Comportamento heterossexualizado

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Comportamento heterossexualizado (em inglês: straight-acting) é um termo para indivíduos LGBT que não exibem a aparência ou maneirismos do que é visto como estereotipicamente gay. Embora o rótulo seja utilizado e reservado quase exclusivamente para homens gays e bissexuais, também pode ser usado para descrever uma mulher lésbica ou bissexual que exiba uma aparência e maneirismos femininos.[1] Uma vez que o termo invoca estereótipos negativos de pessoas homossexuais, a sua aplicação é muitas vezes controversa e pode causar ofensa.[2]

Explicações e críticas propostas[editar | editar código-fonte]

Shinsuke Eguchi (2009), estudioso da comunicação, propõe explicar o surgimento do fenômeno do comportamento heterossexualizado “porque alguns homens gays querem alcançar a masculinidade hegemônica para superar as imagens efeminadas dos gays”.[3] Tanto Eguchi como Tim Berling relacionam esse fenômeno ao contexto geral da sissifobia — a norma cultural dominante que deprecia os homens afeminados, que não se restringe à cultura gay.[4] Em "Negotiating Sisyphobia: A critical/ interpretive analysis of one ‘femme’ gay Asian body in the heteronormative world", Shinsuke Eguchi (2011) escreve: "Comecei a ver que a manifestação discursiva da sissifobia não é que os gays femininos sejam pouco atraentes e indesejáveis. Em vez disso, esses homens gays que se comportam de forma heterossexualizada gostariam de apresentar suas faces masculinas “heteronormativas” em suas interações sociais com os outros" (p. 50).[5]

O colunista de conselhos sexuais Dan Savage comentou sobre a popularidade do termo "comportamento heterossexualizado" em anúncios pessoais gays, criticando tanto a prática quanto a ideia de que um homem que busca um relacionamento gay por meio de um anúncio pessoal gay está agindo de forma heterossexual.[6] Os defensores do termo afirmam que ele se refere apenas aos maneirismos de alguém e que o fato de os críticos isolarem a palavra "comportamento" na frase distorce o significado pretendido da expressão. O uso do próprio termo foi rotulado como prejudicial à comunidade LGBT, pois associa certos atributos à homossexualidade.[2]

Homens que usam a expressão "comportamento heterossexualizado" podem expressar ressentimento porque os críticos afirmam que o termo implica que eles estão atuando e não sendo eles mesmos.[1]

QUASH[editar | editar código-fonte]

A Queers United Against Straight Acting Homosexuals (QUASH) (Queers unidos contra homossexuais de comportamento heterossexualizado) foi a organização em Chicago que publicou um artigo frequentemente citado em seu boletim informativo em 1993,[7] intitulado "Assimilation is Killing Us Fight For a Queer United Front" (A assimilação está nos matando: lute por uma frente unida queer).[8] O artigo pede uma nova ordem em nossos sistemas sociais de gênero para que sejam inclusivos e não excluam ninguém da libertação, desafiando o poder e o privilégio dos membros dominantes da sociedade.[7] Um artigo semelhante a "Assimilation is Killing Us", publicado um ano depois, intitulado QUASH, que ainda significa Queers United Against Straight-Acting Homosexuals, usou o mesmo conceito de rejeição dos protocolos de gênero estabelecidos, especificamente, que pode haver instituições variadas e melhores do que a união de casais e o casamento.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Clarkson, Jay (1 de janeiro de 2006). «'Everyday Joe' versus 'Pissy, Bitchy, Queens': Gay Masculinity on Straight Acting.com». The Journal of Men's Studies. 14 (2): 191–207. doi:10.3149/jms.1402.191 
  2. a b Acting Straight
  3. Eguchi, Shinsuke (Novembro de 2009). «Negotiating Hegemonic Masculinity: The Rhetorical Strategy of 'Straight-Acting' among Gay Men». Journal of Intercultural Communication Research. 38 (3): 193–209. doi:10.1080/17475759.2009.508892 
  4. Bergling, Tim (2001). Sissyphobia: Gay Men and Effeminate Behavior. [S.l.]: Southern Tier Editions. ISBN 978-1-56023-989-5 
  5. Eguchi, Shinsuke (1 de janeiro de 2011). «Negotiating Sissyphobia: A Critical/Interpretive Analysis of One 'Femme' Gay Asian Body in the Heteronormative World». The Journal of Men's Studies. 19 (1): 37–56. doi:10.3149/jms.1901.37 
  6. «Sissies». This American Life. 13 de dezembro de 1996 
  7. a b Cohen, C. J. (1 de janeiro de 1997). «Punks, Bulldaggers, and Welfare Queens: The Radical Potential of Queer Politics?». GLQ. 3 (4): 437–465. doi:10.1215/10642684-3-4-437Acessível livremente 
  8. Queers United Against Straight-Acting Homosexuals (1993). «Assimilation is Killing Us Fight For a Queer United Front». Why I hated the march on Washington. [S.l.]: Quash. OCLC 40181964 
  9. Enszer, Julie R. (2013). «'Whatever Happens, This Is': Lesbians Engaging Marriage». Women's Studies Quarterly. 41 (3–4): 210–224. JSTOR 23611516. doi:10.1353/wsq.2013.0089. ProQuest 1503682489