl Marx]] - [[Joseph_Weydemeyer]] (5 de março de 1852).<ref>[http://marx.libcom.org/works/1852/letters/52_03_05.htm Correspondência de Marx para Joseph Weydemeyer] em 5 de março de 1852 em Karl Marx & Frederick Engels, ''Collected Works Vol. 39'' (International Publishers: New York, 1983) paginas 62–65.</ref>


== Ligações externas ==
== Ligações externas ==
{{Wikcionário|metamorfose de classes}}
* [http://www.crearte.com.br/adalberto_textos_t01.htm "Lutas de Classes"]
* [http://www.crearte.com.br/adalberto_textos_t01.htm "Lutas de Classes"]
* [http://www.movimentolutadeclasses.org/ "Movimento Luta de Classes"]
* [http://www.movimentolutadeclasses.org/ "Movimento Luta de Classes"]


{{Portal3|Economia|História|Política|Sociedade|Sociologia|Comunismo}}
{{Wikcionário|metamorfose de classes}}


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Revisão das 18h46min de 8 de novembro de 2017

A luta de classes refere-se a um fenômeno social de tensão ou antagonismo que existe entre pessoas de diferentes classes sociais devido aos competitivos interesses socioeconômicos e desejos dessas pessoas diante da lógica do modo de produção capitalista, dando forma a um conflito que se expressa nos campos econômico, ideológico e político.

Origens

Segundo pensadores como David Ricardo, Pierre-Joseph Proudhon, Karl Marx e Mikhail Bakunin, a luta de classes seria a força motriz por trás das grandes revoluções na história, fornecendo a alavanca para radicais mudanças sociais. Esse conflito teria começado com a criação da propriedade privada dos meios de produção. A partir daí, a sociedade passou a ser dividida entre proprietários (burguesia) e trabalhadores (proletariado), ou seja, possuidores dos meios de produção e possuidores unicamente de sua força de trabalho. Na sociedade capitalista, a burguesia retêm a mercadoria produzida pelo proletariado, e o produtor dessa mercadoria recebe um salário que é pago de acordo com a qualificação profissional dele.

Muito antes de mim, historiadores burgueses haviam descrito o desenvolvimento histórico dessa luta entre as classes, assim como economistas burgueses haviam descrito sua anatomia econômica. Minha própria contribuição foi mostrar que a existência das classes está simplesmente ligada a determinadas fases históricas do desenvolvimento da produção; que a luta de classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; que esta ditadura, em si, não constitui mais que uma transição para a abolição de todas as classes e a uma sociedade sem classes.
 
Karl Marx - correspondência para Joseph Weydemeyer (5 de março de 1852).[1].
Ilustração "Pirâmide do Sistema Capitalista" no jornal Industrial Worker, 1911, do Industrial Workers of the World. Publicação que defende o sindicalismo e anticapitalismo. Inspirado num folheto do Union of Russian Socialists divulgado em 1900 e 1901.

Outra característica importante do capitalismo é o conceito criado por Karl Marx da mais-valia. A mais-valia consiste basicamente dessa porcentagem a mais que os capitalistas retiram da classe do proletariado. O acréscimo dessa porcentagem pode ser atingida, por exemplo, aumentando o tempo de trabalho dos operários e mantendo o salário. A luta de classes, segundo Karl Marx, só acabará com o fim do capitalismo e com o fim das classes sociais. O socialismo, que seria como uma fase de transição do capitalismo para o comunismo, foi implementado em diversos países no século XX, a maioria porém reverteu novamente para o capitalismo ou para um sistema econômico misto.[2] A proposta mais radical é abolição do Estado e sua reorganização descentralizada em moldes federativos anarquistas. Embora essa última seja criticada por criar "microestados" sem um poder central colocando o fim do poder estatal como uma utopia.[carece de fontes?]

Apesar de uma parte da história da humanidade, segundo Karl Marx, ter sido a história da luta de classes, a sociedade original, segundo ele, não possuía divisões sociais. Ainda segundo Marx, as primeiras sociedades indígenas das Américas não possuíam estratificação social, sendo o cacique e o pajé apenas figuras simbólicas. Isso se deveria ao fato de que, nesse estágio das forças produtivas sociais, não havia praticamente excedente. Todos os membros da sociedade eram por isso obrigados a participar do processo produtivo, de modo que era impossível a formação de uma hierarquia que diferenciasse as pessoas dessa sociedade. Uma das primeiras formas de hierarquização dos membros foi a divisão homem/mulher, quando os homens começaram a explorar as mulheres. A luta de classes origina-se, então, no momento em que a sociedade passa a ser composta de diferentes castas.

Essa divisão dos membros em classes foi possibilitada quando as forças produtivas atingiram um certo nível de produtividade, onde o excedente já promovia maior segurança à sociedade em relação às suas necessidades. Mas, apesar de garantir uma proteção em tempos escassos, por exemplo, o excedente abriu a possibilidade do jogo político. O controle sobre o excedente se desenvolve em conjunto com a formação de uma minoria que ganha assim poder sobre todos outros membros da sociedade. Dessa maneira origina-se uma diferenciação quanto à tarefa social de cada membro. Entre as diversas classes que podem se formar, estão sempre presente as classes dos senhores (não-trabalhadores) e a classe trabalhadora.

Com o desenvolvimento das forças produtivas, a classe dominante (diferente para cada período histórico) é posta em questão. As classes de baixo reconhecem que a regência da classe exploradora torna-se desnecessária para a continuação do desenvolvimento técnico, enquanto esta tenta, por meios oficiais, manter seu poder. Nessas épocas de desacordo entre as relações sociais de produção vigentes e o patamar técnico dos meios de produção, a probabilidade de uma revolução tende a ser maior. A antiga classe exploradora é, assim, deposta, e uma nova entra em seu lugar. Dessa maneira, a história da sociedade humana é a história de classes dominantes, uma após a outra.

Críticas

Essas críticas podem ser divididas em dois pontos de vista gerais: aqueles que questionam a própria existência das classes sociais como tais e, consequentemente, qualquer conflito central entre a sociedade e aqueles que rejeitam a função da luta de classes como um fator determinante ("motor") da história.

Assim, por exemplo, Ludwig von Mises questiona o conceito de classes, pelo menos no sentido da linha que vai de Rosseau a Marx, como baseado ou definido por fatores econômicos, afirmando que o fator determinante na oposição percebida é o fator político-ideológico, que teria criado tal oposição.

Se você quiser aplicar o termo "luta" aos esforços que as pessoas fazem no mercado, para garantir o melhor preço possível em certas condições, a economia é um teatro de luta permanente de todos contra todos, e não um luta de classes. O que tem sido capaz de agrupar os trabalhadores para fins de ação comum, contra a classe burguesa, é a teoria da oposição insuperável dos interesses de classe. O que fez uma realidade da luta de classes é a consciência de classe criada pela ideologia marxista. É a ideia que criou a classe e não a classe que criou a ideia.[3]

Por outro lado, Karl Popper estima que conceitos como "luta de classes" têm uma função interpretativa da história (ver: Historiografia como meta-história em Historiografia). Como tal, eles são perfeitamente "irrefutáveis". Mas é fácil cair no erro "historicista" quando são usados ​​como teorias ou fatores preditivos do desenvolvimento futuro de eventos. Em outras palavras, Popper faz a distinção entre os elementos que nos permitem - de forma mais ou menos semelhante à que as teorias cumprem na ciência - para interpretar os eventos de algum ponto de vista que nos interessa (sendo o método científico empregado na eliminação de falácias e preconceitos) e teorias científicas. Tais fatores interpretativos têm, em sua opinião, uma diferença essencial com as teorias da ciência: não são falseáveis ​​ou refutáveis ​​e, portanto, não se pode dizer que constitua uma explicação científica da história (no sentido de mostrar ou descobrir as leis naturais que determinam o funcionamento do desenvolvimento humano ou social), mas sim seriam um foco histórico ou narrativo de um determinado ponto de vista.[4]

Críticas ideológicas

O conceito de luta de classes foi criticado no final do século XIX de vários ângulos teóricos, girando em torno da noção de luta.

Divisão da sociedade

O conceito de luta de classes foi criticado por dividir artificialmente a sociedade em dois campos hostis, além de defender o ódio e a violência de classe. Esta é a censura tradicionalmente abordada pela direita conservadora ou liberal. Os conservadores geralmente defendem o conceito de "colaboração de classes" que, de acordo com os defensores do conceito de luta de classes, é apenas "a exploração de uma classe por outra". Pitirim Sorokin discorda da teoria marxista, que responsabiliza a luta de classes como determinante dos rumos da história humana, afirmando que: "a cooperação entre as classes sociais, é um fenômeno ainda mais universal do que o antagonismo entre elas."[5]

A Doutrina Social da Igreja também condena a luta de classes. Em sua famosa encíclica Rerum Novarum, o Papa Leão XIII reconheceu a existência de duas classes:[6]

A violência das convulsões sociais dividiu o corpo social em duas classes e cavou entre eles um imenso abismo. Por um lado, uma facção, toda poderosa por sua riqueza. Mestra absoluta da indústria e do comércio, ela desvia o curso da riqueza e, de fato, reúne todas as fontes. Está em suas mãos mais de uma jurisdição da administração pública. Por outro lado, uma multidão destituída e fraca, a alma ulcerada, sempre pronta para a desordem.

Mas ele recusa a ideia de "luta" entre as duas.

No entanto, as conciliações do conceito de luta de classes e ideais cristãos foram tentadas, particularmente através da teologia da libertação, desenvolvida nos anos 60 e 70 na América Latina. O Papa João Paulo II, no entanto, defendeu a manutenção da doutrina social oficial da Igreja, declarando, por exemplo, em 2002, sobre a ocupação da terra no Brasil: "para alcançar a justiça social, é necessário tornar-se além da simples aplicação de esquemas ideológicos decorrentes da luta de classes, por exemplo, a ocupação da terra, que já condenei durante minha jornada pastoral de 1991."[7]. A doutrina social da Igreja é, portanto, opôs à luta de classes a ideia de uma "associação de classes": "o trabalho de um e o capital do outro devem ser associados um ao outro, uma vez que um não pode fazer nada sem a ajuda do outro" diz a encíclica (Quadragesimo anno §58).[6] A aplicação desta ideia pode ser encontrada na promoção do corporativismo cristão ou da associação capital-trabalho defendida pelo gaullismo.

Luta de classes contra nação

Os nacionalistas acrescentam que o conceito de luta de classes enfraquece a ideia nação, dando prioridade a uma divisão social e econômica que abole o conceito de fronteira nacional. A luta de classes, de acordo com Karl Marx, imediatamente se refere a um quadro internacional, sendo o Manifesto Comunista publicado durante a onda das revoluções europeias de 1848. Assim, o nacionalismo vê na luta de classes um adversário que, ao mesmo tempo, divide a nação e a transcende criando solidariedade internacional. A oposição à luta de classes (colaboração de classes) foi um tema importante na propaganda de regimes e partidos fascistas e nazistas nas décadas de 1920 a 1940.

A questão de outras lutas políticas

O caso Dreyfus foi o grande caso da consciência do socialismo francês sobre o vínculo entre a luta política (neste caso, a defesa da justiça e dos direitos humanos) e a prioridade doutrinal absoluta dada à luta de classes. Alguns socialistas hesitaram antes de se comprometer com o capitão Alfred Dreyfus (oficial e burguês), julgando que, no caso de uma questão interna da burguesia, um engajamento traria a luta de classes. Outros socialistas, como Rosa Luxemburgo ou Jean Jaures ("certamente, podemos, sem contradizer nossos princípios e sem falhar a luta de classes, ouvir o choro da nossa piedade, podemos na luta revolucionária manter as entranhas humanas"),[8] sentiram que a defesa de Dreyfus era compatível com a luta de classes.

Na sequência de Maio de 1968, alguns revolucionários criticaram os partidos marxistas ligados à luta de classes por terem dificuldades em integrar as "novas lutas": feminismo, regionalismo, antirracismo, ecologia, etc.

A questão da participação no poder e no reformismo

O conceito de luta de classes também é criticado por socialistas reformistas ansiosos por realizar reformas sociais à frente do "Estado Burguês". Este conceito, teoricamente, proíbe a colaboração dos ministros socialistas num governo burguês. Na França, isto levou o partido socialista SFIO recusar a participação no governo após a vitória do Cartel des Gauches em 1924 e do Bloc des gauches em 1932. Para resolver esta dificuldade doutrinária, o líder do SFIO, Leon Blum desenvolveu desde o do congresso do SFIO de Janeiro de 1926, a distinção entre o "exercício do poder" (que pode tolerar um certo grau de colaboração de classe, com o Parti républicain, radical et radical-socialiste em particular) e "conquista do poder" (resultante da luta de classes).[9]

Crítica liberal

Os defensores do liberalismo econômico desafiam a concepção marxista da luta de classes. Eles podem negar, ou elaborar uma tipologia diferente, ou reduzir o seu alcance para o conflito sobre a distribuição do produto nacional (como Raymond Aron). Por outro lado, Karl Popper escreveu que Marx estava correto "ao argumentar que a luta de classes e a união dos trabalhadores seriam os principais agentes" da transformação do capitalismo.[10]

Críticas sociológicas

Outro grande eixo de crítica do conceito de luta de classes reside na validade da definição das próprias classes sociais.

O estudo das populações está cada vez mais refinado em resposta à crescente diversificação de situações e comportamentos socioeconômicos (noção de segmentação da população).

A questão da homogeneidade das classes sociais

Alguns críticos questionaram, em particular, a homogeneidade de interesses e comportamentos existentes numa mesma classe social. Para esses críticos, a noção de luta de classes é "simplista" [11] e, a divisão da sociedade entre trabalhadores e capitalistas não corresponde à realidade. Neste, as pessoas com as mesmas funções estão em competição e, portanto, têm alguns interesses conflitantes. Assim, observamos tensões protecionistas, que visam proteger empresas locais e, portanto, trabalhadores contra outros trabalhadores, chefes contra outros chefes; tensões durante greves entre grevistas e não-grevistas; tensões entre aqueles que estão integrados no sistema e aqueles que estão marginalizados (teoria insider-outsider). Segundo Pitirim Sorokin, "qualquer grupo social organizado é sempre um corpo social estratificado. Não existe qualquer grupo social permanente que seja 'plano' e no qual todos os membros são iguais."[12]

A questão das classes médias

Outras críticas baseiam-se no surgimento na segunda metade do século XX de uma grande classe média e o declínio quantitativo da classe trabalhadora - na França em torno de 1970 - lançou um desafio sociológico-histórico para conceito de luta de classes. Para alguns, essas evoluções sociológicas invalidam o conceito de luta de classes, que deve ser substituído por outros modos de ação política (por exemplo, o reformismo sob a ação do Estado) ou outra forma de luta.

Para outros, o conceito de luta de classes permanece válido. A ideia da classe média foi levada em consideração por Karl Marx, que sentiu que esta estava destinado a equiparar-se ao proletariado. No século XX, o economista Paul Boccara coloca a existência de uma nova "classe salarial".[13]

Ver também

Referências

  1. Correspondência de Marx para Joseph Weydemeyer em 5 de março de 1852 em Karl Marx & Frederick Engels, Collected Works Vol. 39 (International Publishers: New York, 1983) paginas 62–65.
  2. Market Economy and Socialist Road Duan Zhongqiao
  3. Socialismo: Análisis Economico y Sociologico. Autor: Ludwig von Mises. págs. 347-348, 3ª Edição, Link (Austrian Library), (em castelhano). Adicionado em 08/11/2017.
  4. The Poverty of Historicism. Autor: Karl Popper. Beacon Press, 1957, Capítulo 31: Situational Logic in History. Historical Interpretation: pág. 150, (em inglês) Adicionado em 08/11/2017.
  5. SOROKIN, Pitirim. Contemporary Sociological Theories: Through the First Quarter of the Twentieth Century. Harper & Row, 1964, pág. 541, (em inglês) Adicionado em 08/11/2017.
  6. a b Journées Annuelles sur la Gouvernance en Afrique - Doctrine Sociale de l’Eglise (synthèse du cours de Baudoin Roger à l’Ecole Cathédrale en 2004). (em francês) Acessado em 08/11/2017.
  7. Alterinfos - BRÉSIL - L’évêque Tomás Balduíno, président de la CPT, et le MST réagissent aux déclarations du pape conter l’occupation des terres. Dial, 1 de Dezembro de 2002, (em francês) Acessado em 08/11/2017.
  8. Wikiwix - L'AFFAIRE DREYFUS (1898). Ecrits et discours: Jean Jaurès, (em francês) Acessado em 08/11/2017.
  9. Archive.is - Léon Blum, critique littéraire au début du XXe siècle s'engage dans tous les combats de son temps. Visionnaire du Congrès de Tours, celui resta "garder la vieille maison" a marqué l'histoire du Parti socialiste pendant trente ans. (em francês) Acessado em 08/11/2017.
  10. L'societé ouverte et ses ennemis: Hegel et Marx. Tome 2. Autor: Karl Popper. Éds. du Seuil, 1979, pág. 127, (em francês) ISBN 9782020051491 Adocionado em 08/11/2017.
  11. A Political Philosophy. Autor: Roger Scruton. A&C Black, 2006, pág 148, (em inglês) ISBN 9780826480361 Adicionado em 08/11/2017.
  12. Sorokin, Pitirim. Social mobility. Harper & Brothers, 1927, pág. 12, (em inglês) Adicionado em 08/11/2017.
  13. Economie-Politique.org - Défis identitaires de classe des salariés . Des divisions et rapprochements affectant les travailleurs et la classe ouvrière à la montée de l’identité de l’ensemble salarial. Paul Boccara, 31 de Julho de 2003, (em francês) Acessado em 08/11/2017.

Ligações externas

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