Lepra: diferenças entre revisões

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m Hanseníase movido para Lepra sob redirecionamento: Nome mais conhecido e comum; Não possui acentuação, o que facilita o apontamento.
(Sem diferenças)

Revisão das 04h15min de 18 de julho de 2008

Lepra
Lepra
Um indivíduo do sexo masculino com 24 anos de idade que padecia de lepra.
Especialidade infecciologia
Frequência 0.002413966% (mundo)
Classificação e recursos externos
CID-10 A30
CID-9 030
CID-11 149072669
OMIM 246300
DiseasesDB 8478
MedlinePlus 001347
eMedicine med/1281 derm/223 neuro/187
MeSH D007918
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Missionário leproso inglês Padre Damien

A lepra (hanseníase ou mal de Hansen), é uma doença infecciosa[1] causada pelo bacilo Mycobacterium leprae que afeta os nervos e a pele e que provoca danos severos. O nome hanseníase é devido ao descobridor do microrganismo causador da doença Gerhard Hansen.

Ela é endêmica em certos países tropicais, em particular na Ásia. O Brasil inclui-se entre os países de alta endemicidade de hanseníase no mundo. Isto significa que apresenta um coeficiente de prevalência médio superior a um caso por mil habitantes (MS, 1989)[2]. Os doentes são chamados leprosos, apesar de que este termo tenda a desaparecer com a diminuição do número de casos e dada a conotação pejorativa a ele associada.

História

O uso de sino era obrigatório para os leprosos na Idade Média

Desde que a escrita existe, tem-se registro de como a lepra representou uma ameaça, e os leprosos foram isolados da sociedade. No Egipto antigo, há referências à lepra com mais de 3000 anos em hieróglifos (de 1350 AC). A Bíblia contém passagens fazendo referência à lepra, sem que se possa saber se se trata da doença: este termo foi utilizado para designar diversas doenças dermatológicas de origem e gravidade variáveis. A antiga lei israelita obrigava aos religiosos a saberem reconhecer a doença.

A lepra foi durante muito tempo incurável e muito mutiladora, forçando o isolamento dos pacientes em leprosários, principalmente na Europa na Idade Média, onde eram obrigados a carregar sinos para anunciar a sua presença. A lepra deu nessa altura origem a medidas de segregação, algumas vezes hereditárias, como no caso dos Cagots no sudoeste da França.

No Brasil existiram leis para que os portadores de hanseníase fossem "capturados" e obrigados a viver em leprosários a exemplo do Hospital do Pirapitingui (Hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes). A lei "compulsória" foi revogada em 1962, porém o retorno dos pacientes ao seu convívio social era extremamente dificultoso em razão da pobreza e isolamento social e familiar a que eles estavam submetidos.

Epidemiologia

Além do Homem, outros animais de que se têm notícia de serem suscetíveis à lepra são algumas espécies de macacos, coelhos, ratos e o tatu. Este último pode servir de reservatório e há casos comprovados no sul dos EUA de transmissão por ele. Contudo a maioria dos casos é de transmissão entre seres humanos.

A lepra ataca hoje em dia ainda mais de 11 milhões de pessoas em todo o mundo. Há 700.000 casos novos por ano no mundo. No entanto em países desenvolvidos é quase inexistente, por exemplo a França conta com apenas 250 casos declarados. Em 2000, 738.284 novos casos foram identificados (contra 640.000 em 1999). A OMS referencia 91 países afetados: a Índia, a Birmânia, o Nepal totalizam 70% dos casos em 2000. Em 2002, 763.917 novos casos foram detectados: o Brasil, Madagáscar, Moçambique, a Tanzânia e o Nepal representam então 90% dos casos de lepra. Estima-se a 2 milhões o número de pessoas severamente mutiladas pela lepra em todo o mundo.

Transmissão

A hanseníase é transmitida pelo ar. O bacilo Mycobacterium leprae é eliminado pelo aparelho respiratório da pessoa doente na forma de aerossol durante o ato de falar, espirrar ou tossir.

A contaminação se faz por via respiratória, pelas secreções nasais ou pela saliva, mas é muito pouco provável a cada contato. A incubação, excepcionalmente longa (vários anos), explica por que a doença se desenvolve mais comumente em indivíduos adultos, apesar de que crianças também podem ser contaminadas (a alta prevalência de hanseníase em crianças é indicativo de um alto índice da doença em uma região).

Noventa por cento (90%) da população tem resistência ao bacilo de Hansen (M. leprae), causador da hanseníase, e conseguem controlar a infecção. As formas contagiantes são a virchowiana e a dimorfa.

Nem toda pessoa exposta ao bacilo desenvolve a doença, apenas 5%. Acredita-se que isto deva-se a múltiplos fatores, incluindo a genética individual.

Indivíduos em tratamento ou já curados não transmitem mais a hanseníase.

Progressão e sintomas

O tempo de incubação após a infecção é longo, de 2 a 20 anos.

Um dos primeiros efeitos da hanseníase, devido ao acometimento dos nervos, é a supressão da sensação térmica, ou seja, a incapacidade de diferenciar entre o frio e o calor no local afetado. Mais tardiamente, pode evoluir para diminuição da sensação de dor no local.

Perna com lesões de lepra

A hanseníase indeterminada é a forma inicial da doença, e consiste na maioria dos casos em manchas de coloração mais clara que a pele ao redor, podendo ser discretamente avermelhada, com alteração de sensibilidade à temperatura, e, eventualmente, diminuição da sudorese (suor) sobre a mancha. A partir do estado inicial, a hanseníase pode então permanecer estável (o que acontece na maior parte dos casos) ou pode evoluir para lepra tuberculóide ou lepromatosa, dependendo da predisposição genética particular de cada paciente. A hanseníase pode adotar também vários cursos intermediários entre estes dois tipos de hanseníase, sendo então denominada hanseníase dimorfa.

Lepra tuberculóide

Esta forma de hanseníase ocorre em pacientes que têm boa resposta imunitária ao bacilo de Hansen.

O sistema imune consegue conter a disseminação do bacilo através da formação de agrupamentos de macrófagos, agrupamentos estes denominados "granulomas".

Neste tipo de hanseníase, as manchas são bem delimitadas e assimétricas, e geralmente são encontradas apenas poucas lesões no corpo.

É a segunda fase da doença e afeta a quem tem mais resistência ao bacilo.

Lepra lepromatosa (ou lepra virchowiana)

É a forma mais insidiosa e lenta da doença, e ocorre nos casos em que os pacientes têm pouca defesa imunitária contra o bacilo.

  • As lesões cutâneas são lepromas ou hansenomas (nódulos infiltrados), numerosas, afetando todo o corpo, particularmente o rosto, com o nariz apresentando coriza e congestão nasal.

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico-epidemiológico e laboratorial. Em uma região do país em que a hanseníase é endêmica, quando não se dispõe de recursos laboratoriais, o diagnóstico é clínico (pelos sintomas).

Com o auxílio de laboratório faz-se biópsia da lesão e colhe-se a linfa cutânea dos lóbulos das orelhas e dos cotovelos (baciloscopia).

Procura-se o BAAR (Bacilo Álcool Ácido Resistente) com a técnica de Ziehl-Neelsen, que é a micobactéria. Apesar de que os resultados da baciloscopia e da biópsia possam dar negativos para a presença do M. leprae (nos casos mais puxados para o polo tuberculóide quase não há bacilos - eles foram destruídos pelo sistema imune), estes exames continuam sendo realizados pelo direcionamento que podem dar ao tratamento da doença: multibacilar ou paucibacilar.

Tratamento

Hoje em dia, a lepra é tratada com antibióticos, e esforços de Saúde Pública são feitos para o diagnóstico precoce e tratamento dos doentes, além de próteses de pacientes curados e que tiveram deformações e para a prevenção voltada principalmente para evitar a disseminação.

Apesar de não mortal, a lepra pode acarretar invalidez severa e/ou permanente se não for tratada a tempo. O tratamento comporta diversos antibióticos, a fim de evitar selecionar as bactérias resistentes do germe. A OMS recomenda desde 1981 uma poliquimioterapia (PQT) composta de três medicamentos: a dapsona, a rifampicina e a clofazimina. Essa associação destrói o agente patogênico e cura o paciente. O tempo de tratamento oscila entre 6 e 24 meses, de acordo com a gravidade da doença.

Quando as lesões já estão constituídas, o tratamento se baseia, além da poliquimioterapia, em próteses, em intervenções ortopédicas, em calçados especiais, etc. Além disso, uma grande contribuição à prevenção e ao tratamento das incapacidades causadas pela hanseníase é a fisioterapia. No Brasil o termo lepra foi substituído por hanseníase, devido à discriminação sofrida pelos pacientes.

Ainda no Brasil, há a ONG MORHAN (Movimento de Reintegração das pessoas atingidas pela Hanseníase) que faz um trabalho contra o preconceito e ajuda aos portadores da doença.

Indenização às vítimas no Brasil

De acordo com o decreto federal 6.168, de 24 de julho de 2007[3], os pacientes internados compulsoriamente e isolados em hospitais colônias de todo o País, até o ano de 1986, terão direito à pensão vitalícia mensal no valor de R$ 750. Para receber o benefício, os pacientes precisam apresentar documentos que comprovem a internação compulsória e preencher um requerimento de pensão especial[4].

Talidomida

Mal formações congênitas devido ao uso de Talidomida, onde crianças nasciam com membros atrofiados, especialmente os membros superiores, esteve correlacionado ao uso do medicamento Talidomida durante a gravidez de mães portadoras de hanseníase como forma de aliviar os sintomas dolorosos da doença. Considerando que o Brasil possui um dos maiores contingentes de pessoas afetadas pela hanseníase, combinado com alguns casos recentes de crianças nascidas com membros atrofiados, há suspeitas de que a Talidomida, removida de prescrições médicas desde 1961, possa estar sendo utilizada atualmente no Brasil[5][6].

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Referências

  1. Hanseníase (Lepra). Hanseníase: Guia 2008
  2. Haroldo José de Matos, Nádia Duppre, Maria Fernanda Sardella Alvim, Leila Maria Machado Vieira, Euzenir Nunes Sarno, Cláudio José Struchiner (1999). «Epidemiologia da hanseníase em coorte de contatos intradomiciliares no Rio de Janeiro (1987-1991)». Cadernos de Saúde Pública. 15 (3). Consultado em 19 de outubro de 2007 
  3. «DECRETO Nº 6.168, DE 24 DE JULHO DE 2007.». 24 de Julho de 2007. Consultado em 5 de outubro de 2007 
  4. «Mutirão ajuda doentes de hanseníase a receber benefício». 5 de outubro de 2007. Consultado em 5 de outubro de 2007 
  5. Gerson Oliveira Penna, Celina M. T. Martelli, Mariane M. A. Stefani, Vanize O. Macedo, Maria de Fátima Maroja, Aiçar Chaul (2005). «Talidomida no tratamento do eritema nodoso hansênico: revisão sistemática dos ensaios clínicos e perspectivas de novas investigações». Anais Brasileiros da Dermatologia. 80 (5). Consultado em 4 de outubro de 2007  line feed character character in |author= at position 87 (ajuda)
  6. «Defeitos em bebês elevam temor por uso de talidomida no Brasil, diz 'FT'». 2 de outubro de 2007. Consultado em 2 de outubro de 2007 

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