Mar Morto

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Mar Morto
Mar Morto
O mar Morto visto do espaço, com as áreas de extração de sal ao sul.
Localização
Localização Oriente Médio 5
País Jordânia
Cisjordânia
 Israel
Características
Tipo Endorreico
Área * (2014) 650 km²
Comprimento máximo (2014) 50 km
Largura máxima (2014) 18 km
Profundidade máxima (2010) 307[1] m
Volume * 147 km³
Afluentes Rio Jordão
* Os valores do perímetro, área e volume podem ser imprecisos devido às estimativas envolvidas, podendo não estar normalizadas.

O mar Morto (em hebraico: ים המלח, transl. Yam ha-Melah; em árabe: البحر الميت, transl. Al Bahr al Mayyit) é um lago de água salgada do Oriente Médio.

Com uma superfície de aproximadamente 650 km² em 2014,[nota 1] um comprimento máximo aproximado de 50 km e a uma largura máxima de 18 km,[2] é alimentado pelo rio Jordão e banha a Jordânia, Cisjordânia e Israel. Em 1930, quando o mar Morto começou a ser monitorado continuamente,[carece de fontes?] sua superfície era de aproximadamente 1 050 km², com um comprimento máximo de 80 km e uma largura máxima de 18 km.[3]

O mar Morto tem esse nome devido à quase ausência de vida em suas águas que decorre da grande concentração de sal naquele repositório, cerca de dez vezes superior à dos outros oceanos.[4][5] Entretanto existem alguns tipos de arqueobactérias e algas que sobrevivem naquelas águas.[6]

Qualquer peixe que seja transportado pelo Rio Jordão morre imediatamente, assim que deságua neste lago de água salgada. A sua água é composta por vários tipos de sais, alguns dos quais só podem ser encontrados nesta região do mundo. Na média, os oceanos não têm mais do que 3 g por 100 ml de água, no Mar Morto essa taxa é de 30 a 35 g de sal por 100 ml de água, ou seja, dez vezes superior.

Redução do nível e da área[editar | editar código-fonte]

Tanques de evaporação na extração do potássio no mar Morto, em 1944.
A alta salinidade do mar Morto permite a flutuação de uma pessoa.

O mar Morto perdeu 35% da sua superfície entre 1954 e 2014,[7] em grande parte por causa do aumento na captação das águas de seu afluente, rio Jordão, por parte das autoridades de Israel e Jordânia, única fonte de água doce da região, além da natural evaporação das suas águas.

Outro fator importante para essa perda, além da captação da água do rio Jordão, tem sido a extração descontrolada principalmente de potássio por indústrias mineradoras e químicas como a Israel Chemicals Ltd., Dead Sea Works e Arab Potash Company, que se instalaram nas décadas de 1940 e 1950.[7] Entre 1930 e 1997, o nível das águas do mar Morto diminuiu 21 metros.[carece de fontes?]

A contínua perda das suas águas causa uma redução em sua área e profundidade, relativamente ao nível médio das águas do mar Mediterrâneo, o que faz com que seja o maior desnível negativo do mundo, em relação ao nível do mar. Entre 1992 e 2014, a média de aumento deste desnível foi quase 1 metro por ano. Em 1992, o desnível era de 407 metros. Em 2004 era de 417 metros e em 2010 era de 423 metros. Já em 2014, o desnível era de 427 metros.[7][8]

Em dezembro de 2013, Israel, Jordânia e Autoridade Nacional Palestina assinaram um acordo para construir um aqueduto transferindo a água do mar Vermelho para o mar Morto. Contudo, ambientalistas advertiram quanto ao risco de que essa transferência poderia afetar o ecossistema do mar Morto, cuja composição química é completamente diferente da dos mares "abertos".[7]

Ano Desnível (m) Superfície (km2)
1930 -390 1 050
1980 -400 680
1992 -407 675
1997 -411 670
2004 -417 662
2010 -423 655
2014 -427 650

Fontes: Israel Oceanographic and Limnological Research [8] e BBC Brasil [7]

Etimologia e toponímia[editar | editar código-fonte]

Em hebraico, o mar Morto é Yām ha-Melaḥ, significando "mar de sal" (Gênesis 14:3). Em prosa, por vezes, o termo Yām ha-Māvet (ים המוות, "mar da morte") é usado, devido à escassez de vida aquática lá.[9] Em árabe, o mar Morto é chamado al-Bahr al-Mayyit ("o mar Morto"), ou, menos frequentemente baḥrᵘ lūṭᵃ (بحر لوط, "o mar de "). Outro nome histórico em árabe era o "mar de Zoʼar", nome de uma cidade próxima nos tempos bíblicos. Os gregos o chamavam de Lago Asphaltites (ἡ Θάλαττα ἀσφαλτῖτης), hē Thálatta asphaltĩtēs, "o mar de asfaltite[nota 2]"). A Bíblia também se refere a ele como Yām ha-Mizraḥî (ים המזרחי, "o mar Oriental") e Yām ha-‘Ărāvâ (ים הערבה, "O mar de Arava").

Geografia[editar | editar código-fonte]

Fotografia de satélite mostrando a localização do mar Morto.

O mar Morto é um lago endorreico localizado no vale do rio Jordão, uma característica geográfica formada pela falha transformante do mar Morto. Este movimento lateral esquerdo em falha transformante fica ao longo de uma fronteira de placas tectônicas, entre a placa Africana e a placa Arábica. Ele corre entre a Falha Oriental da Anatólia na zona da Turquia e no extremo norte da fenda do mar Vermelho ao largo da ponta sul do Sinai.

O rio Jordão é a única fonte de água principal desembocando no mar Morto, embora existam pequenas nascentes perenes sob e ao redor do mar Morto, criando piscinas e poços de areia movediça ao longo das bordas.[10] Não existem fluxos de saída de modo que 25% da água seja de depósitos de sal, dos quais, desde os anos 40, tem sido extraído o potássio. Em 1947, foram extraídas do mar Morto 100 000 toneladas de potássio.[11][12]

A chuva não passa de 100 mm por ano na parte norte do mar Morto e mal atinge 50 mm na parte sul. A aridez da zona do mar Morto é devido ao efeito rainshadow (sombra de chuva) das colinas da Judeia. O planalto leste do mar Morto recebe mais chuvas do que o mar Morto em si.

Mar Morto - Área de aproximadamente 650 km² em 2014 (perda de 35% em 60 anos).

Para o oeste do mar Morto, as colinas da Judeia tem uma subida menos íngreme e são muito menores do que as montanhas a leste. Ao longo do lado sudoeste do lago há uma formação de halita de 210 m de altura chamada "monte Sodoma".

O mar Morto situa-se no final do rio Jordão. Ele foi criado pela fricção de duas placas tectônicas que formam a chamada fenda Sírio-Africana, uma espécie de rachadura enorme responsável, também, por terremotos na região. Quando a fenda foi criada, água salgada entrou pela fissura.

Há cerca de 18 mil anos, a ligação com o mar Mediterrâneo secou e a água salgada, sem ter para onde escoar, ficou depositada em uma enorme bacia. Com o tempo, o lago diminuiu com a evaporação da água e se transformou no mar Morto.

História[editar | editar código-fonte]

Referências na Bíblia Hebraica[editar | editar código-fonte]

Moradias nas cavernas perto do mar Morto são registradas na Bíblia Hebraica antes de os israelitas chegarem a Canaã, e extensivamente no tempo do rei Davi. Várias seitas de judeus estabeleceram-se em cavernas com vista para o mar Morto. A mais conhecida delas é a dos essênios de Qumran, que deixaram uma extensa biblioteca conhecida como os Manuscritos do Mar Morto.[nota 3][13] A cidade de Ein Gedi, mencionada muitas vezes na Mishná, produzia caqui para a fragrância do templo e para exportação, usando uma receita secreta.[carece de fontes?] O "sal sodomita" era um mineral essencial para o incenso sagrado do templo, mas se dizia ser perigoso para uso doméstico e podia causar cegueira.[14]

A designação de mar Morto só passou a ser utilizada a partir do século II da era cristã. Ao longo dos séculos anteriores, vários foram os nomes pelos quais era conhecido. Entre outras fontes, a Bíblia o menciona em alguns dos livros do Antigo Testamento. Assim, em Gênesis 14:3, Josué 3:16 e Deuteronômio 3:17 aparece com o nome de "mar Salgado". Com o nome de "mar de Arabá" aparece também em Deuteronômio 3:17, em II Reis 14:25 e também em Josué 3:16. Já em Joel 2:20 e Zacarias 14:8 surge como "mar Oriental".

Logo ao norte do mar Morto está Jericó. Em algum lugar, talvez na costa do sudeste, estariam as cidades mencionadas no livro do Gênesis, que relata terem sido destruídas na época de Abraão: Sodoma e Gomorra (Gênesis 18:, Gênesis 19:24-25) e as outras três "cidades da planície" - Admá, Zeboim e Zoar (Deuteronômio 29:23). Zoar escapou da destruição, quando , sobrinho de Abraão escapou para aquela cidade a partir de Sodoma (Gênesis 19:20-22). Antes da destruição das duas cidades, o extremo sul do mar Morto era um vale cheio de poços de betume naturais, que era chamado de vale de Sidim. Neste local, houve a Batalha do Vale de Sidim, relatada em Gênesis 14:. Em I Samuel 24: há um relato sobre a perseguição de Saul ao rei Davi, em Ein Gedi, nas proximidades daquele vale.

Em Ezequiel 47:8-9 há uma profecia específica que diz que "...Estas águas saem para a região oriental e, descendo, entrarão na Arabá e irão em direção do mar; no mar entrarão as águas que se fizeram sair, e as águas ficarão saudáveis...", tornando-se um lago normal, capaz de suportar a vida marinha. Uma profecia semelhante é indicada em Zacarias 14:8, que diz que "...águas vivas sairão de Jerusalém, metade delas para o mar oriental (provavelmente o Mar Morto) e metade para o mar ocidental (do Mediterrâneo)...".

Outras referências históricas[editar | editar código-fonte]

O historiador judeu Josefo identifica o mar Morto na proximidade geográfica da antiga cidade bíblica de Sodoma. No entanto, ele refere-se ao lago pelo seu nome grego, asfaltites.[15]

O Talmude designou-o por mar de Sodoma e mar de Lot, entre outros nomes que ele recebeu.

Os romanos o chamavam de mare Asphalticum.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. De 2004 a 2014, sua superfície se reduziu em média 1,2 km2 por ano.
  2. Ver betume para mais informações sobre asfaltite.
  3. Encontrados hoje no Santuário do Livro no Museu de Israel de Jerusalém.

Referências

  1. «Red Sea – Dead Sea Water Conveyance Study Program» (PDF) (em inglês). World Bank Study. Julho de 2012. p. Página 7, item 5.2. Consultado em 14 de abril de 2014. A profundidade máxima em 2010 era de 307 m. 
  2. «The Dead Sea hydrography from 1992 to 2000» (PDF) (em inglês). Israel Oceanographic and Limnological Research. 2002. p. Página 171. Consultado em 30 de março de 2014. ...o comprimento do mar Morto diminuiu de 80 km para cerca de 50 km e seu volume diminuiu para 146 km3. O nível da superfície do mar Morto continuou caindo, e em 2001 chegou a 412 m, enquanto a sua profundidade máxima foi reduzida para 316 m. 
  3. «Mar Morto (Dead Sea): Suas águas escondem Sodoma e Gomorra?». Portal Terra Santa. 20 de agosto de 2013. Consultado em 29 de março de 2014 
  4. «Correio da Manhã». www.itqb.unl.pt. Consultado em 13 de março de 2023 
  5. [ligação inativa] faculdadeguarai.edu.br - pdf "Slides de Aulas da Faculdade Guaraí que Referem esses microorganismos"
  6. Arie Nissenbaum. "The microbiology and biogeochemistry of the Dead Sea", Microbial Ecology Volume 2, número 2, 139-161, DOI: 10.1007/BF02010435
  7. a b c d e «Desaparecimento gradual do Mar Morto é 'corrigido' com solução polêmica». BBC Brasil. 29 de março de 2014. Consultado em 29 de março de 2014 
  8. a b «Long-Term Changes in the Dead Sea (1992-2010)» (em inglês). Israel Oceanographic and Limnological Research (IOLR). Consultado em 29 de março de 2014 
  9. Bridger, David; Wolk, Samuel (Setembro de 1976). The New Jewish Encyclopedia. [S.l.]: Behrman House, Inc. p. 109. ISBN 9780874411201. Consultado em 18 de fevereiro de 2012. It was named the “Dead Sea” because of the fact that no living thing can exist there, since the water is extremely salty and bitter. 
  10. «Nascentes e areia movediça no Mar Morto». Consultado em 18 de fevereiro de 2012 
  11. Yakir Plessner (2012). «The Political Economy of Israel: From Ideology to Stagnation» (em inglês). 328 páginas. Consultado em 14 de abril de 2014 
  12. Wright, George Ernest (editor); Filson, Floyd Vivian (editor) (1988). Atlas Histórico Westminster de la Biblia (em espanhol) 3ª ed. El Paso, Texas: Casa Bautista de Publicaciones. p. 20. 133 páginas. ISBN 0-311-15030-6 
  13. Lamadrid, Antonio González (1971). Los Descubrimientos del Mar Muerto. Balance de 25 Años de Hallazgos y Estudio. Madrid: La Editorial Católica, S.A. 336 páginas. Depósito Legal M 274-1971 
  14. «Sal sodomita podia causar cegueira». Consultado em 21 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 15 de agosto de 2009 
  15. Josephus. «Antiguidades dos Judeus, livro I. Capítulo 9.». Consultado em 19 de fevereiro de 2012 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]