Halitose
Halitose | |
---|---|
Sinónimos | Mau hálito, fetor oris |
Especialidade | Gastroenterologia, otorrinolaringologia, medicina dentária |
Sintomas | Hálito de odor desagradável[1] |
Complicações | Ansiedade, depressão, perturbação obsessiva-compulsiva[1] |
Tipos | Genuína, não genuína[2] |
Causas | Geralmente na cavidade bucal[1] |
Tratamento | Depende da causa, limpeza da língua, antisséptico bucal, fio dental[1] |
Medicação | Antissépticos bucais com clorexidina ou cloreto de cetilpiridínio[1][3] |
Frequência | ~30% das pessoas[1] |
Classificação e recursos externos | |
CID-11 | 1896266034 |
DiseasesDB | 5603 |
MedlinePlus | 003058 |
MeSH | D006209 |
Leia o aviso médico |
Halitose, denominada popularmente de mau hálito, é um sintoma no qual um odor evidente e desagradável está presente na respiração. Pode resultar em ansiedade entre os afetados e também é associado com depressão e sintomas de transtorno obsessivo-compulsivo.[1]
Preocupações com o mau hálito pode ser divididas em casos genuínos e não genuínos.[2] Naqueles que têm mau hálito genuíno, cerca de 85% dos casos vêm de dentro da boca.[1] Nos demais casos, acredita-se ser devido a distúrbios no nariz, nos seios nasais, na garganta, nos pulmões, no esôfago ou no estômago.[4] Raramente, o mau hálito pode ser devido a uma condição médica subjacente, como insuficiência hepática ou cetoacidose. Casos não genuínos ocorrem quando alguém acha que tem mau hálito, mas alguém não o consegue detectar. Estima-se que este configura entre 5% e 72% dos casos.[2]
O tratamento depende da causa subjacente. As ações iniciais podem incluir a limpeza da língua, o uso de antisséptico bucal e o de fio dental. Evidências experimentais suportam o uso de enxaguante bucal contendo clorexidina ou cloreto de cetilpiridínio.[1][3] Apesar de haver tentativa de se beneficiar do uso de limpadores de língua, não há dados suficientes para se tomarem conclusões objetivas.[5] O tratamento da doença subjacente, como doença periodontal, cárie dentária ou a doença do refluxo gastroesofágico pode ajudar. O aconselhamento pode ser útil àqueles que acreditam erroneamente terem mau hálito.[1]
As taxas estimadas de mau hálito variam de 6% a 50% da população.[1] A preocupação com mau hálito é a terceira razão mais comum para as pessoas buscarem tratamento dentário, após a cárie dentária e a doença periodontal.[4] Acredita-se que o sintoma torne-se mais comum com a idade, sendo, pois, visto como um tabu social que leva à estigmatização em relação aos afetados.[2][1] Nos Estados Unidos, a população gasta mais de 1 bilhão de dólares por ano em remédios para tratar o sintoma.[4]
Causas
[editar | editar código-fonte]A halitose é um sinal de que algo no organismo está em desequilíbrio e deve ser identificado e tratado. Existem mais de 50 causas e, em aproximadamente 90% dos casos, se manifestam na boca.[6] Pode ser de origem fisiológica (hálito da manhã, jejum prolongado, dietas inadequadas...), razões locais (higiene bucal deficiente, placas bacterianas retidas na língua (saburra) e/ou amígdalas, baixa produção de saliva, doenças da gengiva...) ou mesmo razões sistêmicas (diabetes, problemas renais ou hepáticos, prisão de ventre, entre outras).
Alimentos
[editar | editar código-fonte]Alimentos muito temperados como alho, cebola, pimenta ou qualquer outro alimento de forte odor podem causar halitose. O mau hálito pode ser acentuado quando os resíduos alimentares se acumulam entre os dentes, nas pontes dentárias ou mesmo nas dentaduras.
Bactérias
[editar | editar código-fonte]As bactérias que vivem na boca acabam proliferando-se devido aos resíduos de comida que ficam entre os dentes. Acumulam-se na língua, nas gengivas, no palato e na garganta. Como os resíduos fermentam, seus subprodutos geram gás sulfeto de hidrogênio, o mesmo gás presente nos ovos podres. Essas bactérias se proliferam muito na parte posterior da língua, criando um muco esbranquiçado que geralmente constata-se ao acordar pela manhã.
A saliva é uma defesa natural. Ela lava a cavidade bucal e permite a lubrificação necessária para manter as gengivas e as mucosas saudáveis. Além disso, combate a bactéria bucal que causa mau hálito. Essas bactérias são anaeróbicas, isso é, sobrevivem em locais onde há pouco ou nenhum oxigênio. A saliva contém, entre outras coisas, excesso de oxigênio, que elimina essas bactérias.
O cheiro desagradável que se manifesta quando acordamos procede da boca seca durante o sono e dos pulmões — devido a presença de corpos cetônicos provenientes da queima de gordura. As glândulas salivares restringem ao mínimo sua produção durante as horas do sono devido ao não uso da saliva. A boca resseca e as bactérias multiplicam-se, fazendo com que o mau hálito seja intensificado.
Causas sistêmicas
[editar | editar código-fonte]- Causas genéticas
Uma entre as várias causas de mau hálito em humanos e animais pode ser o desequilíbrio da trimetilamina durante o processo digestivo.[7] A trimetilaminúria é uma desordem genética na qual o corpo é incapaz de metabolizar a trimetilamina dos alimentos. Os pacientes com tal problema desenvolvem um típico odor de peixe no suor, na urina e no hálito, principalmente após o consumo de alimentos ricos em colina. A trimetilaminuria é uma desordem autossômica recessiva que envolve uma deficiência de oxidase da trimetilamina. Evitar alguns tipos alimentos pode ajudar a diminuir seus efeitos, já que não existe cura para o problema.
Já um percentual pequeno de indivíduos no mundo todo é incapaz de converter o metanotiol em gás inodoro durante o processo digestório devido a uma mutação genética congênita que apresentam.[8] Em virtude disso, o hálito delas tem cheiro semelhante ao do repolho podre, segundo revelou artigo de pesquisadores holandeses na revista médica Nature Genetics em 2017.[8] Inicialmente, eles descobriram compostos de enxofre que não deveriam estar na urina dessas pessoas analisadas.[8] Eles supuseram, então, que esses indivíduos têm uma disfunção metabólica de origem genética que faz com que uma enzima — que se supõe agilizar o metabolismo do corpo — não cumpra sua função. Portanto, como os compostos de enxofre não podem ser quebrados, estes se acumulam no corpo e produzem um hálito com cheiro de podre.[8]
As análises desses cientistas constataram que o hálito anormal dos pacientes analisados tem uma causa genética, ou seja, um erro no gene SELENBP1 faz com que eles não possuam a enzima (proteína) relacionada à quebra do metanotiol.[8] Já pesquisadores de outra universidade holandesa revelaram que uma enzima presente numa bactéria muito promissora na limpeza de esgotos possui a mesma capacidade de decompor o metanotiol e o converter em gases inodoros.[8] Tal enzima é semelhante àquela presente no gene SELENBP1 dos indivíduos sem a disfunção genética que causa o mau hálito.[8]
- Outras causas sistêmicas
A doença de refluxo gastroesofágico, bem como insuficiências renais ou hepáticas, também pode ser causadora. Nestes últimos casos, a ocorrência se deve à excreção das toxinas desses órgãos pelos pulmões.[6][9]
Saburra lingual
[editar | editar código-fonte]É a massa composta de células descamadas da boca, de bactérias, de muco da saliva e de restos alimentares que aderem à superfície da língua. Ela é responsável por grande parte dos tipos de halitose e o maior desafio é descobrir por que ela se formando, pois, mesmo realizando a limpeza da língua corretamente, algumas pessoas podem continuar a apresentar formação acentuada de saburra.
Outras causas
[editar | editar código-fonte]Os especialistas concordam que stress e medicamentos (em especial os controlados, como os antidepressivos) são também responsáveis pelo mau hálito. Eles inibem a produção de saliva, o que aumenta a quantidade da proteína mucina. Ela atrai restos de alimentos e, dessa maneira, forma-se na língua uma camada branca, chamada saburra, onde proliferam bactérias que lançam o gás sulfídrico.
Em resumo, a halitose geralmente está associada à existência de cáries e a má higiene bucal, porém pode ter outra origem como a respiratória, (sinusite e amidalite) digestiva, (erupção gástrica, dispepsia, neoplasias e úlcera duodenal) e a de origem metabólica e sistêmica (diabetes, enfermidades febris, alterações hormonais, secura da boca, estresse).[10]
Mau hálito e estômago
[editar | editar código-fonte]Pesquisas efetuadas pela Associação Brasileira de Halitose, (ABHA) concluíram ser mito que mau hálito tenha origem no estômago. Segundo essa pesquisa, isso raramente acontece, e constatou-se ainda que tal engano ainda persiste entre muitos profissionais da área da saúde.
A polêmica existe porque associou-se estômago vazio com halitose. É verdade, mas é um fenômeno passageiro. Quando se permanece por mais de quatro horas sem se alimentar, o corpo sofre com hipoglicemia. Ou seja, existe uma diminuição na quantidade de açúcar para o organismo queimar. Dessa forma, o organismo passa a consumir o ácido graxo (gordura), que está presente na corrente sanguínea. O problema é que ele possui um odor fétido e é volátil. Quando o indivíduo expira e acontece a troca de gases no pulmão — oxigênio e gás carbônico —, o cheiro ruim do ácido graxo é eliminado. É justamente por isso que a maioria das pessoas tem halitose pela manhã. Mas basta alimentar-se e o mau cheiro cessa.
Parte do hálito alterado pode se dar devido à liberação de corpos cetônicos, dando origem ao hálito cetônico.
Autoidentificação da halitose
[editar | editar código-fonte]- Fazer um autoexame na língua, diante de um espelho, para verificar se há saburra lingual, que é uma espécie de massa esbranquiçada ou amarelada que se deposita na parte de trás (dorso posterior) da língua;
- Perguntar a uma criança (ou a alguém de sua confiança, e.g.: pai, mãe) se ela sente em você algum mau odor bucal (as crianças e os pais geralmente são muito sinceros e não têm vergonha de dizer o que pensam);
- Consultar um profissional apto a tratar halitose, pois ele tratará a causa e o efeito do problema, tendo o profissional a máquina japonesa OralChroma ou o halímetro (equipamentos que medem o hálito).
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l Kapoor, U; Sharma, G; Juneja, M; Nagpal, A (2016). «Halitosis: Current concepts on etiology, diagnosis and management.». European journal of dentistry. 10 (2): 292–300. PMID 27095913
- ↑ a b c d Harvey-Woodworth, CN (abril de 2013). «Dimethylsulphidemia: the significance of dimethyl sulphide in extra-oral, blood borne halitosis.». British dental journal. 214 (7): E20. PMID 23579164. doi:10.1038/sj.bdj.2013.329
- ↑ a b Fedorowicz, Z; Aljufairi, H; Nasser, M; Outhouse, TL; Pedrazzi, V (8 de outubro de 2008). «Mouthrinses for the treatment of halitosis.». Cochrane Database of Systematic Reviews (4): CD006701. PMID 18843727. doi:10.1002/14651858.CD006701.pub2
- ↑ a b c Loesche, WJ; Kazor, C (2002). «Microbiology and treatment of halitosis.». Periodontology 2000. 28: 256–79. PMID 12013345
- ↑ Van der Sleen, Mi; Slot, De; Van Trijffel, E; Winkel, Eg; Van der Weijden, Ga (1 de novembro de 2010). «Effectiveness of mechanical tongue cleaning on breath odour and tongue coating: a systematic review». International Journal of Dental Hygiene (em inglês). 8 (4): 258–268. ISSN 1601-5037. PMID 20961381. doi:10.1111/j.1601-5037.2010.00479.x. Cópia arquivada em 20 de dezembro de 2016
- ↑ a b Da redação (18 de julho de 2006). «Conheça causas do mau hálito e fuja desse problema». Portal Terra. Consultado em 10 de dezembro de 2014
- ↑ OLIVEIRA, Simone Tostes de (2004). «Alterações de compostos nitrogenados não proteicos em cães e gatos» (PDF). UFRG. Consultado em 10 de dezembro de 2014
- ↑ a b c d e f g Da adm. do sítio web (21 de dezembro de 2017). «Why breath sometimes stinks like rotten cabbage». Revista da Radboud Universiteit. Consultado em 29 de setembro de 2022
- ↑ ISAAC, Nkechi (12 de outubro de 2013). «Bad Breath (Halitosis) - Causes, Treatment». Portal All Africa. Consultado em 10 de dezembro de 2014
- ↑ Da redação (31 de dezembro de 2019). «Mau hálito: entenda quais são as principais causas do problema... - Veja mais em https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2019/12/31/origem-do-mau-halito-quase-sempre-esta-na-boca-saiba-por-que.htm?cmpid=copiaecola». Viva Bem, UOL. Consultado em 2 de fevereiro de 2024 Ligação externa em
|título=
(ajuda)