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Gavião-real: diferenças entre revisões

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O '''gavião-real''' ('''''Harpia harpyja''''') ou '''harpia,''' '''gavião-de-penacho''', '''uiruuetê''', '''uiraçu''', '''uraçu''', '''uiracuir''', '''uiraquer''', '''cutucurim'''<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. pp.882,883</ref> e '''uiraçu-verdadeiro''', é a mais pesada e uma das maiores [[aves]] de rapina do mundo, com envergadura de 2,5&nbsp;[[metro]]s e peso de até 9 [[quilo]]s.
O '''gavião-real''' ('''''Harpia harpyja''''') ou '''harpia,''' '''gavião-de-penacho''', '''uiruuetê''', '''uiraçu''', '''uraçu''', '''uiracuir''', '''uiraquer''', '''cutucurim'''<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. pp.882,883</ref> e '''uiraçu-verdadeiro''', é a mais pesada e uma das maiores [[aves]] de rapina do mundo, com envergadura de 2,5&nbsp;[[metro]]s e peso de até 9 [[quilo]]s.

Ambos os sexos têm uma crista de penas largas que levantam quando ouvem algum ruído. Como as corujas, o gavião-real tem um disco facial de penas menores que pode focar ondas sonoras para melhorar suas capacidades auditivas. Ele tem, como principais características físicas, olhos pequenos, um longo topete, a crista com duas penas maiores e uma cauda com três faixas cinzentas, que pode medir até 2/3 do comprimento da asa.


== Etimologia ==
== Etimologia ==
"Harpia" é uma referência ao [[Harpia (mitologia)|ser da mitologia grega]]. Por causa do tamanho e ferocidade do animal, os primeiros exploradores europeus da [[América Central]] nomearam estas [[águia]]s em função das monstruosas meio-mulheres/meio-águias da [[mitologia grega]] clássica. "Gavião-de-penacho" e "gavião-real" são referências ao penacho na cabeça característico da espécie, com um formato semelhante ao de uma [[Coroa (monarquia)|coroa]]. "Uiruuetê" é um termo [[Língua tupi|tupi]] que contém o termo ''e'tê'', "verdadeiro".<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 733</ref> "Uiraçu" veio do termo tupi para "ave grande".<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. pp.1 733,40</ref> E "Uiracuir" e "Uiraquer" vieram da junção dos termos tupi-guarani para "pássaro" (gwirá, uirá) e para "cortante/afiado" (kuir).
Por causa do tamanho e ferocidade do animal, os primeiros exploradores europeus da [[América Central]] nomearam estas [[águia]]s em função das monstruosas meio-mulheres/meio-águias da [[mitologia grega]] clássica. "Gavião-de-penacho" e "gavião-real" são referências ao penacho na cabeça característico da espécie, com um formato semelhante ao de uma [[Coroa (monarquia)|coroa]]. "Uiruuetê" é um termo [[Língua tupi|tupi]] que contém o termo ''e'tê'', "verdadeiro".<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p.1 733</ref> "Uiraçu" veio do termo tupi para "ave grande".<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. pp.1 733,40</ref> E "Uiracuir" e "Uiraquer" vieram da junção dos termos tupi-guarani para "pássaro" (gwirá, uirá) e para "cortante/afiado" (kuir).

O nome [[Espécie|específico]] ''harpyja'' e a palavra "harpia" no nome comum vêm do [[Língua grega antiga|grego antigo]] ''harpyia''. Referem-se às [[harpia]]s da [[mitologia grega]] antiga, espíritos do vento que levavam os mortos para o [[Hades]] ou [[Tártaro (mitologia)|Tártaro]], e diziam ter um corpo como um abutre e o rosto de uma mulher.<ref name="Piper2007">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/extraordinaryani0000pipe|título=Extraordinary Animals: An Encyclopedia of Curious and Unusual Animals|ultimo=Piper|primeiro=Ross|editora=Greenwood Publishing Group|ano=2007|isbn=978-0-313-33922-6|autorlink=Ross Piper}}</ref>

== Taxonomia ==
A harpia foi descrita pela primeira vez por [[Lineu|Carl Linnaeus]] em seu livro de 1758 [[10ª edição de Systema Naturae|10ª edição do ''Systema Naturae'']] como ''Vultur harpyja'',<ref>{{Citar livro|título=Systema naturae per regna tria naturae, secundum classes, ordines, genera, species, cum characteribus, differentiis, synonymis, locis. Tomus I. Editio decima, reformata.|ultimo=Linnaeus|primeiro=C|editora=Holmiae. (Laurentii Salvii).|ano=1758|língua=la|citação=V. occipite subcristato.|autorlink=Carl Linnaeus}}</ref> em homenagem a mitológica [[harpia]]. Sendo único membro do [[Género (biologia)|gênero]] ''Harpia'', o gavião-real está mais intimamente relacionado com o [[uiraçu-falso]] (''Morphnus guianensis'') e o gavião-real da Nova Guiné (''Harpyopsis novaeguineae''), os três que compõem a subfamília Harpiinae dentro da grande família [[Acipitrídeos|Accipitridae]]. Apesar de antigamente ser classificado como próximo a [[Pithecophaga jefferyi|águia filipina]], uma [[Exame genético|análise de DNA]] mostrou que essa espécie é mais próxima ao grupo Circaetinae.<ref>{{Citar periódico |url=http://www-personal.umich.edu/~hlerner/LM2005.pdf |titulo=Phylogeny of eagles, Old World vultures, and other Accipitridae based on nuclear and mitochondrial DNA |data=novembro de 2005 |acessodata=31 de maio de 2011 |número=2 |ultimo=Lerner |primeiro=Heather R. L. |ultimo2=Mindell |primeiro2=David P. |paginas=327–346 |doi=10.1016/j.ympev.2005.04.010 |pmid=15925523 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20110606125031/http://www-personal.umich.edu/~hlerner/LM2005.pdf |arquivodata=6 de junho de 2011 |volume=37 |periódico=Molecular Phylogenetics and Evolution}}</ref>


== Descrição ==
== Descrição ==
[[Ficheiro:Harpia_harpyja_stuffed_specimens_Berlin_33.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Um crânio exibido no [[Museu de História Natural de Berlim|Museum für Naturkunde]], [[Berlim]]]]
Ambos os sexos têm uma crista de penas largas que levantam quando ouvem algum ruído. Como as corujas, o gavião-real tem um disco facial de penas menores que pode focar ondas sonoras para melhorar suas capacidades auditivas. Ele tem, como principais características físicas, olhos pequenos, um longo topete, a crista com duas penas maiores e uma cauda com três faixas cinzentas, que pode medir até 2/3 do comprimento da asa.
A parte superior da harpia é coberta com [[pena]]s preta, e a parte inferior é principalmente branca, com exceção dos [[Tarsometatarso|tarsos]] emplumados, que são listrados de preto. Uma larga faixa preta na parte superior do peito separa a cabeça cinzenta da barriga branca. A cabeça é cinza pálido e é coroada com uma crista dupla. A parte superior da cauda é preta com três faixas cinzas, enquanto a parte inferior é preta com três faixas brancas. As íris são cinzentas ou castanhas ou vermelhas, a cere e o bico são pretos ou enegrecidos e os tarsos e dedos são amarelos. A [[plumagem]] de machos e fêmeas é idêntica. O [[Tarsometatarso|tarso]] atinge até 13 centímetros de comprimento.<ref name="RaptorsWorld2">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=hlIztc05HTQC&pg=PA717|título=Raptors of the world|ultimo=Ferguson-Lees, J.|ultimo2=Christie, David A.|editora=Houghton Mifflin Harcourt|ano=2001|páginas=717–19|isbn=978-0-618-12762-7|acessodata=2016-10-22|arquivourl=https://web.archive.org/web/20161222002551/https://books.google.com/books?id=hlIztc05HTQC&pg=PA717|arquivodata=2016-12-22}}</ref><ref name="Howell2">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/guidetobirdsofme0000howe|título=A Guide to the Birds of Mexico and Northern Central America|ultimo=Howell, Steve N. G.|data=30 de março de 1995|editora=Oxford University Press|isbn=978-0-19-854012-0}}</ref>


As harpias fêmeas geralmente pesam de 6 a 9 quilos.<ref name=":02">{{Citar web|url=https://www.whitehawkbirding.com/size-of-harpy-eagle/|titulo=Size of Harpy Eagle {{!}} Rainforest Top Predator {{!}} Whitehawk Birding Blog|data=2020-06-25|acessodata=2020-06-26|lingua=en-US|arquivourl=https://web.archive.org/web/20200628223936/https://www.whitehawkbirding.com/size-of-harpy-eagle/|arquivodata=2020-06-28|urlmorta=live}}</ref><ref name="Miranda2">{{Citar periódico |titulo=Sex and breeding status affect prey composition of Harpy Eagles Harpia harpyja |número=1 |ultimo=Miranda |primeiro=Everton B. P. |ultimo2=Campbell-Thompson |primeiro2=Edwin |ano=2018 |paginas=141–150 |doi=10.1007/s10336-017-1482-3 |ultimo3=Muela |primeiro3=Angel |ultimo4=Vargas |primeiro4=Félix Hernán |volume=159 |periódico=Journal of Ornithology}}</ref><ref name="RaptorsWorld2" /><ref name="HBW2">Thiollay, J. M. (1994).</ref> Uma fonte afirma que as fêmeas adultas podem pesar até 10 quilos.<ref>{{Citar web|ultimo=Trinca, C.T.|ultimo2=Ferrari, S.F.|url=http://freewebs.com/alexlees/Trinca%20et%20al.%202008%20Cotinga.pdf|titulo=''Curiosity killed the bird: arbitrary hunting of Harpy Eagles Harpia harpyja on an agricultural frontier in southern Brazilian Amazonia''|acessodata=2013-03-28|publicado=Cotinga|arquivourl=https://web.archive.org/web/20121023085607/http://www.freewebs.com/alexlees/Trinca%20et%20al.%202008%20Cotinga.pdf|arquivodata=2012-10-23|urlmorta=dead|ultimo3=Lees, A.C.}}</ref> Uma fêmea cativa excepcionalmente grande chamada "Jezebel", pesava 12.3 quilos.<ref name="Wood2">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/guinnessbookofan00wood|título=''The Guinness Book of Animal Facts and Feats''|ultimo=Wood|primeiro=Gerald|ano=1983|isbn=978-0-85112-235-9}}</ref> Estando em cativeiro, esta grande fêmea pode não ser representativa do peso possível em gaviões selvagens devido a diferenças na disponibilidade de alimentos.<ref>O'Connor, R. J. (1984).</ref><ref>Arent, L. A. (2007).</ref> O macho, em comparação, é muito menor, variando de 4 a 6 quilos.<ref name=":02" /><ref name="RaptorsWorld2" /><ref name="HBW2" /><ref name="Miranda2" /> O peso médio dos machos foi relatado como 4.4 a 4.8 quilos contra uma média de 7.3 a 8.3 quilos para fêmeas adultas, uma diferença de 35% ou mais na massa corporal média.<ref name="Miranda2" /><ref name="Whitacre2">Whitacre, D. F., & Jenny, J. P. (2013).</ref><ref name="CRC2">{{Citar livro|título=''CRC Handbook of Avian Body Masses''|editora=CRC Press|ano=2008|editor-sobrenome=Dunning|isbn=978-1-4200-6444-5|edição=2nd}}</ref> As águias harpias podem medir de 86.5 a 107 centímetros de comprimento total<ref name="Howell2" /><ref name="HBW2" /> e com uma envergadura de 176 a 224 centímetros.<ref name="RaptorsWorld2" /><ref name="Howell2" /> Entre as medidas padrão, a corda da asa mede 54 a 63 centímetros, a cauda mede 37 a 42 centímetros, o tarso tem 11.4 a 13 centímetros comprimento, e o [[Bico|culmen exposto do cere]] tem de 4.2 a 6.5 centímetros.<ref name="RaptorsWorld2" /><ref>[https://web.archive.org/web/20130928165222/http://www.gbgm-umc.org/grupongsagip/eagle.htm Sagip Eagle].</ref><ref>[[iarchive:smithsonianmisce15011965smit|Smithsonian miscellaneous collections]] (1862).</ref> O tamanho médio da garra é de 8,6&nbsp;cm nos machos e 12,3&nbsp;cm nas fêmeas.<ref>{{Citar periódico |titulo=Ethno-ornithological notes and neglected references on the Harpy Eagle Harpia harpyja in western Venezuela |número=2 |ultimo=Viloria |primeiro=Ángel L. |ultimo2=Lizarralde |primeiro2=Manuel |ano=2021 |paginas=156–166 |doi=10.25226/bboc.v141i2.2021.a6 |ultimo3=Blanco |primeiro3=P. Alexander |ultimo4=Sharpe |primeiro4=Christopher J. |volume=141 |doi-access=free |periódico=Bulletin of the British Ornithologists' Club}}</ref>
Esta ave da família [[Accipitridae]] possui asas largas e redondas, pernas curtas e grossas e dedos extremamente fortes, com enormes garras, capazes até de levantar um carneiro do chão. Sua cabeça é cinza, o papo e a nuca, negros, e o peito, a barriga e a parte de dentro das asas, brancos. Tem entre 50 a 90 [[centímetro]]s de altura, uma [[envergadura]] de até 2,5 [[metro]]s e um [[peso]] variando entre 4 e 5,5 [[quilograma]]s o macho e entre 6 e 9 quilogramas a fêmea.


Essa ave é citada como a maior águia ao lado da águia filipina, que é um pouco mais longa em média (com média de 1 metro de comprimento), mas pesa um pouco menos, e a [[Haliaeetus pelagicus|águia marinha de Steller]], que talvez seja um pouco mais pesada em média (a média de três aves assexuadas foi de 7.75 quilos).<ref name="Piper20073">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/extraordinaryani0000pipe|título=Extraordinary Animals: An Encyclopedia of Curious and Unusual Animals|ultimo=Piper|primeiro=Ross|editora=Greenwood Publishing Group|ano=2007|isbn=978-0-313-33922-6|autorlink=Ross Piper}}</ref><ref name="CRC2" /><ref>{{Citar periódico |url=http://sora.unm.edu/sites/default/files/journals/auk/v115n03/p0713-p0726.pdf |titulo=''Philippine Birds of Prey: Interrelations among habitat, morphology and behavior'' |acessodata=2019-06-27 |número=3 |ultimo=Gamauf, A. |ultimo2=Preleuthner, M. |ano=1998 |paginas=713–726 |doi=10.2307/4089419 |jstor=4089419 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140823062018/http://sora.unm.edu/sites/default/files/journals/auk/v115n03/p0713-p0726.pdf |arquivodata=2014-08-23 |ultimo3=Winkler, H. |volume=115 |periódico=[[The Auk]]}}</ref> A harpia pode ser a maior espécie de ave da América Central, e grandes [[Ave aquática|aves aquáticas]], como [[Pelicano-branco-americano|pelicanos brancos americanos]] (''Pelecanus erythrorhynchos'') e [[Jaburu|jabirus]] (''Jabiru mycteria'') tenham massas corporais médias apenas um pouco mais baixas.<ref name="CRC2" /> A envergadura da harpia é relativamente pequena, embora as asas sejam bastante largas, uma adaptação que aumenta a manobrabilidade em habitats florestais, sendo uma característica compartilhada por outras aves de rapina em habitats semelhantes. A envergadura da harpia é superada por várias grandes águias que vivem em habitats mais abertos, como as dos gêneros ''[[Haliaeetus]]'' e ''[[Aquila (género)|Aquila]]''.<ref name="RaptorsWorld2" /> A [[Águia-de-haast|águia de Haast]] extinta era significativamente maior do que todas as águias existentes, incluindo a harpia.<ref>Museum of New Zealand (1998).</ref>

Esta espécie é em grande parte silenciosa quando está longe longe do ninho. Quando estão no ninho, os adultos emitem um grito penetrante, fraco e melancólico, com o chamado dos machos incubantes descrito como "gritos ou lamentos sussurrantes".<ref>{{Citar web|url=http://neotropical.birds.cornell.edu/portal/species/identification?p_p_spp=20613|titulo=Identification – Harpy Eagle (''Harpia harpyja'') – Neotropical Birds|acessodata=2013-05-13|publicado=Neotropical.birds.cornell.edu|arquivourl=https://web.archive.org/web/20130607120050/http://neotropical.birds.cornell.edu/portal/species/identification?p_p_spp=20613|arquivodata=2013-06-07|urlmorta=live}}</ref> As chamadas das fêmeas durante a incubação são semelhantes, mas são mais baixas. Ao se aproximar do ninho com comida, o macho costuma emitir "chiados rápidos, chamadas de ganso e gritos agudos ocasionais". A vocalização em ambos os pais diminui à medida que os filhotes envelhecem, enquanto os filhotes se tornam mais vocais. Os filhotes chamam ''chi-chi-chi...chi-chi-chi-chi'', aparentemente em resposta à chuva ou luz solar direta. Quando os humanos se aproximam do ninho, os filhotes fazem sons descritos como "coaxando", "grasnando" e "assobiando".<ref name="Rettig19782">{{Citar periódico |url=http://sora.unm.edu/node/23202 |titulo=Breeding behavior of the Harpy Eagle (''Harpia harpyja'') |acessodata=2013-03-09 |número=4 |ultimo=Rettig, N. |ano=1978 |paginas=629–643 |jstor=4085350 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20141203230248/https://sora.unm.edu/node/23202 |arquivodata=2014-12-03 |volume=95 |periódico=Auk}}</ref>

== Distribuição e habitat ==
Rara em toda a sua extensão, a harpia é encontrada desde o [[México]], passando pela América Central e América do Sul até o sul da [[Argentina]]. Nas florestas tropicais, elas vivem na camada emergente. A águia é mais comum no [[Brasil]], onde é encontrada em todo o território nacional.<ref name="terra2">{{Citar web|url=http://noticias.terra.com.br/ciencia/sustentabilidade/gaviao-real-uma-das-maiores-aves-de-rapina-do-mundo,51184c132967b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html|titulo=Gavião-real, uma das maiores aves de rapina do mundo – Terra Brasil|acessodata=2014-01-25|publicado=noticias.terra.com.br|arquivourl=https://web.archive.org/web/20150925102239/http://noticias.terra.com.br/ciencia/sustentabilidade/gaviao-real-uma-das-maiores-aves-de-rapina-do-mundo,51184c132967b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html|arquivodata=2015-09-25|urlmorta=live}}</ref> Com exceção de algumas áreas do [[Panamá]], a espécie está quase extinta na América Central, após o corte de grande parte da floresta tropical lá (tendo sido completamente extirpada de [[El Salvador]], por exemplo<ref name="Weidensaul2">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/raptoralmanaccom0000weid|título=The Raptor Almanac: A Comprehensive Guide to Eagles, Hawks, Falcons, and Vultures|ultimo=Weidensaul|primeiro=Scott|editora=Lyons Press|ano=2004|localização=New York, New York|páginas=[https://archive.org/details/raptoralmanaccom0000weid/page/280 280]–81|isbn=978-1-58574-170-0}}</ref>). A harpia habita florestas tropicais de várzea e pode ocorrer dentro dessas áreas desde o dossel até a vegetação emergente. Eles geralmente ocorrem abaixo de uma altitude de 900 metros, mas indivíduos já foram registrados em altitudes de até 2000 metros.<ref name="IUCN2"><cite class="citation journal cs1" id="CITEREFBirdLife_International2021"><span class="cx-segment" data-segmentid="468">BirdLife International (2021). </span><span class="cx-segment" data-segmentid="469">[https://www.iucnredlist.org/species/22695998/197957213 "''Harpia harpyja''"]. </span><span class="cx-segment" data-segmentid="470">''[[IUCN Red List|IUCN Red List of Threatened Species]]''. '''2021''': e.</span><span class="cx-segment" data-segmentid="472">T22695998A197957213. [[Doi (identifier)|doi]]:<span class="cs1-lock-free" title="Freely accessible">[[doi:10.2305/IUCN.UK.2021-3.RLTS.T22695998A197957213.en|10.2305/IUCN.]]</span></span><span class="cs1-lock-free" title="Freely accessible">[[doi:10.2305/IUCN.UK.2021-3.RLTS.T22695998A197957213.en|<span class="cx-segment" data-segmentid="474">UK.2021-3.</span><span class="cx-segment" data-segmentid="475">RLTS.</span>]]</span><span class="cx-segment" data-segmentid="476"><span class="cs1-lock-free" title="Freely accessible">[[doi:10.2305/IUCN.UK.2021-3.RLTS.T22695998A197957213.en|T22695998A197957213.en]]</span><span class="reference-accessdate">. </span></span><span class="cx-segment" data-segmentid="477"><span class="reference-accessdate">Retrieved <span class="nowrap">1 January</span> 2022</span>.</span></cite></ref> Dentro da floresta tropical, elas caçam no dossel ou às vezes no chão, e pousam em árvores emergentes em busca de presas. Eles geralmente não ocorrem em áreas ocupadas pelo homem, mas visitam regularmente o mosaico floresta/pastagem semiaberto, principalmente em incursões de caça.<ref name="Remote2">{{Citar periódico |titulo=Remote world of the harpy eagle |número=2 |ultimo=Rettig |primeiro=N. |ultimo2=Hayes |primeiro2=K. |ano=1995 |paginas=40–49 |volume=187 |periódico=National Geographic}}</ref> As harpias, podem ser encontradas sobrevoando as fronteiras da floresta em uma variedade de habitats, como [[cerrado]]s, [[caatinga]]s, palmeiras de [[buriti]], campos cultivados e cidades.<ref>Sigrist, Tomas (2013) ''Ornitologia Brasileira''.</ref>

== Comportamento ==
[[Imagem:Harpia-harpyja-001.jpg|thumb|350px|Harpia em voo]]

=== Visão geral ===
O gavião-real é um predador tremendamente eficaz, com garras mais compridas do que as de um [[urso-cinzento]]. É uma [[águia]] adaptada ao voo acrobático em ambientes florestais de espaços fechados. Ela se aproxima [[Morfologia (biologia)|morfologicamente]] (não se sabe se [[Filogenia|filogeneticamente]]) de várias outras [[Ave de rapina|aves de rapina]] [[Tropical|tropicais]] de grande tamanho adaptadas à caça de grandes animais [[arborícola]]s como [[macaco]]s, [[bicho-preguiça|preguiças]], [[lêmur]]es etc., tais como a [[águia-coroada]] africana, a [[águia-das-filipinas]] e a [[águia-da-nova-guiné]]. Todas essas são chamadas de "águias-pega-macaco" em suas localidades de origem devido ao grande porte, que coloca animais maiores, como macacos, em seu cardápio.
O gavião-real é um predador tremendamente eficaz, com garras mais compridas do que as de um [[urso-cinzento]]. É uma [[águia]] adaptada ao voo acrobático em ambientes florestais de espaços fechados. Ela se aproxima [[Morfologia (biologia)|morfologicamente]] (não se sabe se [[Filogenia|filogeneticamente]]) de várias outras [[Ave de rapina|aves de rapina]] [[Tropical|tropicais]] de grande tamanho adaptadas à caça de grandes animais [[arborícola]]s como [[macaco]]s, [[bicho-preguiça|preguiças]], [[lêmur]]es etc., tais como a [[águia-coroada]] africana, a [[águia-das-filipinas]] e a [[águia-da-nova-guiné]]. Todas essas são chamadas de "águias-pega-macaco" em suas localidades de origem devido ao grande porte, que coloca animais maiores, como macacos, em seu cardápio.


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É capaz de exercer uma pressão de 42 [[kilograma-força|kgf]]/[[centímetro quadrado|cm²]] (4,1 [[megapascal|MPa]] ou 530 [[libra-força|lbf]]/[[polegada quadrada|in²]]) com suas garras. Pode erguer mais de 3/4 de seu peso. É a águia mais pesada da atualidade e a águia-das-filipinas é a única águia viva que se compara a ela em tamanho. Entretanto, a extinta [[águia-de-haast]] da [[Nova Zelândia]] era aproximadamente 50% maior do que ela. Em 15 de janeiro de 2009, nasceu um filhote de harpia no Refúgio Biológico de [[Usina Hidrelétrica de Itaipu|Itaipu]]. Com 100 gramas de massa, é o primeiro filhote a nascer com sucesso em cativeiro no sul do Brasil.<ref>{{citar web|url=http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL964321-5598,00-AVE+RARA+NO+BRASIL+NASCE+NO+REFUGIO+BIOLOGICO+DE+ITAIPU.html|titulo=Ave rara no Brasil nasce no Refúgio Biológico de Itaipu|acessodata=21-01-2009}}</ref>
É capaz de exercer uma pressão de 42 [[kilograma-força|kgf]]/[[centímetro quadrado|cm²]] (4,1 [[megapascal|MPa]] ou 530 [[libra-força|lbf]]/[[polegada quadrada|in²]]) com suas garras. Pode erguer mais de 3/4 de seu peso. É a águia mais pesada da atualidade e a águia-das-filipinas é a única águia viva que se compara a ela em tamanho. Entretanto, a extinta [[águia-de-haast]] da [[Nova Zelândia]] era aproximadamente 50% maior do que ela. Em 15 de janeiro de 2009, nasceu um filhote de harpia no Refúgio Biológico de [[Usina Hidrelétrica de Itaipu|Itaipu]]. Com 100 gramas de massa, é o primeiro filhote a nascer com sucesso em cativeiro no sul do Brasil.<ref>{{citar web|url=http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL964321-5598,00-AVE+RARA+NO+BRASIL+NASCE+NO+REFUGIO+BIOLOGICO+DE+ITAIPU.html|titulo=Ave rara no Brasil nasce no Refúgio Biológico de Itaipu|acessodata=21-01-2009}}</ref>
=== Alimentação ===
[[Ficheiro:Harpia_harpyja_-Miami_MetroZoo_-feeding-8a.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Alimentação no Zoo Miami na [[Flórida]], Estados Unidos]]
[[Ficheiro:Ara_and_Harpia_stuffed_specimens_Berlin_21.jpg|miniaturadaimagem|Um espécime empalhado de uma harpia predando uma arara no [[Museu de História Natural de Berlim|Museum für Naturkunde]], [[Berlim]]]]
As harpias adultas estão no [[Superpredador|topo]] da [[cadeia alimentar]].<ref>{{Citar periódico |url=http://www.globalraptors.org/grin/researchers/uploads/208/muniz-lopez_2017_harpy_mortility_ecuador.pdf |titulo=Harpy Eagle (''Harpia harpyja'') mortality in Ecuador |acessodata=2018-06-05 |número=1 |ultimo=Muñiz-López |primeiro=R. |ano=2017 |paginas=81–85 |doi=10.1080/01650521.2016.1276716 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20180520054212/http://www.globalraptors.org/grin/researchers/uploads/208/muniz-lopez_2017_harpy_mortility_ecuador.pdf |arquivodata=2018-05-20 |volume=52 |periódico=Studies on Neotropical Fauna and Environment}}</ref> Todavia, foi notado que duas harpias jovens que estavam sendo soltas na natureza como parte de um programa de reintrodução foram capturadas por uma [[Panthera onca|onça-pintada]] e uma [[jaguatirica]].<ref>{{Citar web|url=http://assets.peregrinefund.org/docs/pdf/newsletters/newsletter-34-2003.pdf|titulo=Harpy Eagle Restoration Reaches New Heights|acessodata=2018-06-04|publicado=The Peregrine Fund Newsletter 2003|arquivourl=https://web.archive.org/web/20180806024545/http://assets.peregrinefund.org/docs/pdf/newsletters/newsletter-34-2003.pdf|arquivodata=2018-08-06|urlmorta=live}}</ref> Suas principais presas são [[mamíferos]] que vivem em árvores, e a maior parte da dieta se concentra em [[Folivora|preguiças]]<ref>Santos, D. W. (2011).</ref> e [[macaco]]s.


As águias harpias possuem as maiores [[garra]]s de doas as águias viva e foram registradas como levantando presas que pesam o mesmo que seu próprio [[Massa corporal|peso corporal]].<ref name="RaptorsWorld2" /> Isso permite que elas capturem preguiças vivas, assim como outras presas proporcionalmente grandes. Mais comumente, as harpias usam a tática de caça de poleiro, na qual escaneiam a atividade das presas enquanto empoleiram-se brevemente entre voos curtos de árvore em árvore.<ref name="RaptorsWorld2" /> Ao avistar a presa, a harpia mergulha rapidamente e a agarra.<ref name="RaptorsWorld2" /> Às vezes, as harpias executam predação do tipo "sentar e esperar" (comuns em aves de rapina que vivem na floresta),<ref name="RaptorsWorld2" /> pousando por longos períodos em um ponto alto perto de uma abertura, um rio ou uma salina, onde muitos mamíferos vão para obter nutrientes.<ref name="RaptorsWorld2" /> Ocasionalmente, eles também podem caçar voando dentro ou acima do dossel.<ref name="RaptorsWorld2" /> Eles também foram observados em perseguições aéreas: perseguindo outras aves em vôo, esquivando-se rapidamente entre árvores e galhos, um estilo de predação comum aos falcões (gênero ''[[Accipiter]])''<ref name="RaptorsWorld2" /> que caçam pássaros.
== Hábitos ==

[[Imagem:Harpia-harpyja-001.jpg|thumb|350px|Harpia em voo]]
Os machos geralmente pegam presas relativamente menores, com um intervalo típico de 0.5 a 2.5 quilos ou cerca de metade do seu próprio peso.<ref name="RaptorsWorld2" /> As fêmeas maiores pegam presas maiores, com um peso mínimo de presas registrado de cerca de 2.7 quilos. As harpias adultas pegam regularmente grandes [[bugio]]s machos ou [[macacos-aranha]] ou preguiças agulça pesando 6 a 9 quilos em vôo, voando sem pousar, uma enorme façanha de força.<ref name="RaptorsWorld2" /><ref name="sandiegozoo.org2">[http://www.sandiegozoo.org/animalbytes/t-harpy_eagle.html San Diego Zoo's Animal Bytes: Harpy Eagle] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20071013113849/http://www.sandiegozoo.org/animalbytes/t-harpy_eagle.html|date=2007-10-13}}.</ref><ref>{{Citar web|url=http://webserver.eln.gov.br/Pass500/BIRDS/1birds/p52.htm|titulo=Gavião-real|acessodata=6 de julho de 2010|website=Brasil 500 Pássaros|publicado=Eletronorte|lingua=pt|arquivourl=https://web.archive.org/web/20100211202713/http://webserver.eln.gov.br/Pass500/BIRDS/1birds/p52.htm|arquivodata=11 de fevereiro de 2010|urlmorta=dead}}</ref>
É rápido e possante em suas investidas. Ele voa alternando rápidas batidas de asa com planeio. Tem um assobio longo e estridente e, nas horas quentes do dia, costuma voar em círculos sobre florestas e campos próximos. O gavião-real conserva energia se empoleirando silenciosamente, vendo e ouvindo por longos períodos de tempo. Ele caça com curtas e rápidas investidas. As fêmeas, maiores, caçam presas mais pesadas do que os menores, mais ágeis e rápidos machos. Estas técnicas complementares podem aumentar as chances de sucesso na obtenção de comida. Grandes presas, como preguiças e macacos, costumam ser consumidas parcialmente até poderem ser transportadas para o ninho.

As presas levadas para o ninho pelos pais são normalmente de tamanho médio, tendo sido registradas presas de 1 a 4 quilos.<ref name="RaptorsWorld2" /> As presas trazidas para o ninho por machos pesavam em média 1.5 quilos, enquanto a presa trazida para o ninho pelas fêmeas tiveram uma média de 3.2 quilos.<ref name="Rettig19782" /> Em outro estudo, aves não-nidificantes pegaram presas em média de 4.24 quilos, mais do que a média das nidificantes, de 3.64 quilos, com espécies de presas estimadas em peso médio de 1.08 quilos (para [[Gambá-comum|gambá comum]]) a 10.1 quilos (para o [[mão-pelada]] adulto).<ref name="Miranda2" /> No geral, as presas da harpia pesam entre 0,3 kg a 6,5 kg, com o tamanho médio de presa igual a 2,6 ± 0,8 kg<ref>{{Citar periódico |titulo=Food Habits of the Harpy Eagle, a Top Predator from the Amazonian Rainforest Canopy |ultimo=Aguiar-Silva |primeiro=F. Helena |ultimo2=Sanaiotti |primeiro2=Tânia M. |ano=2014 |paginas=24–35 |doi=10.3356/JRR-13-00017.1 |ultimo3=Luz |primeiro3=Benjamim B. |volume=48 |periódico=Journal of Raptor Research}}</ref>

Uma recente revisão de literatura e pesquisa usando armadilhas fotográficas lista um total de 116 espécies diferentes de presas.<ref name="Everton2">{{Citar periódico |titulo=Prey Composition of Harpy Eagles (''Harpia harpyja'') in Raleighvallen, Suriname |ultimo=Miranda |primeiro=Everton B. P. |ano=2018 |paginas=194008291880078 |doi=10.1177/1940082918800789 |volume=13 |doi-access=free |periódico=Tropical Conservation Science}}</ref><ref name="Miranda12">Miranda, Everton BP, et al.</ref> Uma pesquisa realizada por Aguiar-Silva entre 2003 e 2005 em um local de nidificação em [[Parintins]], [[Amazonas]], Brasil, coletou restos de presas oferecidas ao filhote por seus pais. Os pesquisadores descobriram que 79% das presas da harpia eram compostas por preguiças de duas espécies: 39% [[preguiça-comum]] (''Bradypus variegatus'') e 40% da [[Choloepus didactylus|preguiça de dois dedos de Linnaeus]] (''Choloepus didactylus'').<ref name="Aguiar-Silva2">{{Citar periódico |titulo=Food Habits of the Harpy Eagle, a Top Predator from the Amazonian Rainforest Canopy |número=1 |ultimo=Aguiar-Silva, F. Helena |ano=2014 |paginas=24–35 |doi=10.3356/JRR-13-00017.1 |volume=48 |periódico=Journal of Raptor Research}}</ref> Uma pesquisa semelhante no Panamá, onde dois subadultos criados em cativeiro foram liberados, descobriu que 52% das capturas do macho e 54% das fêmeas eram de duas espécies de preguiça (preguiça-comum e [[Choloepus hoffmanni|preguiça de dois dedos de Hoffmann]] (''Choloepus hoffmanni'').<ref>{{Citar periódico |url=http://www.fondoperegrino.org/Touchton-Harpy.pdf |titulo=Foraging ecology of reintroduced captive-bred subadult harpy eagles (''Harpia harpiya'') on Barro Colorado Island, Panama |ultimo=Touchton |primeiro=Janeene M. |ultimo2=Yu-Cheng Hsu |ano=2002 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20080509061443/http://www.fondoperegrino.org/Touchton-Harpy.pdf |arquivodata=9 de maio de 2008 |ultimo3=Palleroni |primeiro3=Alberto |volume=13 |periódico=Ornitologia Neotropical}}</ref>
[[Ficheiro:Harpia_chega_ao_ninho_com_um_macaco-prego.jpg|miniaturadaimagem|222x222px|Junto com a preguiça, os macacos, como o [[Macaco-prego-das-guianas|macaco-prego]] (''Cebus appella)'', são uma das principais presas do gavião-real.<ref>{{Citar Q|Q107387906}}</ref>[[Sapajus apella|Macacos-prego]] são um item importante da dieta da harpia.<ref>{{Citar Q|qid=Q107387906}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Bonilla|primeiro=Juan Miguel Hernández|url=https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-06-30/as-maiores-aguias-do-mundo-estao-morrendo-de-fome-por-causa-do-desmatamento-na-amazonia.html|titulo=As maiores águias do mundo estão morrendo de fome por causa do desmatamento na Amazônia|data=2021-06-30|website=EL PAÍS|lingua=pt-br|wayb=20210701014957}}</ref>]]
Em vários ninhos na [[Guiana]], os macacos constituíam cerca de 37% dos restos de presa encontrados nos ninhos.<ref>Izor, R. J. (1985).</ref> Da mesma forma, [[Cebidae|os macacos-prego]] compuseram 35% dos restos encontrados em 10 ninhos na Amazônia equatoriana.<ref>Muñiz-López, R., O. Criollo, and A. Mendúa. (2007).</ref> Macacos capturados regularmente incluem [[Cebíneos|macacos-prego]], macacos [[Pithecia|saki]], [[bugio]]s, macacos titi, [[saimiri]]s e [[Ateles|macacos-aranha]]. Macacos menores, como [[Saguinus|micos]] e saguis, são aparentemente ignorados como presas por esta espécie.<ref name="RaptorsWorld2" /> Harpias machos geralmente caçam macacos pequenos ou jovens, mas as harpias fêmeas adultas são conhecidas por matar macacos maiores, como macos ''[[Lagothrix]]'' adultos (''Lagothrix cana''), [[Alouatta palliata|bugios-de-manto]] (''Alouatta palliata''), o [[Ateles chamek|macaco-aranha peruano]] (''Ateles chamek'') que pode pesar até 9 quilos. Até mesmo os maiores macaco da América do Sul, como o [[Ateles paniscus|macaco-aranha-preto]] adulto (''Ateles paniscus''), que pode pesar entre 7,5 e 13,5&nbsp;kg pode ser vítima da harpia.<ref name="Everton2" /><ref name="Miranda12" /><ref name="Alvarez2">Alvarez-Cordero, Eduardo.</ref> Em outro estudo, harpias reprodutoras caçaram [[Alouatta pigra|bugios pretos de Yucatán]] (''Alouatta pigra'') que podem pesar de 6,4 a 11,3&nbsp;kg, embora as idades dos macacos capturados por essas harpias sejam desconhecidas.<ref>Di Fiore, A.; Campbell, C. (2007).</ref><ref>Rotenberg, J. A., Marlin, J. A., Pop, L., & Garcia, W. (2012).</ref>

Outros mamíferos parcialmente arborícolas e até terrestres também são predados dada a oportunidade, incluindo [[Porco-espinho|porcos-espinho]], [[esquilo]]s, [[Didelfiídeos|gambás]], [[Vermilíngues|tamanduás]], tatus e animais carnívoros, como [[jupará]]s, quatis, [[irara]]s e, ocasionalmente, [[Gato-maracajá|gatos-maracajás]] [[Graxaim-do-mato|graxains-do-mato]].<ref name="RaptorsWorld2" /><ref name="Everton2" /> Há um relato de harpias atacando [[jaguatirica]]s adulta e [[Mão-pelada|guaxinins]].<ref name="Alvarez2" /><ref name="Miranda2" /> No [[Pantanal]], um par de águias nidificantes predava em grande parte porcos-espinho (''[[Coendou prehensilis|Coendou prehensili]]'') e cutias (''[[Dasyprocta azarae]]'').<ref>[http://www.avesderapinabrasil.com/harpia_harpyja.htm Aves de Rapina BR | Gavião-Real (''Harpia harpyja'')] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20100720071214/http://www.avesderapinabrasil.com/harpia_harpyja.htm|date=2010-07-20}}.</ref>

A harpia também pode atacar espécies de aves, como as [[arara]]s: No campo de pesquisa de Parintins, a [[Arara-vermelha|arara vermelha]] compunha 0,4% das presas, com outras aves no valor de 4,6%.<ref name="Aguiar-Silva2" /><ref>Aguiar-Silva (2007).</ref> Outros [[Psittaciformes|papagaios]] também são predados, assim como [[cracídeos]] como mutuns e outras aves como [[seriema]]s.<ref name="RaptorsWorld2" /> Em uma ocasião, um juvenil dependente aprendeu rapidamente a caçar [[Urubu-de-cabeça-preta|abutres negros]] (''Coragyps atratus'').<ref name="Miranda12" /> Itens de presas adicionais relatados incluem [[répteis]] como [[iguana]]s, [[teiú]]s e [[Serpente|cobras]].<ref name="RaptorsWorld2" /><ref name="HBW2" />


A harpia já foi foi registrada atacando animais de criação, incluindo galinhas, cordeiros, [[cabra]]s e porcos jovens, mas isso é extremamente raro em circunstâncias normais.<ref name="RaptorsWorld2" /> Eles controlam a população de mesopredadores, como os [[macacos-prego]], que atacam amplamente os ovos das aves e que (se não controlados naturalmente) podem causar extinções locais de espécies sensíveis.<ref>Shaner, K. (2011).</ref>
== Alimentação ==
[[Ficheiro:Harpia chega ao ninho com um macaco-prego.jpg|miniaturadaimagem|[[Sapajus apella|Macacos-prego]] são um item importante da dieta da harpia.<ref>{{Citar Q|qid=Q107387906}}</ref><ref>{{Citar web |ultimo=Bonilla |primeiro=Juan Miguel Hernández |url=https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-06-30/as-maiores-aguias-do-mundo-estao-morrendo-de-fome-por-causa-do-desmatamento-na-amazonia.html |titulo=As maiores águias do mundo estão morrendo de fome por causa do desmatamento na Amazônia |data=2021-06-30 |website=EL PAÍS |lingua=pt-br |wayb=20210701014957}}</ref>|240x240px|esquerda]]
Sua alimentação é composta de animais de porte médio, como [[aves]], [[macaco]]s, [[bicho-preguiça|preguiças]] até macacos maiores, como o bugio. Ele caça pelo menos 19 espécies de animais, 16 das quais arborícolas. Em cativeiro, é alimentado com carne e pequenos animais, como ratos.


== Reprodução ==
== Reprodução ==

Revisão das 20h59min de 19 de abril de 2022

Como ler uma infocaixa de taxonomiaHarpia

Estado de conservação
Quase ameaçada
Quase ameaçada
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Accipitriformes[1]
Família: Accipitridae
Género: Harpia
Espécie: H. harpyja
Nome binomial
Harpia harpyja
Lineu, 1758
Distribuição geográfica

O gavião-real (Harpia harpyja) ou harpia, gavião-de-penacho, uiruuetê, uiraçu, uraçu, uiracuir, uiraquer, cutucurim[2] e uiraçu-verdadeiro, é a mais pesada e uma das maiores aves de rapina do mundo, com envergadura de 2,5 metros e peso de até 9 quilos.

Ambos os sexos têm uma crista de penas largas que levantam quando ouvem algum ruído. Como as corujas, o gavião-real tem um disco facial de penas menores que pode focar ondas sonoras para melhorar suas capacidades auditivas. Ele tem, como principais características físicas, olhos pequenos, um longo topete, a crista com duas penas maiores e uma cauda com três faixas cinzentas, que pode medir até 2/3 do comprimento da asa.

Etimologia

Por causa do tamanho e ferocidade do animal, os primeiros exploradores europeus da América Central nomearam estas águias em função das monstruosas meio-mulheres/meio-águias da mitologia grega clássica. "Gavião-de-penacho" e "gavião-real" são referências ao penacho na cabeça característico da espécie, com um formato semelhante ao de uma coroa. "Uiruuetê" é um termo tupi que contém o termo e'tê, "verdadeiro".[3] "Uiraçu" veio do termo tupi para "ave grande".[4] E "Uiracuir" e "Uiraquer" vieram da junção dos termos tupi-guarani para "pássaro" (gwirá, uirá) e para "cortante/afiado" (kuir).

O nome específico harpyja e a palavra "harpia" no nome comum vêm do grego antigo harpyia. Referem-se às harpias da mitologia grega antiga, espíritos do vento que levavam os mortos para o Hades ou Tártaro, e diziam ter um corpo como um abutre e o rosto de uma mulher.[5]

Taxonomia

A harpia foi descrita pela primeira vez por Carl Linnaeus em seu livro de 1758 10ª edição do Systema Naturae como Vultur harpyja,[6] em homenagem a mitológica harpia. Sendo único membro do gênero Harpia, o gavião-real está mais intimamente relacionado com o uiraçu-falso (Morphnus guianensis) e o gavião-real da Nova Guiné (Harpyopsis novaeguineae), os três que compõem a subfamília Harpiinae dentro da grande família Accipitridae. Apesar de antigamente ser classificado como próximo a águia filipina, uma análise de DNA mostrou que essa espécie é mais próxima ao grupo Circaetinae.[7]

Descrição

Um crânio exibido no Museum für Naturkunde, Berlim

A parte superior da harpia é coberta com penas preta, e a parte inferior é principalmente branca, com exceção dos tarsos emplumados, que são listrados de preto. Uma larga faixa preta na parte superior do peito separa a cabeça cinzenta da barriga branca. A cabeça é cinza pálido e é coroada com uma crista dupla. A parte superior da cauda é preta com três faixas cinzas, enquanto a parte inferior é preta com três faixas brancas. As íris são cinzentas ou castanhas ou vermelhas, a cere e o bico são pretos ou enegrecidos e os tarsos e dedos são amarelos. A plumagem de machos e fêmeas é idêntica. O tarso atinge até 13 centímetros de comprimento.[8][9]

As harpias fêmeas geralmente pesam de 6 a 9 quilos.[10][11][8][12] Uma fonte afirma que as fêmeas adultas podem pesar até 10 quilos.[13] Uma fêmea cativa excepcionalmente grande chamada "Jezebel", pesava 12.3 quilos.[14] Estando em cativeiro, esta grande fêmea pode não ser representativa do peso possível em gaviões selvagens devido a diferenças na disponibilidade de alimentos.[15][16] O macho, em comparação, é muito menor, variando de 4 a 6 quilos.[10][8][12][11] O peso médio dos machos foi relatado como 4.4 a 4.8 quilos contra uma média de 7.3 a 8.3 quilos para fêmeas adultas, uma diferença de 35% ou mais na massa corporal média.[11][17][18] As águias harpias podem medir de 86.5 a 107 centímetros de comprimento total[9][12] e com uma envergadura de 176 a 224 centímetros.[8][9] Entre as medidas padrão, a corda da asa mede 54 a 63 centímetros, a cauda mede 37 a 42 centímetros, o tarso tem 11.4 a 13 centímetros comprimento, e o culmen exposto do cere tem de 4.2 a 6.5 centímetros.[8][19][20] O tamanho médio da garra é de 8,6 cm nos machos e 12,3 cm nas fêmeas.[21]

Essa ave é citada como a maior águia ao lado da águia filipina, que é um pouco mais longa em média (com média de 1 metro de comprimento), mas pesa um pouco menos, e a águia marinha de Steller, que talvez seja um pouco mais pesada em média (a média de três aves assexuadas foi de 7.75 quilos).[22][18][23] A harpia pode ser a maior espécie de ave da América Central, e grandes aves aquáticas, como pelicanos brancos americanos (Pelecanus erythrorhynchos) e jabirus (Jabiru mycteria) tenham massas corporais médias apenas um pouco mais baixas.[18] A envergadura da harpia é relativamente pequena, embora as asas sejam bastante largas, uma adaptação que aumenta a manobrabilidade em habitats florestais, sendo uma característica compartilhada por outras aves de rapina em habitats semelhantes. A envergadura da harpia é superada por várias grandes águias que vivem em habitats mais abertos, como as dos gêneros Haliaeetus e Aquila.[8] A águia de Haast extinta era significativamente maior do que todas as águias existentes, incluindo a harpia.[24]

Esta espécie é em grande parte silenciosa quando está longe longe do ninho. Quando estão no ninho, os adultos emitem um grito penetrante, fraco e melancólico, com o chamado dos machos incubantes descrito como "gritos ou lamentos sussurrantes".[25] As chamadas das fêmeas durante a incubação são semelhantes, mas são mais baixas. Ao se aproximar do ninho com comida, o macho costuma emitir "chiados rápidos, chamadas de ganso e gritos agudos ocasionais". A vocalização em ambos os pais diminui à medida que os filhotes envelhecem, enquanto os filhotes se tornam mais vocais. Os filhotes chamam chi-chi-chi...chi-chi-chi-chi, aparentemente em resposta à chuva ou luz solar direta. Quando os humanos se aproximam do ninho, os filhotes fazem sons descritos como "coaxando", "grasnando" e "assobiando".[26]

Distribuição e habitat

Rara em toda a sua extensão, a harpia é encontrada desde o México, passando pela América Central e América do Sul até o sul da Argentina. Nas florestas tropicais, elas vivem na camada emergente. A águia é mais comum no Brasil, onde é encontrada em todo o território nacional.[27] Com exceção de algumas áreas do Panamá, a espécie está quase extinta na América Central, após o corte de grande parte da floresta tropical lá (tendo sido completamente extirpada de El Salvador, por exemplo[28]). A harpia habita florestas tropicais de várzea e pode ocorrer dentro dessas áreas desde o dossel até a vegetação emergente. Eles geralmente ocorrem abaixo de uma altitude de 900 metros, mas indivíduos já foram registrados em altitudes de até 2000 metros.[29] Dentro da floresta tropical, elas caçam no dossel ou às vezes no chão, e pousam em árvores emergentes em busca de presas. Eles geralmente não ocorrem em áreas ocupadas pelo homem, mas visitam regularmente o mosaico floresta/pastagem semiaberto, principalmente em incursões de caça.[30] As harpias, podem ser encontradas sobrevoando as fronteiras da floresta em uma variedade de habitats, como cerrados, caatingas, palmeiras de buriti, campos cultivados e cidades.[31]

Comportamento

Harpia em voo

Visão geral

O gavião-real é um predador tremendamente eficaz, com garras mais compridas do que as de um urso-cinzento. É uma águia adaptada ao voo acrobático em ambientes florestais de espaços fechados. Ela se aproxima morfologicamente (não se sabe se filogeneticamente) de várias outras aves de rapina tropicais de grande tamanho adaptadas à caça de grandes animais arborícolas como macacos, preguiças, lêmures etc., tais como a águia-coroada africana, a águia-das-filipinas e a águia-da-nova-guiné. Todas essas são chamadas de "águias-pega-macaco" em suas localidades de origem devido ao grande porte, que coloca animais maiores, como macacos, em seu cardápio.

O habitat principal são as florestas tropicais e a espécie se dispersa geograficamente do México à Bolívia, na Argentina e em grande parte do Brasil, notadamente na Amazônia, vivendo em árvores altas, dentro de vasta mata, onde constrói seus ninhos. Habitava as matas brasileiras de forma abrangente. Hoje, pode ser encontrado na Amazônia e visto raramente na Mata Atlântica. Na região amazônica da Guiana, onde foi bem estudado, verificou-se que é um predador sobretudo de mamíferos.

É capaz de exercer uma pressão de 42 kgf/cm² (4,1 MPa ou 530 lbf/in²) com suas garras. Pode erguer mais de 3/4 de seu peso. É a águia mais pesada da atualidade e a águia-das-filipinas é a única águia viva que se compara a ela em tamanho. Entretanto, a extinta águia-de-haast da Nova Zelândia era aproximadamente 50% maior do que ela. Em 15 de janeiro de 2009, nasceu um filhote de harpia no Refúgio Biológico de Itaipu. Com 100 gramas de massa, é o primeiro filhote a nascer com sucesso em cativeiro no sul do Brasil.[32]

Alimentação

Alimentação no Zoo Miami na Flórida, Estados Unidos
Um espécime empalhado de uma harpia predando uma arara no Museum für Naturkunde, Berlim

As harpias adultas estão no topo da cadeia alimentar.[33] Todavia, foi notado que duas harpias jovens que estavam sendo soltas na natureza como parte de um programa de reintrodução foram capturadas por uma onça-pintada e uma jaguatirica.[34] Suas principais presas são mamíferos que vivem em árvores, e a maior parte da dieta se concentra em preguiças[35] e macacos.

As águias harpias possuem as maiores garras de doas as águias viva e foram registradas como levantando presas que pesam o mesmo que seu próprio peso corporal.[8] Isso permite que elas capturem preguiças vivas, assim como outras presas proporcionalmente grandes. Mais comumente, as harpias usam a tática de caça de poleiro, na qual escaneiam a atividade das presas enquanto empoleiram-se brevemente entre voos curtos de árvore em árvore.[8] Ao avistar a presa, a harpia mergulha rapidamente e a agarra.[8] Às vezes, as harpias executam predação do tipo "sentar e esperar" (comuns em aves de rapina que vivem na floresta),[8] pousando por longos períodos em um ponto alto perto de uma abertura, um rio ou uma salina, onde muitos mamíferos vão para obter nutrientes.[8] Ocasionalmente, eles também podem caçar voando dentro ou acima do dossel.[8] Eles também foram observados em perseguições aéreas: perseguindo outras aves em vôo, esquivando-se rapidamente entre árvores e galhos, um estilo de predação comum aos falcões (gênero Accipiter)[8] que caçam pássaros.

Os machos geralmente pegam presas relativamente menores, com um intervalo típico de 0.5 a 2.5 quilos ou cerca de metade do seu próprio peso.[8] As fêmeas maiores pegam presas maiores, com um peso mínimo de presas registrado de cerca de 2.7 quilos. As harpias adultas pegam regularmente grandes bugios machos ou macacos-aranha ou preguiças agulça pesando 6 a 9 quilos em vôo, voando sem pousar, uma enorme façanha de força.[8][36][37]

As presas levadas para o ninho pelos pais são normalmente de tamanho médio, tendo sido registradas presas de 1 a 4 quilos.[8] As presas trazidas para o ninho por machos pesavam em média 1.5 quilos, enquanto a presa trazida para o ninho pelas fêmeas tiveram uma média de 3.2 quilos.[26] Em outro estudo, aves não-nidificantes pegaram presas em média de 4.24 quilos, mais do que a média das nidificantes, de 3.64 quilos, com espécies de presas estimadas em peso médio de 1.08 quilos (para gambá comum) a 10.1 quilos (para o mão-pelada adulto).[11] No geral, as presas da harpia pesam entre 0,3 kg a 6,5 kg, com o tamanho médio de presa igual a 2,6 ± 0,8 kg[38]

Uma recente revisão de literatura e pesquisa usando armadilhas fotográficas lista um total de 116 espécies diferentes de presas.[39][40] Uma pesquisa realizada por Aguiar-Silva entre 2003 e 2005 em um local de nidificação em Parintins, Amazonas, Brasil, coletou restos de presas oferecidas ao filhote por seus pais. Os pesquisadores descobriram que 79% das presas da harpia eram compostas por preguiças de duas espécies: 39% preguiça-comum (Bradypus variegatus) e 40% da preguiça de dois dedos de Linnaeus (Choloepus didactylus).[41] Uma pesquisa semelhante no Panamá, onde dois subadultos criados em cativeiro foram liberados, descobriu que 52% das capturas do macho e 54% das fêmeas eram de duas espécies de preguiça (preguiça-comum e preguiça de dois dedos de Hoffmann (Choloepus hoffmanni).[42]

Junto com a preguiça, os macacos, como o macaco-prego (Cebus appella), são uma das principais presas do gavião-real.[43]Macacos-prego são um item importante da dieta da harpia.[44][45]

Em vários ninhos na Guiana, os macacos constituíam cerca de 37% dos restos de presa encontrados nos ninhos.[46] Da mesma forma, os macacos-prego compuseram 35% dos restos encontrados em 10 ninhos na Amazônia equatoriana.[47] Macacos capturados regularmente incluem macacos-prego, macacos saki, bugios, macacos titi, saimiris e macacos-aranha. Macacos menores, como micos e saguis, são aparentemente ignorados como presas por esta espécie.[8] Harpias machos geralmente caçam macacos pequenos ou jovens, mas as harpias fêmeas adultas são conhecidas por matar macacos maiores, como macos Lagothrix adultos (Lagothrix cana), bugios-de-manto (Alouatta palliata), o macaco-aranha peruano (Ateles chamek) que pode pesar até 9 quilos. Até mesmo os maiores macaco da América do Sul, como o macaco-aranha-preto adulto (Ateles paniscus), que pode pesar entre 7,5 e 13,5 kg pode ser vítima da harpia.[39][40][48] Em outro estudo, harpias reprodutoras caçaram bugios pretos de Yucatán (Alouatta pigra) que podem pesar de 6,4 a 11,3 kg, embora as idades dos macacos capturados por essas harpias sejam desconhecidas.[49][50]

Outros mamíferos parcialmente arborícolas e até terrestres também são predados dada a oportunidade, incluindo porcos-espinho, esquilos, gambás, tamanduás, tatus e animais carnívoros, como juparás, quatis, iraras e, ocasionalmente, gatos-maracajás graxains-do-mato.[8][39] Há um relato de harpias atacando jaguatiricas adulta e guaxinins.[48][11] No Pantanal, um par de águias nidificantes predava em grande parte porcos-espinho (Coendou prehensili) e cutias (Dasyprocta azarae).[51]

A harpia também pode atacar espécies de aves, como as araras: No campo de pesquisa de Parintins, a arara vermelha compunha 0,4% das presas, com outras aves no valor de 4,6%.[41][52] Outros papagaios também são predados, assim como cracídeos como mutuns e outras aves como seriemas.[8] Em uma ocasião, um juvenil dependente aprendeu rapidamente a caçar abutres negros (Coragyps atratus).[40] Itens de presas adicionais relatados incluem répteis como iguanas, teiús e cobras.[8][12]

A harpia já foi foi registrada atacando animais de criação, incluindo galinhas, cordeiros, cabras e porcos jovens, mas isso é extremamente raro em circunstâncias normais.[8] Eles controlam a população de mesopredadores, como os macacos-prego, que atacam amplamente os ovos das aves e que (se não controlados naturalmente) podem causar extinções locais de espécies sensíveis.[53]

Reprodução

Zoológico de São Paulo

O gavião-real, como as águias em geral, é monogâmico, unindo-se por toda a vida. Ele faz ninhos em árvores muito altas, com galhos bem separados, de até 40 metros de altura. O casal dá uma cria a cada dois ou três anos. O período reprodutivo vai de junho a novembro e o período de incubação é de 2 meses. A fêmea deposita um ovo ou dois, mas, caso ambos os ovos sejam incubados com sucesso, em condições naturais somente o primogênito sobrevive, já que o filhote maior invariavelmente mata o menor (este "cainismo" é comum a várias espécies de águia e permite estratégias de conservação baseadas na remoção do filhote menor do ninho para criação artificial).

O filhote testa suas asas com seis meses. No entanto, fica sob os cuidados dos pais, sendo alimentado por outros seis a dez meses, mantendo, assim, uma longa dependência. A maturidade sexual é atingida aos quatro ou cinco anos e o indivíduo pode retornar ao mesmo ninho em que nasceu.

Perigos à sua sobrevivência

  • Destruição de seu habitat, uma vez que necessita de grandes áreas para viver. Atualmente,o gavião-real encontra-se praticamente restrito à floresta amazônica.
  • É ameaçado pela caça predatória, por ser considerada perigoso para as criações de animais domésticos.

De acordo com a ONG estadunidense Peregrine Fund, que se dedica à proteção internacional de aves de rapina diurnas, o gavião-real é uma espécie "dependente de conservação", na medida em que o declínio da espécie em toda a sua área de ocorrência, produzido principalmente pelo desmatamento, exige políticas ativas de conservação e/ou reprodução em cativeiro, que impeçam que a ave se torne uma espécie imediatamente ameaçada de extinção. O Peregrine Fund realizou, aliás, algumas experiências bem-sucedidas de criação em cativeiro e libertação de gavião-real em uma reserva florestal no Panamá.

Sociedade e cultura

Está desenhado no brasão do Panamá e também no brasão de armas do estado do Paraná, no Brasil. Também está nos brasões de diversos estados e municípios brasileiros, como o brasão do estado de Mato Grosso, do estado do Rio de Janeiro e de Campo Grande. É o símbolo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. É também símbolo e estampa o escudo da tropa de elite da Polícia Federal do Brasil, o Comando de Operações Táticas. Faz parte do símbolo do 4º Batalhão de Aviação do Exército Brasileiro. Denomina um esquadrão da Força Aérea Brasileira, o 7º/8º Esquadrão Harpia. É o designativo das aeronaves do Núcleo de Operações e Transporte Aéreo da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo. A ave é constantemente tomada como símbolo nacional pelo movimento monarquista no Brasil. É o animal em que foi baseado o personagem Fawkes, a fênix do filme Harry Potter e a Câmara Secreta. Dá nome ao projeto de inteligência artificial mantido pelo Serviço Federal de Processamento de Dados.


Ver também

Notas e referências

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